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6 A REABILITAÇÃO PROFISSIONAL EM CONTEXTOS DE

6.1 PLANO ORGANIZACIONAL E A DINÂMICA DA REABILITAÇÃO

nos seguintes municípios: Astorga, Campo Mourão, Cianorte, Colorado, Cruzeiro do Oeste, Goioerê, Loanda, Mandaguari, Maringá, Nova Esperança, Paiçandu, Paranavaí e Umuarama. Em cada um desses municípios funciona uma APS, que por sua vez comporta um determinado número de municípios, correspondente a sua área de abrangência.

As APS’s da Gerência Executiva de Maringá que não possuem em seu quadro de servidores um profissional de referência da reabilitação profissional são: Astorga, Cruzeiro do Oeste, Goioerê, Mandaguari e Nova Esperança. Dentre essas,

apenas em Goioerê há uma equipe volante17 da RP, e nas demais os segurados se deslocam para a APS mais próxima para atendimento da reabilitação profissional.

A APS de Maringá atende aos seguintes municípios: Floresta, Flórida, Itambé, Mandaguaçu, Marialva, Ourizona, Santa Fé, São Jorge do Ivaí, Sarandi e Ângulo. O programa de reabilitação profissional da APS de Maringá conta com uma equipe interdisciplinar formada por três assistentes sociais, uma terapeuta ocupacional, uma fisioterapeuta, uma médica perita e três estagiários de nível superior. Todavia, o atendimento interdisciplinar é um dos maiores desafios da reabilitação, tendo em vista o modelo cartesiano da formação superior brasileira. As servidoras que atuam no programa são denominadas de profissionais de referência; cada técnica tem a responsabilidade de acompanhar/orientar uma quantidade específica de segurados, comumente em torno de 50 reabilitandos.

De acordo com o manual da reabilitação profissional, são atribuições dos profissionais de referência nas gerências e agências do INSS:

a) avaliar os segurados, verificando seu potencial laborativo, e registrar os dados em formulário próprio; b) realizar avaliação conjunta com o Perito Médico e, com a participação do segurado, estabelecer as opções e perspectivas para o PRP; c) alimentar os sistemas informatizados; d) planejar o programa profissional para retorno ao trabalho; e) participar do Grupo Informativo GI, em conjunto com o Perito Médico e os segurados da RP agendados para esta reunião; f) solicitar, quando necessário, parecer especializado (nas áreas de Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Psicologia, Serviço Social, Educação e outras), estabelecendo o prazo de até trinta dias para apresentação dos resultados; g) fazer contato com a empresa de vínculo para definir a função que o segurado poderá exercer; h) prescrever os recursos materiais necessários ao desenvolvimento do PRP; i) solicitar dados das empresas referentes aos cargos e qualificação profissional; j) fazer levantamento de funções compatíveis com o potencial laborativo do segurado sem vínculo empregatício; k) realizar atendimentos subsequentes dos segurados em avaliação ou em Programa Profissional; l) elaborar, em conjunto com o Perito Médico, Parecer Técnico Conclusivo do PRP desenvolvido com o segurado; m) registrar os dados, relativos a todos os atendimentos da Reabilitação Profissional, que alimentarão o BERP; n) avaliar, supervisionar e homologar, junto com o Perito Médico, os programas profissionais realizados por terceiros ou empresas conveniadas; o) certificar, em conjunto com o Perito Médico, o PRP; p) homologar e certificar, em conjunto com o Perito Médico, a compatibilidade da habilitação/reabilitação promovida pela empresa ou pela comunidade nos casos das Pessoas com Deficiência PCD (DGARP/CREAP, 2016, p. 86-87).

17 “Constitui modalidade de atendimento em que ocorre deslocamento da equipe de RP para outras APS que não contam com o serviço. É composta pelo Perito Médico e pelo Profissional de Referência, tendo como objetivo o oferecimento do serviço em uma maior área de abrangência” (DGARP/CREAP, 2016, p. 80).

Quanto aos procedimentos do programa, na maioria das vezes o segurado é encaminhado à reabilitação profissional na APS de Maringá pela perícia médica quando já está em beneficio por incapacidade; entretanto, dependentes de segurados que estão em RP, trabalhadores com qualidade de segurado pelo INSS, pessoa com deficiência e aposentados também requererem inclusão no programa (conforme o artigo 136 do Decreto nº 3.048/1999 que regula a Lei nº 8.213/1991). Nessas situações será agendada uma avaliação do potencial laborativo com o médico perito da reabilitação e com o profissional de referência, para que definam a inclusão ou não no programa.

Como dinâmica de atividades, na RP são realizadas oficinas intituladas de “grupos informativos” com os segurados que foram encaminhados ao programa, com a finalidade de repassar informações e também de sanar dúvidas. O objetivo do grupo informativo é:

[...] orientar o beneficiário quanto à legislação, às normas institucionais e ao processo de reabilitação profissional. Por meio deste processo, o segurado recebe informações que auxiliam sua compreensão sobre o desencadeamento do programa, a manutenção do benefício, os atendimentos que receberá bem como da importância de seu reingresso no mercado de trabalho. Deverá ser composto por, no máximo, 16 segurados, sendo conduzido por um Profissional de Referência, indicado pelo Responsável Técnico da GEX, e/ou um Perito Médico. A duração da reunião deverá ser de, no máximo, duas horas, incluídas as tarefas de registro de participação dos segurados e outras que forem necessárias (DGARP/CREAP, 2016, p. 102-103).

Em um ato posterior ao grupo informativo o segurado é avaliado pela equipe (profissional de referência e médica perita da reabilitação profissional), com o objetivo de elegê-lo (incluir) para a reabilitação profissional. Caso seja elegível, será iniciado o planejamento da sua qualificação profissional e/ou readaptação profissional, por meio da identificação das potencialidades laborais. Em situações em que o reabilitando tenha vínculo trabalhista é feito contato com a empresa de origem, com o desígnio de readaptá-lo em função compatível com seu quadro clínico e seu nível de escolaridade. É oportuno destacar que, se o segurado não tiver interesse na readaptação oferecida pela empresa, ele terá a opção de realizar cursos de qualificação e/ou cursos técnicos. Quando o segurado não for elegível, poderão ocorrer algumas das seguintes situações: manutenção do benefício por

incapacidade, aposentadoria por invalidez, cessação do benefício e retorno ao trabalho.

Para a realização das atividades inerentes ao programa alguns instrumentos de trabalho são fundamentais: entrevista, observação, visita domiciliar, visita à empresa para análise de posto de trabalho, relatórios, dentre outros que o profissional considerar pertinentes. Vale ressaltar que, para atendimento da reabilitação profissional na APS de Maringá, sobretudo para a avaliação do potencial laborativo (ação utilizada para definir a elegibilidade do trabalhador ao programa), há uma lista de espera expressiva de segurados. A média no período de dois anos foi de 150 pessoas aguardando, fato que pode ser justificado pela judicialização do benefício por incapacidade, a qual, na maioria das vezes, está condicionada ao cumprimento da RP, a encaminhamentos indevidos pela própria perícia do INSS, ao aumento de doenças ocupacionais e a acidentes de trabalho.

No INSS, o estabelecimento de parcerias preconiza a celebração de convênios, contratos ou acordos com entidades públicas ou privadas para prestação de serviços. Quanto a isso, a reabilitação profissional em Maringá possui dois acordos de cooperação técnica, um deles com a Universidade Estadual de Maringá (UEM), por meio do curso de psicologia, que disponibiliza atendimento em grupo aos segurados, em programa e em lista de espera; e o outro acordo é com o Centro Universitário (UNICESUMAR), com a oferta de fisioterapia aos segurados que receberão órteses e próteses.

A reabilitação profissional em Maringá está inserida em uma rede intersetorial de políticas públicas, isto é, com a política de emprego e renda, por meio dos encaminhamentos para a agência do trabalhador e das ações conjuntas realizadas (palestras, seminários, dentre outros); com a política de saúde, por meio de participação na Comissão Intersetorial em Saúde do Trabalhador (CIST) e no Comitê de Óbitos e Amputações (CRIOART). A política de educação também é uma parceria, tendo em vista o frequente contato com o Núcleo Estadual de Educação, uma vez que o acompanhamento escolar é umas das atribuições da reabilitação profissional da APS de Maringá, além do encaminhamento para cursos técnicos profissionalizantes ofertados pela rede pública de educação.

São realizadas visitas às empresas de vínculo dos segurados, Sindicatos, Instituições, ONGs, entre outras. É mantido contato com o Ministério do Trabalho, no cumprimento da reserva de vagas. Com o sistema S: SESI/SENAI, SENAC o INSS celebrou convênios para oferta de qualificação aos reabilitandos.

Internamente é realizado um trabalho em conjunto com a perícia médica, e indiretamente com outros setores, como logística, financeiro, procuradoria, e serviço de benefícios, no sentido de obter informações e de agilizar procedimentos relacionados ao processo de reabilitação profissional.

Em síntese, o programa de reabilitação profissional tem por finalidade construir uma nova etapa profissional, que exige ações e processos de trabalho internos, e também para além do âmbito previdenciário.

6.2 OS NARRADOS

A pesquisa empírica iniciou-se com o estudo documental dos prontuários da reabilitação profissional e com a aplicação de entrevistas semiestruturadas aos trabalhadores reabilitandos da Previdência Social que se encontram na RP na Agência da Previdência Social (APS) de Maringá-PR.

Ao iniciar os contatos com os reabilitandos, após aprovação na Comissão de Ética em pesquisa envolvendo seres humanos da Universidade Estadual de Ponta Grossa (

CAAE 53013315.5.0000.0105)

, para verificar a possibilidade de colaboração com a pesquisa, percebeu-se que dos 27 sujeitos selecionados 6 já haviam sido desligados do programa de reabilitação, 4 se recusaram a participar da pesquisa e 2 alegaram dificuldade de disponibilidade nos horários para a entrevista, pois estavam estudando e frequentando cursos de qualificação. Ao todo foram realizadas 15 entrevistas com os segurados que estão em programa.

6.3 ANÁLISE DOS DADOS

Optou-se por utilizar a análise de conteúdo desenvolvida por Bardin (2009), a qual se caracteriza por um olhar particular sobre os dados. Na organização do material para a codificação abandona-se a adoção de frequência para dar lugar ao núcleo de sentido, que é formado a partir dos temas presentes nas narrativas. Essa técnica desvela mediações, contradições e paradoxos expressos nas narrativas. Pontuam-se os procedimentos adotados para a realização das análises: leitura das narrativas para exploração do conteúdo; identificação de núcleos de sentidos que

estavam latentes mediante sua ocorrência; localização dos núcleos que formaram os temas para as análises; agrupamento de temas que formaram a categoria a partir do critério de semelhança e de significado; constituição da categoria a partir do que foi dito, isto é, procedeu-se a uma volta à fala das pessoas; realização de inferências, o que faz parte da essência da categoria, pois isso permite que se captem os conflitos veiculados nas falas dos trabalhadores que foram retratados na categoria. As inferências foram estabelecidas de acordo com o objetivo do estudo e com os conceitos teóricos. Na interpretação das falas procurou-se ir além das narrativas: buscou-se problematizar as inferências.

Quadro 1 – Características dos entrevistados

Segurado Espécie Idade Escolaridade Município elegibilidadeData de

Função de Origem Benefício Administrativo ou Judicial Taís 31 49 Méd. Com. Astorga 08/11/2012 Serviços

Gerais Administrativo Tadeu 31 42 Fund. Inc. Sarandi 14/11/2012 Pintor de

veículos Judicial Tainara 91 40 Fund. Inc. Mandaguaçu 24/10/2012 Trabalhadorarural Administrativo Tânia 91 47 Fund. Inc. Paiçandu 31/10/2012 Zeladora Judicial Tamires 31 43 Méd. Com. Maringá 11/3/2013

Auxiliar de serviços

gerais

Administrativo Tália 31 43 Fund. Inc. Maringá 01/04/2013 Doméstica Administrativo Tales 31 42 Méd. Inc. Maringá 29/04/2013

Tratador de equinos

Administrativo Tarcísio 31 33 Méd. Com. Maringá 27/05/2013 Lavador Administrativo Talita 31 45 Méd. Com. Maringá 24/05/2013 Vigilante Administrativo Téo 31 41 Méd. Com. Marialva 02/09/2013 Marceneiro Administrativo Tiago 31 35 Méd. Inc. Santa Zélia 09/09/2013 Cortador

de cana Administrativo Tábata 31 51 Superior Inc. Maringá 11/09/2013

Agente

Comunitário

de Saúde

Administrativo Tomás 31 46 Fund. Inc. Maringá 25/09/2013 Pintor Judicial Teodora 31 38 Fund. Com. Paiçandu 07/10/2013 Costureira Judicial Tereza 31 40 Fund. Inc. Paiçandu 21/10/2013

Auxiliar de serviços

gerais

Judicial Fonte: Elaborado pela autora (2018).

O quadro sintetiza algumas características dos entrevistados. A tendência dos benefícios é a espécie 31 (auxílio-doença), com 13 reabilitandos, e apenas

2 reabilitandos se incluem na espécie 91 (auxílio-doença acidentário). A idade média ficou em 42 anos. Dos 15 entrevistados há um equilíbrio entre os sexos, sendo 6 homens e 9 mulheres. Em termos de escolaridade, 6 possuem ensino fundamental incompleto, 1 tem ensino fundamental completo, 2 têm ensino médio incompleto, 5 têm ensino médio completo e 1 tem ensino superior incompleto. Em relação ao estado civil, 10 são casados, 4 solteiros e 1 convive em união estável. No que compete ao município de residência, 7 residem em Maringá, 3 em Paiçandu, 1 em Mandaguaçu, 1 em Sarandi, 1 em Santa Zélia, 1 em Astorga e 1 em Marialva. Quanto à origem da implantação dos benefícios por incapacidade, 10 reabilitandos estão em auxílio-doença pela instância administrativa no INSS e 5 são reabilitandos por determinação judicial.