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Plans and the Structure of Behavior

No documento joseafonsodepaularetto (páginas 108-112)

CAPÍTULO II: PSICOLOGIA COGNITIVA: FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS

3.1 Plans and the Structure of Behavior

George A. Miller, psicólogo estadunidense, considerado como um dos fundadores da psicologia cognitiva, se tornou muito conhecido por seu experimento clássico e muito influente na história da psicologia, onde evidenciou que a memória de curto prazo tem uma capacidade limitada a aproximadamente sete itens. Foi igualmente sustentado que, se os itens forem combinados em agrupamentos (chunks) distintos, podemos lembrar mais itens. Por exemplo, não conseguimos lembrar uma série de 20 dígitos seguidos, após ouvi-la somente uma vez. Porém, se dividirmos esses números em uma série de cinco agrupamentos de quatro dígitos, cada um deles formando uma data diferente, então seríamos capazes de recordá-los (Miller, 1956).

Outro exemplo clássico de chunks é a capacidade de recordar sequências longas de números binários, pois eles podem ser codificados na forma decimal. Por exemplo: a sequência 0010 1000 1001 1100 1101 1010 poderia ser facilmente relembrada como 2 8 9 C D A. Isto, obviamente, só funcionaria para alguém que pudesse converter números binários em números hexadecimais, mostrando como os chunks são “unidades significativas”. Um chunk pode se referir a dígitos, palavras, posições de xadrez, ou rosto de pessoas. O conceito de chunks e a capacidade limitada da memória de curto prazo se tornaram um elemento básico em todas as teorias de memória posteriores. Como isso, ao dar ênfase as limitações da capacidade humana de receber e processar informações, Miller ofereceu mais um dado importante para o estabelecimento da ideia de que a mente é um sistema de processamento de informação (Lachman, Lachman & Butterfield, 1979).

Posteriormente, Miller, junto com Eugene Galanter e Karl Pribram, estabeleceuoutro marco importante para o cognitivismo, com o livro Plans and the Structure of Behavior (1960). Ao propor uma sinteze das influências de Turing, da cibernética, da teoria da informação e de Chomsky, entre outras, os autores propõem que o comportamento é determinado por representações internas, estruturadas hierarquicamente, de acordo com planos bem definidos. Introduziram também o conceito de meta que, reinserido ao cenário psicológico, abre espaço novamente para uma explicação teleológica do comportamento. Nesse sentido, todo o

comportamento humano é prospectivo e visa atingir metas através de planos e estratégias de ação consciente (Castañon, Justi & Araujo, 2014).

Como estabeleceram Miller, Galanter e Pribram (1960), um plano pode ser definido de maneira rigorosa como um processo hierárquico de sequências de operações a serem executadas por um organismo, da mesma forma como um programa para um computador. Um conceito importante, proposto pelos autores, para se entender esse processo, é o modelo TOTE (test-

operate-test-exit). Miller et al. sugeriu que o TOTE deveria substituir o modelo estímulo-

resposta como a unidade básica de comportamento. Em uma unidade TOTE uma meta é testada para ver se ela foi alcançada e, se não, uma operação é executada para alcançar a meta. Este ciclo de testar-operar seria repetido até que a meta seja eventualmente alcançada ou abandonada. O conceito TOTE forneceu a base de muitas teorias posteriores de resolução de problemas (como, por exemplo, o GPS) e sistemas de produção. Um exemplo clássico de um TOTE é um plano para martelar um prego. O Exit Test (Teste de Saída) é se o prego está rente à superfície. Se estiver, então o martelo é testado para verificar se está em cima (caso contrário ele é levantado), para poder bater no prego. Assim, parte do output volta como input, de forma a permitir que um sistema funcionando a base desse modelo calcule a margem de erro entre a meta estabelecida e sua posição atual, o que permitiria ao sistema ajustar seu comportamento (output) em relação à meta.

Portanto, segundo o modelo proposto por Miller et al. (1960), o planejamento (na forma de unidades TOTE) seria considerado um processo cognitivo fundamental. Onde o comportamento pode ser visto como hierarquicamente organizado (por exemplo, através de

chunks, unidades TOTE) e a mente como um sistema de processamento de informação que

controla o comportamento. Ainda assim, conforme admitido por Miller et al., suas preferências teóricas estão todas do lado dos teóricos cognitivos (p. 09). Porém, apesar disso, admite ainda que há algo na posição cognitiva cujas críticas não receberam uma resposta satisfatória – a crítica de que os processos cognitivos tal qual Tolman e outros postularam não são de fato suficientes para explicar o comportamento.

A posição de Tolman é a de que a descrição da estrutura cognitiva seria indispensável para o entendimento do comportamento, posição esta compartilhada por Miller et al. (1960), e que pode ser melhor compreendida na seguinte passagem de Tolman (1948):

[O cérebro] é muito mais parecido com um centro de controle do mapa do que uma central de telefone à moda antiga. Os estímulos não estão conectados por apenas simples interruptores de um-para-um com as respostas enviadas. Em vez disso, os impulsos de entrada são

normalmente trabalhados e elaborados na sala de controle central em uma tentativa, na forma de um mapa cognitivo do ambiente. E é esta tentativa, indicando rotas e caminhos e relações ambientais, que finalmente determina quais respostas, se houver alguma, que o animal vai finalmente liberar. (Tolman, 1948, p.193; apud Miller et al., 1960, p. 8, tradução nossa) Apesar de admitir ser simpático a esse tipo de teorização, onde Miller et al. (1960) diz ser óbvio que há muito mais acontecendo entre estímulo e resposta do que pode ser explicado por uma simples declaração sobre forças associativas. Todavia, há uma importante crítica a essa posição cognitiva que ainda não foi adequadamente respondida. Mesmo se você admitir, como dizem os críticos, esse “algo fantasmagórico interno”, você não vai ter explicado satisfatoriamente o comportamento. Como apontado por Miller et al., a forma penetrante como Guthrie (1935) coloca essa questão nos é muito proveitosa:

Signos, na teoria de Tolman, ocasionam a realização do rato, ou cognição, ou julgamento, ou hipóteses, ou abstração, mas eles não ocasionam sua ação. Em sua preocupação com o que se passa na mente do rato, Tolman tem negligenciado a predição do que o rato vai fazer. Como, até agora, a teoria está preocupada em como o rato está enterrado em seus pensamentos; se ele consegue a caixa de alimentos no final [do labirinto] isso é uma preocupação do rato, não a preocupação da teoria. (Guthrie, 1935, p. 172; apud Miller et al., 1960, p. 9, tradução nossa) Para Miller et al. (1960), parece que os teóricos cognitivos não entenderam a força dessa critica. Se um rato faminto sabe onde achar comida – se ele tem um mapa cognitivo dizendo onde a caixa de comida está localizada – ele irá até lá e a comerá. Parece que não há nada mais aí para se explicar. No entanto, “o gap entre conhecimento e ação parece menor que o gap entre estimulo e resposta – mas ele continua ali, continua indefinidamente grande” (Miller et al., 1960, p. 09). Os teóricos cognitivos utilizaram desse argumento como o melhor curso para mostrar que a teoria dos reflexos era inadequada para explicar o comportamento, porém, segundo o próprio Miller et al., eles parecem igualmente despreparados quando o mesmo argumento é direcionado contra eles próprios – as coisas se mostraram mais complicadas do que eles se atreveram a imaginar. Assim, se Guthrie estiver correto, cada vez mais teoria cognitiva seria necessária, mais do que os teóricos cognitivos estão providos. Isso quer dizer que, longe de respeitar a Navalha de Occam, o teórico cognitivo necessita de mais bagagem teórica para carregar, talvez mais do que ele possa carregar. E algo é preciso para preencher a lacuna entre conhecimento e ação.

Segundo Miller et al. (1960), muitos psicólogos, estando eles próprios inclusos, foram perturbados por esse vácuo teórico entre cognição e ação. Podemos nos perguntar, nesse ponto, o que esse vácuo teórico apontado por Miller et al. significa para o objetivo do nosso presente trabalho, deixaremos o próprio Miller et al. apresentar uma resposta:

antigo enigma. Em uma data anterior poderíamos ter introduzido o tópico diretamente ao anunciar que pretendemos discutir a vontade. Mas hoje a vontade parece ter desaparecido da teoria psicológica, assimilada anonimamente no tópico mais amplo da motivação. (p. 11, tradução nossa)

Como podemos ler na passagem acima, o problema da vontade, apesar de ter desaparecido da teoria psicológica, ao menos em um nível terminológico, é um problema que ainda se impõe. A psicologia cognitiva, ao tentar oferecer uma saída para o problema do gap explicativo entre estímulo-resposta, introduzindo aí a cognição como fator explicativo para o comportamento, não consegue apropriadamente preencher esse gap, visto ainda existir o mesmo problema entre cognição e ação. Ao mostrar como se dá a cognição, ou os processos, leis, regras envolvidas em seu funcionamento, ainda assim não se explicaria o comportamento. Obviamente pode-se entender de forma mais acurada o que estava envolvido naquela forma de se comportar. Mas, conhecer não equivale a agir. Há ainda a necessidade, seguindo esse raciocínio, de que algo aja, mesmo que em função desse conhecimento, ou da informação processada, há a necessidade de um sujeito que faça uso desse conhecimento. “O problema é descrever como as ações são controladas por uma representação interna do organismo de seu universo” (Miller et al., 1960, p.12)

Podemos conjecturar ainda que há a necessidade de uma força que mova o organismo, ou seja, que promova a ação em função desse conhecimento. Nesse sentido entendemos o problema da vontade como uma formulação teórica que busca explicar a causa do comportamento. Todavia, como fora observado anteriormente, daí surgem todos os problemas envolvidos nesse tipo de formulação, como a questão da relação mente/corpo, ou como o mental pode ter influência causal no físico, se essa força que move a ação é determinada ou não e, se não, como compatibiliza-la com uma visão determinista de mundo. Mesmo ignorando, ou tentando ignorar esse antigo enigma, mesmo que se tente evitar todo esse debate já por demais sobrecarregado, que atravessa questões de cunho filosófico das mais abrangentes, ainda que tentando dissolver o problema da vontade em micro teorias explicativas num tópico sobre motivação, pela natureza do que a psicologia se propõem estudar, esse problema irá sempre se impor.

Como Miller et al. (1960) reconheceu, a psicologia cognitiva de sua época ainda buscava preencher essa lacuna explicativa entre cognição e comportamento. Nos parece que ainda hoje essa constatação de Miller et al. continua pertinente. Para tanto, devemos ainda investigar dentro do tópico da motivação, o que podemos encontrar relativo ao problema pesquisado. O leitor pode encontrar tal investigação mais à frente. Por agora, vamos abordar a visão que Ulric

Neisser oferece relativo à liberdade humana, controle e predição do comportamento e que está diretamente relacionada com o problema investigado.

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