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Neste capítulo iremos abordar o Plantão Social que é uma das atividades comum à maioria dos Assistentes Sociais, ainda que, em algumas unidades de saúde, esta atividade não seja reconhecida por este nome. O Plantão não se constitui assim, num serviço ou uma atividade pensada, planejada, organizada, reduzindo-se a ações isoladas desenvolvidas pelo Assistente Social para "resolver o(s) problema(s) do usuário".

O Plantão Social assume a responsabilidade de acolher, dialogar, compreender a história de vida de cada pessoa e dentro do possível, atender suas necessidades bem como, efetuar encaminhamentos para outras instituições, entidades, secretarias e recursos disponíveis. Com isso, o atendimento no Plantão Social irá desenvolver ações que envolvam diversos setores, com o objetivo de romper o ciclo de reprodução da pobreza entre as gerações.

Segundo Vasconcelos (2007 p. 167):

O Plantão faz parte de qualquer unidade de saúde, sendo, não só nos hospitais e maternidades, o ponto de referência para realização do trabalho com os internados na emergência ou enfermarias e seus familiares, mas para o atendimento nas unidades de atenção básica e secundária. O trabalho com os internos nas enfermarias é realizado ao lado do leito e, como estas não contam com instalações próprias para o Serviço Social, as famílias são atendidas, com freqüência, nos espaços do plantão ou junto ao leito do próprio usuário. As atividades desenvolvidas pelo Serviço Social nas enfermarias são as mesmas do Plantão.

Para o Dicionário da Língua Portuguesa Plantão quer dizer horário de serviço escalado para determinado profissional exercer suas atividades em delegacia, hospital,...

Conforme Vasconcelos (2007) no Plantão, independente da unidade, o usuário é recebido, ouvido e encaminhado para recursos externos e/ou internos tendo como parâmetro o "bom" andamento da rotina institucional, os recursos disponíveis e as demandas explícitas dos usuários por orientações e inserção na rotina.

No Plantão, em resposta a estas demandas, os Assistentes Sociais realizam "encaminhamentos internos" (para Programas, Projetos e/ou serviços da unidade), "encaminhamentos externos‖ (INSS, Defensoria Pública, outras unidades de saúde, recursos assistenciais, etc.) e/ou ―orientações diversas‖ (previdenciária, documentação, realização de exames, etc.).

Os Assistentes Sociais atuam junto a sujeitos sociais que guardam, na sua história de vida, as dimensões universais e particulares da questão social3. Questão social cujas expressões históricas e contemporâneas personificam o acirramento das desigualdades sociais e da pobreza na sociedade capitalista brasileira.

Conforme Vasconcelos (2007 p. 249) o atendimento no Plantão do Serviço Social assume, entre outras, as seguintes características:

Atendimento individual, realizado através de uma única entrevista, sendo raros os retornos objetivando a continuidade ou acompanhamento da demanda apresentada;

Atendimento à demanda espontânea/livre, à demanda encaminhada pelos demais profissionais e/ou serviços da unidade de saúde e encaminhada por outras instituições;

O Assistente Social no Plantão realiza basicamente orientações (previdenciária, acidente de trabalho, programas assistenciais), encaminhamentos (para recursos internos da unidade - inscrição nos programas, agilização de exames e/ou consultas médicas, para recursos da

comunidade/ou institucionais - bolsas de alimento, passagem gratuita,

recursos assistenciais, exames de alta complexidade, asilamento, casas de apoio), e em alguns casos aconselhamento/apoio. Estas ações resultam numa atenção que não tem continuidade nem interna nem externa a unidade de saúde;

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Segundo Iamamoto (2007) a questão social diz respeito ao conjunto multifacetado das expressões das desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. Expressa desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização.

Algumas solicitações de recursos materiais são atendidas quando o Assistente Social ―distribui/repassa‖ ou possibilita acesso a alguns recursos (medicamentos, preservativos, bolsas de alimento, órteses, próteses,...), solicitações, em sua maioria, resultantes do atendimento nos Projetos ou Programas existentes na unidade de saúde. Em alguns casos, é o próprio Assistente Social que, voluntariamente, angaria recursos – com parentes, conhecidos, funcionários,... -, para serem distribuídos;

Constitui-se em ações imediatas, isoladas e assistemáticas, que promovem encaminhamentos, orientações, aconselhamentos e apoio sobre a(s) doença(s). Ações como um fim em si mesmo, na medida em que, não estão articuladas a programas e projetos que atinjam e/ou absorvam os usuários de forma sistemática e continuada, no sentido de oferecer suporte contínuo às demandas explícitas, mas principalmente às demandas implícitas por promoção e proteção da saúde e prevenção de doenças, danos, agravos e riscos;

Assim, sem interação com as ações desenvolvidas pelos Assistentes Sociais nos Programas/Projetos e com os demais serviços da unidade, mas respondendo por suas deficiências, o Plantão não conta com atividades sistemáticas desenvolvidas pelo Serviço Social ou por equipes multiprofissionais na/pela unidade para onde os usuários possam ser referenciados, objetivando romper com o círculo vicioso de encaminhamentos internos/encaminhamentos externos. Estes encaminhamentos, buscando ―resolver o mau funcionamento das rotinas das unidades" e/ou da falta de resolutibilidade de seus serviços, ―jogam‖ o usuário para o próximo serviço e/ou para fora da unidade empurrando o ―problema‖ para frente, sem que ali estivessem esgotadas todas as possibilidades de atendimento às demandas dos usuários: reais, potenciais, aparentes e ocultas, imediatas e mediatas, implícitas e explícitas.

Segundo Vasconcelos (2007, p. 246) a organização individual e coletiva do Serviço Social na saúde e a postura dos profissionais de se colocarem passivos, dependentes, submissos e subalternos ao movimento das unidades de saúde às rotinas institucionais, às solicitações das direções de unidade, dos demais profissionais e dos serviços de saúde, aceitando ainda, como únicas, as demandas explícitas dos usuários resultando numa recepção passiva das demandas explícitas

dirigidas ao Serviço Social, o que determina a qualidade, quantidade, caráter, tipo e direção do trabalho realizado pelos Assistentes Sociais.

Conforme Adão (2000) o papel do Assistente Social, dentro de uma unidade hospitalar, deve ser educativo e transformador e se torna imprescindível, pois esse profissional é o mais indicado para ser o mediador da rede de relações, visto que busca sempre envolver todos os sujeitos inseridos nesse processo.

A área da saúde é um campo em que a atuação do Serviço Social tem a sua vasta riqueza, pois o profissional terá oportunidades de intervir nas questões psicossociais que permeiam o processo saúde-doença.

Os Assistentes Sociais podem trabalhar na área hospitalar abordando várias questões trazidas ou não pelos usuários ou familiares na hora de sua hospitalização tendo como cunho o social, econômico e emocional e ainda a dificuldade dos familiares de permanecerem no hospital por inúmeras razões como situação econômica muito precária, usuários oriundos do interior do Estado.

Sendo assim para Vasconcelos (2007) a prática dos Assistentes Sociais no Plantão reduz-se a uma prática burocrática, não assistencial. Uma prática profissional burocrática que segue mecanicamente normas impostas pelo regulamento da administração, autoridade ou seu representante, e que ao priorizar um atendimento de escuta/acolhimento/encaminhamento e/ou preenchimento moroso e mecânico de formulários, questionários, cadastros que viabilizam acesso a benefícios ou inscrição em programas da instituição referenda a complicação e morosidade da coisa pública burocratizada, que objetiva dificultar ou inviabilizar o acesso dos usuários a serviços e recursos enquanto direito social.

Uma prática que, se atende a alguns dos interesses e necessidades imediatas dos usuários relacionadas à busca por apoio, respeito, consideração, auto-estima, como um fim em si mesmo, contribui para impedir e/ou dificultar a capacitação para uma participação consciente de usuários e profissionais envolvidos nesse processo; para impedir e/ou dificultar o controle social4; a organização para a luta política; a democratização de informações e saber.

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Para Raichelis (2000) considera controle social como um dos elementos constitutivos da estratégia política da esfera pública. Ele implica o acesso aos processos que informam decisões da sociedade política, que devem viabilizar a participação da sociedade civil organizada na formulação e na revisão das regras que conduzem as negociações e arbitragens sobre os interesses em jogo, além da fiscalização daquelas decisões, segundo critérios pactuados.

Segundo Sarmento (2002 p. 120) neste espaço contraditório e seletivo de espoliação da força de trabalho e exclusão social que os trabalhadores recorrem à Assistência Social, através do Plantão Social – espaços que acabam por tornarem- se verdadeiros centros de triagem e encaminhamentos de demandas para garantia de suas necessidades básicas.

Conforme Sarmento (2002) desta forma, os Plantões Sociais passam de um atendimento emergencial a um contingencial para a população sem condições de satisfação de seus direitos básicos, constituindo-se como um serviço permanente, muitas vezes confundido como um espaço físico, mesmo que precário, sem solubilidade, marcados pelos processos de aprendizagem e disciplinamento burocrático-institucional, através do qual, o conhecimento criterioso da vida da população atendida torna-se uma ajuda individual, redutora de tensões, base sobre a qual se definem os critérios de elegibilidade e encaminhamento.

Entende-se que o Plantão Social está circunscrito pelas relações entre a existência de necessidades da população e a ausência das condições para supri-las; portanto, sua superação não é apenas técnica ou gerencial, mas acima de tudo política, pois implica uma recondução das formas de compreender os direitos sociais e implementar as políticas sociais e, nestas, a reorganização dos serviços sociais.

As práticas realizadas através do Plantão implicam em compreender a realidade da prática e as contradições de um espaço político para a população que não tem mais onde recorrer; resgate e registro do cotidiano de vida da população atendida ou não, permitindo a mobilização e aglutinação de interesses comuns, base para novas conquistas de direitos sociais; avaliar as demandas e necessidades que não estão sendo supridas a partir da ótica dos direitos sociais permitindo assim rever programas e serviços.

Conforme Szymanski (2004) o Plantão se constitui numa ruptura desse cotidiano e convida à fala autêntica, incluindo a possibilidade de ciclos de desvelamento e ocultamento da compreensão que se quer adquirir. A fala, a escuta e o silêncio na entrevista do Plantão propicia e revela a alteridade como co- presença, e delimitam o eu. O confronto com as próprias palavras na boca do outro remete os participantes a si mesmos, possibilitando tanto a compreensão como a estranheza em relação a si e ao outro dentro de si.

Em suma, na realidade todo e qualquer problema que envolva dificuldades de deslocamento, de acesso a medicamentos, exames, alimentos, documentos, entre outros é encaminhado ao Serviço Social.

No próximo item abordaremos a importância do acolhimento com uma escuta qualificada e do diálogo com as famílias/usuários que surgem como demanda para o Plantão Social.

3.2 O ACOLHIMENTO ATRAVÉS DE ESCUTA QUALIFICADA JUNTO AO

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