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ARQUITETURA RESIDENCIAL MODERNA EM BELGRADO

PLANTA BAIXA

Na análise das plantas baixas, para fins quantitativo e percentual, foram desconsiderados os estudos de caso sobre os quais não obtivemos dados disponíveis: seis edificações, o que representa 30,0% do conjunto analisado.

Nas habitações construídas em Belgrado, que apresentaram material disponível quanto à planta baixa, foi observado que em nenhum projeto houve a implementação da “planta livre”, sendo decorrente, antes de tudo, pelo fato de que em nenhuma edificação foi realizado o sistema construtivo independente que possibilitaria o seu desenvolvimento, ou seja, a idéia que a casa é “levantada do chão por pilares” e que os pavimentos são projetados um independente do outro. Deste modo, o estudo sobre a “planta livre” na arquitetura residencial moderna projetada pelos membros do GAMM pode ser considerada contradictio in adjecto, pois a construção tradicional em paredes maciças e a planta livre excluem um ao outro.

PLANTA BAIXA Quantidade Porcentagem (%)

Tradicional 11 78,6

Planta livre 0 0,0

Raumplan 3 21,4

Tabela 7. Representação quantitativa e percentual sobre o tipo de planta baixa dos estudos de caso.

Deste modo, observamos que muitos dos projetos para apartamentos e residências, embora estruturados por uma estética moderna, apresentavam configuração espacial

semelhante ao modelo burguês tradicional concretizado no século XIX, sendo representados por 78,6%. Os arquitetos modernos do GAMM assumiram este modelo tradicional de habitação urbana, sem modificar radicalmente a organização básica e o fundamento programático. O princípio mais freqüente da organização das habitações foi baseado na formação da sala central como o núcleo de “vida da casa”, portanto, correspondendo à interpretação da idéia do ambiente central extraído da simbologia de lareira, sendo este o “altar” da vida familiar. Umas das obras exemplares desta característica são as residências Marodić (1932) e Arsić (1932) e o edifício residencial Jelinić (1931).

1.7. Planta baixa do pavimento-tipo do edifício residencial Jelinić (1931); 1.8. Planta baixa do térreo da casa Marodić (1932);

1.9. Planta baixa do térreo da residência Arsić (1932). Fonte: Arquivo Histórico de Belgrado.

A circulação interna foi resolvida de modo a requerer pouco espaço e, normalmente, se faz nos próprios cômodos de forma a interligá-los. Enquanto isso, nos edifícios de apartamentos, o programa é mais simplificado do que o das residências, constituindo- se de sala única de estar e jantar, quartos, banheiro social, cozinha e área de serviço. Já nos edifícios de apartamentos, a distribuição de acessos às unidades habitacionais é desenvolvida com pequenos ambientes (hall de acesso ou ante-sala) que conduzem à sala de estar. A circulação vertical recebe uma elaboração simples, correspondendo a uma parada de elevador em cada pavimento e a entrada às habitações pela escada. Apesar de os projetos apresentarem configuração espacial tradicional, as palavras que descrevem os ambientes das edificações analisadas, semelhante aos projetos dos arquitetos modernos europeus, são expressões que identificam o estilo de vida da classe urbana. Por exemplo, Le Corbusier utilizou a palavra boudoir, Adolf Loos a expressão Zimmer der Dame (o quarto da senhora), enquanto os arquitetos do GAMM nomearam os ambientes de turska soba (sala de fumar), gospodska soba (sala de cavalheiros) e muzička niša (nicho musical, ou seja, a sala de música).

Ainda, na análise das plantas baixas observamos que três edificações demonstram um método bem específico de exploração do espaço tridimensional, que pelo espírito se assemelha ao método Raumplan desenvolvido por Adolf Loos. Os estudos de caso que

apresentam os princípios definidos no Raumplan são as residências Zloković (1927), Zaborski (1929) e Prendić (1932), todas da autoria de Milan Zloković.195

1.10. Corte da residência Zaborski (1929); 1.11. Corte da residência Prendić (1932). Fonte: Arquivo Histórico de Belgrado.

Sobre o uso deste princípio na residência Prendić mais especificamente Zoran Manević escreveu

“A mais próxima das obras de Loos é a residência Prendić. O partido da fachada principal ‘recortado’ da massa cúbica, os elementos do Raumplan na planta baixa do térreo, a ligação entre o hall, salon e sala de estar, as aberturas das janelas de diferentes dimensões e formatos, tudo isso foi muito próximo à casa Müller em Praga, de 1930, e a casa Moller em Viena, de 1928.”196

MÓDULO

Nos estudos de caso predominam obras que apresentam ausência de modularidade (75,0%) e, dentro deste número, em alguns casos existe a padronização de elementos, como janelas e portas, sendo estas meramente repetidas. Assim, foi verificado somente em cinco casos o uso de modularidade no seu projeto: as residências Zloković (1928), Zaborski (1931), Prendić (1932), Šterić (1933) e o Complexo de três residências (1932), todos da autoria de Zloković.

MÓDULO Quantidade Porcentagem (%)

Presença 5 25,0

Ausência 15 75,0

Tabela 8. Representação quantitativa e percentual sobre a modularidade dos estudos de caso.

No projeto do Complexo de Três Residências foram empregados módulos de janelas e portas, enquanto na casa Šterić foi utilizado o módulo de 150 cm sendo este multiplicado de acordo com a geometria da fachada a fim de produzir todas as janelas

195 Na literatura, a influência de Adolf Loos nos projetos de Zloković pela primeira vez foi estudada por Zoran Manević, no

livro “Modernismo arquitetônico de Belgrado, 1929-1931”, de 1979, e no livro de Marina ðurñević “Vida e obra do arquiteto Milan Zloković, 1898-1965”, do ano 1991.

196 MANEVIĆ, Zoran. Beogradski arhitektonski modernizam, 1929-1931 (Modernismo arquitetônico de Belgrado, 1929-

e portas. No estudo sobre o sistema antropomórfico de medidas na antiga arquitetura de Boka Kotroska, Korčula e Dubrovnik, Zloković notou que nestes projetos ele não trabalhou nos problemas da ciência de proporção e metrologia, mas que intuitivamente chegou à soluções que tiveram proporções harmoniosas, sendo estas observadas na arquitetura tradicional sérvia.197 Ainda, conforme o estudo realizado por Ljiljana

Blagojević no livro “Modernism in Serbia”, nas residências Zaborski, Šterić e Prendić, o arquiteto recorreu às leis da geometria para regular as fachadas e plantas baixas destes projetos. Assim, o plano tridimensional das edificações é resolvido de acordo com as regras da “seção áurea”.

1.12. Diagrama esquemático da fachada da residência Zaborski; 1.13. Diagrama esquemático da fachada da residência

Šterić; 1.14. Diagrama esquemático da planta baixa da residência Prendić. Fonte: BLAGOJEVIĆ, 2003.

VOLUMETRIA

Dentre as edificações, oito foram desenvolvidas em dois pavimentos, ou seja, térreo e pavimento superior, quatro tem dois pavimentos e sete tem três ou mais pavimentos. Entretanto, do ponto de vista da economia, não pode ser argumentado que os projetos analisados tinham uma clara intenção em minimizar a ocupação do solo. O número quase inexistente de construções térreas dispersas pelo terreno, representadas somente pela casa Marodić (1932), deve-se à contingência do tamanho do lote.

NÚMERO DE PAVIMENTOS Quantidade Porcentagem (%)

Térreo 1 5,0

Térreo mais um 8 40,0

Térreo mais dois 4 20,0

Térreo mais três ou mais 7 35,0

Tabela 9. Representação quantitativa e percentual quanto ao número de pavimentos dos estudos de caso.

Quanto aos aspectos da forma, de modo geral, as residências partem da composição de dois volumes, cuja transformação das formas ocorre tanto pela subtração quanto pela adição de volumes. A maioria das edificações apresenta o mesmo vocabulário abstrato, de linhas puras, que ressaltam os valores geométricos aos moldes da estética cubista.

197 ZLOKOVIĆ, Milan. Antropomorfni sistemi mera u arhitekturi (Sistemas antropomórficos de medidas em Arquitetura).

COR

Nas cores originalmente utilizadas, por sua vez, destaca-se o uso de monocromia e a cor natural do revestimento em cimento da alvenaria e do concreto aparente: o cinza. O branco é a cor mais constante nos projetos, presente, na maioria das vezes, nos volumes fechados e nos perfis das esquadrias.

ABERTURAS

Sobre o tema aberturas, verifica-se principalmente o equilíbrio entre os cheios e vazios (75,0%), não existindo predominância entre os dois, o que pode ser um indicador das limitações impostas pela técnica aqui empregada.

ABERTURAS Quantidade Porcentagem (%)

Predomínio de cheios 5 25,0

Equilíbrio 15 75,0

Predomínio de vazios 0 0,0

Tabela 10. Representação quantitativa e percentual sobre as aberturas dos estudos de caso.

Assim, devido à ausência de “janela em fita”, foram os terraços, sombreados e com grande área livre, que permitiam um contato mais intenso entre o interior e o exterior. As áreas livres eram integradas ao espaço público, por intermédio de gradis, muros baixos ou vazados. Portanto, nota-se a mudança na relação com o espaço urbano, sendo que as casas são colocadas próximas às ruas, com volumes sem muros, em contato direto com o exterior.