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1 O ENSINO DE GEOGRAFIA E A EXPERIÊNCIA METODOLOGICA COM

2.4 A Plataforma ISSUU e o livro digital

Iniciamos a metodologia de produção de livros digitais no ano de 2012, após participarmos de uma formação de professores sobre uso de tecnologias na educação. Nessa formação, uma das ferramentas apresentadas foi a plataforma ISSUU (Digital Publishing Platform‎) disponível no endereço eletrônico www.issuu.com. Ela permite aos usuários realizarem a leitura de revistas, livros,

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jornais, entre outros gêneros, pelo computador, utilizando a internet, como também dispõe de recursos para publicações digitais.

A formação serviu de estímulo para investigação sobre o uso dessa plataforma na sala de aula. Desenvolvemos uma proposta metodológica de ensino interdisciplinar utilizando como vitrine virtual a plataforma ISSUU sendo que, após o livro digital ser produzido e colocado na plataforma, ele passa a existir no ambiente virtual com um endereço eletrônico. Assim, ele pode ser acessado em vários ambientes virtuais, tais como o Facebook, Whatsapp, Blogger, o que facilita a leitura e atrai o interesse dos alunos. A Figura 04 exemplifica a disposição do livro digital na plataforma virtual.

Figura 04: Plataforma ISSUU.

Fonte: Adaptado de https://issuu.com, 2018.

Afinal o que é um livro digital? Não existe um consenso sobre a definição do livro digital; a maioria dos autores afirma que é aquele criado, produzido e

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comercializado exclusivamente em meio eletrônico. Livro eletrônico, livro digital e e- book são usados como sinônimos. Para Gama Ramírez (2006, p. 12),

O livro eletrônico se refere a uma publicação digital não periódica, quer dizer, que se completa em um único volume ou em um número predeterminado de volumes e que pode conter textos, gráficos, imagens estáticas e em movimento, assim como sons. Também se nota que é uma obra expressa em várias mídias armazenadas em um sistema de computação. Em suma, o livro eletrônico se explica como uma coleção estruturada de bits que pode ser transportada e visualizada em diferentes dispositivos de computação.

O livro digital proposto nesta pesquisa necessita de um aparelho leitor que pode ser um computador, tablet, notebook, e-reader ou celular, para visualização e leitura. Segue os padrões de um livro convencional com capa, epígrafe, sumário, textos, imagens e outros elementos constituintes do livro tradicional. No entanto, permite a interação dos leitores com seu conteúdo por meio de comentários, compartilhamento e download, bem como o controle e ajuste de nuances de brilho, cor e tamanho da fonte.

A metodologia da produção do livro digital, em linhas gerais, consiste na escolha de um tema ou conteúdo para o ensino, estudo do tema pelo grupo envolvido na produção do livro, pesquisas e aulas de campo para observação da realidade estudada. Segue a isso a produção textual, correção, digitação e ilustração dos textos utilizando os editores de textos do computador, formatação e publicação do livro na plataforma digital ISSUU. Pode-se promover a exposição do livro no laboratório de informática com a possibilidade de leitura coletiva e interação através de curtidas e comentários nos dispositivos móveis, ou produção de mostra literária com os livros impressos.

Durante os dois anos (2012 e 2014) em que trabalhamos com a metodologia de produção de livros digitais na Escola Estadual de Educação Profissional Elsa Maria Porto Costa Lima16 foram elaborados 12 livros, todos em parceria com os

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A Escola Estadual de Educação Profissional Elsa Maria Porto Costa Lima, situada na cidade de Aracati-CE, é uma escola de Ensino Médio Profissionalizante em tempo integral, que oferta os cursos de Administração, Enfermagem, Hospedagem e Informática. Atuamos nessa escola como docente da disciplina Geografia dos anos de 2009 a 2011. De 2012 a 2014 assumimos a função de professora do Laboratório Educacional de Informativa-LEI. Como professora do LEI devolvemos diversas atividades pedagógicas que objetivaram o letramento digital, ampliação das competências e habilidades de

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professores de diferentes áreas do conhecimento e com o envolvimento de aproximadamente 350 alunos e 10 professores como mostra a Figura 05.

Figura 05: Livros produzidos entre 2012 a 2014.

Fonte: Adaptado de https://issuu.com, 2018.

Nesta pesquisa, o foco da produção do livro digital está associado ao interesse de fundamentar e enriquecer as experiências anteriores com essa prática e ao desejo

professores e alunos no uso das TIC e a pesquisa científica, tendo como área de investigação a leitura, o uso das TIC e recursos áudio visuais no ensino.

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de ensinar Geografia recorrendo ao uso das TIC, enfatizando o desenvolvimento de múltiplas competências e habilidades tais como: letramento digital, raciocínio lógico, leitura, produção textual, desenho, pesquisa, observação, entre outros. A referida experiência articulou-se‎ a‎ busca‎ por‎ “aprendizagens‎ sintonizadas‎ com‎ as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios‎da‎sociedade‎contemporânea”‎(BRASIL,‎2017, p. 14).

Estando evidenciado o contexto, os sujeitos e os procedimentos da pesquisa, a seguir iremos tratar da proposta metodológica para o Ensino de Geografia.

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CAPÍTULO 03

LIVRO DIGITAL: uma proposta metodológica para o Ensino de

Geografia

Certo dia, conversamos com uma professora e ela contava, em tom desanimado, a seguinte cena:

“Entrei na sala de aula e ao contrário do que gostaria que acontecesse, minha presença quase não foi notada. Todos os alunos permaneceram sentados da maneira como estavam, a maioria de cabeça baixa, compenetrados em seus aparelhos celulares. Como se não bastasse, chegaram alguns atrasadinhos, com os celulares nas mãos, pedindo para entrar na sala, pois estavam distraídos e não ouviram o sinal para o início da aula. E só após eu insistir com os alunos para que guardassem os celulares eles pareceram perceber que realmente era hora de começar a aula” (Informação verbal)17.

A cena é bastante comum na maioria das escolas atualmente e está sendo narrada do ponto de vista da professora; certamente, os alunos a descreveriam de outra forma. Ela não revela nada de grave ou condenável pedagogicamente, mas demostra que existe uma diferença de comportamento, na atualidade, da geração de quem ensina e de quem aprende. E, mesmo nos casos dos professores mais jovens, existe um notável incômodo quanto à forma como os celulares e demais equipamentos portáteis são utilizados pelos alunos.

Celulares, fones de ouvido e carregadores de bateria são itens considerados indispensáveis pelos jovens chamados de nativos digitais18, e entre eles a pergunta mais‎frequente‎ao‎se‎chegar‎a‎um‎novo‎ambiente‎é‎“Qual‎a‎senha‎do‎wi-fi?”.‎‎A‎cena‎

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Conversa com uma professora na sala dos professores da Escola Estadual Rui Barbosa, Tibau-RN, 2017.

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Nativo digital é o termo criado pelo norte americano Marc Prensky, segundo ele um nativo digital é aquele que nasceu e cresceu com as tecnologias digitais presentes em sua vivência: tecnologias como videogames, Internet, telefone celular, MP3, iPod etc. Caracterizam-se principalmente por não necessitar do uso de papel nas tarefas com o computador. No sentido mais amplo, o termo refere-se a pessoas nascidas a partir da década de 1980 e, mais tarde, na Era da Informação que teve início nessa década. Geralmente, o termo foca sobre aqueles que cresceram com a tecnologia do século XXI. Este termo tem sido aplicado em contextos como a educação, relacionado‎ao‎termo‎“Aprendizes‎ do‎Novo‎Milênio”.

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narrada e outras situações cotidianas nos levam a refletir sobre os desafios dos professores em ensinar na sociedade que coloca frente a frente imigrantes19, colonizadores20 e nativos digitais.

Quando olhamos as salas de aula da atualidade, facilmente percebemos que os equipamentos tecnológicos participam do cotidiano escolar e que a comunicação nas redes sociais e em outras plataformas digitais é um desafio para os docentes, principalmente para os que afastam qualquer possibilidade de integrá-las ao ensino.

Em inúmeros trabalhos que tratam das tecnologias na educação há um consenso sobre sua importância; no entanto, na prática, muitas escolas não possuem infraestrutura adequada para realizar um trabalho pedagógico continuado, com metas claras e objetivos incorporados ao PPP da escola.

Outro aspecto que precisa ser entendido é por que mesmo sendo nativos digitais, possuírem celulares com acesso à internet e utilizando recursos de comunicação como as redes sociais, a maioria dos alunos21 do Ensino Médio não sabe mandar e-mails, salvar e anexar arquivos e não possuem os conhecimentos básicos sobre comportamentos seguros em ambientes virtuais.

Sabendo dessas e de outras dificuldades no uso das tecnologias na educação básica, não podemos cair nas generalizações, defendendo o uso sem investigar o contexto em que se ensina e aprende, pois cada ambiente escolar traz diferenças importantes no trabalho pedagógico e no uso das tecnologias.

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Imigrantes digitais segundo Barros (2009, p. 24) são aqueles não se sentem tão bem ao usar as tecnologias, embora essas já estejam presentes no cotidiano. Percebe-se quando alguém é imigrante digital por meio de algumas atitudes, por exemplo: há pessoas que precisam imprimir o e-mail para ler; telefonar para saber se o remetente recebeu a mensagem; ao enviar uma mensagem opta por escrever primeiro no papel; prefere livros impressos aos digitais, comportamentos que não existem entre os nativos digitais. Os imigrantes digitais são definidos pelos autores Palfrey; Gasser (2011, p. 13) como menos familiarizados com o ambiente digital, os quais aprenderam ao longo da vida a utilizar as tecnologias como e-mails e redes sociais.

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Palfrey; Gasser (2011, p. 13) caracterizam os colonizadores digitais como pessoas mais velhas, que iniciaram a vida adultas nos anos 1980, ou antes, sendo contemporâneas ao início da era digital, mas cresceram em um mundo analógico e vem contribuindo para a evolução tecnológica, continuam conectados e sofisticados no uso das tecnologias, porém baseados nas formas tradicionais e analógicas da interação. Como exemplo é possível citar Bill Gates, criador de um dos maiores softwares utilizado, porém nascido antes da década de 1980, ou seja, não pode ser caracterizado como nativo digital conforme definição destes autores.

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O aluno ao qual nos referimos compõe a realidade pedagógica que conhecemos durante a docência na Coordenação de Laboratório Educacional de Informática e enquanto professora de Geografia de escolas pública estaduais.

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Como docente e pesquisadora do ensino com uso das TIC, sempre nos indagamos sobre como podemos utilizá-las a favor do processo de ensino- aprendizagem dos nativos, imigrantes e colonizadores digitais, com projetos que integrassem a esses grupos.

A partir da tentativa de superação dessa problemática, em nossa prática, desenvolvemos a metodologia de produção do livro digital aqui proposta e analisada. Ela vem sendo construída, pensada, (re)desenhada, adequada e aperfeiçoada há alguns anos, e sabemos que sua execução e resultados acompanham a complexidade dos sujeitos e contextos em que se desenvolve.

Nesse capítulo narrativo-analítico, apresentamos a metodologia de produção do livro digital realizado na Escola Estadual Rui Barbosa, que objetiva compreender a produção do livro digital como procedimento metodológico para o ensino na Geografia escolar. No que se refere à metodologia, a pesquisa está organizada sequencialmente em três momentos (Figura 06).

Figura 06: Infográfico da metodologia de produção do livro digital.

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O quadro sinótico mostra que no centro da metodologia está o aluno, já que ele é o protagonista do processo de ensino-aprendizagem. O professor media as atividades, mas quem produz é o aluno. O professor instiga a reflexão sobre os saberes escolares e os conhecimentos prévios do aluno e ele exercita a construção de significações por meio da inclusão de novos conceitos e conteúdos, inserindo-se nos processos geográficos ao seu entorno e valorizando-os em sua experiência de vida. São centrais nessa metodologia, o ensino de Geografia e a aprendizagem colaborativa, já que as atividades propostas estimulam a troca de conhecimentos e fortalece o grupo partícipe das atividades.

Essa metodologia recorre à Teoria da Aprendizagem Significativa de David Paul Ausubel, principalmente nas orientações a respeito do que é um conhecimento significativo, em que aprender significativamente implica atribuir significados, e estes têm sempre componentes pessoais. Caso o conhecimento novo não tenha relação com os conhecimentos prévios do aluno o aprendizado é mecânico e o novo conhecimento é armazenado de forma arbitrária e literal na mente do aluno.

Um exemplo disso são as perguntas e respostas que os estudantes são obrigados‎a‎decorar.‎O‎livro‎de‎ciências‎quer‎saber:‎“O‎que‎é‎o‎vento?”,‎“O‎que‎é‎ lixo?”,‎ “Quais‎ as‎ estações‎ do‎ ano?”, mas não indagam sobre qual a importância desses conhecimentos na vida dos indivíduos. E o professor também não relaciona as perguntas e as respostas ao contexto vivido pelo aluno.

Muitas vezes, na tentativa de utilizar o computador na aula, o professor pede uma pesquisa ao aluno e não dá orientações sobre sites, ou uma instrução, diz apenas‎ “coloque no‎ Google”‎ e‎ depois‎ “copie a‎ pesquisa‎ no‎ caderno”. E assim o aluno não reflete sobre o que encontrou e nem mesmo consegue refazer a busca sozinho.

Pensando sobre essas questões, recorre-se à aprendizagem colaborativa que também é um fundamento das ações metodológicas da pesquisa, que oferece suporte teórico para atender ao paradigma emergente do ensino com tecnologias e a construção partilhada do aprender entre professor-aluno e aluno-aluno, em um exercício contínuo de superação de dificuldades e limites, tanto no que se refere ao conhecimento, quanto à socialização e à afetividade dos envolvidos.

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Com essa fundamentação, iniciamos a atividade pedagógica pelo desenvolvimento de um planejamento da ação docente. O planejamento é uma premissa para que o professor caminhe em direção aos objetivos que estabeleceu nas atividades de ensino aprendizagem. Para Libâneo (1991, p. 222), “planejamento‎ é um processo de sistematização e organização das ações do professor, um instrumento da racionalização do trabalho pedagógico que articula a atividade escolar‎com‎os‎conteúdos‎do‎contexto‎social”.‎

O planejamento esteve sujeito a alterações, de acordo com as adequações necessárias ao longo da metodologia. Estimamos que o período de quatro meses (agosto, setembro, outubro, novembro/2017) fosse satisfatório para cumprir todas as metas e etapas da proposta metodológica em campo.

3.1 Primeiro Momento: Planejamento da produção do livro digital

Apresentamos a seguir o planejamento que iniciou em agosto de 2017 pela revisão bibliográfica dos autores que dão suporte teórico à pesquisa e, seguidamente pela sistematização dos dados (Quadro 02). Posteriormente, apresentaremos os conceitos e conteúdos trabalhados com os alunos (Quadro 03). Em seguida, definimos as competências e habilidades segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000) e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006)22, considerando a realidade dos alunos e sua relação com o contexto social em que estão inseridos (Quadro 04).

Definimos os principais referenciais bibliográficos e documentais utilizados, seus respectivos conceitos e teorias; dessa forma, pudemos embasar a pesquisa- ação nos autores que contribuem para o pensamento teórico do ensino de Geografia.

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