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1 O ENSINO DE GEOGRAFIA E A EXPERIÊNCIA METODOLOGICA COM

2.2 Sujeitos da pesquisa

Uma das questões-problema da presente pesquisa surge da constatação, no exercício da docência, de que, ao chegarem ao Ensino Médio, os alunos não possuem os conhecimentos básicos necessários para compreenderem os conceitos fundamentais da Geografia. Além dos conhecimentos básicos, percebe-se, principalmente após as avaliações diagnósticas realizadas no início do ano letivo, a ausência do conjunto de competências e habilidades que perpassam todas as áreas do conhecimento.

Os dados da Prova Brasil nos dão uma dimensão dos níveis de proficiência em Matemática e Língua Portuguesa que os alunos possuem no 9º Ano. A partir da análise desses resultados, os professores das demais áreas podem traçar estratégias para sua prática docente. A prova de Matemática para o 9º Ano conta com 37 descritores, são avaliadas as habilidades de resolver problemas em quatro temas: espaço e forma; números e operações; grandezas e medidas; tratamento da informação. Já a prova de Língua Portuguesa utiliza 21 descritores que estão agrupados em seis blocos: procedimentos de leitura; implicação do suporte, do

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gênero e/ou do enunciador na compreensão do texto; relação entre textos; coerência e coesão no processamento do texto, relações entre recursos expressivos e efeitos de sentido e variação linguística.

Os resultados do aprendizado são classificados em quatro níveis: avançado, proficiente, básico e insuficiente (Figura 04). Os dados mostram que a escola Rui Barbosa possui grande parte dos alunos em nível básico de proficiência: em 2011, foram 68%; em 2013, foram 52% e em 2015 foram 64%. Os alunos considerados em nível básico precisam de acompanhamento e atividades que visem desenvolver as lacunas no aprendizado. É crítica a quantidade de alunos que possuem nível insuficiente; em 2011, foram 25%; em 2013, foram 31% e em 2015 foram 12%. Os alunos considerados em nível insuficiente apresentam poucas competências e necessitam de recuperação de conteúdos. Assim, entende-se que os alunos que chegam ao 1º ano do Ensino Médio possuem lacunas nos conhecimentos básicos. O professor, ao diagnosticar as deficiências apresentadas pelos alunos, precisa assumir uma postura de incômodo e refletir sobre metodologias que possam contribuir para a superação dessas dificuldades.

Analisamos os dados de Língua Portuguesa, pois eles fornecem um diagnóstico das deficiências e desafios que precisamos superar junto aos nossos alunos. Desenvolver uma metodologia de produção de livro digital em uma escola onde os alunos não possuem as competências e habilidades de leitura e escrita é uma proposta que visa contribuir com a mitigação desse problema.

É importante relacionar o déficit de aprendizagem com as dificuldades que os alunos apresentam na compreensão dos conteúdos disciplinares, estabelecendo pontes com as relações cotidianas. Essas dificuldades têm sido um dos objetos da nossa prática docente, pois acreditamos que, para aprender Geografia é necessário que o aluno seja capaz de ler, escrever, refletir, analisar e comparar utilizando-se dos conceitos geográficos.

Outra preocupação para os educadores da escola, independente da área, está relacionada ao comportamento de acomodação dos alunos no processo de ensino-aprendizado. É como se o aluno fosse à escola para assistir à aula15 e não

15 O‎ termo‎ “assistir‎ à‎ aula”‎ (ou‎ assistir aula, com usualmente falam) é comumente utilizado pelos

alunos e até pelos professores para se referirem ao cotidiano escolar e ao processo de ensino em sala de aula. Essa expressão revela como (mesmo com os avanços nas mídias, tecnologias e

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para descobrir, aprender, questionar e pensar sobre o mundo, utilizando-se dos conhecimentos curriculares para a vida. Diante desse notável desinteresse do aluno em aprender determinados conteúdos, é necessário construir um ensino reflexivo e significativo com eles, tecendo as tramas do aprendizado com as subjetividades dos sujeitos, os conceitos teóricos e os conteúdos escolares.

2.3 Procedimentos da pesquisa

Toda pesquisa consiste em procedimentos sistemáticos que tem por objetivo descobrir e interpretar situações ou fatos que se inserem dentro de uma realidade. Para Barros (1990, p. 14),

A pesquisa é definida como uma forma de estudo de um objeto. Este estudo é sistemático e realizado com a finalidade de incorporar os resultados obtidos em expressões comunicáveis e comprovadas aos níveis do conhecimento obtido.

Para assegurar a confiabilidade da pesquisa é necessária a adoção de um método adequado, capaz de contemplar da melhor forma possível o problema de investigação (VERA, 1980).

A metodologia das pesquisas científicas pode ser classificada e definida conforme sua abordagem, finalidade e procedimentos técnicos empregados (GIL, 2010).

A presente pesquisa encontra suporte na definição teórico-metodológica de Thiollent (2005, p. 14) sobre pesquisa-ação, segundo o autor ela se configura como:

[...] pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um metodologias no ensino) as relações de ensino-aprendizagem ainda colocam o professor como o mestre do conhecimento inquestionável e o aluno como um mero receptáculo das informações, hierarquizando as relações de ensino-aprendizagem.

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problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos do modo cooperativo ou participativo.

Detectado o desafio de ensinar Geografia na perspectiva de uma educação geográfica (CASTELLAR, 2010), utilizando-se das tecnologias, com conteúdos procedimentais e valorativos (CAVALCANTI, 1998, p. 53) e possibilitando o desenvolvimento de competências e habilidades definidas para o Ensino Médio (PCN, 1998) e BNCC (2017), optou-se pela pesquisa-ação, que prevê a possibilidade da aprendizagem ser associada ao processo de investigação (THIOLLENT, 1986).

O corpus da pesquisa objetivou produzir um material pedagógico, para professores do Ensino Médio, que contém uma proposta metodológica de produção de livro digital para o ensino de Geografia. E para, além disso, experienciar e avaliar suas contribuições no processo de ensino-aprendizado dos alunos em Geografia. A aplicação da metodologia esta inserida em uma perspectiva de aprendizagem significativa (AUSUBEL, 1982) e considera a importância da tecnologia ser contemplada na prática pedagógica do professor de Geografia.

A metodologia utiliza também o conceito de Dillenbourg (1999) sobre aprendizagem colaborativa, que ocorre em uma situação na qual duas ou mais pessoas aprendem ou tentam aprender conjuntamente. No caso da presente pesquisa, a colaboração ocorreu nos momentos de produção do livro, tais como, pesquisas de campo, debates dos conceitos geográficos, revisão dos textos, produção de conteúdos, etc. A aprendizagem colaborativa coloca-se como uma opção favorável para o ensino em tempos de comunicação digital, pois possibilita a integração dos conceitos da Geografia escolar com o cotidiano coletivo dos alunos, por meio das tecnologias e da troca de conhecimentos, entre os membros do grupo.

Refletindo sobre a construção de aprendizagens no cotidiano escolar impregnado de tecnologias, percebe-se que não é a quantidade de informações que consolida o conhecimento, pois as informações estão por toda a parte. O que torna significativa a aprendizagem é a metodologia e a didática que o professor utiliza no ensino e esses nos convidam a um constante exercício de aprender a aprender e aprender a ensinar. Para Kenski (1998, p. 61):

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O estilo digital engendra, obrigatoriamente, não apenas o uso de novos equipamentos para a produção e apreensão de conhecimento, mas também novos comportamentos de aprendizagem, novas racionalidades, novos estímulos perceptivos. Seu rápido alastramento e multiplicação em novos produtos e em novas áreas, obriga-nos a não mais ignorar sua presença importante.

Utilizar as TIC em sala de aula não‎ significa‎ excluir‎ toda‎ a‎ “bagagem”‎ metodológica e didática construída ao longo dos anos de formação do professor, sendo possível agregar novas ferramentas e metodologias sem menosprezar as eficazes práticas tradicionais. Uma aula expositiva pode ser tão significativa, divertida e integradora para os alunos quanto uma aula que utilize alguma ferramenta tecnológica. Em ambas as metodologias, o professor é um importante orientador da aprendizagem. Nesse sentido, Behrens (2000, p. 74) nos diz que:

O reconhecimento da era digital como uma nova ferramenta de categorizar o conhecimento não implica descartar todo o caminho trilhado pela linguagem oral e escrita, nem mistificar o uso indiscriminado de computadores no ensino, mas enfrentar com critérios os recursos eletrônicos como ferramentas para construir processos metodológicos mais significativos para aprender.

A centralidade do professor na era digital fica clara quando se entende que é ele que media as possibilidades de aprendizagem com as ferramentas digitais para que não sejam apenas consumidas, mas principalmente que produzam conhecimentos. Para Behrens (2000, p. 75),

o professor deve levar em consideração que, além da linguagem oral e da linguagem escrita que historicamente acompanham o processo pedagógico de ensinar e aprender, é necessário considerar também a linguagem digital.

Pierre Lévy (1999) diz que a linguagem digital se apresenta nas novas tecnologias eletrônicas de comunicação e na rede de informações e o docente precisa desempenhar propostas pedagógicas e metodológicas pautadas na construção individual e coletiva do conhecimento.

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2.3.1 Os momentos metodológicos para trabalhar a produção de livros digitais em aulas de Geografia

Sendo a sala de aula e o entorno escolar espaços privilegiados para a produção de conhecimentos buscou-se uma metodologia que pudesse desenvolver as linguagens orais, escritas e digitais no ensino de Geografia. A pesquisa tem como conceitos fundamentais: espaço geográfico, lugar, paisagem, região, território, desenvolvidos com os alunos durante todas as etapas da metodologia, dividida em três momentos:

O 1º momento consiste no exercício de traçar os conhecimentos, habilidades e atitudes que a professora precisará mobilizar para o exercício da ação docente. Fazem parte desse momento a revisão bibliográfica, a pesquisa sobre o tema ensino de Geografia, o planejamento das oficinas de produção do livro digital, o estabelecimento das metas, ações e datas do cronograma.

O 2º momento consiste no conjunto de ações desenvolvidas com os alunos na escola: oficinas de predição e conceituação, aulas de campo, oficinas de produção textual, apresentação das pré-produções, correções, ilustrações, edição, publicação do livro na plataforma digital e mostra literária.

No 3º momento, analisou-se a metodologia de produção do livro digital no ensino de Geografia. Contemplamos a elaboração da metodologia, sua aplicação e as contribuições para o ensino de Geografia.

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