Terceiro Momento: A metodologia de produção do livro digital na relação

Construir uma proposta de ensino de Geografia que contemple diferentes áreas do conhecimento é um desafio; aplicar a proposta e avaliar suas contribuições são desafios ainda maiores. Não obstante, constatamos que a realização desta pesquisa promoveu novas relações de ensino-aprendizagem entre os participantes, nas quais diferentes conhecimentos e saberes agregaram-se e reestruturar-se para compor uma aprendizagem significativa na Geografia escolar.

Na aquisição dos conhecimentos geográficos evidenciou-se a capacidade de raciocínio desenvolvida ao longo da metodologia por meio da interligação entre os conceitos e conteúdos trabalhados (quadro 01) e o cotidiano da vida na cidade de Tibau. Essa aquisição dos conhecimentos é entendida por Castellar (2010, p. 100) quando:

Ao se apropriar de um conceito, o aluno precisa dar-lhe significado, inserir a nova informação para alterar esquemas, criando uma estrutura de pensamento, que pode ser simples – por exemplo, relacionando os fenômenos estudados como os do cotidiano e, com isso, estimulando mudanças conceituais.

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Essa tarefa foi realizada em diferentes momentos através das atividades propostas e por fim sistematizada no livro digital.

Os conhecimentos geográficos que os alunos apresentavam no início da experiência eram precários e fragmentados, demonstrando uma compreensão superficial de Geografia e, por conseguinte, sobre a cidade, sem relacioná-la com o cotidiano da sociedade, dos moradores e deles próprios. Pelo que nos foi possível aferir no decorrer de toda a metodologia, enquanto mediadora do processo de ensino-aprendizagem, é que a aprendizagem dos alunos foi significativa, na medida em que:

 Propiciou condições para os alunos desenvolverem e assimilarem conceitos e conteúdos da Geografia;

 Possibilitou uma vinculação entre os conhecimentos aprendidos e a realidade de quem aprende;

 Promoveu a aprendizagem colaborativa e a valorização dos saberes individuais e coletivos;

 Favoreceu o protagonismo discente;

 Obteve produções discentes variadas tais como: murais, desenhos, fotos, relatórios de campo, entrevistas, pesquisa bibliográficas e textos autorais.

O fato da metodologia utilizar as TIC estimulou os alunos, já que eles, em geral, sentem maior interesse de aprender quando são motivados e envolvidos pela proposta de ensino. A princípio a motivação foi lenta, pois os alunos (na primeira oficina) viram que se tratava de um processo de ensino que envolveria dedicação e consecutividade, e que não‎era‎apenas‎“uma‎atividade‎de‎busca‎na‎internet”,‎ou‎a‎ “leitura‎de um livro em site”,‎como‎alguns‎pensaram que seria. Mas à medida que as atividades foram sendo desenvolvidas, os alunos foram se integrando, compartilhando informações, preferencias de leitura, histórias sobre a cidade de Tibau etc. O grupo foi se entrosando, as ideias de produção foram se delineando e houve a expectativa positiva de ver o livro pronto. A análise dos objetivos das oficinas ajudou na identificação desses resultados; no entanto, essa avaliação foi ampla considerando todo o processo de ensino.

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A valorização da participação dos alunos, principalmente nos momentos de socialização, foi imprescindível para a autoestima dos membros do grupo, e para identificarmos as competências dos alunos que contribuiriam na elaboração do livro.

Sabemos que os nossos alunos são nativos digitais e como tal utilizam velozmente os smartphones, tablets e redes sociais, seu tempo de comunicação é instantâneo e a ansiedade por resultados são imediatos, esses comportamentos são inerentes à cibercultura. Durante muitos‎momentos‎ouvimos‎dos‎alunos‎“professora não é melhor agente postar logo na plataforma”‎ou‎“ainda tem que escrever no papel para depois digitar?”. Diante desse cenário destacamos a centralidade da mediação pedagógica que orientou também os aspectos emocionais do grupo, no sentido de elucidar que ao realizarmos um projeto coletivo, de forma colaborativa, devemos obedecer a etapas, ter cautela e respeitar o tempo de cada indivíduo. Sobre a mediação do professor Pontuschka; Paganelli; Cacete (2009, p. 261) afirmam que:

O professor tem um importante papel de mediador entre o aluno e a informação‎ recebida,‎ promovendo‎ o‎ “pensar”‎ e‎ desenvolvendo‎ a‎ capacidade do aluno de contextualizar, estabelecer relações e conferir significados às informações.

Outro aspecto importante foi orientar e acompanhar o uso dos recursos digitais para que os grupos realizem as atividades em tempo hábil, pois eles facilmente distraem-se; após as orientações, os alunos conseguiram executar as atividades e à medida que surgiam dúvidas, os alunos colaboravam uns com os outros.

A proposta metodológica, ao utilizar diferentes linguagens e áreas do conhecimento, contribuiu para o ensino de Geografia, visto que os alunos realizaram leitura, interpretação e conceituação, expressas não apenas na produção dos textos, como também em todo o processo de ensino-aprendizagem. Sobre essa contextualização Pontuschka; Paganelli; Cacete (2009, p. 174) afirmam que: “Para aprender a complexidade do real, faz-se necessária a experiência simultânea de muitos olhares, da reflexão conjunta de ações em direção ao objetivo proposto pelo grupo de trabalho”.

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O aprendizado foi identificado no aprimoramento da aquisição do “olhar‎ espacial”‎sobre‎as‎paisagens,‎nos‎diálogos‎em‎grupo,‎em‎questionamentos‎com os moradores, nas descobertas de fatos cotidianos e nas relações globais que interferem no cotidiano da cidade.

A metodologia de produção de livros digitais para a Geografia escolar foi considerada uma prática inovadora e significativa, suas contribuições podem ajudar a responder alguns desafios na área do ensino de Geografia. Temos a esperança de que, através dela, seja possível auxiliar os docentes em sua prática e, consequentemente, os alunos que a vivenciarem em seus percursos de aprendizagem.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola tem a responsabilidade de ensinar os conhecimentos formais e preparar os jovens para a vida. Dependendo que como esse processo é conduzido e absorvido pela comunidade escolar, há o desenvolvimento das competências e habilidades capazes de tornar o aluno um pensador crítico. Nesse processo é fundamental superarmos o obstáculo epistemológico que percebe o aluno como um mero receptáculo dos conhecimentos que o professor possui e avançarmos para a visão da aprendizagem significativa e colaborativa em que se valorizam as múltiplas habilidades e conhecimentos dos envolvidos ao passo em que se desenvolvem valores humanos e filosóficos mais amplos como solidariedade, cooperação, tolerância e respeito à diversidade de ideias e culturas.

O presente trabalho se inseriu no campo do ensino de Geografia, mais especificamente na linha de pesquisa que propõem metodologias que contribuam para seu processo de ensino-aprendizagem. A proposta da produção de livros digitais surgiu a partir da identificação das lacunas que os alunos do Ensino Médio, da Escola Rui Barbosa, possuem na compreensão dos conceitos e conteúdos da Geografia, na leitura e interpretar textos e imagens, na reflexão e construção de textos, além da apatia e desestímulo por aprender os conteúdos escolares. Nesse cenário desafiador, temos outra questão que merece destaque que é a constante presença e uso dos celulares, conectados a internet, nas salas de aula e demais espaços escolares.

Diante dessa conjuntura objetivamos produzir um material pedagógico para professores do Ensino Médio, que contêm uma proposta metodológica de produção de livro digital para o ensino de Geografia. Em seguida aplicamos a proposta e avaliamos suas contribuições no processo de ensino-aprendizado dos alunos em Geografia. Os objetivos foram alcançados, sendo importantes contribuições da pesquisa seus dois produtos:‎ o‎ primeiro‎ o‎ material‎ pedagógico‎ “Metodologia de produção do livro digital para o ensino de Geografia”, e o segundo o livro digital “Expedições Geográficas pela cidade de Tibau-RN”, resultante da experiência proposta pelo material pedagógico.

O material produzido, oferta aos professores uma metodologia de produção de livro digital que instrumentaliza a prática docente com diversas atividades que

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articularam os conceitos e conhecimentos da Geografia, atividades de leitura e escrita e uso das TIC no desenvolvimento de competências e habilidades requeridas dos jovens na atualidade. O livro digital produzido pelos alunos contribui para o ensino de Geografia por evidenciar os conhecimentos geográficos adquiridos pelos alunos, além da valorização de suas competências e habilidades, sendo um produto do protagonismo discente, que tanto valor agrega ao processo de ensino- aprendizagem.

Entendemos que a geografia escolar é central na formação de cidadãos capazes de compreender, entre outras coisas, o espaço geográfico a partir das múltiplas interações entre a sociedade e natureza. Em nossa complexa sociedade, que constantemente amplia e veicula informações, somos desafiados a propor ou ressignificar as formas e métodos de ensinar e aprender. Nesse contexto o professor vem buscando melhores resultados na sua prática através de proposições que aproximem os conhecimentos e conteúdos da realidade dos alunos, realidade essa, impregnada de comunicação veloz e interativa, relações pessoais virtuais, jogos, vídeos e etc.

Nesse cenário, a atuação docente pode ser entendida em uma perspectiva menos autoritária e mais propositiva e mediadora, negando o viés de professor detentor exclusivo do conhecimento, democratizando e corresponsabilizando o aluno pela aprendizagem. Nessa perspectiva, o professor não apenas apresenta os fatos e as informações na sala de aula, como também realiza o tratamento didático dos conteúdos, em um exercício que integra informações e conteúdos à geografia cotidiana dos alunos, gerando nesse processo a aprendizagem significativa e colaborativa.

A metodologia de produção de livro digital é uma proposição inédita e sua aplicação tornou possível conhecermos suas implicações no ensino-aprendizagem em Geografia na realidade que investigamos. Compor a metodologia foi uma busca pela Educação Geográfica que nos impulsiona a superar o ensino que se restringe apenas a exposição e memorização sendo também descontextualizado do modo de viver dos estudantes. A proposta contribuiu com o processo de ensino- aprendizagem ao torná-lo significativo para os alunos da educação básica. O estudo ampliou as conexões entre diferentes áreas do conhecimento em uma proposta que se adequa as necessidades da atualidade e as orientações dos PCNs e da BNCC.

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A análise da metodologia experiênciada mostrou que houve reflexão sobre os conceitos geográficos, autoria e protagonismo discente, aprendizagem significativa e colaborativa, valorização das habilidades individuais, do material didático produzido sem custos, com possibilidades de compartilhamento utilizando-se as TIC e recursos digitais disponíveis.

Os alunos construíram suas concepções geográficas sobre o lugar onde moram com indícios de aprendizagem significativa, pois consideramos a ampliação das competências gramaticais e textuais, mas principalmente a construção discursiva impregnada da apropriação dos conceitos, com uma estrutura de pensamentos conceituais críticos, analíticos e poéticos.

A pesquisa evidenciou que não é apenas o uso das TIC na sala de aula que garantem a aprendizagem. Faz-se mister a mediação pedagógica do professor no processo de ensino-aprendizagem. E isso se torna possível quando o professor desenvolve e/ou aplica uma metodologia articulada a objetivos bem definidos e adequados à realidade do aluno.

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