• Nenhum resultado encontrado

As plataformas de gestão de cidades as Smart City Platforms (SCP)

Romper silos funcionais e integrar o conjunto de sistemas setoriais numa plataforma de gestão integral da cidade é o desafio que a vanguarda das cidades inteligentes está enfrentando e parece ser o tema que concentrará os esforços nos próximos anos e sobre o qual restam muitas dúvidas. A SCP (Smart City Plataform) configura-se, desse modo, como o coração tecnológico da smart city.

No estado atual das smart cities, os sistemas setoriais não estão consolidados e sua integração em uma plataforma de cidade enfrenta barreiras que são tecnológicas, por um lado, mas também são políticas e organizacionais, à medida que se pretende uma nova forma de organizar a gestão da cidade.

Um exemplo dessa evolução pode ser visto no caso de Amsterdã, uma das cidades mais ativas quanto a desenvolver sistemas setoriais inteligentes, da iluminação pública à gestão de resíduos. O primeiro projeto implantado, em 2006, foi de iluminação pública em associação com a Philips. Em 2013, Amsterdã, e também Copenhague, optaram por implementar a SCP da Cisco, buscando uma plataforma horizontal que permitisse a agregação e gestão integral da informação em escala urbana, frente à existência de diversas aplicações setoriais estanques e sem conexão, desenvolvidas ao longo dos anos (PWC, 2014a).

Um dos exemplos mais populares dessa integração vertical, e que evidencia como vão se digitalizando as cidades, são os sistemas integrados de transporte que englobam ônibus, metrô e trem com uma tarifa unificada e um crescente número de aplicações para

smartphones sobre horários, destinos, conexões e outros dados de interesse para o usuário.

A integração está sendo alavancada pelas empresas integradoras de sistemas e as concessionárias de serviços urbanos básicos (água, resíduos sólidos urbanos, energia, jardinagem, iluminação pública etc.), que buscaram sinergias. Na gestão, evoluiu-se para a medição de resultados (e em muitos casos de retorno), baseada em sistemas de indicadores e não nos recursos utilizados.

a) Cidadão, o sensor realmente inteligente

Uma cidade inteligente não pode se basear unicamente nas capacidades tecnológicas das empresas integradoras de sistemas ou na visão dos gestores urbanos, por melhor intencionados ou mais competentes que sejam. A cidade inteligente precisa gerar compromisso com o cidadão. Uma aliança entre a cidade e seus grupos de interesse consegue que a cidadania se envolva e se comprometa ao ver sua cidade como um projeto comum, importante e seu.

A cidade de Sidney foi pioneira em empregar crowdsourcing para gerar inovação pela cidadania. Incentivou concursos de ideias, comunidades de interesses ativas, associações de líderes, think tanks etc. que trabalham de maneira transversal à cidade e são apoiados pelo governo municipal, com um departamento específico dedicado a facilitar laços entre comunidades e setores produtivos locais.

As mídias sociais têm potencial para gerar inovação nas cidades: empregando os recursos gerados (dados, textos, vídeos, localização geográfica), é possível ter uma visão global e sintética da cidade.

Grandes volumes de dados eletrônicos podem ser utilizados mesmo na ausência de dados obtidos de dispositivos móveis ou mídias sociais. A Figura 8, por exemplo, mostra a imagem do uso do bilhete único de transporte na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o que pode ajudar no planejamento das rotas de ônibus, dos horários etc.

Monitorando as mídias sociais, é possível obter uma visão da cidade que ajude as autoridades locais a empreenderem uma melhor gestão urbana. Muitas situações críticas podem ser mapeadas de maneira mais ajustada ao se utilizar a informação que os cidadãos proporcionam, mais adequada do que a proveniente de sensores ad hoc, contribuindo para o manejo eficiente do trânsito, de eventos, incidentes em serviços públicos e inclusive desastres naturais e emergências. Apesar de haver alertas às possibilidades de invasão de privacidade, quando acompanhados de mecanismos apropriados à salvaguarda de direitos, os dados de sensores, mídias sociais e/ ou celulares podem ser fontes importantes de informações para a gestão urbana.

Figura 8 - Uso do bilhete único de transporte na cidade do Rio de Janeiro.

Fonte: Senseable Rio, 2015.

O Rio de Janeiro oferece outro exemplo de uso de informações de celulares. Um deles, desenvolvido pelo Pensa Sala de Ideias, grupo de big data do mu- nicípio, foi a análise dos deslocamentos feitos por brasileiros e turistas para irem à festa de réveillon 2012/2013, em Copacabana. O mapa final exibia os horários de pico e os deslocamentos de dois milhões de pessoas que foram à comemoração nas areias da praia. Foram coletados os dados de CDR (Call

Detail Record), registros de chamadas mantidos pelas empresas telefônicas

que incluem origem, número chamado e horário, entre outras informações, para descobrir de onde partiu a maioria das pessoas e em que local seria pos- sível aumentar a frota de ônibus. As imagens produzidas, de hora em hora, mostram os lugares mais movimentados no trajeto para Copacabana, e re- giões do Maracanã e central, além de como as pessoas se deslocaram pela cidade da tarde de 31 de dezembro à madrugada de 1º de janeiro. O resultado auxiliou o planejamento do transporte para as festas de réveillons dos anos seguintes e para o plano de locomoção posto em prática durante a Copa do Mundo de 2014.

b) Internet of Things (IoT)

A abundância atual de dispositivos conectados à Internet e, ainda mais, o número de dispositivos conectados que se prevê num futuro próximo são uma fonte de retroalimentação de informação para a cidade e seus habi- tantes, desde que a SCP seja concebida para permitir interoperabilidade e conectividade.

O desafio, na gestão da cidade inteligente, é conseguir integrar a informação gerada por uma variedade de redes urbanas e constituir-se como uma rede de redes, isto é, redes fixas e móveis de acesso à Internet, redes de abasteci- mento de água, de gestão do trânsito ou de fornecimento elétrico que são, todavia, só alguns exemplos de redes já existentes e que, quando se com- binam de maneira adequada, representam uma fonte de dados sem pre cedentes. No entanto, há o desafio de compilá-los, filtrá-los, interpretá-los e convertê-los, em tempo real, na resposta adequada (Figura 9), assegurando a privacidade dos cidadãos.

1 SMART CITIES: O ENCONTRO DE DUAS TENDÊNCIAS

Figura 9 - Internet of Things.