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Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 124-129)

CAPÍTULO III – O ENSINO MÉDIO E PROBLEMAS NO ENSINO

4.3 Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas

“Pedagógica, que é a proximidade pai/filhos, mestre/discípulo, isto é, a educação em todas as etapas da vida, a questão ideológica e cultural. Questão típica do homem é passar a experiência de geração para geração. O projeto de práxis de libertação pedagógica afirma o que o povo tem de exterioridade, de valores próprios”.

(Enrique Dussel)170

Quando analisamos a coexistência de vários ordenamentos dentro do seio da mesma sociedade, estamos obviamente falando em pluralismo. E o pluralismo de concepções pedagógicas traz para o profissional do ensino uma diversidade imensa em relação à transmissão do ensino.

Conforme o Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss171, Pluralismo

significa:

Conjunto de ideias segundo as quais os sistemas políticos, sociais e culturais podem ser interpretados como o resultado de uma multiplicidade de fatores ou concebidos como integrados por uma pluralidade de grupos autônomos, porém interdependentes; sistema que admite a existência, no seio de um grupo organizado, de opiniões políticas e religiosas e de comportamentos culturais e sociais diversos.

170 DUSSEL, Enrique. Filosofia da libertação na América Latina. São Paulo: Loyola, 1977, p. 93-101.

171 HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles; e FRANCO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário Houaiss da língua portuguesa.. Objetiva: Rio de Janeiro, 2009, p. 1510.

No dicionário de Sociologia, o Pluralismo Sociológico é uma orientação defendida por Georges Gurvitch172, para quem o social não é um fenômeno

uniforme, mas constituído de uma pluralidade de formas de sociabilidade, processos, grupos particulares e sociedades globais irredutíveis.

Também podemos citar a reflexão de Antonio Carlos Wolkmer173 que

apresenta inovadora preocupação em relação ao pluralismo no âmbito do direito nacional. É o pluralismo jurídico como um projeto alternativo para espaços periféricos do capitalismo latino-americano, articulando alguns requisitos, como:

a) a legitimidade dos novos sujeitos sociais;

b) a democratização e a descentralização do espaço público participativo;

c) a defesa pedagógica de uma ética da solidariedade;

d) a consolidação de processos que conduzam a uma racionalidade emancipatória.

O pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas está relacionado à liberdade de ensinar e divulgar o pensamento. A partir do momento que a Constituição Federal faz um tratamento à parte, utilizando o inciso III, do art. 5º, tem a intenção de sobressair o seu grau de importância frente ao livre pensamento que o professor tem, para se expressar em sala de aula ou fora dela, como em seus artigos científicos, ou quais outras formas que venha expressar o seu conhecimento.

172 Georges Gurvitch foi o autor que construiu a teoria mais completa e abrangente do Pluralismo Jurídico na França, inspirando-se em Leon Petrazycki e em Eugen Ehrlich. Sua tese de doutoramento versou sobre o Direito Social (1931), tendo um artigo publicado sobre a teoria pluralista como fonte do Direito Positivo no ano de 1934 e um livro sobre o mesmo tema no ano seguinte. MARTINS, Daniele Comin. O direito social de Georges Gurvitch. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-direito-social-de-georges-gurvitch> Acesso em: 03 ago. 2014.

173 WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: nuevo marco emancipatório en América Latina. In: TORRE RANGEL, Jesus Antonio de la (org.). Pluralismo jurídico. San Luis Potosí: Centro de Estudios Jurídicos y Sociales P. Enrique Futiérrez, 2007, p. 26.

Segundo John Stuart Mill174,

o melhor governo não possui mais direito a ele que o pior. É tão ou mais nocivo quando exercido em conformidade com a opinião pública do que quando em oposição a ela. Se todos os homens menos um partilhassem a mesma opinião, e apenas uma única pessoa fosse de opinião contrária, a humanidade não teria mais legitimidade em silenciar esta única pessoa do que ela, se poder tivesse, em silenciar a humanidade. (...) Mas o que há de particularmente mau em silenciar a expressão de uma opinião é o roubo à raça humana – à posteridade, bem como à geração existente, mais aos que discordam de tal opinião do que aos que a mantêm.

Mais ainda, conforme o autor175,

E o mundo, para cada indivíduo, significa a parte deste com a qual entra em contato: seu partido, sua seita, sua igreja, sua classe social. Por comparação, pode chamar-se quase liberal ou lúcido o homem para quem o mundo significa algo tão abrangente como seu país ou sua época. Tampouco sua fé nessa autoridade coletiva de modo algum se deixa abalar pela consciência de que outras épocas, países, seitas, igrejas, classes e partidos pensaram e mesmo agora pensam exatamente o contrário.

Mediante o pluralismo que é a coexistência de vários ordenamentos dentro do seio de uma mesma sociedade, encontramos esses pensamentos em várias épocas e lugares do mundo. E não poderia ser diferente, pois todos os pensamentos, quando externados, passam a fazer parte da coletividade, e o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas podem fazer com que o alunado,

174 MILL, John Stuart. A liberdade; Utilitarismo. Trad. Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2000. (Clássicos) p. 28-30.

175 MILL, John Stuart. A liberdade; Utilitarismo. Trad. Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2000. (Clássicos) p. 30-31.

não forme pensamentos de “massa” seguindo aquela doutrina que o Estado, na figura do seu governante, dita as regras.

Não podemos privar os professores de ensinar as suas disciplinas com a maior maestria que podem fazer, e muito menos deixar de criar em nossos alunos concepções diferentes das quais já tinham ciência, aprendendo a fazer críticas em relação a quaisquer tipos de assuntos, sejam eles políticos, sociais ou religiosos.

Segundo José Afonso da Silva, a teoria do pluralismo reconhece várias formas:

Pluralismo social, jurídico, político, de interesse, de ideias etc., que reconduzem a dois tipos básicos: pluralismo ideológico, que “designa a variedade de crenças, de concepções éticas e de valores que os indivíduos ou os grupos têm por fundamentais” – em que entra a liberdade de religião, de pensamento, dei ideias, etc.; e pluralismo

institucional,que compreende o desenvolvimento das autonomias e “o reconhecimento das autonomias e “o reconhecimento dos direitos das ‘formações sociais’, quais sejam, a família, as confissões religiosas, comunidades de trabalho, a escola etc.” – e que, se se quiser, pode ser desdobrado em três: pluralismo político, pluralismo ideológico e

pluralismo institucional. Mas não foi à toa que o conservadorismo da Comissão de Redação adotou, correndo, a proposta de mudança, que pende para o privatismo, na medida em que “coexistência de instituições públicas e privadas de ensino” tende a igualar os dois tipos. [...]

A Constituição opta, pois, pela sociedade pluralista, que respeita a pessoa humana e sua liberdade, em lugar de uma sociedade monista, que mutila os seres e engendra as ortodoxias opressivas. O pluralismo é uma realidade, pois a sociedade de categorias sociais, de classes, grupos sociais, econômicos, culturais e ideológicos. Optar por uma

sociedade pluralista significa acolher uma sociedade conflitiva, de interesses contraditórios e antinômicos. O problema do pluralismo está, precisamente, em construir o equilíbrio entre as tensões múltiplas, e por vezes contraditórias; em conciliar a sociabilidade e o particularismo; em administrar os antagonismos e evitar divisões irredutíveis. Aí se insere o papel do poder político: “satisfazer pela edição de medidas adequadas o pluralismo social, contendo seu efeito dissolvente pela unidade de fundamento da ordem jurídica.

Ainda ressalta o autor:

O caráter pluralista da sociedade traduz-se, no Constitucionalismo ocidental – como nota André Hauriou -, “pelo pluralismo das opiniões entre cidadãos, a liberdade de reunião onde as opiniões não-ortodoxas podem ser publicamente sustentadas (somente, em princípio, a passagem às ações contrárias à ordem pública é vedada); a liberdade de

associação e o pluralismo dos partidos políticos, o pluralismo das candidaturas e o pluralismo dos grupos parlamentares com assento nos bancos das Assembleias”.

[...]

É imprescindível, contudo notar que uma sociedade pluralista conduz à

poliarquia, conforme ressalta Burdeau, “Politicamente a realidade do pluralismo de fato conduz à poliarquia, ou seja, a um regime onde a dispersão do Poder numa multiplicidade de grupos é tal que o sistema político não pode funcionar senão por uma negociação constante entre os líderes desses grupos. Nesse regime o Poder não é uma potência unitária; ele é o resultado de um equilíbrio incessantemente renovado entre uma pluralidade de forças que são, a um tempo, rivais e cúmplices. Rivais porque cada uma visa a fazer prevalecer seus interesses e suas aspirações; cúmplices porque as relações que elas mantêm entre si não vão jamais à ruptura que causaria a paralisia do sistema”.

Ao pesquisarmos atentamente a Constituição da República Federativa do Brasil, deparamo-nos com diversas inserções no texto constitucional de várias formas de pluralismo, por exemplo, em pluralismo social, pluralismo político (art. 1ºda CF), pluralismo partidário (art.17), pluralismo econômico (livre iniciativa e livre concorrência – art.170), pluralismo de ideias e de instituições de ensino (art. 206, III), pluralismo cultural, que se infere dos arts. 215 e 216, e pluralismo de

meios de informação (art. 220, caput, e §5º). Ainda temos uma sociedade livre,

justa, fraterna e solidária (“Preâmbulo” e art. 3º, I).

Ora, de tudo isso, chegamos à conclusão do grau de importância de termos inserido no texto constitucional a concepção de uma sociedade pluralista, já que, o pluralismo, aponta uma realidade mais humanitária de fundo igualitário, que supõe a superação dos conflitos e fundamenta-se, assim, a integração social, formando-se uma sociedade integrada como um todo.

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 124-129)