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Políticas Públicas: o sistema de Bolsas e as Bolsas Integrais

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 163-167)

CAPÍTULO V – O ACESSO À EDUCAÇÃO SUPERIOR E AS BOLSAS DE

5.4 Políticas Públicas: o sistema de Bolsas e as Bolsas Integrais

“Políticas públicas é o conjunto organizado de normas e atos tendentes à realização de um objetivo determinado”.

(Fábio Konder Comparato)229

Ao analisarmos as políticas públicas, verificamos que há um déficit muito alto, pois a aplicação dos investimentos na área educacional é extremamente baixa. Verificamos relatos, conforme Maria Teresa Uille Gomes, de que o Brasil está no “ranking” dos países com os piores índices educacionais do mundo230.

A América Latina é a região do mundo que apresenta as maiores desigualdades sociais, e a educação é capaz de reduzir esse quadro em 40%, razão pela qual o investimento orçamentário e financeiro em educação de qualidade para todos é fundamental.

Recentemente, observamos que os recursos destinados à educação, em razão de crises fiscais, são bem inferiores, motivo pelo qual são gerais os pedidos públicos da sociedade pela eficiência educacional. No entanto, a relação de igualdade ou equidade de acesso à educação é bem díspare em relação às classes sociais menos favorecidas. Por isso, a maior preocupação das pessoas tem relação com a qualidade de ensino, ou seja, uma prestação de serviço de qualidade, e exaurindo-se acesso universitário igualitário que não temos.

229 COMPARATO, Fábio Konder. Ensaios sobre o juízo de constitucionalidade de políticas públicas. In: MELLO, Celso Antônio Bandeira de. (Org.). Estudos em homenagem a Geraldo Ataliba. São Paulo: Malheiros, v.2, 1997, p.343-359.

230 GOMES, Maria Tereza Uille. Direito humano à educação e políticas públicas. 1ª ed. (ano 2009), 1ª reimp. Curitiba: Juruá, 2011. p. 185.

Maria Tereza Uille Gomes231 demonstra, em sua obra, grandes problemas

sociais, educacionais e principalmente de exclusão, em vários setores do Estado Democrático de Direito.

Juan Carlos Tedesco232 refere-se ao economista Lester Thurow ao tecer

declarações sobre a crescente desigualdade social:

Este modelo econômico pode garantir altos níveis de qualidade de vida para alguns e com isso poderá se manter. Também poderá funcionar do ponto de vista político, porque sempre haverá alguma forma de autoritarismo que consiga manter os excluídos fora dos circuitos da participação cidadã. O problema, diz Thurow e não um pedagogo nem um filósofo, é basicamente moral. Aceitaremos viver em uma sociedade que decide de maneira consciente deixar de fora uma grande parte de seus cidadãos? Este desafio ético constitui a base, a motivação fundamental, para buscar fórmulas políticas e econômicas que permitam enfrentar com êxito o objetivo de oferecer uma educação de qualidade para todos.

Ora como imaginar ser normal uma parcela da sociedade recebendo educação de qualidade em contrapartida uma parcela maior ainda ficando sem receber qualquer tipo de educação, seja ela de qualidade ou não.

Nos últimos vinte anos, os estudos sobre financiamentos em países latinos apresentam mudanças nas temáticas de recursos como gestão de escolas; os governos buscam universalizar a educação básica, no entanto, inviabilizam e não aprimoraram essa mesma educação básica.233

231 GOMES, Maria Tereza Uille. Direito humano à educação e políticas públicas. 1ª ed. (ano 2009), 1ª reimp. Curitiba: Juruá, 2011. p. 185-186.A partir da perspectiva de especialistas em Economia da Educação, foi realizado o Seminário Internacional sobre Financiamento e Alocação de Recursos em Educação, na cidade de Buenos Aires, no período de 15 e 16.11.2000, organizado pelo IIPE-Unesco/Buenos Aires.

Dentre o temário discutido, renomados autores abordaram questões como: financiamento da educação, equidade na alocação de recursos no setor, vínculo entre os recursos e o desempenho educativo setorial, eficiência e eficácia no gasto, propostas alternativas à alocação estatal de recursos e sustentabilidade e gestão das reformas educativas.

232 TEDESCO, Juan Carlos. UNESCO, 2002, p. vi. In: GOMES, Maria Tereza Uille. Direito humano à educação e políticas públicas. 1ª ed. (ano 2009), 1ª reimp. Curitiba: Juruá, 2011. p. 186.

233 GOMES, Maria Tereza Uille. Direito humano à educação e políticas públicas. 1ª ed. (ano 2009), 1ª reimp. Curitiba: Juruá, 2011. p. 186-187.

Como podemos deixar de fora uma grande parcela da nossa sociedade sem ter acesso a uma educação de nível superior e junto com esse embate enfrentarmos uma massa gigantesca sem orientações de cidadania. Então, cabe à sociedade em conjunto enfrentar esses problemas que fazem com que o País não se desenvolva plenamente.

Na visão de Maria Paula Dallari Bucci234,

O cenário social do novo desenvolvimento é animado pela grande renovação social e cultural associada à mudança no papel das mulheres, desdobramento da revolução sexual dos anos 1960.

O aumento da escolaridade e da participação do gênero em todos os escalões do mundo do trabalho e suas consequências demográficas, com a redução global da taxa de fecundidade, coincide com a maior presença da liderança feminina em movimentos da sociedade e da cultura e a ascensão das mulheres ao poder, de modo lento, mas persistente, em vários lugares do mundo. Começam a ocorrer alterações de estruturas simbólicas, como a representação da família, admitindo- se que ela figure como responsável pelo grupo familiar em algumas políticas sociais, segundo modelo adotado por organizações internacionais, com base em evidências empíricas de eficácia do gasto. Essas alterações tendem a repercutir sobre o funcionamento do Estado e do governo, entre outros aspectos, reclamando maior eficiência das políticas sociais.

O que conseguimos observar é que as sociedades estão mudando as suas configurações. Em um passado recente, as mulheres estavam ainda responsáveis pelos lares e pelo cuidado dos seus filhos. Hoje, nota-se que as mulheres estão cada vez mais no mercado de trabalho e, consequentemente, estudando mais.

Podemos constatar que, em salas de aulas, essas mulheres estão sempre em número maior, seja no ensino médio ou no universitário. E como um direito tão

234 BUCCI, Maria Paula Dallari. Fundamentos para uma teoria jurídica das políticas públicas. 2ª tiragem. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 30-31.

fundamental é uma condição social da pessoa humana, independentemente do sexo, da idade, da raça ou da sua etnia, as mulheres estão conquistando seu espaço.

Isso mostra uma profunda mudança social que atinge, também, o fenômeno da política institucionalizada; Trata-se da ‘revolução da informação e da comunicação’ que se instala com o uso, em grande escala, de computadores pessoais e o advento da internet. A partir da década de 1990, verificamos uma expansão das comunicações por telefonia celular e outros meios, o que marca, conforme Bucci235, o surgimento do século XXI.

(...) a velocidade com que vêm evoluindo as tecnologias da informação e comunicação, com o dinamismo dessas formas sociais, alimenta com um salutar sentido de urgência e inovação a vida política de um país que modifica muito morosa e gradualmente seu panorama institucional, pano de fundo de exclusão social e conformismo.

Ao compararmos o Estado brasileiro com diversos Estados mundo a fora, fica nítido o atraso em relação às políticas públicas educacionais. Por exemplo, o Estado do Uruguai concede a todo aluno inscrito no ensino fundamental um tablet para que este possa acompanhar as inovações tecnológicas e para que possam estar conectados ao mundo virtual, acesso as redes Wi-Fi gratuitamente em qualquer praça ou local público. Coisa que não ocorre aqui no Brasil.

235 BUCCI, Maria Paula Dallari. Fundamentos para uma teoria jurídica das políticas públicas. 2ª tiragem. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 31-33.

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 163-167)