III. LEVANTAMENTO DOS PROBLEMAS E SELECÇÃO DAS PRIORIDADES
2. ÁREAS-PROBLEMA
2.3. Pobreza e Inserção Social
a) Fraquezas
- Os diversos problemas são referentes a uma multiplicidade de temáticas: menores; imigração; etnias; violência doméstica; bolsas de pobreza; e precariedade habitacional.
- A população reformada correspondia no Ave a 59% da população inactiva ; no Norte os reformados representam 57% da população inactiva5. Mas em termos de pensionistas, o concelho não se distingue muito dos restantes espaços nacionais.
- As ajudas financeiras da Acção Social da Segurança Social têm sido essencialmente destinadas à área da Toxicodependência e à área da Precariedade;
- Os serviços judiciais de reinserção social acompanham diversos menores, por motivos de se encontrarem em risco ou por práticas desviantes; no caso dos adultos em acompanhamento, o tráfico e a
toxicodependência estão presentes.
- A maioria das famílias acompanhadas pelos serviços judiciais de reinserção social são caracterizadas por condições de pobreza e exclusão social, e em cerca de metade delas a problemática do alcoolismo está presente.
- Persistem no concelho diversas situações atípicas de habitação.
- Como nos demonstra o resultado de um levantamento efectuado em 1998, a toxicodependência usufrui de momento de grande visibilidade como o maior problema social no concelho.
- Foram sinalizadas 11 territórios críticos em termos de integração social e coesão comunitária (bairros, aglomerados habitacionais degradados). Cada uma delas tem características próprias, e algumas delas comungam de algumas características comuns. Umas foram e ainda continuam a ser objecto de atenções especiais por parte, nomeadamente, de programas e projectos específicos.
- Mantém-se uma elevada taxa de abandono da escolaridade obrigatória por parte da comunidade cigana, sendo os membros do sexo feminino particularmente afectados. A inexistência na maioria das situações de acompanhamento e integração em estruturas sócio-educativas das crianças ciganas, tem contribuído para a reprodução do ciclo de pobreza e exclusão.
- As actividades essencialmente relacionadas com a economia informal tem colocado a etnia cigana numa zona próxima do contacto com o consumo e tráfico de tóxicos.
- O alcoolismo tem vindo a demonstrar estar bem presente nas práticas, representações, atitudes e valorações locais. A sua extensão é tão problemática como a sua contínua invisibilidade. Diga-se a este respeito, que acções como o Projecto de Luta Contra a Pobreza contribuíram em muito para a visibilidade e a perspectivação do alcoolismo como um grave problema social e de saúde.
- Como nos demonstram situações de menores em risco, de famílias desestruturadas e de mulheres vítimas de violência, o alcoolismo marca a sua presença, já quase não fazendo sentido se ele é causa ou efeito da situação.
- A pluralidade de situações de pobreza e exclusão multiplica diversas situações de crianças de risco e/ou maus tratos. A par disto para diversos meios mantém-se um contexto que não reconhece a criança como cidadão com direitos, que ainda é carente de estruturas sociais de apoio (creches, pré-escolar) e que se conforma com o abandono escolar.
- Vítimas de violência doméstica, prostituição, carência económica, “mães-solteiras” – diversas situações indiciam uma realidade provavelmente mais abrangente onde a mulher se encontra numa posição desfavorável.
- As pensões abaixo da “linha de pobreza”, a decadência do sector primário, a paralisação do mercado de arrendamento, uma não prevenção da terceira idade em termos de saúde e estabilidade económica, continuaram a colocar muitos idosos em situações de carência.
-É crescente uma nova estrutura doméstica, a dos isolados, resultante da quebra de laços familiares e bastante fragilizadora do estado de autonomia.
- Os portadores de deficiência inserem-se ainda num quadro social com diversos constrangimentos: as barreiras arquitectónicas mantém visível um não reconhecimento de direitos; baixa integração no mercado de emprego; institucionalização do deficiente; e frágil sistema de estímulos ao seu desenvolvimento e integração na sociedade.
- Em todo o norte de Portugal, diversos dados indicam a persistência de uma “pobreza integrada” derivada em parte de ciclos geracionais de pobreza persistentes e de meios sociais locais não totalmente
penalizadores dessa situação.
- Fenómenos como o envelhecimento populacional, a generalização do desemprego de longa duração e do emprego precário, a concentração espacial de situações de pobreza e desigualdades na distribuição dos rendimentos vêm colocar diversos e novos desafios.
- O conjunto da população vulnerável, pobre ou excluída socialmente deverá incluir entre outros os seguintes grupos:
- desempregados de longa duração;
- mulheres vítimas de violência e discriminação;
- alcoólicos;
- portadores de deficiência;
- membros de minorias étnicas (ciganos; palop’s; imigrantes);
- toxicodependentes;
- idosos, pensionistas e isolados;
- famílias numerosas;
- e famílias monoparentais.
Estas diversas situações exprimem-se e interligam-se com diversos domínios de exclusão e
vulnerabilidade: a educação e a escola; o trabalho; o campo económico; a habitação; o campo social; o campo cultural.
b) Forças
- Foram implementados em cada uma das comissões sociais um Serviço de Atendimento Local,
envolvendo em 2003, 4 técnicas da Segurança Social, 5 técnicos da Câmara Municipal e 3 técnicos de 3 instituições particulares de solidariedade social, numa relação de 12700 habitantes por técnico, quando em 1999 a relação era de 30 000 por técnico.
- Diversas entidades da administração pública – tal como a Segurança Social, a Câmara Municipal, o Hospital e o Centro de Saúde - dispõem de serviços de acção social, envolvendo diversos técnicos. Por outro lado, várias entidades privadas não lucrativas têm recrutado pessoal da área do serviço social.
- Ultimamente algumas escolas já tentaram concretizar uma aproximação às especificidades culturais das crianças de etnia cigana.
- A experiência local demonstrou que actuações concertadas tomando a família como um todo, com a participação da comunidade local e com rápida integração ocupacional do doente apresentam maiores probabilidades de serem bem sucedidas na manutenção da abstinência de quem, segundo alguns, será sempre um alcoólico
- A existência de um conjunto vasto de Instituições de Solidariedade Social e o crescente envolvimento das autarquias locais nas questões da vulnerabilidade e serviços sociais podem contribuir para a
implementação de programas de combate à exclusão social; 6
- As organizações locais, principalmente as ligadas a sectores sociais, demonstram grande apetência para o desempenho de algumas funções também ao nível da educação, formação e saúde.
c) Oportunidades
- A implementação de novos projectos, a implementação das comissões sociais pode ser aproveitado para concertar territorialmente instituições e serviços em torno da atenção à população destes espaços
socialmente desfavorecidos e desvalorizados.
d) Ameaças
- Com o crescimento do processo de urbanização crescem as concentrações espaciais de situações de vulnerabilidade.
Quadro nº 11 – Possíveis indicadores de pobreza infantil
Bem-estar material Pobreza infantil (rendimentos e privação) Desemprego na família
Famílias dependentes da acção social (ex.: RSI, outros7)
Participação das crianças na força de trabalho (exploração de trabalho infantil)
Necessidades de habitação das famílias8
Saúde Taxa de mortalidade infantil para crianças (abaixo de 5 anos) Taxa de natalidade para adolescentes
Saúde infantil
Segurança infantil (rodoviária, doméstica, ...)
Consumo de drogas e álcool nas populações infanto-juvenis Listas de espera de crianças nos serviços de saúde (hospitais, centros...)
Prestação de cuidados de saúde pelas famílias Crianças com necessidades de saúde especiais Educação Frequência da educação pré-escolar
Literacia infantil
Escolaridade das populações infanto-juvenis Absentismo escolar
Abandono escolar9
Crianças com dificuldades10 de enquadramento e atendimento adequado nas escolas
Participação e Qualidade de Vida
Acesso a locais e equipamentos recreativos
Envolvimento em actividades extra-escolares (clubes) Capacidade para influenciar decisões (empowerment infantil)
Oportunidades de participação na tomada de decisão (escola, IPSS, etc.) Frequência de equipamentos de apoio social (creche, infantários e CATL)
Maus tratos a crianças e jovens11 Crianças com problemas com a justiça Crianças sem lar (....)
Crianças a viver fora da casa familiar
7 Apoios informais via Conferências Vicentinas, Programa Alimentar, ...
8 Está a ser realizado um levantamento camarário sobre habitação precária (ver – ref. Setembro
de 2003)
9 CAE Braga – abandono – Eng. Faria – director adjunto tb. faz parte do CLAS 10 disabilities
11 tipologias de maus tratos; ver Pedro Strecht – Crescer Vazio – repercussões psiquicas em