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O TERRITÓRIO VALE DO RIBEIRA PAULISTA

6.1 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO

6.1.3 Pobreza e Vulnerabilidade

O Vale também é reconhecido pela condição histórica de pobreza e vulnerabilidade social em que vive sua população, sendo que 71 mil pessoas estão cadastradas no Bolsa Família e 34 mil vivem na extrema pobreza52 (Ver anexo 2). É a região mais pobre do estado de São Paulo, como já dito, o mais rico da federação. Sua principal atividade econômica é o cultivo de banana e chá preto, juntamente com a pesca, ou seja, produtos não processados, de baixo valor agregado, que não dinamizam a economia local. O setor de serviços vem crescendo, mas a agricultura ainda é a atividade principal da região.

A média do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal da região, composta por três dimensões do desenvolvimento humano (longevidade, educação e renda), é de 0,6986, classificado como médio. Comparativamente, o IDHm médio do Estado de São Paulo é 0,783, classificado como “alto”, bem próximo de atingir “muito alto”. Ainda assim, dos 25 municípios da região, 13 possuem IDHm baixo (abaixo de 0,6), e o que “puxa” todos os outros IDHm para fora da classificação “muito baixo” e “baixo” é o componente de longevidade. A qualidade desse componente se garante, em parte, pela qualidade de vida que o ambiente natural do Vale do Ribeira proporciona, juntamente com iniciativas pontuais de colaboração intermunicipal na gestão pública da saúde. Os componentes renda e educação se mantêm historicamente baixos. Mesmo com melhora de todos os índices municipais, a região ainda é a mais pobre de São Paulo.

O Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) analisa os setores censitários do IBGE, classificando-os em sete grupos de vulnerabilidade – que vão de “baixíssima vulnerabilidade” a “alta vulnerabilidade”. Ele é formado por 15 indicadores: população (número de habitantes); população (%); domicílios particulares; domicílios particulares permanentes; número médio de pessoas por domicílio; renda domiciliar nominal média; renda domiciliar per capita; domicílios com renda per capita de até um quarto do salário mínimo;

52 Site do Sistema de Informações Gerenciais do MDA. Disponível em <http://sit.mda.gov.br/mapa.php>.

domicílios com renda per capita de até meio salário mínimo; renda média das mulheres responsáveis pelo domicílio; mulheres responsáveis com menos de 30 anos; responsáveis com menos de 30 anos; responsáveis pelo domicílio alfabetizados; idade média do responsável pelo domicílio; e crianças com menos de seis anos no total de residentes. Os resultados reforçam a situação de vulnerabilidade do Vale do Ribeira.

Figura 13 - Índice Paulista de Vulnerabilidade Social – 2010

Fonte: Seade, 2010.

Pelo mapa é possível verificar como o Vale do Ribeira Paulista é totalmente inserido no Grupo 7 (vulnerabilidade alta – setores rurais). De acordo com o documento de análise do IPVS, elaborado pela Fundação Seade, esse grupo é apresentado da seguinte forma:

No espaço ocupado por esses setores censitários, o rendimento nominal médio dos domicílios era de R$1.054 e em 42,5% deles a renda não ultrapassava meio salário mínimo per capita. Com relação aos indicadores demográficos, a idade média dos responsáveis pelos domicílios era de 48 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 13,1%. Dentre as mulheres chefes de domicílios 13,7% tinham até 30 anos, e a parcela de crianças de 0 a 5 anos equivalia a 9,2% do total da população desse grupo (SEADE, 2010b).

Já em pesquisa sobre o PIB dos municípios, a Fundação Seade (2012)53 levantou que, entre 2000 e 2010, a participação da Região Administrativa de Registro no PIB paulista aumentou de 0,2% para 0,3%, sendo a metade deste valor produzida somente por três municípios: Registro, Cajati e Iguape. A região, que engloba 14 municípios do Vale do Ribeira, manteve a baixa participação na economia do Estado, que contribui com 33% do PIB brasileiro.

Esse cenário não foi suficiente para alterar o padrão de distribuição dos investimentos anunciados por empresas privadas e estatais durante o período 2003-2008 em território paulista. De acordo com a Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo (Piesp) no período de 2003 a 2008, também realizada pela Fundação Seade, do total de US$ 116.538,70 milhões em investimentos anunciados, a região de Registro recebeu apenas US$ 1,4 milhão.

Figura 14 – Valor total de Investimentos anunciados. Regiões Metropolitanas e Administrativas do Estado de São Paulo – 2003-2008

Fonte: Kalemkarian, 2009.

Margarida Kalemkarian (2009, p. 75) afirma que “[...] além das restrições que a legislação ambiental impõe ao desenvolvimento da região, esse fraco resultado também pode ser atribuído à pouca divulgação que os meios de comunicação local e regional têm feito dos investimentos ali realizados”. Essa avaliação pode ser questionada. Modelos de desenvolvimento para o Vale do Ribeira são pesquisados por universidades, organizações sociais e técnicos públicos levando em consideração suas restrições ambientais, que vêm sendo

53 Fundação Seade, 2012. Disponível em: <http://produtos.seade.gov.br/produtos/pibmun>. Acessado em 23 jul.

negociadas pelas comunidades locais. Da mesma forma, frente à manutenção dos baixos resultados socioeconômicos da região, é cabível cogitar que o baixo investimento anunciado não seja somente em razão da não divulgação, mas motivado pela decisão de não investir no Vale, tomada pelas instituições pesquisadas. Essa hipótese pode ser reforçada pelos resultados dos anos seguintes. Segundo apurou a Piesp, no ano de 2012 foram anunciados investimentos de apenas R$ 215 mil no Vale do Ribeira de um total de US$ 39,3 bilhões (PIESP, 2013).

O valor anunciado de investimentos pode ser utilizado como indicador de tendências para a atividade econômica em determinado território. Resultado de decisões estratégicas dos poderes públicos e privados, ele sinaliza oportunidades ou não de crescimento econômico e a possível necessidade de intervenção pública com vistas a estimular esse crescimento.

Em 13 anos de levantamento, os investimentos na região apresentaram-se irrelevantes frente à capacidade privada e pública e à demanda regional, o que vem perpetuando a situação de vulnerabilidade da região.