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O aquário verde 1

– Seus dentes são barras de osso. Atrás deles, numa cela de cristal, suas palavras agrilhoadas. Lembre-se dos conselhos de um ancião: as palavras vis, as que colocaram em sua taça pérolas venenosas, a elas dê a liberdade. Como agradecimento por sua misericórdia, elas construirão a eternidade para você; mas as outras, as inocentes, elas, que gorjeiam falsas como um rouxinol sobre um túmulo – não as deve poupar. Enforque-as, como se fosse o carrasco delas! Pois assim que você as deixa sair de tua boca ou de tua pena – elas se transformam em demônios. As estrelas não cairão, pois eu falo a verdade! –

Esse testamento me foi deixado lá na cidade tão viva onde eu nasci, por um velho solteirão, um poeta perturbado, com um rabo-de- cavalo longo como uma vassoura de bétula. Ninguém conhecia seu nome, nem de onde vinha. Eu só sabia que ele escrevia na língua do targum, cartas rimadas para deus, e as jogava numa caixa de correio vermelha perto da ponte verde, e com prudência e calma ele caminhava ao longo do Vilija esperando o carteiro do céu lhe trazer uma resposta.

2

– Caminha por entre as palavras como num campo minado: um passo em falso, um movimento em falso e todas as palavras, que você passou a vida toda costurando em suas veias rebentarão contigo junto –

Assim me sussurrou minha própria sombra, quando ambos, cegados por moinhos-refletores, avançávamos durante noite por um sangrento campo minado e cada passo meu posicionava-se na morte ou na vida, fazia uma cicatriz no coração, como um prego num violino.

3

Ninguém me disse para ser cauteloso, que eu deveria tomar cuidado com as palavras que estão bêbedas com as flores de papoula d'outro mundo. Assim, tornei-me escravo de suas vontades. E suas

vontades eu não consigo entender. Certamente, não o segredo, se elas me têm amor ou ódio. Elas fazem guerra em meu crânio como cupins no deserto. Seus campos de batalha brotam de meus olhos com o brilho de rubis. E crianças se tornam cinzentas de pavor quando lhes digo: bons- sonhos...

Recentemente, no meio de um dia claro, quando eu estava deitado no jardim, e acima de mim um galho de laranjeira ou as crianças brincando com bolhas de sabão douradas – eu senti um movimento na alma. Aha, eis que minhas palavras estão prestes a sair... Conseguiram uma vitória sobre alguém e, aparentemente, decidiram conquistar fortalezas onde nenhuma palavra até então conseguira. Em homens, em anjos e, por que não, nas estrelas? Bêbedas com as flores de papoula d'outro mundo, elas realizam suas fantasias.

Trombetas soam.

Tochas como pássaros flamejantes.

Linhas as acompanham. Quadros de música.

Defronte a uma dessas palavras, que avançava cavalgando usando uma coroa na qual reluziam minhas lágrimas, devia ser a soberana, eu caí de joelhos.

– Assim me deixa, sem um adeus, sem um até breve, sem nada? Por anos, caminhamos juntos, de meu tempo você comeu, antes de se separar de mim, antes que vá conquistar mundos – um pedido! Só me prometa não recusar...

– Certo. Eu dou a minha palavra. Só sem frases longas. Pois o sol se torna ao ramo azul e num instante cairá no abismo...

– Eu quero ver os mortos!

– Que desejo... Nu, que seja. Minha palavra me é preciosa... Veja! Uma faca verde fendeu a terra.

Tornou-se verde. Verde.

Verde.

O verde dos abetos sombrios através da neblina; o verde de uma nuvem com a vesícula rota; o verde de uma pedra musguenta sob a chuva;

o verde que se revela num bambolê girado por uma criança de sete anos;

ensanguentam os dedos;

o primeiro verde sob a neve que derrete numa dança ao redor de uma florzinha azul;

o verde de uma meia-lua, vista com olhos verdes de sob uma onda;

e o verde solene da grama aparada ao redor de um túmulo. Verde flui em verde. Corpo em corpo. E aqui a terra se transforma num aquário verde.

Mais perto, mais perto do enxame verde.

Eu olho pra dentro: pessoas nadam lá como peixes. Inúmeros rostos fosforescentes. Jovens. Velhos. E jovensvelhos de uma só vez. Todos os que eu vi a vida inteira e que a morte ungiu com uma existência verde; eles todos nadam em um aquário verde, numa suave e sedosa música aérea.

Aqui vivem os mortos!

Debaixo deles, o rio, a floresta, a cidade – um enorme mapa plástico, e acima paira o sol, com a forma de um homem ígneo.

Eu reconheço conhecidos, amigos, vizinhos e tiro meu chapéu de palha para eles:

– Bom dia!

Eles respondem com um sorriso verde, como um poço responde uma pedra com aros quebrados.

Meus olhos remam com remos de prata, correm, nadam por entre as faces. Eles buscam, procuram por um rosto.

Encontrei, encontrei! Aqui está o sonho de meu sonho –

– Sou eu, minha querida, eu, eu. As rugas são só um ninho da minha saudade.

Meus lábios, rubros de sangue, gravitam em direção aos dela. Mas, ai, eles ficam presos no vidro do aquário.

E os lábios dela nadam até os meus. Eu sinto o sopro de ponche ardente. O aquário é como uma fria lâmina ritual entre nós.

– Eu quero ler um poema, sobre você... Escuta!

– Meu amor, eu conheço esse poema de cor, fui eu mesma quem te deu as palavras.

– Eu quero sentir teu corpo mais uma vez! – Não se pode aproximar, o vidro, o vidro...

verde com a cabeça –

Depois do décimo segundo golpe o aquário rebentou. Onde estão os lábios, onde está a voz?

E os mortos, os mortos – eles morreram?

Ninguém. Defronte a mim – grama. E acima – um galho de laranjeira ou as crianças brincando com bolhas de sabão douradas.

Iídiche

É preciso que eu comece do princípio? É preciso que eu, como Abraão,

destrua todos os ídolos, como um irmão? É preciso que eu me permita ser traduzido vivo? É preciso que eu plante minha língua

e espere até que se transforme nas amêndoas com passas dos ancestrais?

que graciosa piada

prega meu irmão de poesia, o de costeletas, enquanto minha língua mãe se põe?

daqui a exatos cem anos sentaremos bem aqui no Jordão e discutiremos.

pois uma pergunta não cala nunca: se ele sabe exatamente por onde a oração de Berditshever, os versos de Yehoash e de Kulbak

erram

até seu crepúsculo -

será que ele podia me mostrar, onde o ocaso da língua vai dar? Talvez no Muro das Lamentações? Se for eu volto pra lá, eu volto para abrir a boca

e como um leão,

vestido em fogo ardente, engolirei a língua que se põe,

Ode à pomba 1.

Coisa rara, na infância, uma vez aparece

sob o céu um anjo, em cores próprias resplandece. Logo desaparece, eterna a cantilena.

Na chaminé seu rastro – uma única pena.

Não era um anjo comum, pois pensou no menino. A pena na neve, pomba – ímã vespertino.

Rufla pomba neonata, aprende – um momento em círculos prateados despenca ao relento. Ela beija o ninho de dedos que a acalenta. A penugem de neve, radiante arrulho alenta, ele a ensina a voar, como um grão bicar neblina. – Você me salvou – diz, e a cabeça inclina – Seja breve na escolha, um dom lhe concedo! A neve eterna? Da alvura minha o segredo? Ébrio, ele demanda: “Se você me ama venha sempre, na chuva, neve e chama.”

Num lugarejo 1.

O pôr do Sol numa estrada da cor do gelo. Doces colorações oníricas em tu'alma. Uma choça cintila no vale tão belo brilha no crepúsculo com hibernal calma. Lenha-maravilha que pende das janelas, trenós mágicos ressoam incansavelmente. No ático turturinam as pombas singelas, cantam em minha face. Gelo transparente atravessado pelo brilho cristalino

o Irtich semirreal, serpenteante rio invernal. Debaixo dum domo de silente fascínio uma criança conhece o mundo primordial. 2.

No claro-escuro do vilarejo enevoado, lá donde foi minha infância, na Sibéria, das pupilas-de-sombra flores hão floreado, infinitas flores de mercúria matéria. Pelas frestas de ângulos gastos e pálidos a lua sopra em nós seu hálito radiante.

Meu pai, branco como a lua, semblante cálido em suas mãos – um níveo silêncio congelante. Ele corta o pão preto com iluminada

faca piedosa. Seu rosto torna azulino. Eu, agora com ideia recém-cortada dou ao pão de meu pai um manto salino. 3.

A faca. Papai. Uma tocha fumarenta. Infância. Criança. A sombra pega o violino da parede. Sobre mia cabeça rebenta o som da neve, fino, cada vez mais fino. Silêncio. O pai está tocando. E no vento ele inscreve sua música. Como o prateado

espelho, pende cianótico alento por todo lado, na neve luar esmaltado. Por detrás da janela de gelo vestida um lobo fareja a carne musical.

Silêncio. Bica uma pomba recém-nascida, rompe a casca de ovo, em nosso pombal.

Quem vai restar, o que vai restar? Vento vai restar. A cegueira restará, de quem não pode enxergar. Uma linha de espuma, quem sabe, do mar o rastro Frágil nuvem, talvez, uma árvore como lastro. Quem vai restar, o que vai restar? Uma expiração Que fará brotar a grama de uma nova Criação Um violino-rosa, talvez, por si só vá resistir E sete folhas de grama poderão discernir. E das estrelas ao norte, em longínquo recanto A estrela que persistirá é a de maior pranto Resta uma gota de vinho no odre, gota rociante Quem vai restar, Deus vai restar, será o bastante?

Explicar? Como se pode explicar? O Sol em momento algum arrefece Mas lágrima não pode desgelar e só a infância jamais envelhece. Sua irmã, a juventude, foi pisoteada qual uvas de vinho depois da messe a cabeça de prata já sombreada e só a infância jamais envelhece. Por suas neves e flores, dinheiro não há que baste, a troca não apetece. Envelheceram o rei e todo o reino e só a infância jamais envelhece.

Para a Polônia 1.

Tu, irmã mais velha da terra em que nasci! Os ciganos andam de novo por aqui. Outra vez em teus caminhos tão apagados buscam cheiros de chuvas de tempos passados. As cores mágicas, fixadas em meus sonhos e teu céu, que uma vez bebi com olhos risonhos tal qual a canção do pássaro das histórias.

O que foi que se passou? Na Polônia busco suas memórias. Numa silenciosa resposta, te calas,

mas com olhos cintilantes me regalas co'amor primeiro. De Mickiewicz a língua me recebe agreste. Seu esplendor míngua. Não se repete a música de outrora

quando com o iídiche, a toda hora o polonês se ouvia, todos a saudar.

Teus poetas, até hoje não deixo de admirar; Pan Tadeusz não me abandona à tristeza os versos impedem que eu seja reles presa. A floresta que deste solo brotou,

e o povo cuja vida ele estudou

se curvam de saudade de Jankiel a banda,

minha paixão pelo autor de “Anhelli” não é branda, seu corpo – um emaranhado de flautas mágicas que tal como o bater das correntes soam trágicas, como os grilhões dos irmãos no norte distante. E há Norwid, cujos versos conheci rascantes na taverna Fukier, presos à antiguidade das paredes purpúreas – com eles me invade a partir dessa messiânica noite a chama que em sua homenagem arde e proclama. Em cada pogrom esteve sempre ao meu lado

o poema do judeu de Varsóvia honrado. Eu posso perdoar, sem desejos de vingança teus bardos, com quem divido fraterna herança; enamorados de seu horror e beleza

tal qual cães entre lobos rosnam com firmeza. Não foi só um que exausto, lobo se tornou mas não adiantou, mas isso não o salvou. Perdão! Se um poeta como Lesmian, então, cantasse invés das tuas flores, teu bufão? O teu Sol, que o entardecer pinta com chamas, um campo afogado em ondas de verde grama, bétulas dançam em sonhos qual querubins? Terias outro mais, como Julian ben Tuwim? Quem respondeu a dolorosa contradição? Recém-libertos encontraram salvação mas foram abandonados. Agora vagam amargurados, e nos pórticos notam

como seus lares são velhos. (São perseguidos assim há eras, desde perto ou longínquo correm até a Arca, d'ouro do Reno forjada, às margens do altar nova fé declarada). Substituindo os irmãos e irmãs, espinhos crescem em seus destruídos e queimados ninhos. Mas ao invés de ser com pão, sal e o coração, permaneço até o dia de hoje sem a razão dessa recepção com quinhão tão amargoso logo do polonês, tido como grandioso. Já faz uma centena de anos teu profeta qual mocho sob o sol, foi cego, puro esteta: forjou legiões judaicas no exílio,

sob polonesa águia lutando em auxílio.

Então o que foi que aconteceu com seus netos, o quê? Smutno mi, Boże!

2.

De nossos olhos, a menina era o Vístula! E quantas lágrimas fluíram do Vístula enquanto as gerações na água afundavam. E acima barcos dourados navegavam. Ó, praia fluvial, colorida e tumultuosa onde Asch casou, uma cerimônia ruidosa, e nas velas da avó a brachá permaneceu, onde o sopro gói tem hálito judeu! Minha linhagem com fé raízes lançou e dentro de teu corpo frutificou. Trabalhou e amealhou, em teu nome nos anos de servidão – alegre, sublime. O amor pela terra natal, misturado com amor por ti, amor em dor baseado. Enquanto parecia se isolar numa ilha ela arrastou milagres por tantas milhas desde o Sinai, pelo deserto, os profetas - talvez foi por isso que escapou ilesa quando eleita te tornaste orgulhosa quando a czarina quis teu fim, rancorosa. E os que te construíram e que te moldaram, escondidos nas sombras permaneceram, - a única honra as lápides de madeira. Tuas cidades erguidas dessa maneira. Precisa-se então dum fraterno obrigado? Nas canções os dois idiomas abraçados: o iídiche e o eslavo polonês afinados. E embora a voz católica tenha hesitado - em uníssono como uma voz em prece, dois ramos, a origem distinta aparece, ao crepúsculo se unem, mesmo que opostos. Meu avô, porém, errou em seus pressupostos e eu também. Será que tu ouves minha fala?

Será que as razões todas, vais me explicá-las? Tu, coroa, cujo noturno diamante

antes refletia alheia luz flamejante. A fonte de Baal Shem Tov, de rebeldia. Como a sede da geração se saciaria? Eu acreditava: com a guerra acabada a treva da intolerância dissipada.

Uma rosa de mil pétalas, dos fragmentos outra vez vai florescer, num fresco advento. O leão judaico e tua águia- os vizinhos forjados na menorá de cobre unidos, certamente no futuro brilharão

juntos sobre os tristes mortos sob o chão. Nós reuniremos vontade com vontade, pedra por pedra renascerá a cidade e nossa dor o Vístula vai curará. Uma janela, qual asa, ruflará. Logo verá a luz uma nova geração. Pode haver tal esperança em meu coração? O que foi que aconteceu com a fraternidade?

3.

Eu sei, não és culpada, as odiosas hordas que te atacaram, disso ninguém discorda. Por tua velha nêmese, foste ofendida - lutaste e a teus cidadãos deste guarida em Westerplatte, em Kutno. Que importa se as casas têm a mezuzá na porta? Ou na parede a cruz? Não pode ser assim! Eles tombaram, a tua águia se orgulha! Mas tão logo eles chegaram, foste pulha - das vinhas e das ruas tiraste os judeus compraste liberdade com sangue hebreu, alimentando as fogueiras com azeite. Então, sozinho eu tentei prevalecer, os fatos eu não deveria enaltecer:

para cada um dos poucos que nos salvaram mil nos delataram, nos assassinaram. Foi por esses poucos justos que voltei, pronto a retomar o amor que antes te dei: O pastor que a pequena Sarah escondia, a filha dos Royznvald, que amoras comia sob as estrelas quando saia do buraco, ouvia ao longe ainda o pastor assobiar, fraco - tentava lhe dar um lar mesmo no inferno (hoje ela já lhe escreveu, em tom terno). O virtuoso zelador num sótão enfiava um miniam, a Gestapo não os achava. A freira Amália, um coração singelo, enviou ao gueto o presente mais belo:

um saco de pólvora. O herói camponês morto à entrada da vila pelo que fez pende o corpo co'a placa: ajudou um judeu. Nosso honrado Watsek, o que escondeu no canil em que era um apanhador,

Por detrás dos cachorros capturados, os judeuzinhos foram escamoteados.

Cada um dos heróis, dos justos, dos virtuosos cujos nomes e histórias não são famosos os guardo na mente, e rezo em seu proveito: pros vivos a felicidade dê seu jeito;

e para os santos mártires dessa terra o jardim do Éden é o que lhes espera! Varsóvia em ruínas é tudo o que vejo em nossos corações do desespero o ensejo - e me lembro também de como acorreram os do lado ariano, como ébrios zombaram quando no gueto, como leões flamejantes, meus irmãos lutaram, atendendo confiantes ao chamado de asquenaz, ao qual iremos peregrinos aos seus restos. “Que fogueira!” Exclamou a mocinha pueril, zombeteira, que com binóculo de ópera via o fogo Agora, as palavras me traem de novo: dez poloneses que são como irmãos vieram ajudar, o coração na mão e como heróis, morreram na fortaleza. O Senhor do Tempo, em radiante grandeza os cravará na memória qual diamante.

Se pelos heróis tens um amor gritante, guardas na memória o incêndio de Varsóvia? O que foi que aprendeste com esta história?

4.

Como te abençoar? Assisti furioso os teus pogroms contra crianças e idosos. Eu vi tua turba com pedras e pauladas na rua judia – minha gente massacrada.

Depois ainda vi teus filhos reunidos mudo séquito de estandartes sanguíneos do longo rito funeral, lento, novo.

No cortejo, o próprio Chopin guiava o povo. E no alto – as bandeiras, pássaros cativos, dos mastros queriam se soltar, altivos. ---

Como uma pá de terra é a verdade cai num túmulo, cobre-me com saudade, enquanto isso um violino se lamuria.

E mais da dor e profunda agonia de ver como o Sol é purificado

meu amigo, teus crimes são minorados – corrói-me a gasta mudez da desgraça que depois da guerra cresce, sem ameaça, confortável por debaixo do teu teto

profana a Polônia, peçonhento inseto. E esses são versos difíceis de compor teu futuro – não há dúvida a se impor qualquer o destino, não há esperança

que o passado torne em bem-aventurança.

E tu pensas que digo isso como ameaça, mas rogo: com raiva não se satisfaça

deixe os judeus retornarem ao teu bem. Nessa terra, eu não seria senhor de ninguém! Pesadas as coisas todas outra vez

sou só tremulante ramo que se fez. Ramo que de todo modo irá brotar! ---

Avanço, Varshe um deserto, até chegar ao Vístula, um outro, e possa a correnteza levar meu nome eslavo pra profundeza.

Acompanha-me um verbo, uma canção sagrada, uma Torá num rolo de cobre enrolada,

uma a uma as velas do Shabes é incensa no túmulo de Anielewicz a pedra descansa, será a marca da próxima geração.

Como eslavos em hinos cheios de paixão pelo crepúsculo – o som dos grous do agora prenhes com as minhas lágrimas da hora do declínio. Para a Polônia, a ave seguiu enquanto me afasto do que me destruiu.

Ave tristonha, me dá a resposta: por quê? Smutno mi, Boże!

5.

Que tristeza, meu deus! Como abandonar o Vale de Lágrimas, uma tumba, um lar? Como fazer do vazio, um monumento

que alcance os netos de meus netos, seu tempo? O que fazer, o passado revelado

ao amanhã? Os ecos serão capturados

das orações destruídas? Como beber do odre no qual os mortos se saciaram? Dou nomes tentando marcar os túmulos sem fim com poemas. Em Cracóvia e em Lublin, eu avanço por entre os templos de mármore fico parado em silêncio, atrás de uma árvore e imagino: se eu estivesse de novo

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