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3.2 A Diretoria de Desenvolvimento Social e a Assistência Estudantil na

3.3.2 Política de cotas

As políticas de ação afirmativa têm como objetivo o enfrentamento de um quadro de desigualdades, reconhecido pelo Estado brasileiro e observado pela UnB. A Universidade de Brasília foi a primeira instituição federal a instituir o sistema de cotas, em junho de 2004, após cinco anos de debates. A ação afirmativa fez parte do Plano de Metas para Integração Social, Étnica e Racial da UnB e foi aprovada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE). No primeiro vestibular, o sistema de cotas foi responsável por 19% dos candidatos. A eles, a cada ano, são destinados 20% do total de vagas de cada curso oferecido.

3.3.2.1 Cotas para negros

O sistema de cotas para negros existe porque a universidade brasileira é um espaço de formação de profissionais de maioria branca. Ao manter a supremacia de um segmento étnico na construção do pensamento dos problemas nacionais, a oferta de soluções se torna limitada18.

18

125 Em 2011, o sistema completou sete anos com um saldo de 1.024 cotistas formados. Desde 2004, ano da primeira turma de estudantes ingressados pelas cotas, 6.180 candidatos cotistas já se matricularam na Universidade.

Criada para durar dez anos, tem sido objeto de estudos que avaliam a efetividade da medida. Os resultados de um estudo realizado em 2008, em suma, mostraram que: a procura pela UnB vem caindo nos últimos anos e, no ano de 2006, a demanda pelas cotas caiu abruptamente; os cotistas tendem a se candidatar em maior proporção para os cursos considerados de baixo prestigio; o desempenho médio dos cotistas no vestibular é semelhante ao dos não cotistas; as cotas são efetivas quanto à finalidade de incrementar a participação de negros entre os aprovados para cursos mais valorizados; com a duplicação do número de vagas ofertadas, sem cotas, não haveria um aumento da representação do negro entre os aprovados; o rendimento acadêmico dos alunos cotistas é semelhante ao de seus colegas, mas alunos cotistas de cursos considerados de maior prestígio na área de Ciências merecem atenção especial, pois obtiveram rendimento substantivamente inferior ao dos alunos do sistema universal (CARDOSO,2008).

Nesse contexto, a Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura, constatou, também em 2008, que mais de 57% dos formandos cotistas já haviam ingressado no mercado de trabalho; 18% estavam concluindo estágios e 24% estavam se preparando para cargos públicos.

Em junho de 2011, a Universidade sediou uma audiência pública para avaliar os resultados alcançados e debater a ampliação de políticas afirmativas. Neste encontro, foram apresentados dados que ratificam os benefícios do sistema de cotas. De acordo com pesquisadores do Departamento de Economia da Universidade presentes nessa audiência, é praticamente nula a diferença entre as notas de negros beneficiados e não beneficiados pelas cotas. No geral, os alunos brancos têm rendimento de 0,3 pontos maior em uma escala de 0 a 10. Segundo os indicadores apresentados, as famílias dos estudantes negros são em média mais pobres e menos escolarizadas. Cerca de um quarto dos alunos afrodescendentes tem renda familiar inferior a três salários mínimos. Entre os brancos, o índice é de 8%. Para os pesquisadores, é possível afirmar que há uma correlação entre raça e classe social.

O assunto também foi abordado no recente Relatório de Gestão Institucional da Universidade – que é discutido na Dimensão 8. O resultado da

126 pesquisa realizada com os gestores da Universidade indica que, para 87% dos entrevistados, a UnB possui uma política de cotas para ingresso nos cursos de graduação que é institucionalizada, claramente definida, amplamente disseminada, atualizada e resulta em uma oferta de vagas compatível com a infraestrutura acadêmica disponível, a justiça social e as exigências do mercado de trabalho.

Como forma de apoio, os alunos cotistas possuem, na Universidade, o suporte do Centro de Convivência Negra, que abriga:

 espaço para estudo e reuniões;

 biblioteca de referência para consulta sobre ações afirmativas;

 mural de divulgação de atividades ligadas a ações afirmativas;

 apoio aos programas de pesquisa, ensino, extensão e assistência voltados aos negros;

 sala de apoio aos cotistas.

Por fim, cabe ressaltar que o sistema de cotas para negros da UnB não é uma iniciativa consensual. Em 2009, o partido Democratas protocolou pedido de suspensão da reserva de vagas no Supremo Tribunal Federal. A alegação é de que a cor da pele não seria um fator limitante ao ingresso na universidade. Pelo menos duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade contra as cotas também tramitam no Supremo Tribunal, sem data para julgamento.

3.3.2.2 Cotas para indígenas

O sistema de cotas raciais na Universidade não beneficia apenas os negros. A comissão que implementou as cotas para negros também foi responsável pelo convênio entre a UnB e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), assinado em 12 de março de 2004.

Conforme o acordo, a cada semestre, dez indígenas aprovados em um teste de seleção ingressam na UnB. A oferta de cursos para esses alunos varia de acordo com as necessidades de sua tribo e a disponibilidade de vagas na Instituição. A FUNAI oferece suporte de moradia e alimentação aos indígenas e, em contrapartida, a UnB oferece apoio acadêmico para que eles permaneçam na Universidade.

No início, o ingresso era feito por meio de transferência facultativa. A partir de 2006, a Universidade passou a organizar o vestibular exclusivo para esse público. De acordo com dados fornecidos pela coordenação acadêmica

127 dos estudantes indígenas, 77 índios ingressaram na universidade no período compreendido entre o início do convênio e o ano de 2010.

Os dados mais recentes indicam que, no vestibular indígena 2011, 152 candidatos concorreram a dez vagas nos cursos de Agronomia, Ciências Sociais, Enfermagem e Obstetrícia, Engenharia Florestal, Medicina e Nutrição. Os dez aprovados se juntaram a outros 44 indígenas de mais de dez etnias diferentes que já frequentavam cursos na UnB.

Apesar das dificuldades enfrentadas por este grupo de cotistas, tais como a diferença cultural e o baixo valor que recebem para pagar moradia e alimentação, a UnB continua investindo em ações para fornecer educação a essa população. Prova disso é que, em 2011, a Universidade de Brasília reservou 13 das 26 vagas oferecidas no curso de mestrado profissional em Desenvolvimento Sustentável a indígenas com formação superior. As vagas reservadas beneficiaram diretamente os alunos e egressos da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) que destina 10% de suas vagas de graduação a indígenas.