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A política econômica do Regime Militar

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CAPÍTULO 2 – A POLÍTICA ECONÔMICA DO REGIME MILITAR DO BRASIL

2.5 A política econômica do Regime Militar

A política econômica nacional durante o Regime Militar tinha pretensões de combater a inflação, proteger a empresa privada, principalmente as nacionais, estimular às indústrias de base e ampliar a oferta de emprego. A crise econômica que o país se encontrava estava internamente ligada ao grande índice inflacionário que o país enfrentava. Com isso, havia um declínio das atividades econômicas e os altos índices de desemprego, só com o controle da inflação que o país poderia ter condições de crescimento econômico.

A inflação, asseguravam as fontes oficiais, subvertia a ordem e a hierarquia social; desorganizava o mercado de crédito e de capitais; distorcia o mercado cambial; mascarava os coeficientes de rentabilidade através de lucros ilusórios; desestimulavam os investimentos nos setores de base; penalizava os investimentos do mercado imobiliário, ensejando um grave desequilíbrio habitacional; dissolvia a função orientadora do sistema de preços, premiando a especulação e a ineficiência, ao mesmo tempo em que incentivava a escalada do estatismo (ALMEIDA, 1980, p. 2).

Como podemos analisar no trecho acima, a inflação brasileira apresentava uma série de problemas socioeconômicos que refletia em vários setores da sociedade. Por ser um fenômeno complexo, as medidas políticas tomadas pelo Governo afetaram diretamente os trabalhadores brasileiros. Dentre as medidas adotadas a restrição de moeda e crédito levando à queda dos níveis de produção e emprego, redução drástica do deficit orçamentário e, principalmente, através do arrocho salarial.

Contudo, esta política anti-inflacionária dos governos militares surtiu com bons resultados no setor econômico do país. No início dos anos 1970, o presidente da República da época, Garrastazu Médici, intitulou este período de “milagre econômico brasileiro” pelo aumento percentual do PIB e pelo crescimento do setor industrial.

Em 1972, o presidente da República apontava um conjunto de bons resultados no campo econômico, aliás, como já fazia antes, ao mencionar o Movimento de 1964. Em 1972, no entanto, segundo o Chefe de Estado, a situação da economia do país apresentava-se bem prometedora. Existia alto nível no crescimento da produção, tinha-se gerado poupança e assegurado razoável estabilidade monetária, diminuindo-se os efeitos da inflação. Neste rol de sucessos, o presidente chamava atenção para o crescimento do emprego da mão de obra, enquanto se restringiam as diferenças regionais (VIEIRA, 2014, p. 79).

Diante desse contexto, percebemos que a construção do CIPS estava apoiada pelo Governo Federal, a partir de sua conjectura macroeconômica elaborada a partir do Centro-sul

do país de industrialização acelerada das regiões entendidas como subdesenvolvidas do país. A concepção adotada para a construção do CIPS tem como pano de fundo a teoria dos polos de desenvolvimento, originalmente elaborada pelo economista François Perroux (1955).

O pólo de desenvolvimento é uma unidade econômica motriz ou um conjunto formado por várias dessas unidades que exercem efeitos de expansão, para cima e para baixo, sobre outras unidades que com ela estão em relação. […] a noção de pólo só tem valor a partir do momento em que se torna instrumento de análise e meio de ação de política, ou seja, o mesmo só pode ser entendido como uma visão abstrata de espaço. (LIMA & SIMÕES, 2009, p.8).

De acordo com a citada teoria, a economia capitalista tenderia a produzir polos que se constituiriam a partir da localização de indústrias num determinado espaço econômica. A partir dessas características, o polo industrial desempenharia uma força centrípeta na atração de novos investimentos para região. Esta visão gerou a legislação de desoneração da importação de maquinário utilizado nas indústrias voltadas a importação.

O regime aduaneiro especial de drawback, instituído em 1966 pelo Decreto lei nº 37, de 21/11/66, consiste na suspensão ou eliminação de tributos incidentes sobre insumos importados para utilização em produtos exportado. O mecanismo funciona como um incentivo às exportações, pois reduz os custos de produção de produtos exportáveis, tornando-os mais competitivos no mercado internacional. (BRASIL, 2014, n.p.).

O projeto de desenvolvimento econômico do Regime Militar brasileiro pretendia facilitar o investimento estrangeiro, reduzindo o papel ativo do Estado e elevar o ritmo de crescimento. E isso tudo foi realizado sem intervenções de forças políticas, nem legislativa, nem judiciária. O legislativo tinha poder de decisão irrestrito e nenhum dos outros poderes poderiam se contrapor a esse comando econômico.

[…] A importação ampliada de determinados bens era necessária para sustentar o crescimento econômico. As exportações se diversificaram com os incentivos dados pelo governo à exportações de produtos industriais: créditos em condições favoráveis, isenção ou redução de tributos e outras medidas semelhantes. (FAUSTO, 2012, p. 485).

Este tipo de política econômica realizada pelo ministro da fazenda Antônio Delfim Netto durante o Governo Médici chamou-se de desenvolvimento capitalista aplicado, na qual o Estado atuaria como interventor de larga escala indexando salários, concedendo créditos, isentando tributos aos exportadores entre outras atividades que beneficiava muitos setores da grande indústria, dos serviços e da agricultura.

Contudo, essas medidas possuíam um lado negativo, pois essa política econômica brasileira dependia do sistema financeiro e do comércio internacional para facilitar os empréstimos a bancos internacionais, a inversão de capitais estrangeiros e a expansão das exportações.

O Governo Castello Branco ergueu as bases econômicas e financeiras que serviram para deslanchar o modelo de desenvolvimento, e deu prioridade a um programa de estímulo ao investimento estrangeiro e de incentivo às exportações por meio da desvalorização do cruzeiro em relação ao dólar (SCHWARCZ & STARLING, 2015, p. 251).

A política econômica do Delfim Netto privilegiou a acumulação de capitais através das facilitações que o Governo criou para o desenvolvimento econômico do país, e também pela criação de um índice prévio de aumento salarial em níveis que subestimavam a inflação. Essa medida trazia à tona a disparidade social que estava em vigor no Brasil, pois a expansão industrial favoreceu as pessoas das camadas mais abastadas que tiveram largo acesso aos bens de consumo. Em outras palavras, vemos as camadas sociais menos abastadas com salários diminutos e que eram negados acesso a serviços públicos de qualidade, como saúde, educação e habitação.

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