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Reunião com empresários

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CAPÍTULO 3 O MANIFESTO DO IAHGP: SOBRE O VALOR HISTÓRICO E

3.5 Reunião com empresários

A próxima investida que o Governo de Pernambuco foi legitimar o Projeto Suape através do apoio de várias entidades e pessoas públicas que tem grande impacto no cenário sociopolítico de Pernambuco como: o Conselho Estadual de Cultura, na figura de seu presidente Gilberto Freyre, o prefeito do Recife Augusto Lucena, o Clube de Diretores Lojistas, a Federação do Comércio Varejista e a Associação Comercial Pernambucana.

Para realizar essa tarefa, a DIPER organizou junto com os políticos aliados do Governo e as entidades comerciais uma reunião para apresentar as propostas do Projeto Suape. Essa foi a forma que o Governo optou para divulgar aos empresários como se dará a construção do CIPS e também criticar o posicionamento dos opositores do Projeto.

Nesta reunião, o prefeito do Recife Augusto Lucena compartilha a opinião das pessoas a favor da construção do CIPS e se solidariza com a proposta do governador do Estado, Eraldo Gueiros ao expressar sua indignação aos opositores do Projeto Suape:

Os planos denunciados caso existentes, contra as realizações da administração do Estado, especialmente contra a construção do porto e do complexo industrial de Suape, jamais se concretizarão, de certo, porque para destruí-los estão preparados os verdadeiros pernambucanos, de opinião firmada quanto à eficiência e às grandes responsabilidades do atual Governo, na tarefa ingente de construir o futuro do nosso Estado, fazendo-o marchar, a passos largos, em demanda das grandes conquistas que haverão de mantê-lo, por tão nobres motivos, na tradicional liderança da região nordestina (DIARIO DE PERNAMBUCO, 11/07/1973).

Sobre o discurso do prefeito de Recife, podemos analisar a forma como ele trata os opositores da construção do CIPS ao chamá-los de antipatriotas ou que não são “verdadeiros” pernambucanos. Podemos perceber que os agentes do Estado querem criar uma imagem negativa dos manifestantes do Projeto Suape representando-os como expurgos sociais. O prefeito afirma que a execução do Projeto Suape é a forma do estado equiparar-se as regiões mais abastadas do país e retomar as glórias do passado.

O presidente do Clube de Diretores Lojistas do Recife, Wilson Calado, pronunciou-se durante um almoço assembleia do CDL em favor da construção do CIPS e fazendo críticas à postura dita antiprogressista do IAHGP relembrando de outros empreendimentos públicos em que o Instituto também foi contra a execução:

Já é tempo de darmos um basta a esse Instituto Histórico que por várias vezes como no caso da Ponte da Boa Vista, da Igreja dos Martírios, etc. e agora com o Complexo do Suape pretende entravar o progresso do Recife e do país, para salvar os pontos históricos que vivem ao abandono e nunca foram lembrados (DIARIO DE PERNAMBUCO, 11/07/1973).

A partir do depoimento do Wilson Calado, podemos analisar que o presidente do CDL não tem nenhum interesse pela preservação do patrimônio histórico e natural de Pernambuco. E acredita que o IAHGP entrava o desenvolvimento do Estado com suas intervenções sobre as ações do Estado. Todavia, o empresário tange numa discussão importante que deve ser destacada que é a questão do abandono dos monumentos históricos do Estado.

Não existia na época uma política pública de salvaguarda efetiva que atendesse às necessidades de proteção dos vários monumentos históricos do Estado. Com isso, os monumentos acabam sendo abandonados e tendo condições precárias de uso. Este tipo abandono do Estado com relação aos monumentos históricos é uma estratégia para ter uma maior aceitação da população das políticas intervencionistas.

O presidente do CDL do Recife ainda foi enfático ao afirmar que:

[…] se assim não agirmos, quem mais tarde irá responder pelo desemprego? Quem responderá pelo retrocesso de nossa economia? Serão essas relíquias que se pretendem conservar? (DIARIO DE PERNAMBUCO, 11/07/1973).

Como podemos analisar no depoimento do Wilson Calado, o empresário atribui o desemprego do estado com a inexistência de empreendimentos de grande porte como o CIPS. Calado atribui a culpa da falta desses investimentos econômicos do Estado às instituições de preservação, como o IAHGP, que acabam entravando o desenvolvimento do estado por causa de sua política de proteção. Podemos perceber que o presidente da CDL do Recife foi irônico ao categorizar os monumentos históricos e naturais como relíquias, objetos de adoração, que dependem da fé de seu usuário para lhe atribuir um sentido. Essa forma de pensamento expressa pelo Wilson Campos demonstra a sua falta de interesse sobre a preservação dos monumentos históricos e naturais.

O presidente da Federação do Comércio Varejista de Pernambuco, José Anchieta Alves, segue o mesmo posicionamento que o presidente da CDL ao afirmar solidariedade ao Projeto Suape e fazer críticas ao posicionamento do IAHGP:

Não devemos permitir – acentuou – que se mude a orientação do Complexo de Suape, como quer o Instituto Arqueológico, sob a simples alegação de manter a beleza de nossas praias e resguardar monumentos, em prejuízo do grande impulso econômico que será propiciado à Região com essa monumental obra, fruto de cansativos e objetivos estudos de uma equipe de Governo interessada em realizar programa do mais alto relevo dentro do processo de desenvolvimento nacional, regional e estadual. (DIARIO DE PERNAMBUCO, 11/07/1973).

Seguindo a premissa dos simpatizantes da construção do CIPS, José Anchieta Alves critica o argumento de preservação do meio ambiente apresentado pelo IAHGP, pois recorre a algo subjetivo como a noção de beleza. O presidente da Federação do Comércio Varejista de Pernambuco reafirma sua posição em favor do Projeto Suape como uma forma de aceleração do desenvolvimento do Estado.

O vice-presidente da Associação Comercial de Pernambuco, Cristóvão Pedrosa da Fonseca, em sua entrevista convoca as classes produtoras do estado a se unirem em favor do CIPS para assim transformar o Estado em um grande polo de desenvolvimento do Nordeste.

(…) em nome de todo o povo pernambucano, se unisse aos homens de empresa para que os esquecidos monumentos históricos de Suape não venham a prejudicar o complexo industrial, agrícola e turístico projetado pelo Governo Eraldo Gueiros para aquela área litorânea (DIARIO DE PERNAMBUCO, 11/07/1973).

Neste depoimento, o vice-presidente da ACP reafirma o posicionamento de abandono dos monumentos históricos presentes na microrregião de Suape. Todavia, o vice-presidente apresenta informações novas sobre o Projeto Suape que não haviam sido ainda divulgadas pela DIPER. O empresário afirma que vai ser construído na região um complexo agrícola e turístico. Essas informações apresentadas pelo vice-presidente da ACP são uma forma de deslegitimar o discurso do IAHGP, pois eles apresentam como alternativa investir no setor de turismo de Suape.

Contudo, vale salientar que já existia uma proposta levantada pelo vereador Benedito Alves dos Santos de construir um hotel de luxo no município do Cabo de Santo Agostinho. Essa proposta foi exposta no I Congresso dos Munícipios da Área Metropolitana do Recife que foi realizada nos dias 5 a 10 de junho de 1973. Sobre a proposta:

A cidade do Cabo (tese do vereador Benedito Alves dos Santos) defende a construção de um hotel de luxo, numa de suas praias, em atendimento ao surto de progresso decorrente da transferência do eixo industrial da margem da BR-101 para a orla marítima, com a implantação do porto de Suape. (DIARIO DE PERNAMBUCO, 31/05/1973).

Podemos perceber que mesmo não tendo uma proposta concreta de construção de um complexo turístico em Suape, já existiam políticos que pensavam em construir um hotel de luxo na região. O vereador acredita que um investimento no setor hoteleiro auxiliaria o desenvolvimento econômico da região que sofreria com as intervenções do Projeto Suape.

No fim da reunião dos lojistas, o presidente da DIPER, Anchieta Hélcias, relata aos empresários do comércio o que representa para Pernambuco e o Nordeste a construção do CIPS:

Um projeto integrado que envolverá investimentos na infraestrutura, até 1980, um total de US$ 100 milhões e criará 20 mil novos empregos e, o que é mais importante, dará a Pernambuco uma indústria de base (DIARIO DE PERNAMBUCO, 11/07/1973).

Sobre o discurso de Hélcias, podemos perceber que seu depoimento foi centrado nas questões econômicas dando ênfase na captação de novos empregos e com isso um grande retorno financeiro nos setores comerciais. Podemos perceber que o discurso foi direcionado para os comerciantes presentes, já que o público estava interessado nos benefícios que o CIPS poderia trazer ao setor comercial.

Continuando com os discursos em prol da implantação do CIPS, o industrial José Paulo Alimonda ironiza a preocupação de preservar a baía de Suape ao afirmar que:

Vamos fazer o porto de Suape, minha gente. Praias bonitas, temos muitas; o importante é criarmos a infraestrutura de estradas de rodagem e de ferro vinculadas ao novo porto, tão necessário a Pernambuco. Vamos fazer o povo ganhar dinheiro para comprar. De que serve ter tanta praia bonita, que só tem pescador e, assim mesmo sem dinheiro para comprar barcos e pescar? (DIARIO DE PERNAMBUCO, 02/08/1973).

Analisando o depoimento do industrial Alimonda, pode-se perceber que o principal interesse na construção do CIPS seria o retorno financeiro que o setor industrial traria para os setores comerciais, no qual ele seria um dos beneficiados. Para isso, o industrial enfatiza o direito ao consumo como necessidade fundamental para os pernambucanos.

Outro ponto que deve ser questionado é sobre a falta de empatia do industrial com as comunidades pesqueiras que vivem na microrregião de Suape. Com a construção do CIPS,

esses pescadores perderiam não só sua moradia, mas também seu ambiente de trabalho. Contudo, o industrial foi enfático ao afirmar que não adianta ter o espaço preservado, pois os interesses financeiros sobressaem à beleza paisagística e à manutenção da tradição pesqueira.

Analisando o conjunto de depoimentos dos líderes de entidades comerciais, percebemos que as questões ambientais e patrimoniais não são de interesse desse grupo. Já que o que foi mais enfocado em todos os discursos foram os benefícios comerciais/financeiros que esse empreendimento trará para a economia pernambucana e consequentemente a eles próprios.

Todavia, esse posicionamento hostil que a opinião dos agentes está tendo sobre o historiador e o próprio IAHGP, foram criados a partir de depoimento de políticos e líderes de entidades. Como também não podemos esquecer o papel da própria mídia pernambucana em divulgar depoimentos hostis que aumentaram exponencialmente o acesso a esses discursos.

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