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2. POLÍTICAS, PROGRAMAS E LEGISLAÇÃO

2.1. P OLÍTICAS

2.1.2. Política energética

A política energética abrange as questões relacionadas à produção, distribuição e armazenamento de energia de todas as naturezas para as mais variadas finalidades. Segundo Bicalho (2005, p.9), política energética pode ser definida como uma intervenção estratégica do Estado “que envolve um conjunto de fontes, de cadeias energéticas, de instrumentos e instituições, visando garantir o suprimento, presente e futuro, de energia, necessário ao desenvolvimento econômico e ao bem-estar de uma sociedade”. Em razão do objetivo do trabalho, somente as questões relacionadas às fontes de energia para veículos automotores serão discutidas. A abordagem tratará das questões dos combustíveis fósseis e fontes alternativas de energia dentro da perspectiva da política energética nacional.

A política energética sempre esteve diretamente ligada a de transportes, porém, diferente desta, que se manteve estável por muitas décadas, a energética passou por diversas transformações. O começo do século passado foi marcado por uma política energética passiva, baseada na importação de petróleo. Essa condição perdurou até a década de 1940 quando se iniciou o movimento denominado o petróleo é nosso. Não que o país tenha parado de importar o produto, mas era o início de uma nova consciência quanto à importância do petróleo para uma nação. O movimento teve no deputado Arthur Bernardes um dos precursores a favor do monopólio estatal. Era o início de um movimento que ganharia as ruas, rompendo com o oligopólio a partir de um discurso nacionalista, que tinha no anteprojeto do Estatuto do Petróleo um instrumento para determinar o entendimento de que o petróleo era um bem natural e econômico da nação (COELHO, 2007, p.85).

A partir daí seria instituída a Petrobrás e o monopólio estatal e, conseqüentemente, uma política voltada para o petróleo com foco na auto-suficiência. Do início da década de 1950 até o início da década 1970 a ênfase está sobre o uso do óleo, com ações isoladas no sentido de promover a produção e o uso de energias alternativas. As transformações políticas ocorreram somente a partir da década de 1970, com fortes incentivos a outras

fontes de energia além do óleo negro. No segundo choque do petróleo, em 1979, o País importava aproximadamente 85% daquilo que era consumido (FEROLLA; METRI, 2006, p.53), condição suficiente para que a política energética buscasse a diversificação em outras fontes. Segundo Scandiffio e Furtado (2004, p1), “a política de apoio às fontes renováveis alcançou seu auge de 1973 a 1986 (do primeiro choque do petróleo ao contrachoque) tendo verificado um paulatino declínio posteriormente”.

A possível escassez do petróleo conduziu o Brasil à formulação de uma política energética única no mundo. Nesse momento era iniciado o Proálcool, programa que tinha na cana-de-açúcar a base para a produção de etanol, combustível que poderia minimizar a dependência externa do petróleo. O objetivo era livrar o País da crise decorrente do choque do petróleo e minimizar seus impactos sobre a economia. O programa alcançou um nível de destaque ao ponto de impulsionar a criação e a execução de outros semelhantes no mundo. O surgimento do Proálcool e o contexto daquele momento conduziram a decisão de restringir o uso do óleo diesel aos veículos de transporte de cargas e passageiros, como ônibus, caminhões e comerciais leves, considerando que o preço do óleo aumentava constantemente e havia a preocupação em minimizar os impactos sobre o setor de transporte rodoviário de cargas e passageiros.

Passados alguns anos, a queda no preço do petróleo reconduziu a política energética para os combustíveis fósseis. O foco voltava a ser o óleo e a busca pela auto-suficiência. A política energética monopolista manteve-se estável até o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Baseado em um discurso liberal, o governo promoveu, o que chamou de flexibilização do monopólio. Segundo Ferolla e Metri (2006, p.221), o termo representou um estratagema político para que não ficasse evidente o intuito de acabar com o monopólio estatal. Segundo eles, trata-se de um eufemismo, pois monopólio ou existe ou não existe. Em 1997 ocorreria a regulamentação da Emenda Constitucional nº. 9, a aprovação da nova lei do petróleo, nº. 9.478 e a conseqüente regulamentação da criação da Agência Nacional do Petróleo – ANP (PASSETO, 2002, p.73), condições necessárias para os futuros leilões das áreas de exploração.

No atual governo a política energética ganhou novos traços. A auto-suficiência foi priorizada e a inserção de alternativas energéticas renováveis ganhou espaço. Impulsionado mais por fatores econômicos do que políticos, o álcool retornou ao mercado e abriu caminho para o Programa Nacional do Biodiesel. Com a entrada dos veículos flexful no mercado, a produção de etanol voltou a crescer. O Brasil desenvolveu o processo de produção de etanol mais eficiente do mundo, chegando ao menor custo de galão entre todos os produtores. Enquanto os Estados Unidos produzem um galão de 4,5 litros, a partir do milho, a mais de um dólar, o Brasil produz o mesmo galão, a partir da cana, a menos de um dólar (MARQUES, 2008, p.20).

Os biocombustíveis passaram a ter um papel de maior relevância na política energética, mas ainda bem distante do petróleo. Os investimentos previstos no PAC para o setor de petróleo e gás é muito superior aos destinados aos biocombustíveis. Os valores apresentados na tabela 13 demonstram o quanto o petróleo continua sendo o principal produto da matriz energética nacional.

Tabela 13 – Previsão de investimentos em petróleo, gás e biocombustíveis. Fonte: Fonte: BRASIL, 2008c.

A atual política energética está focada em atender ao crescimento da demanda de etanol e de petróleo e garantir capacidade de produção, no mínimo, 20% superior a demanda, além de tornar o etanol uma commodity e o País líder mundial em exportação deste produto. No campo de atuação dos biocombustíveis, a preferência de avanço segue pela via do etanol. Dos R$ 17 bilhões previstos no PAC para investimentos em biocombustíveis, apenas R$ 1,2 bilhão está destinado para o biodiesel. O Programa do Biodiesel não ganhou apoio governamental suficiente e desde a sua criação manteve-se como um programa auxiliar de caráter público, mas sem dispor de dotação orçamentária própria.

Mesmo com o espaço ocupado pelos biocombustíveis, mudanças significativas para o setor de cargas e passageiros, quanto ao uso do óleo diesel, ainda não são perceptíveis. A política energética para este setor é a mesma desde a década de 1970. O diesel continua sendo o único combustível utilizado nos veículos, garantindo um papel favorável sob o ponto de vista econômico. Segundo levantamento do IBGE (2006, p.135), da lista dos 100 produtos mais vendidos no Brasil, o óleo diesel é o produto número um da relação. O volume de vendas de óleo no ano de 2006 foi de R$ 42,8 bilhões, bem superior a do

segundo produto, com vendas de R$ 25,2 bilhões. Nem mesmo a alta do preço do barril de petróleo conseguiu promover mudanças na política energética em relação ao combustível. O barril saltou de um preço médio de US$ 20 para mais de US$ 100 em 2008 (ver gráfico 43), chegando a US$ 139 no mês de julho.

Gráfico 43 – Preço do barril de petróleo, 1995 – 2008. Fonte: OPEC, 2008.

A idéia de produzir etanol dentro da política energética não está relacionada ao diesel, considerando que o combustível é incompatível com os atuais motores de ônibus e caminhões. A tendência diante das altas do preço do barril é aumentar o subsídio para minimizar os impactos na economia, em paralelo, reduzir as importações e aumentar a produção nacional de diesel, produto sujeito ao controle de preços por parte do Estado. Nesse contexto o biodiesel é somente um aditivo ao diesel, sem perspectiva de se posicionar como substituto do óleo, ainda que de uma pequena parcela, por diversas questões. Uma delas é o volume de produção, ainda muito abaixo da demanda. Além disso, seu papel é muito mais social, servindo como instrumento para o desenvolvimento de pequenos produtores, do que estratégico, em termos energéticos.

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