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A atual PNRH se sustenta em objetivos, fundamentos e instrumentos que priorizam o gerenciamento nas unidades territoriais das bacias hidrográficas, dentro de uma perspectiva descentralizada, enfatizando-se que o gerenciamento da oferta dos recursos hídricos deve se fazer através de comitês e agências de água. Os objetivos, os fundamentos e os instrumentos de gestão estão reunidos resumidamente no quadro 2. Segundo o documento da Lei 9433/97, o uso dos instrumentos da PNRH:

“[...] reflete o atual estado da arte do setor em todo o mundo, pois aqueles países que já os adotaram, lideraram uma verdadeira revolução no planejamento e gestão dos recursos hídricos, melhorando [...] o desempenho do setor, passando a contar, cada vez mais, com água mais limpa e resolvendo os sérios conflitos existentes entre os usuários competidores e assegurando um desenvolvimento sustentável” (BRASIL, 1997).

O plano de recursos hídricos é o instrumento através do qual são estabelecidas as metas e indicadas as possíveis soluções para os problemas das bacias, levando-se em consideração horizontes temporais de planejamento previamente definidos, e fornecendo, inclusive, diretrizes para a aplicação dos demais instrumentos de gestão. Assim, torna-se importante o desenvolvimento e a aplicação de metodologias que contemplem a elaboração dos mesmos.

OBJETIVOS FUNDAMENTOS INSTRUMENTOS Utilização racional e

integrada dos recursos hídricos para assegurar a esta e às próximas

gerações a disponibilidade de água com boa

qualidade, dentro dos princípios do

desenvolvimento sustentável.

A água é um bem público, um recurso natural finito e dotado de valor econômico. A prioridade de uso da água é para o consumo humano e dessedentação de animais. A bacia hidrográfica deve ser considerada como a unidade básica de planejamento e gestão. A gestão dos recursos hídricos deve ser integrada com os outros recursos naturais, descentralizada e contar com a participação do poder público, dos usuários e das comunidades locais.

Planos de Recursos Hídricos, enquadramento dos corpos de água em classes, outorga dos direitos de uso de recursos hídricos, cobrança pelo uso de recursos hídricos, sistema de informações sobre recursos hídricos.

QUADRO 2: Objetivos, fundamentos e instrumentos da PNRH

A figura 7 contempla a questão da interdependência e suporte entre os instrumentos de gestão, destacando o papel dos planos de recursos hídricos enquanto elemento emanador das diretrizes indispensáveis à aplicação dos demais instrumentos da PNRH. Ele deve considerar a disponibilidade (quantidade e qualidade no tempo e no espaço) e a demanda (quantidade e qualidade, também no tempo e no espaço) em um contexto de muitos usos, muitos usuários, demanda crescente e qualidade em grande parte degradada. Nesse caso, na sua elaboração e implantação, os conflitos são inevitáveis. As decisões envolvem principalmente a definição de usos prioritários e as necessidades de investimentos em obras e conservação ambiental nas bacias.

Fonte: Christofidis (2001), apud VENDRUSCOLO e KOBIYAMA (2005, P.8)

FIGURA 7: Relação de interdependência e suporte entre os instrumentos de gestão da Lei n° 9.433/97

A Resolução CNRH nº 17, de 29 de maio de 2001 (Publicada no D.O.U de 10 de julho de 2001), que estabelece as “diretrizes complementares para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos das bacias hidrográficas, como um dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecidos pela Lei nº. 9.433”, determina que contemplem uma avaliação quantitativa e qualitativa da disponibilidade hídrica na bacia hidrográfica, uma avaliação do quadro atual e potencial de demanda hídrica e também uma avaliação ambiental e sócio-econômica da bacia, identificando e integrando os elementos básicos que permitirão a compreensão da estrutura de organização da sociedade e a identificação dos atores e segmentos setoriais estratégicos, os quais deverão ser envolvidos no processo de mobilização social para a elaboração do Plano e na gestão dos recursos hídricos. Devem, enfim, identificar o potencial hídrico das bacias e propor meios para se ampliar a disponibilidade, identificar e hierarquizar as demandas, compatibilizar os usos e administrar os conflitos. Além disso, é necessário preocupar-se com o desenvolvimento de métodos e tecnologias de otimização de uso e conservação da água.

O enquadramento dos corpos d’água em classes de uso permite a criação de um sistema de metas sobre os níveis de qualidade da água dos mananciais e viabiliza a ligação entre a gestão da quantidade e a gestão da qualidade, fortalecendo, assim, a relação entre a gestão dos recursos hídricos e a gestão do meio ambiente. A outorga de direito de uso é o instrumento pelo qual o usuário recebe autorização para fazer uso da água. Trata-se de um elemento de controle visando ao uso racional dos recursos hídricos, pois força o usuário a apresentar uma disciplina no que se refere às decisões tomadas coletivamente. A cobrança é o instrumento destinado à garantia do reconhecimento da água como bem econômico e visa incentivar a racionalização do uso, além da obtenção de recursos financeiros para os programas. Por último, o sistema de informações sobre recursos hídricos visa coletar, organizar, criticar e difundir a base de dados relativa aos recursos hídricos, seus usos, o balanço hídrico de cada bacia, fornecendo assim as informações necessárias para o processo decisório.

Os Planos de Recursos hídricos devem incorporar o planejamento, a administração e a regulação do uso da água. No processo de planejamento deve-se fazer uma avaliação prospectiva das demandas e das disponibilidades e definir mecanismos de sua alocação entre usos múltiplos, de forma a obter benefícios econômicos e sociais (BARTH, 1999). Nesse caso, o conhecimento do ciclo hidrológico nas bacias é essencial.

A avaliação dos recursos hídricos disponíveis, tanto em superfície quanto nos aqüíferos de subsuperfície, é feita por meio da elaboração de inventários. O objetivo geral dos Planos é oferecer, a partir de uma base de dados científica, propostas para a utilização racional dos recursos hídricos. Tais propostas são formuladas a partir do conhecimento de potencialidades e disponibilidades reais, em termos quantitativos e qualitativos.

Naquilo que se refere à avaliação dos recursos hídricos superficiais, as instituições encarregadas da elaboração dos inventários têm recorrido a uma caracterização física analítica, portanto não sistêmica das bacias hidrográficas, a estudos de regionalização de vazões e de chuvas, qualidade das águas e transporte de sedimentos. Com relação aos recursos subterrâneos realizam-se a caracterização, o mapeamento e a quantificação dos principais aqüíferos, objetivando o conhecimento de seu potencial e vulnerabilidades, das medidas necessárias para sua conservação e restrições de utilização, procurando apontar medidas que promovam a sua sustentabilidade e o incremento da oferta hídrica.

Os dados são fornecidos por um conjunto de estações distribuídas no território da bacia, que fornecem informações quantitativas e qualitativas das águas e índices pluviométricos. Recorre-se também aos dados de parâmetros climáticos coletados por uma rede de estações meteorológicas. Tais informações são pré-requisitos para a elaboração de bons inventários e, portanto, para a gestão e preservação dos recursos hídricos, para o planejamento energético, gestão territorial e a todo estudo ou projeto que demanda o levantamento das disponibilidades hídricas.

A maioria dos Comitês de bacias ainda não implementou todos os instrumentos de gestão. Têm faltado recursos financeiros, participação, planejamento e capacitação técnica. Mas, as perspectivas são positivas. Apesar dos problemas, nosso modelo de gestão ainda é tido como um exemplo de sucesso dos princípios da Conferência de Dublin.

É importante salientar que a avaliação do estado geral, bem como dos cenários prospectivos para os recursos hídricos nas bacias hidrográficas é tarefa básica dos órgãos públicos, por meio de suas equipes multi-interdisciplinares. Às Universidades cabe fornecer subsídios teórico-metodológicos, bem como discutir as bases científicas do uso e planejamento adequado dos recursos, com vistas à conservação das bacias com reflexos diretos na elevação da qualidade de vida da população e na qualidade ambiental. É esta a premissa, o princípio que serve de base para o presente estudo.

3.6 – BACIA DO JEQUITINHONHA NO CONTEXTO DA POLÍTICA