• Nenhum resultado encontrado

Na bacia do rio Jequitinhonha há predominância dos cambissolos, latossolos e argissolos. Ocorrem, também, manchas de litossolos e afloramentos rochosos, especialmente nas áreas de exposição do Supergrupo Espinhaço. A partir dos dados de classificação pedológica,

apresentam-se aqui as características morfológicas principais dos três grupos predominantes, algumas considerações acerca da dinâmica da água nos mesmos e também apreciações a respeito do potencial em termos de aproveitamento agrícola. Estudos específicos sobre essas propriedades em escala regional devem constar em futuros programas de pesquisa.

Os latossolos ocupam 42% da área de estudo, seguidos pelos argissolos (30%), cambissolos (19%) e litossolos (9%). Ocorrem ainda pequenas manchas de terra roxa, areias quartzozas e solos aluviais não representados no mapa 8 devido às restrições da escala. De uma forma geral, todos os solos da região apresentam algum tipo de limitação que gera baixos níveis de produtividade. Quando explorados indevidamente, podem chegar a um nível de degradação cuja recuperação é inviável do ponto de vista econômico.

Latossolos

Sabe-se que os latossolos são profundos, muito porosos, friáveis e muito permeáveis. Ocorrem normalmente em superfícies planas, suavemente onduladas a onduladas (EMBRAPA, 2004). Dependendo das características do horizonte A, facilitam a infiltração, apresentando, portanto, limitações quanto à disponibilidade hídrica (a água escapa do ambiente via escoamento de base).

Na bacia do rio Jequitinhonha os latossolos ocupam principalmente os topos das chapadas, onde as declividades estão sempre próximas a 2% e o material de origem são os sedimentos predominantemente argilo-arenosos das coberturas detríticas. Eles ocorrem também associados aos conjuntos litológicos gnáissicos e graníticos e, em menor extensão, aos quartzitos do Supergrupo Espinhaço. Em termos de aproveitamento agrícola, os latossolos apresentam excelentes condições físicas e, apesar de apresentarem limitações quanto à fertilidade natural, podem ser transformados em ótimos solos produtivos desde que utilizados sob sistemas de manejo adequados, que incluam a correção da acidez, o aumento da fertilidade e o controle erosivo.

Na bacia do Jequitinhonha os latossolos são utilizados principalmente para o reflorestamento, mas sistemas de manejo alternativos, incluindo a manutenção e o aumento das fontes de matéria orgânica, o manejo dos componentes biológicos, o aumento da capacidade de retenção de umidade e o plantio direto, podem possibilitar uma ocupação agrícola sustentável, contribuindo assim para a inclusão de pequenos agricultores ao setor produtivo comercial.

Mapa adaptado a partir de original cedido pela RURALMINAS (1995)

Argissolos

Os argissolos são essencialmente minerais, com horizonte de perda de argila, ferro ou matéria orgânica de coloração clara (A ou E), seguido de horizonte B textural de cor avermelhada a amarelada, dependendo do teor de óxidos de ferro (EMBRAPA, 2004). Na bacia do Jequitinhonha ocupam principalmente a porção inferior das encostas onde o relevo é ondulado (12 a 24%) ou fortemente ondulado (24 a 45%). O Argissolo vermelho-amarelo aparece em amplas áreas da porção média da bacia, nas áreas colinosas associadas à dissecação de complexos gnáissicos e rochas graníticas. O Argissolo vermelho-escuro (teores de óxidos de ferro mais elevados) aparece apenas em reduzidas áreas dos municípios de Jequitinhonha e Felizburgo.

Quanto à fertilidade e uso agrícola, nos argissolos podem variar o teor de nutrientes, textura, profundidade, presença ou não de cascalhos, pedras ou concreções, dentre outras propriedades. Em declividades mais elevadas fica muito difícil controlar a erosão. “Problemas sérios de erosão são verificados naqueles solos em que há grande diferença de textura entre os horizontes A e B, sendo tanto maior o problema quanto maior for a declividade do terreno” (EMBRAPA, 2004).

Na bacia do Jequitinhonha existe uma grande variação de espessura do horizonte A arenoso dos argissolos (IBGE, 1997). Em algumas áreas ele foi totalmente degradado. Assim, alguns argissolos apresentam o horizonte A totalmente erodido, mas aqueles que conservam a camada superficial preservada podem atingir espessuras da ordem de até 100 cm. Prado (2005) afirma que quando o horizonte B do argissolo ocorre relativamente próximo da superfície, as plantas podem utilizar a água dessa camada por um tempo muito maior do que quando o referido horizonte está mais profundo no perfil. Quando o horizonte A é muito espesso as plantas não conseguem retirar a água do horizonte B.

Existem argissolos na bacia do Jequitinhonha que perderam totalmente o horizonte A, o que irá causar forte diminuição de produtividade em relação aos solos não degradados porque a ausência do referido horizonte elimina a quebra de capilaridade, tornando-os muito ressecados. Quando se refere aos Argissolos é preciso saber em que profundidade inicia-se o horizonte B que é aquele que supre a água para as plantas. Infelizmente, essa informação ainda não se encontra disponível para toda a extensão da bacia do rio Jequitinhonha, em Minas Gerais. Estudos mais detalhados sobre a morfologia e as características do horizonte A

do argissolos possibilitariam um entendimento mais preciso sobre essa questão. Mas esse não é o propósito da presente pesquisa.

Comparativamente, os argissolos com horizonte B próximo de 50 cm disponibilizam água por mais tempo do que os latossolos de qualquer textura, entretanto o contrário ocorre quando o horizonte B do argissolo inicia-se a 100 cm de profundidade se assemelhado às limitações dos neossolos.

Cambissolos

Os cambissolos são solos pouco desenvolvidos, com horizonte B incipiente e, por isso, apresentam alteração química e física em grau não muito avançado, porém suficiente para o desenvolvimento de cor ou de estrutura. Geralmente ocorrem em locais com declividades mais elevadas e são muito erosivos (EMBRAPA, 2004). Na bacia do Jequitinhonha, os cambissolos estão presentes principalmente nas áreas colinosas e cristas resultantes da dissecação do conjunto litológico das rochas predominantemente xistosas do Grupo Macaúbas. Aparecem secundariamente nas áreas dos complexos gnáissicos e rochas graníticas.

Tratam-se de solos altamente susceptíveis a problemas ambientais, como elevadas perdas materiais e contaminações hídricas, já que são solos em formação, normalmente com elevados teores de silte. Os siltes são componentes texturais pouco desejáveis no contexto conservacionista tropical, devido à sua capacidade de se desprender pelo impacto de gotas de chuva e/ou irrigação (salpicamento) e por produzir um selamento superficial que dificulta a infiltração de água e aumento de escoamento superficial e erosão (RESENDE et al; 1999). Desta forma, é importante reforçar a necessidade do manejo adequado desses solos. O uso agrícola apresenta limitações, já que existem problemas para trafegabilidade de máquinas e também alta erodibilidade.