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TEÓRICOS E CONCEITUAIS 41 2.1 Sobre o desenvolvimento e problemas relacionados

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5 A POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL NO MEIO OESTE CONTESTADO.

5.4 A política em perspectiva.

No alcance dos objetivos traçados para o Programa Territórios da Cidadania, como verificamos acima, manifestou-se um conjunto de dificuldades e impasses. Em si, isto poderia ser entendido como parte do processo, ou trajetória a ser percorrida para a implantação e execução de uma política pública da envergadura deste programa. Para a consolidação de uma política desta natureza, que propõe o planejamento apoiado em ações do poder público em prol do desenvolvimento

socioeconômico de um território, e traz no seu bojo a intenção de superar a pobreza, a avaliação sistemática da sua execução é necessária.

Esta seção sistematiza e revisa assuntos tratados durante o capítulo, considerando o que compõe os objetivos originários da estratégia do Programa Territórios da Cidadania (BRASIL, 2008) e os impasses da política na região enfocada na pesquisa. A partir dos objetivos da política, são traçados comentários quanto aos alcances no Meio Oeste Contestado, fixando o olhar na institucionalidade que sustenta a política, a gestão social, a participação dos atores e as perspectivas da política.

No que se refere à estratégia de integração de políticas públicas com base no planejamento territorial, consideramos que há deficiências importantes no processo de planejamento, com diagnósticos desatualizados e um Plano de Desenvolvimento Territorial elaborado com elevado peso no segmento da agricultura familiar. Os limites para a integração das políticas foram consideráveis em todo o período de funcionamento do programa, mas especialmente após a inclusão do território rural no Programa Territórios da Cidadania.

Este programa pressupõe o elevado peso na articulação de políticas tanto de forma horizontal, na esfera federal, quanto uma integração vertical, que fomente o diálogo e a integração entre políticas federais, estaduais e municipais. O que ficou evidente foi desde as dificuldades de entendimento dos atores envolvidos com o planejamento territorial, quanto a real necessidade destas ações, até a fraca capacidade para a efetiva concertação em torno desta integração. O diálogo que não exclua o setorial, mas traga os diferentes setores à mesa ainda carece de ser fortalecido.

Neste sentido, a própria ideia de território fica comprometida, no recorte proposto pela política. Retomando Reis (2005), para quem as dimensões “proximidade” e a “densidade das relações” representam a identidade e a capacidade dinâmica de um território, percebe-se uma dinâmica ainda frágil, de relações induzidas e em grande medida restritas a apenas um segmento social, o da Agricultura Familiar. As ordens relacionais e institucionais existentes na região oeste de Santa Catarina não necessariamente coincidem com os recortes propostos pela política pública em questão. Além disso, as relações engendradas no âmbito do PTC tem pouca densidade e sofrem descontinuidades, dado que estão submetidas a agendas e à dinâmica orçamentária da esfera pública.

No que se refere à ampliação dos mecanismos de participação social, na gestão das políticas públicas de interesse do desenvolvimento dos territórios, neste campo, principalmente depois de analisados os relatos dos atores com atuação no debate sobre a política no território (os atores entrevistados), sinaliza-se para avanços localizados em dois aspectos principais: O primeiro é a própria criação dos espaços de debate em torno dos problemas do território. Ademais todos os problemas elencados quanto ao funcionamento do CODETER, este significou um importante espaço de diálogo entre organizações sociais, mesmo que majoritariamente de Agricultores Familiares e o poder público naquela região de Santa Catarina. O segundo aspecto, derivado do primeiro, tem relação com a possibilidade que o colegiado permitiu para que aqueles atores se conhecessem de forma mais profunda, fazendo com que deste processo de interação surgirem possibilidades de coesão, de acordos de reciprocidade e outros aspectos amparados nestas interações.

Já para a ampliação da oferta dos programas básicos de cidadania, a condição de Território da Cidadania se transforma em vitrine para este tipo de programas. Houve efetivamente um conjunto de iniciativas facilitadoras do acesso às populações pobres a estas políticas públicas básicas. Destaque deve ser dado ao PBF já entendido como programa universalizado no território. Há, todavia, limites no atendimento a segmentos especiais ainda em condições de maior invisibilidade, que não alcançam uma série de políticas a que poderiam acessar. As ações estruturantes chegam de forma mais lenta aos segmentos mais empobrecidos. A forma de acessar projetos pressupõe a organização e a capacidade de articulação para negociar e ser ouvido. Há que ter voz para poder acessar políticas que efetivamente pavimentem os caminhos para ampliação das oportunidades socioeconômicas, base para a superação da pobreza.

Inclusão e integração produtiva das populações pobres e dos segmentos sociais mais vulneráveis, tais como trabalhadoras rurais, quilombolas, indígenas e populações tradicionais: neste caso destaque pode ser dados aos indígenas que pouco ou nada participam das ações do território, pequenos arrendatários e ocupantes em situação de ilegalidade da posse da terra que sequer conhecem ou não encontram orientação para acessar políticas de arrecadação de terras ou legalização de posse (ENTREVISTA 02), cortadores de erva mate que nem sempre encontram trabalho digno (SC, 2010) e moradores das periferias das

pequenas, cidades expostos a toda sorte de trabalhos de menor segurança, longe do que se poderia classificar como trabalho decente.

No que se refere à valorização da diversidade social, cultural, econômica, política, institucional e ambiental das regiões e das populações, como foi possível argumentar ao longo deste capítulo, a marcada característica setorial do processo de execução da política no território, impede a devida integração da totalidade dos atores que compões aquele espaço. E mesmo no que se refere às ações focadas na agricultura familiar, estas se limitam ao fortalecimento da matriz produtiva. Este certo privilégio aos aspectos produtivistas nas ações da política, remete a uma ideia que deposita maior peso aos aspectos da geração de renda, estes já presentes em outras políticas públicas orientadas ao espaço rural, caso do PRONAF.

Em síntese, a proposta de desenvolvimento territorial contida no Programa Territórios da Cidadania ainda tem muito a ser aperfeiçoada, tendo em vista a obtenção de resultados concretos no campo da transformação produtiva e o aprimoramento das instituições do Meio Oeste Contestado, em Santa Catarina. As dificuldades e acertos da experiência iniciada, de articulação dos atores do território em prol do desenvolvimento socioeconômico, já produziu elementos para avaliações e redefinições de rumos, no sentido da efetiva implementação da política.