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2.2. POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL

2.2.2 Política de Saúde no Rio Grande do Norte

A rede pública de saúde do Estado do Rio Grande do Norte no mês de julho de 2013 contava com 1.203 (um mil duzentos e três) Unidades Básicas de Saúde em funcionamento e com 129 (cento e vinte e nove) em fase de construção. Esse quantitativo de unidades possui como meta cobrir uma população de 2.534.507 (dois milhões, quinhentos e trinta e quatro mil, quinhentos e sete pessoas), o que equivale a 80,00% da população coberta do Estado. Ainda de acordo com a estrutura física, o Estado do RN possui 77 hospitais gerais, 21 hospitais especializados, 13 prontos socorro geral e 07 especializados. 16 CAP‟s e 15 UPA sendo 03 em funcionamento e 12 em construção. (SIA/SUS).

Além da estrutura física encontrada no Estado, a Secretaria de Estado da Saúde Pública na busca de qualificar e quantificar o acesso aos serviços públicos de saúde

priorizou a construção de 05 (cinco) redes de atenção em saúde caracterizada como: Rede Cegonha, Rede de atenção Oncológica, Rede de atenção Psicossocial, Pessoa com Deficiência e Rede de Urgência e Emergência, as quais buscam promover uma vida mais saudável, que compreende o acesso aos serviços de saúde de forma universal e de qualidade.

Na visão de Carvalho et al. (2008, p. 37) as redes de atenção podem ser entendidas como:

A forma e organização das ações e serviços de promoção, prevenção e recuperação da saúde, em todos os níveis de complexidade, de um determinado território, de modo a permitir a articulação e a interconexão de todos os conhecimentos, saberes, tecnologias, profissionais e organizações ali existentes, para que o cidadão possa acessá-los, de acordo com suas necessidades de saúde, de forma racional, harmônica, sistêmica, regulada e conforme uma técnica técnico-sanitária.

Para Mendes (2010, p.2030) as redes de atenção em saúde são tidas como:

(...) organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados entre si por uma missão única, por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, que permitem ofertar uma atenção contínua e integral a determinada população, coordenada pela atenção primária à saúde - prestada no tempo certo, no lugar certo, com o custo certo, com a qualidade certa e de forma humanizada -, e com responsabilidades sanitárias e econômicas por esta população.

Para melhor direcionamento e compreensão do trabalho é oportuno conhecer as características e objetivos de cada rede de atenção em saúde.

Instituída pela Portaria n°1.459 de 24 de junho de 2011 a Rede Cegonha consiste numa rede de cuidados que visam assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez ao parto e ao puerpério bem como à criança o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e ao desenvolvimento saudáveis.

Dentre os princípios que compõem a Rede Cegonha, o Art. 2° destaca: O respeito, a proteção e a realização dos direitos humanos; o respeito à diversidade cultural, étnica e racial; a promoção da equidade; o enfoque de gênero; a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres, homens, jovens e adolescentes; a participação e a mobilização social; e a compatibilização com as atividades das redes de atenção à saúde materna e infantil em desenvolvimento nos Estados. (BRASIL, 2011).

No que compete aos objetivos da Rede Cegonha, o Art. 3° insere: fomentar a implementação de novo modelo de atenção à saúde da mulher e à saúde da criança com foco na atenção ao parto, ao nascimento, ao crescimento e ao desenvolvimento da

criança de zero aos vinte e quatro meses; organizar a Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil para que esta garanta acesso, acolhimento e resolutividade; e reduzir a mortalidade materna e infantil com ênfase no componente neonatal. (idem, 2011)

Já a Rede de Atenção Oncológica busca garantir o atendimento integral a qualquer paciente com câncer, abrangendo sete modalidades: diagnóstico, radioterapia, quimioterapia, cirurgia oncológica, reabilitação, medidas de suporte e cuidados paliativos.

Instituída pela Portaria n° 3.088 de 23 de dezembro de 2011, as Redes de

Atenção Psicossocial buscam ampliar o acesso à atenção psicossocial da população em

geral, promover a vinculação das pessoas com transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas e suas famílias aos pontos de atenção e garantir a articulação e integração dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando o cuidado por meio do acolhimento, do acompanhamento contínuo e da atenção às urgências.

Segundo o Art. 4º são objetivos específicos da Rede de Atenção Psicossocial: promover cuidados em saúde especialmente grupos mais vulneráveis (criança, adolescente, jovens, pessoas em situação de rua e populações indígenas), prevenir o consumo e a dependência de crack, álcool e outras drogas; reduzir danos provocados pelo consumo de crack, álcool e outras drogas; promover a reabilitação e a reinserção das pessoas com transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas na sociedade, por meio do acesso ao trabalho, renda e moradia solidária; promover mecanismos de formação permanente aos profissionais de saúde; desenvolver ações intersetoriais de prevenção e redução de danos em parceria com organizações governamentais e da sociedade civil; produzir e ofertar informações sobre direitos das pessoas, medidas de prevenção e cuidado e os serviços disponíveis na rede; regular e organizar as demandas e os fluxos assistenciais da Rede de Atenção Psicossocial; e monitorar e avaliar a qualidade dos serviços através de indicadores de efetividade e resolutividade da atenção. (BRASIL, 2011).

Nessa perspectiva de acesso, ganha destaque o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que possui a função de: prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando as internações em hospitais psiquiátricos, acolher e atender as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu território; promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais por meio de ações intersetoriais; regular a porta de entrada da rede

de assistência em saúde mental na sua área de atuação; dar suporte a atenção à saúde mental na rede básica; organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios; articular estrategicamente a rede e a política de saúde mental num determinado território promover a reinserção social do indivíduo através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. (IDEM, 2011)

A próxima rede de atenção está voltada para a pessoa com deficiência. Instituída pela Portaria n° 793, de 24 de abril de 2012, a Rede de Cuidados à Pessoa com

Deficiência possui como objetivos: respeito aos direitos humanos, com garantia de

autonomia, independência e de liberdade às pessoas com deficiência para fazerem as próprias escolhas; promoção da equidade; promoção do respeito às diferenças e aceitação de pessoas com deficiência, com enfrentamento de estigmas e preconceitos; garantia de acesso e de qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar; atenção humanizada e centrada nas necessidades das pessoas; diversificação das estratégias de cuidado; desenvolvimento de atividades no território, que favoreçam a inclusão social com vistas à promoção de autonomia e ao exercício da cidadania; ênfase em serviços de base territorial e comunitária, com participação e controle social dos usuários e de seus familiares; organização dos serviços em rede de atenção à saúde regionalizada, com estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado; promoção de estratégias de educação permanente; desenvolvimento da lógica do cuidado para pessoas com deficiência física, auditiva, intelectual, visual, ostomia e múltiplas deficiências, tendo como eixo central a construção do projeto terapêutico singular; e desenvolvimento de pesquisa clínica e inovação tecnológica em reabilitação, articuladas às ações do Centro Nacional em Tecnologia Assistiva. (BRASIL, 2012)

Dentre os objetivos que compõem a implantação da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência destacam-se: ampliar o acesso e qualificar o atendimento às pessoas com deficiência temporária ou permanente; progressiva, regressiva, ou estável; intermitente ou contínua no SUS; promover a vinculação das pessoas com deficiência auditiva, física, intelectual, ostomia e com múltiplas deficiências e suas famílias aos pontos de atenção; e garantir a articulação e a integração dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando o cuidado por meio do acolhimento e classificação de risco. (idem, 2012).

Instituída pela Portaria nº 2.395, de 11 de outubro de 2011 a Rede de Urgência

e Emergência fornece a ampliação e qualificação dos serviços das Portas de Entrada

Hospitalares de Urgência, das enfermarias clínicas de retaguarda, das enfermarias de retaguarda de longa permanência e dos leitos de terapia intensiva, e pela reorganização das linhas de cuidados prioritárias de traumatologia, cardiovascular e cerebrovascular.

Dentre os objetivos do Componente Hospitalar da Rede de Atenção às Urgências destacam-se: organizar a atenção às urgências nos hospitais, de modo que atendam à demanda espontânea e/ou referenciada e funcionem como retaguarda para os outros pontos de atenção às urgências de menor complexidade; garantir retaguarda de atendimentos de média e alta complexidade; procedimentos diagnósticos e leitos clínicos, cirúrgicos, de longa permanência e de terapia intensiva para a rede de atenção às urgências; e garantir a atenção hospitalar nas linhas de cuidado prioritárias, em articulação com os demais pontos de atenção.

Constituem diretrizes do Componente Hospitalar da Rede de Atenção às Urgências: universalidade, equidade e integralidade no atendimento às urgências; humanização da atenção, garantindo efetivação de um modelo centrado no usuário e baseado nas suas necessidades de saúde; atendimento priorizado, mediante acolhimento com classificação de risco, segundo grau de sofrimento, urgência e gravidade do caso; a regionalização do atendimento às urgências, com articulação dos diversos pontos de atenção e acesso regulado aos serviços de saúde; e à atenção multiprofissional, instituída por meio de práticas clínicas cuidadoras e baseada na gestão de linhas de cuidado.

Ao focar nas potencialidades da implantação das redes de atenção em saúde tem- se o diagnostico que elas conduzem ao incremento e efetividade da integralidade do acesso, tendo em vista a inclusão de novos parceiros e expansão dos procedimentos de saúde fornecidos; outro beneficio está na conquista da racionalidade dos serviços e parceiros, assim como na gestão mais eficiente dos recursos financeiros, pessoal e equipamentos.

Apesar dos avanços, na prática algumas lacunas podem ser encontradas na efetividade do SUS, principalmente relacionados à fragmentação da assistência e aos mecanismos de pactuação dos níveis de atenção e de acesso integral e universal, diminuição das desigualdades, precária infraestrutura, condições desumanas de tratamento, orçamentos insuficientes, custos de procedimentos mais caros, redução do

número de leitos disponíveis que não atendem à crescente demanda por procedimentos de internação.

Indo na mesma direção do que ocorre no Brasil, percebe-se que nos últimos anos o Estado do Rio Grande do Norte vem registrando um aumento populacional conforme consta na Tabela 01.

Tabela 1: Evolução populacional do Estado do Rio Grande do Norte no Período: 2000-2010. Ano População 2000 2.776.782 2001 2.817.452 2002 2.852.784 2003 2.888.058 2004 2.962.226 2005 3.003.087 2006 3.043.759 2007 3.084.106 2008 3.106.430 2009 3.137.646 2010 3.168.027

Fonte: IBGE/Censos demográficos (1991, 2000 e 2010), contagem populacional (1996) e projeções e estimativas demográficas.

Ao analisar os dados pode-se concluir que a população do Estado do Rio Grande do Norte nos últimos 11 anos teve crescimento populacional de 391.245 pessoas o que corresponde a aproximadamente 14,09%. Tendo em vista este crescimento é prudente verificar se a oferta de leitos de internação acompanhou essa evolução. A Tabela 02 mostra a disponibilidade de leitos de internação no Estado do RN.

Tabela 02: Quantidade de leitos de internação SUS no Estado do Rio Grande do Norte no período de Janeiro de 2011 a Julho de 2013

Ano/mês de Competência Número de leitos

2011/Jan 6.514 2011/Fev 6.521 2011/Mar 6.523 2011/Abr 6.516 2011/Mai 6.582 2011/Jun 6.502 2011/Jul 6.516 2011/Ago 6.516 2011/Set 6.526 2011/Out 6.527 2011/Nov 6.519 2011/Dez 6.498 2012/Jan 6.498 2012/Fev 6.435 2012/Mar 6.464 2012/Abr 6.354 2012/Mai 6.387 2012/Jun 6.415 2012/Jul 6.367 2012/Ago 6.426 2012/Set 6.334 2012/Out 6.326 2012/Nov 6.326 2012/Dez 6.319 2013/Jan 6.319 2013/Fev 6.401 2013/Mar 6.368 2013/Abr 6.386 2013/Mai 6.423 2013/Jun 6.463 2013/Jul 6.408

Fonte: Ministério da Saúde - Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil - CNES

Apesar do crescimento populacional vivenciado na ultima década, ao analisar os dados da Tabela 02, verifica-se que o quantitativo de leitos seguiu no sentido contrario. De acordo com os dados pode-se verificar que no período de Janeiro de 2011 a Junho de 2013 houve redução no numero de leitos de internação disponibilizados para a população. Este movimento está em consonância com os dados de BRASIL (2004ª apud MARTINS 2006) ao afirmar que

(...) o Brasil conta com 6.012 hospitais e 451.320 leitos hospitalares cadastrados, e desse total 86,5% são destinados ao Sistema Único de Saúde o

autor acrescenta ainda que houvesse redução de 5,73% no número de hospitais a partir do ano de 2002 e queda de 11,01% de leitos hospitalares.

De acordo com dados do DATASUS além da redução do número de leitos disponíveis, percebe-se um incremento financeiro no que tange aos procedimentos de internação conforme exposto na tabela abaixo.

Tabela 03: Volume de recursos destinados à internação/ Número de internações e valor médio pago para internação no Estado do RN no período: 2000-2010

Fonte: Ministério da Saúde/SE/DATASUS - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

Ao analisarmos os dados da Tabela 03 pode-se inferir que no período de 2000 a 2010 houve um incremento de R$ 94.913.295,50 (noventa e quatro milhões, novecentos e treze mil, duzentos e noventa e cinco reais e cinquenta centavos) ou 245,44% do volume de recursos financeiros destinados à internação hospitalar. Com relação ao número de internações no mesmo período evidencia-se uma redução no mesmo período. Outro dado importante é que apesar da redução do número de internações verifica-se no período que o custo médio das internações aumentou de 336,02 reais para 927,73, ou seja, um aumento de 276,09%.

O Estado do Rio Grande do Norte na área da saúde conta ainda com problemas relacionados à efetividade da regionalização da assistência, pois determinados procedimentos que são para serem realizados em outras unidades hospitalares do Estado e que possuem o perfil do atendimento não estão sendo realizados tendo em vista a deficiência de estrutura, profissionais capacitados e orçamento suficiente para atender a demanda crescente. Tenho em vista o diagnostico da estrutura e dificuldades encontradas no âmbito do Estado do Rio Grande do Norte é importante e oportuno

Ano Total Numero de

internações Valor médio 2000 65.258.307,96 194.095 336,22 2001 70.128.884,49 191.995 365,26 2002 74.602.576,69 190.399 391,82 2003 77.935.244,78 175.737 443,48 2004 92.262.664,71 171.844 536,90 2005 98.581.029,97 168.764 584,14 2006 95.288.832,59 165.241 576,67 2007 104.861.926,17 156.108 671,73 2008 123.103.680,55 161.087 764,21 2009 145.904.288,30 166.153 878,13 2010 160.171.603,46 172.761 927,13

conhecer e analisar a política de saúde e os problemas enfrentados na capital do Estado (Natal), aspectos estes discutidos na próxima seção.