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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO 2. POLÍTICAS PÚBLICAS EUROPEIAS E NACIONAIS

1 Políticas públicas a nível Europeu

Ao longo dos tempos tem-se verificado o surgimento de inúmeros políticas e legislação relacionadas com a prevenção, criminalização e apoio às vítimas da violência em contexto familiar ou violência doméstica como é mais conhecida, não só em Portugal, mas também a nível europeu. Até há algum tempo atrás, a maioria dos países tendia a negligenciar a existência deste problema, contudo hoje a criminalização da violência doméstica é uma prioridade, facilitando a intervenção do Estado e de outros organismos (Duarte, 2011).

A nível Europeu é possível constatar-se uma evolução no quadro político da União Europeia, no que diz respeito a medidas centradas no combate à violência doméstica, violência de género e de outros tipos de violência. Foram criadas como forma de proteção das vítimas um conjunto de direitos que estas têm de forma a suprimirem as suas necessidades e defenderem os seus interesses e expetativas, estando previstos não só nas leis nacionais, mas também em instrumentos jurídicos internacionais (Infovítimas, s/d).

Esses direitos estão todos compilados numa Diretiva da União Europeia criada em 2011, sendo esta a Diretiva 2012/29/EU, do Parlamento Europeu e do Conselho da União Europeia. Entre os direitos presentes nessa diretiva estão, por exemplo: o direito de compreender e ser compreendido, o direito de receber informações sobre o processo, ao

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apoio dos serviços de apoio às vítimas, ao apoio jurídico, de restituição de bens ou ainda o direito à proteção da vida privada, entre outros (Infovítimas, s/d; Diretiva 2012/29/EU). A nível, por exemplo, da Organização das Nações Unidas (ONU) têm sido diversas as comemorações realizadas, a partir da década de 70, como a Década das Nações Unidas para as Mulheres: Igualdade, desenvolvimento e Paz (1976-1985), entre outras. Uma outra medida implementada pelo Parlamento Europeu aconteceu no ano de 1977 através da votação no relatório Eriksson – Tolerância Zero contra a Violência contra as Mulheres em que após votação favorável é publicada uma resolução em que o Parlamento Europeu pretende chamar a atenção das instituições europeias para a necessidade de desenvolvimento de uma vasta campanha a nível europeu de tolerância zero à violência contra as mulheres (Portugal, 2000).

Através dessa resolução é feito o apelo a ouras recomendações e resoluções das Nações Unidas e Conselho da Europa (e.g. recomendações sobre a violência na família ou Conferencia de Viena sobre os Direitos Humanos (Portugal, 2000).

De acordo com Costa (2005) entre 1980 e 1990, as Nações Unidas produziram um vasto número de documentos legislativos sobre a temática da violência doméstica, entre os quais: a Declaração dos Princípios Básicos de Justiça para as Vítimas de Crime e de Abuso de Poder e a Resolução sobre Violência Doméstica

Já em 1999 foi lançada a Campanha Europeia de Sensibilização de Opinião Pública para a Violência contra as Mulheres de modo a promover a sensibilização da opinião pública sobre o tema da violência contra as mulheres e como forma de procurar meios mais eficazes de prevenir este tipo de fenómeno. A campanha foi destinada, especialmente aos homens agressores e potenciais agressores e às mulheres vítimas, contudo as crianças e jovens que testemunhavam os atos de violência também foram os destinatários da campanha para que a violência fosse prevenida, mas também salientar o dever individual e coletivo que todas as pessoas têm para a combater (Perista & Ramos citado em Portugal, 2000).

Mais recentemente, têm surgido outras medidas a nível europeu. Em 2010, o Conselho Europeu apresentou as principais conclusões sobre a Erradicação da Violência contra as Mulheres na União Europeia com o intuito de que a Comissão Europeia e os Estados-Membros prosseguiam os esforços na luta contra a violência contra as mulheres e promovam ações para assegurar o seu financiamento. A nível da Comissão Europeia foi criada em 2009 a Carta das Mulheres, o Plano de Ação para Aplicação do Programa de Estocolmo, em 2010, assim como a Estratégia para a Igualdade entre Homens e Mulheres

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que decorreu entre os anos de 2010-2015 (Comité Económico e Social Europeu, 2012). Estas são só algumas das medidas que têm vindo a ser tomadas a nível Europeu. De referir que existem outras ainda também importantes acerca deste fenómeno.

Na tabela abaixo encontram-se listadas algumas das ações/ legislação criada com o objetivo de proteção das vítimas de violência. Algumas já foram apresentadas anteriormente como bons exemplos de políticas adotadas a nível Europeu, outras não. A sua apresentação é feita cronologicamente (das mais antigas para as mais recentes).

Tabela 2.1. Resumo da legislação a nível Europeu – Violência Doméstica

Legislação Síntese

Resolução do Parlamento Europeu, de 6 de outubro de 1997

Necessidade do desenvolvimento de campanha de recusa total da violência contra as mulheres, na UE Resolução do Parlamento Europeu, de 21 de

junho de 1999

Relacionada com a violência contra as mulheres Programa Daphne (2000-2004) – combate à violência contra as mulheres, crianças e adolescentes Resolução do Parlamento Europeu, de 24 de

novembro de 2006

Situação atual e, eventuais, futuras ações no combate à violência contra as mulheres

Regulamento (CE) n.º 1922/2006 Criação de Instituto Europeu para a Igualdade de Género. Objetivo: contribuir para a promoção e o reforço da igualdade de género mediante a integração da perspetiva de género em todas as políticas comunitárias e combate contra a discriminação entre géneros através da sensibilização dos cidadãos

Resolução da Assembleia da República n.º 17/2007, de 26 de abril

Criação da iniciativa “Parlamentos unidos para combater a violência doméstica contra as mulheres” Decisão n.º 779/2007/CE do Parlamento

Europeu e do Conselho, de 20 de junho de 2007

Criação de programa específico de prevenção e combate à violência contra as crianças, os jovens e as mulheres e proteção das vítimas e grupos de risco (Programa Daphne III entre 2007 – 2013) - Programa geral Direitos Fundamentais e Justiça

Declaração do Parlamento Europeu, de 22 de abril de 2009

Realização de campanha “Diga NÃO à violência contra as mulheres”

Resolução do Parlamento Europeu, de 26 de novembro de 2009

Relativo à eliminação da violência contra as mulheres

Resolução da Assembleia da República n.º 111/2009, de 18 de dezembro

Celebração do 10.º Aniversário do Dia pela Eliminação da Violência contra as Mulheres

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Parecer do Comité das Regiões, de 27 de março de 2010

Identificação das ações prioritárias dos órgãos de Poder Local/Regional. Objetivo: prevenção da violência contra as mulheres e melhoria do apoio dado às vítimas

Resolução do Parlamento Europeu, de 5 de abril de 2011

Identificação das prioridades e definição de novo quadro político-comunitário no combate à violência contra as mulheres

Resolução do Parlamento Europeu, de 2 de

fevereiro de 2012

Identificação dos progressos alcançados e das perspetivas futuras acerca do Programa Daphne Fonte: Costa (2005); Informação recolhida do site da Assembleia da República (2015)