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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

6. Procedimentos de recolha de dados

Nesta secção apresentamos os diferentes procedimentos seguidos durante a recolha de dados junto das técnicas e das vítimas, que decorreu entre outubro de 2015 e janeiro de 2016.

Com a consciência da dificuldade e complexidade inerentes ao tema, e após algumas conversas iniciais com especialistas, técnicas e vítimas, foi iniciada a planificação dos documentos e instrumentos a serem utilizados no trabalho de campo: a) consentimento informado e b) guiões das entrevistas semiestruturadas e narrativas.

Nos primeiros momentos foi importante perceber a quem poderiam ser feitas as entrevistas, o número de pessoas a entrevistar, os locais onde nos poderíamos dirigir para conhecer um pouco melhor a realidade estudada, entre outros aspetos. Nesta lógica, foi necessário ir para o terreno e conhecer a realidade de algumas instituições que apoiam vítimas de violência doméstica.

Identificada a instituição, foram realizados os primeiros contatos, de modo a perceber a que profissionais poderiam ser realizadas entrevistas. Num primeiro momento, foi agendada uma reunião com a diretoria técnica para apresentar a investigação e, mais tarde, foi marcada uma reunião com a presidente da instituição, da qual faz parte a

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resposta social Casa de Abrigo. Esta segunda reunião teve como principais objetivos: a) apresentação da investigadora; b) esclarecimento do pedido de reunião e o porquê de estar a desenvolver um trabalho sobre a violência doméstica e c) solicitar autorização para realizar entrevistas às técnicas da Casa de Abrigo, bem como a algumas das utentes.

Após a aceitação por parte, quer da presidente da instituição, quer da diretora técnica da Casa de Abrigo, seguiu-se a construção de um conjunto de documentos fundamentais para a recolha dos dados. De entre os documentos estiveram os consentimentos informados entregues às técnicas no início das entrevistas e o guião das entrevistas, cujas especificidades já referimos anteriormente.

Após esta fase, foram agendadas as entrevistas com as técnicas da Casa de Abrigo, sempre respeitando as suas disponibilidades.

Num primeiro momento, foi tida uma conversa entre entrevistadora/investigadora e entrevistada (fase inicial de todas as entrevistas) para que as apresentações fossem feitas, fosse explicado o porquê de ter escolhido aquela instituição para realização das entrevistas e não outra qualquer e para serem contextualizados outros pormenores relativos à investigação, o que aconteceu ainda sem que o gravador estivesse ligado.

Este momento permitiu a construção de uma relação de confiança entre entrevistadora-entrevistada, sem grandes constrangimentos, nem receios; ou seja, serviu para “quebrar o gelo” inicial de uma conversa entre duas pessoas que não se conheciam. Após a assinatura e concordância com tudo o que constava no consentimento informado, iniciámos a gravação previamente autorizada das entrevistas. Para além das questões que estavam planificadas foram ainda realizadas outras, à medida que a conversa se ia desenrolando. As novas questões foram surgindo de forma a completar o que ia sendo tido e para que se fosse sendo recolhida mais informação que fosse útil para o trabalho a realizar. Permitiram, por isso, contextualizar alguns aspetos menos claros relacionados com as questões que iam sendo colocadas durante as entrevistas como é possível verificar através dos seguintes exemplos: “E por isso, em muitos casos, acabam por voltar para os companheiros?” ou “Como é que é desenvolver esse trabalho com as mulheres?”

As quatro entrevistadas (diretora técnica/assistente social, psicóloga clínica, assistente social e ajudante) tiveram uma duração entre 45 minutos e uma hora e 20 minutos, tendo as entrevistadas demonstrado estar à vontade, bem-dispostas, sorridentes e sem grandes receios de responderem às questões que foram colocadas. Chegaram mesmo a contar algumas histórias de vítimas que estiveram ou estavam naquele momento

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na Casa. A necessidade de as técnicas mencionarem alguns casos acabou por surgir naturalmente, como forma de ilustrarem/darem exemplos de algumas situações a que faziam referência no decorrer da entrevista. Em certas ocasiões também chegaram a falar um pouco dos percursos das suas vidas.

No que se refere às vítimas, após as primeiras conversas informais com algumas técnicas/especialistas da Casa de Abrigo e mulheres vítimas de violência doméstica e construídos os consentimentos informados, bem como o guião das entrevistas narrativas, avançámos com a recolha dos dados.

De referir que não foram planificados blocos de questões por se tratar de uma entrevista aberta em que o objetivo se centra em deixar as entrevistadas falar daquilo que querem e sentem, de acordo com a sua vontade e disponibilidade.

Numa fase inicial, a investigadora apresentou-se, deu a conhecer o porquê de estar a fazer uma investigação sobre a violência doméstica, esclareceu que todas as informações dadas pelas mulheres seriam anónimas e confidenciais, agradecendo a participação e disponibilidade. Foi ainda explicada a importância de as entrevistas serem gravadas, para posterior transcrição e tratamento dos dados.

Nos primeiros momentos, o gravador não esteve ligado. Com o início das entrevistas, explicação dos objetivos da investigação, de outros aspetos característicos desta e colocação da pergunta generativa o gravador foi ligado e manteve-se desse momento até ao último instante das entrevistas. Sempre que necessário foram referidos outros tópicos para que as entrevistadas pudessem falar mais sobre algum momento da vida ou algum episódio importante.

No total, foram realizadas duas/três entrevistas a cada vítima, caracterizadas por um grau crescente de complexidade.

As entrevistas à vítima que não recorreu a nenhuma resposta social, decorreram de um modo diferente das restantes: a primeira entrevista iniciou-se com a colocação da pergunta generativa, mas nas entrevistas seguintes não foi necessário colocar nenhuma pergunta, visto que a entrevistada foi contando tudo o que viveu na vida de modo pormenorizado.

De destacar que em alguns casos, as entrevistadas mostraram-se tão à vontade e com facilidade em descrever a sua história de vida que a investigadora não sentiu necessidade de “intervir” e de questionar em relação a alguns tópicos, pois as entrevistadas foram bastante pormenorizadas.

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No total, foram realizadas 12 entrevistas a vítimas de violência doméstica (uma, duas ou três a cada uma das entrevistadas).

As entrevistas tiveram durações diferentes, influenciadas pelo facto de se tratar da primeira, segunda ou terceira entrevista. Em média as entrevistas duraram cerca de uma hora. Globalmente, as vítimas demonstraram estar à vontade, bem-dispostas, confortáveis, sorridentes e sem receios de falarem das suas vidas. Não obstante, foi visível, em algumas situações, ou em relação a alguns temas que iam surgindo durante as entrevistas, um certo nível de desconforto, insegurança ou mesmo alguma emoção.