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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

7. Procedimentos de análise de dados

O primeiro passo a ser tomado num contexto de investigação é a definição do material a trabalhar, a seleção das entrevistas ou das partes mais importantes que permitem responder à questão de investigação; o segundo passo prende-se com a análise da recolha de dados, ou seja, como é que foram recolhidos os dados e quem esteve envolvido nessa recolha; no terceiro passo o material é caracterizado; no quarto passo define-se o que realmente se pretende interpretar com base nos dados recolhidos. Como último dos passos procede-se à definição das unidades/categorias de análise também conhecido como codificação, de acordo com as categorias encontradas e as passagens de texto que preenchem essas categorias (Bogdan & Biklen, 1994; Maying, 1983, citado em Flick, 2005).

Com as entrevistas semiestruturadas e narrativas finalizadas e as notas de campo fechadas, iniciámos as transcrições de todas as entrevistas e posterior leitura, tomada de notas e “sinalização” das partes mais importantes a serem utilizadas na análise de conteúdo. Após estes momentos, foi possível proceder-se à construção das categorias e subcategorias, ou seja, à fase denominada de categorização que serviu de base a toda a análise das entrevistas.

A análise é tida como “o processo de busca e de organização sistemática de transcrições de entrevistas, de notas de campo e de outros materiais que foram sendo acumulados (…)” (Bogdan & Biklen, p. 205, 1994). Este processo deve ser feito à medida que os dados vão sendo recolhidos. É através da análise de conteúdo que é realizada a análise dos diversos dados recolhidos, visto esta ser um dos procedimentos clássicos utilizados na análise de dados ou materiais escritos, seja qual for a sua origem.

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De acordo com Cohen e colaboradores (2007), a análise qualitativa dos dados envolve a organização, apresentação e explicação dos dados, não existindo uma forma única e correta de análise e apresentação dos dados.

Flick (2005) faz referência aos vários tipos de análise de conteúdo existentes, entre os quais se encontram a análise de conteúdo qualitativa, que foi a utilizada nesta investigação. Este tipo de análise de conteúdo refere-se a um procedimento clássico da análise de material escrito, independentemente da sua origem. Um dos principais elementos que caracterizam esta análise refere-se à utilização de categorias derivadas de modelos teóricos, pois as categorias que são aplicadas ao material empírico recolhido podem não ser extraídas desse material totalmente. Como principal objetivo desta análise encontra-se a redução do material que foi recolhido.

A importância da realização de categorias relaciona-se, assim, com a necessidade de redução do material que o investigador possa ter, de modo a que o resultado final não seja demasiado extenso (Mayring, 1983, citado por Flick, 2005). A interpretação de dados é o elemento fundamental nas investigações de caráter qualitativo e que ajuda na análise de dados ou na recolha de dados adicionais. Aquando da interpretação é importante ter em vista dois objetivos: revelar ou contextualizar as afirmações presentes no material recolhido, o que leva à ampliação do material; reduzir o material através de resumos ou categorizações. Ambos os objetivos podem coexistir (Strauss, 1987, citado por Flick, 2005).

De acordo com Flick (2005) em todo este processo a triangulação é um elemento- chave. Este é um conceito que combina diferentes métodos, grupos de estudo, perspetivas teóricas, enquadramento de espaço e tempo no tratamento de um fenómeno (Denzin, 1989b, citado por Flick, 2005). Também no contexto desta investigação atendemos a estes pormenores.

Centrando-nos na investigação realizada, após a transcrição e leitura de todas as entrevistas realizadas às técnicas da Casa de Abrigo e às mulheres vítimas de violência doméstica, procedemos à análise/codificação temática. Esta análise tem como base a construção de uma categorização, isto é, a identificação de um conjunto de palavras-chave ou temas principais que, à posteriori, foram transformados em categorias de análise e, também, em subcategorias que permitiram uma análise mais detalhada e mais percetível das entrevistas de todas as entrevistadas (Strauss, 1987, citado por Flick, 2005). Após a análise de um primeiro caso (entrevista) foram cruzadas as informações das entrevistas

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com as categorias e subcategorias encontradas para verificação da existência de situações comuns, ou não, entre as várias entrevistas.

No caso das entrevistas realizadas às técnicas da Casa de Abrigo, chegou-se a um conjunto de categorias (num total de cinco) e de subcategorias que nos orientaram na análise de conteúdo:

Caracterização sociodemográfica - idade; formação escolar/académica; área de

trabalho; anos de trabalho na instituição; anos de trabalho na resposta social;

Tarefas/funções enquanto técnicas - descrição das tarefas; experiência

profissional; expetativas e motivações antes de iniciar funções; perceção do trabalho com as vítimas;

Perceções sobre a Casa de Abrigo - infraestruturas e serviços; impacto da

entrada na resposta social; rotinas na Casa de Abrigo; percurso pós Casa de Abrigo;

Perceções sobre a violência doméstica - conceito de violência doméstica;

percurso/perfil das vítimas - receios e dificuldades; episódios marcantes;

Projeções sobre a problemática - sugestões de alterações; papel da

sociedade/organizações.

Tal como nas entrevistas semiestruturadas, após a leitura e uma primeira análise das transcrições das entrevistas narrativas que foram realizadas às mulheres vítimas de violência doméstica, identificámos um conjunto de palavras-chave/temas principais. Após a identificação, procedemos à construção de categorias e subcategorias de análise:

Dados biográficos - idade; nacionalidade e/ou naturalidade; habilitações

literárias; número de filhos(as); idades dos(as) filhos(as);

Momentos vivenciados na infância e adolescência - características do local de

origem; vivência/relação com a família; a escola; relação com os amigos/professores; momentos marcantes (positivos/negativos); cuidados prestados a outros familiares; o trabalho; relações amorosas;

A vida adulta - a família; relação com o(s) companheiro(s); os filhos;

O surgimento da violência doméstica – início; tipos de violência (física;

verbal/psicológica; social; sexual; económica); fatores dos episódios; duração da relação violenta e ciclo da violência; outros momentos vividos;

Consequências dos episódios de violência - para as mulheres; outros elementos

(filhos e família);

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Apoios prestados a vítimas e filhos(as) (formais e/ou informais) - apoios

informais (famílias/amigos); apoios formais (Casa de Abrigo) - características do percurso enquanto vítimas; características do apoio; perspetivas das Casas Abrigo;

Projeto de vida - planos para o futuro - nível pessoal; nível escolar/formativo;

nível profissional.

No capítulo seguinte daremos conta das perceções das profissionais da Casa de Abrigo e das mulheres vítimas de violência doméstica, ou seja é realizada a análise de conteúdo das entrevistas, de acordo com as categorias e subcategorias a que chegamos.

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