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1. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, AMAZÔNIA E MERCADOS DIFERENCIADOS

1.2 O CONSUMO VERDE E O CONSUMO SUSTENTÁVEL

1.3.3 Políticas públicas para a promoção de cadeias de produtos de comunidades

Além das políticas públicas salientadas, cabe ressaltar a recente iniciativa do governo federal brasileiro na criação de um Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade6 (PNPPS). O plano tem como objetivo viabilizar a produção e a comercialização de produtos que inter-relacionam a diversidade biológica e a diversidade de sistemas socioculturais (BRASIL, 2008b, p.29-30).

O PNPPS seguiu consulta aos Povos e Comunidades Tradicionais e Agricultores Familiares em sete Seminários Regionais e ao Setor Empresarial para a elaboração de sua versão preliminar, discutida em Seminário Nacional realizado em julho de 2008. Sua instituição por Portaria Interministerial, assinada em junho de 2009 (LOPES, 2009), também cria um grupo de coordenação do plano, com representantes de três ministérios (Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário e Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e da Casa Civil, para definir as ações do governo quando da implementação do plano e selecionar as cadeias prioritárias de produtos.

O documento é bastante abrangente7 e ambicioso e quer integrar as diferentes ações governamentais, já existentes ou não, para a promoção e fortalecimento das cadeias de produtos da sociobiodiversidade.

Na última década, o Estado brasileiro vem ampliando sua atuação em direção a uma promoção mais efetiva do desenvolvimento sustentável. Como exemplos, podem ser citados: a aprovação em 2002 da Política Nacional de Biodiversidade8, em concordância

5 De acordo com o sítio eletrônico do Fundo Amazônia, <http://www.fundoamazonia.gov.br>, acessado em 05.mar.2011.

6 De acordo com o MDA, entende-se por sociobiodiversidade “a relação entre bens e serviços gerados a partir de recursos naturais, voltados à formação de cadeias produtivas de interesse de povos e comunidades tradicionais e de agricultores familiares” (MDA, s.d.). Disponível no sítio eletrônico: <http://portal.mda.gov.br/portal/saf/programas/ Sociobiodiversidade/2291225> Acesso em 21.jan.2011.

7 Ele está organizado em dois grandes eixos estruturantes: Eixos Transversais para o fortalecimento e estruturação das cadeias produtivas (Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação; Assistência Técnica, Extensão Rural e Capacitação; Crédito, Fomento e Incentivos Fiscais; Divulgação e Comunicação; Marco regulatório) e Eixos Finalísticos (Processo produtivo, Processo industrial, Processo comercial e Organização Social e Produtiva) (BRASIL, 2008).

8 No ano de 2002 o Governo Federal aprovou a Política Nacional de Biodiversidade através do Decreto 4.339 de 22/08/2002. O Componente 3 da Política, intitulado “Utilização Sustentável dos Componentes”, estabelece como

com a Convenção de Diversidade Biológica, da qual o país é signatário; a criação em 2007 da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais9; e, também em 2007, a criação da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR)10 e a instituição do Programa Territórios da Cidadania11.

De acordo com o PNPPS (BRASIL, 2008b), a implementação dessas políticas vem sendo acompanhada por crescentes incentivos de crédito e por outros mecanismos de escoamento da produção como, por exemplo, a ampliação dos recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf)12, o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) e a inclusão de produtos extrativistas na Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM).

Desde 2003, o PAA, programa coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), destinou cerca de R$ 1,5 bilhão de reais para compra de produtos da agricultura familiar (o que inclui povos indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e comunidades tradicionais), que são destinados a segmentos da população em situação de vulnerabilidade alimentar e nutricional. O Programa tem permitido também que associações e cooperativas extrativistas se estruturem, oferecendo capital de giro a taxas de juros baixas (BRASIL, 2009).

Inúmeros outros programas governamentais operados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) geralmente em parceria com outros ministérios, têm contribuído para promover o uso sustentável da biodiversidade. Dentro do âmbito do PP-G7, anteriormente citado, o Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA), operado desde 1996 com o apoio de objetivo promover o uso sustentável dos componentes da biodiversidade, considerando não apenas seu valor econômico, mas também valores ambientais, sociais e culturais (BRASIL, 2009).

9 Aprovada pelo Decreto no. 6.040 de 07/02/2007, a Política tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais, com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia de seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respeito e valorização à sua identidade, suas formas de organização e suas instituições. Os objetivos específicos incluem apoiar e garantir a inclusão produtiva com a promoção de tecnologias sustentáveis, respeitando o sistema de organização social dos povos e comunidades tradicionais, valorizando os recursos naturais locais e práticas, saberes e tecnologias tradicionais (BRASIL, 2009).

10

O Decreto Nº 6.047, de 22 de fevereiro de 2007, estabeleceu as bases da Política Nacional de Desenvolvimento Regional - PNDR com o objetivo de reduzir as desigualdades de nível de vida entre as regiões brasileiras e a promoção da eqüidade no acesso a oportunidades de desenvolvimento, devendo orientar os programas e ações federais no Território Nacional (BRASIL, 2009).

11

O Decreto de 25 de fevereiro de 2008 instituiu o Programa Territórios da Cidadania, que tem como objetivo promover e acelerar a superação da pobreza e das desigualdades sociais no meio rural, inclusive as de gênero, raça e etnia, por meio de estratégia de desenvolvimento territorial sustentável. Ele ainda prevê a inclusão e a integração produtiva das populações pobres e dos segmentos sociais mais vulneráveis, tais como trabalhadoras rurais, quilombolas, indígenas e populações tradicionais (BRASIL, 2009).

12 Entre 1999 e 2007, o número de contratos do PRONAF cresceu 114%, atingindo a cifra de 1,7 milhões projetos aprovados. No mesmo período, o volume de recursos cresceu 408%, chegando em 2007 ao valor de 9,3 bilhões de reais. Além disso, a partir de 2003, o Programa passou a operar modalidades especiais de crédito: Pronaf Florestal, Pronaf Agroecologia, Pronaf Conviver para a região do semi-árido e Pronaf Eco, incluindo segmentos até então desprovidos de linhas de crédito para sistemas produtivos diversificados.

órgãos de cooperação internacional, tem sido um mecanismo de fomento a práticas inovadoras de manejo dos recursos naturais, apoiando experiências piloto nos biomas Amazônico e Mata Atlântica.

A Carteira Indígena, por sua vez, vem apoiando desde 2004 projetos em comunidades indígenas para a promoção do desenvolvimento sustentável e da segurança alimentar e nutricional. Além deles, destacam-se o Programa de Agrobiodiversidade, para o estabelecimento de políticas públicas na área de conservação, manejo e uso sustentável da agrobiodiversidade, e o Programa de Apoio ao Ecoturismo e à Sustentabilidade Ambiental (ProEcotur), com projetos para a promoção do turismo com base comunitária (BRASIL, 2009).

De acordo com o PNPPS (BRASIL, 2008b), a implementação dos programas governamentais nos últimos anos e os acúmulos das organizações do setor produtivo apontam para a necessidade de maior coordenação das ações, tanto internamente ao governo quanto na parceria deste com o setor privado e com outros atores relevantes.

Conforme o documento, grande parte das iniciativas são pontuais e restritas, territorial, econômica e socialmente, exercendo pouca influência na definição de prioridades político- econômicas. É necessária, portanto, “uma estratégia que coordene as diferentes iniciativas, preencha as lacunas existentes e crie as bases para amplificar os resultados positivos de experiências bem sucedidas” (BRASIL, 2009, p.8), que proporcione a estruturação de cadeias produtivas e a consolidação de mercados para seus produtos.

Os programas governamentais e não-governamentais que atuam na Amazônia nos últimos anos vêm adotando, cada vez mais, o desenvolvimento sustentável como paradigma de desenvolvimento para a região. Dentro desse paradigma, a comercialização de produtos da floresta manejados por comunidades locais é importante por possivelmente contemplar os requisitos sociais e ambientais requeridos pelos mercados diferenciados.

2. AGROEXTRATIVISTAS AMAZÔNICOS E O DESENVOLVIMENTO