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Políticas Públicas de Segurança Cidadã

No documento Políticas Pública de Segurança Pública (páginas 37-44)

POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA

Aula 3 Políticas Públicas de Segurança Cidadã

Esta aula criará condições para que você possa estudar sobre como se caracterizam as políticas públicas orientadas pelo paradigma de Segurança Cidadã, sua interpretação dos fatores explicativos dos fenômenos da violência e criminalidade e as ferramentas de intervenção social propostas para o seu enfren- tamento.

Ao nal, você compreenderá que um dos fatores de ecácia da política de Segurança Cidadã con- siste na combinação de estratégias de prevenção, controle e repressão à criminalidade.

3.1 – Caracterização das Políticas de Segurança Cidadã

Tradicionalmente, as políticas de segurança se concentravam quase com exclusividade na estabili- dade estatal e na conservação do regime. Como resultado do enquadramento no paradigma da Segurança Cidadã, as políticas de segurança ampliam seu foco de atenção em direção ao bem-estar das pessoas e aos direitos humanos, reposicionando a cidadania como o principal objeto da proteção estatal.

Uma política pública de Segurança Cidadã é denida como...

a abordagem e a resolução daqueles riscos e conitos (concretos ou previsíveis) violentos e/ou delituosos que lesem os direitos e as liberdades das pessoas, mediante a prevenção, o controle e/ou a repressão dos mesmos. (PNUD,2007, p. 10)

Sob a ótica da Segurança Cidadã, a violência é percebida como um dos fatores que ameaçam o gozo pleno da cidadania e consequentemente o desenvolvimento humano e social.

3.2 - Fatores explicativos da violência e da criminalidade: multicausalidade do fenômeno

A variedade e quantidade de fatores explicativos para a violência e a criminalidade indicam que estes fenômenos são entendidos como multicausais e complexos, ou seja, derivam de inúmeras causas que concorrem conjuntamente para a sua manifestação. As políticas públicas de Segurança Cidadã atribuem a incidência da violência e da criminalidade a uma gama variada de fatores que podem afetar negativamente a convivência e a segurança de uma sociedade, classicando-os nas seguintes categorias:

Ausência de capital social: Os problemas de violência urbana estão associados ao crescimento

desordenado das cidades, que gera um capital social decitário. Neste contexto, as relações apresentam um alto nível de informalidade, há uma descrença nas instituições e uma atitude condescendente em relação ao cumprimento das normas, seja pelo desconhecimento das mesmas, seja pela não disposição em acatá-las.

Fatores de risco: O aumento da violência está associado a alguns fatores sociais, culturais e es-

paciais, tais como armas, álcool e grupos vulneráveis, pois potencializam as possibilidades de pessoas cometerem atos ou condutas denominadas violentas.

Violência doméstica: No contexto familiar podem ser identicados elementos de produção e re-

produção da violência; portanto, a violência doméstica representa uma das principais variáveis na solução ou redução do problema de violência. A violência contra as crianças é uma variável que, praticamente, prenuncia a violência adulta.

Contexto urbano inadequado:A arquitetura e a criminologia encontraram uma forte relação entre

o contexto urbano e o comportamento das pessoas, assim como entre o planejamento dos espaços urbanos e a percepção de segurança e tranquilidade dos cidadãos.

Tipologia da delinquência: A determinação das circunstâncias de tempo, modo e lugar nas quais ocorrem os fatos contribui com a denição de hipóteses sobre as causas do fenômeno da violência e cri-

minalidade.

Iniquidade/desigualdade social e marginalidade urbana: A relação entre o indicador de de-

senvolvimento humano (IDH), juntamente com o índice de Gini (que indica a igualdade e desigualdade de renda) e outros similares com a situação de violência e delinquência pode revelar uma particular situação de marginalidade social, que impede a criação de condições de prevenção ou redução do fenômeno.

Concentração de delitos em determinadas áreas ou cenários: As ferramentas de análise espacial

podem mostrar a frequência e padrão de concentração de ocorrência de crimes ou de manifestações de violência em determinadas áreas.

Inecácia institucional: Falta de capacidade da polícia para atuar, impunidade e problema carce-

rário.

3.3 – Condições de ecácia das Políticas de Segurança Cidadã

De acordo com o PNUD (2007),

“uma política ecaz deve ser o resultado de uma análise detalhada da situação, considerar metas de médio e longo prazos e compreender ferramentas ou instrumentos que englobem os diversos tipos de

problemas que terá que enfrentar para prevenir e reduzir os fenômenos de violência e delinquência”. Para ser ecaz, uma política pública de segurança deve:

• ser o resultado de uma análise pormenorizada da situação, baseada em um julgamento sistemá- tico e analítico, consistente na abordagem descritiva e interpretativa de um conjunto de campos e dimensões

fundamentais das problemáticas existentes na jurisdição (situações de violência, conitos e delitos) e de seu sistema institucional de segurança pública, seus atores, sua organização e seu funcionamento;

• considerar metas de médio e longo prazos;

• compreender ferramentas ou instrumentos que englobem os diversos tipos de problemas que a política precisa enfrentar para prevenir e reduzir o fenômeno da violência e da delinquência;

• corresponder a uma visão de desenvolvimento fundamentada no desenvolvimento humano, no respeito e na dignidade da pessoa e na construção de relações de conança entre os cidadãos que

lhes permita exercer livremente seus direitos;

• convocar todas as agências estatais, as forças políticas, o setor privado, as agências internacionais e a sociedade civil para concentrar esforços e garantir o caráter integral da intervenção;

• contar com uma linha de base e um sistema de medição de impacto que garanta que os resulta- dos sejam alcançados ou que a política tenha a exibilidade suciente para adotar os corretivos identicados durante sua execução.

Saiba Mais...

Uma política de Segurança Cidadã...

Parte do pressuposto de que as ações devem ser realizadas em um espectro amplo, que vai do ní- vel preventivo, entendendo-se este como a antecipação dos riscos não só quanto a seu aparecimento, mas também quanto ao controle de sua expansão, até os níveis legítimos de coerção de um Estado democrático de direito. (PNUD, 2007, p. 13.)

3.4 – Ferramentas de intervenção das Políticas de Segurança Cidadã

A política de Segurança Cidadã pode ser representada em um diagrama, como o que será mostrado a seguir, no qual se reconhece a multicausalidade dos fenômenos de violência, assim como a heterogenei- dade de suas manifestações, que, para ns de decisões de política, podem ser simplicadas em dois tipos: violência incidental e violência instrumental ou de crime organizado.

O diagrama expressa, também, os tipos de políticas públicas que podem ser implantadas e desen- volvidas para o enfrentamento dos problemas identicados como prioritários, para diminuir os índices de violência e delinquência em um território.

Deniram-se cinco categorias de ferramentas de intervenção, em função do tipo de problema que se pretende resolver, dentro das quais se encontram áreas distintas de trabalho ou de análise identicadas

tanto pelos executores de políticas públicas, como por acadêmicos e estudiosos do fenômeno. Elas buscam: - obter o cumprimento voluntário de normas;

- promover a inclusão social e a diminuição dos fatores de risco;

- melhorar os contextos urbanos associados ao medo ou ao perigo real;

- facilitar o acesso dos cidadãos aos mecanismos institucionais ou alternativos de resolução de conitos;

- construir, em termos genéricos, capacidades institucionais, bem como melhorar a ecácia policial e das autoridades executivas ou judiciais e a conança dos cidadãos nessas instituições. Esta ferramenta é catalogada, por alguns, como sendo de fortalecimento institucional, não programática, propriamente.

Recomenda-se que a política pública de Segurança Cidadã incorpore, ainda, o enfoque de gênero de forma transversal, enfatizando, especialmente, a violência de gênero e, em particular, a violência do- méstica intrafamiliar.

3.5 – A combinação de prevenção e repressão qualicada

Segundo Sapori (2007), o debate acadêmico sobre as políticas de segurança evidencia uma dico- tomia que distingue políticas preventivas e políticas repressivas de controle do crime, ou em políticas distributivas, de cunho preferencialmente preventivo, e políticas retributivas, com caráter mais nitidamente repressivo. Saiba mais sobre cada uma delas:

Políticas preventivas: as políticas de segurança pública preventivas, que podem ser denominadas

de distributivas, destacam a baixa capacidade do aparato repressivo do Estado em reduzir a incidência da criminalidade devido ao erro de foco. A ação governamental desloca-se para a etiologia do crime, que são fatores socioeconômicos geradores da desigualdade, do desemprego, da pobreza e da exclusão social de modo geral.

Políticas repressivas: As políticas de segurança pública repressivas, também denominadas retribu-

tivas, enfatizam o enfrentamento à impunidade, privilegiando ações que intensicam a capacidade dissua- sória do aparato de justiça criminal, como o aparelhamento da polícia, aperfeiçoamento da máquina judicial, maior rigor da aplicação da pena e incremento do encarceramento.

Quadro 1: Perspectivas da política de segurança pública Fonte: SAPORI (2006, p. 77-78).

ou prevenção?

Sapori (2007) responde que “as evidências empíricas disponíveis não permitem armar que as es- tratégias preventivas de controle da criminalidade são mais ecazes do que as estratégias repressivas, ou vice-versa”. É o que revela o trabalho referencial elaborado na segunda metade da década de 1990, por Lawrence Sherman (1996).

À medida que prevenção e repressão são concebidas como polos opostos e excludentes, reduz-se a capacidade do Estado em prover a ordem pública com efetividade.

Esta dicotomia, ainda persistente entre os tomadores de decisão (decision makers) , impõe uma

escolha desnecessária no direcionamento de políticas de segurança pública, evitando que a ação go- vernamental abarque, simultaneamente, as diversas dimensões do fenômeno criminoso. Políticas públicas abrangentes e que, contemplem a repressão e a prevenção simultaneamente, são rarefeitas.

A exemplo da política de Segurança Cidadã, políticas públicas de segurança abrangentes, que con-  jugam estratégias de prevenção, controle e repressão à criminalidade têm maior potencial de efetivida- de. Quanto mais capazes forem os gestores da segurança pública em incorporarem essa racionalidade ge- rencial às suas atividades cotidianas, maiores são as possibilidades da sociedade brasileira alcançar sucesso na contenção da violência.

Finalizando...

Neste módulo, você estudou que:

- Os conceitos relacionados ao ciclo de políticas públicas nos proporcionam um instrumental ana- lítico muito vasto, ou seja, nos permitem inúmeras possibilidades de análise de políticas públicas cuja natu- reza pode ser bastante complexa.

- O conhecimento produzido pelos estudos sobre Políticas Públicas tem grande utilidade para ges- tores, políticos e demais atores quem lidam com um problema público. O crescimento dos indicadores de violência e criminalidade é um exemplo de problema público.

- No caso das Políticas Públicas de Segurança, a instalação de uma unidade policial, a construção e gestão de uma unidade prisional e o desenvolvimento de ocinas culturais podem ser percebidas como formas de operacionalização de uma Política Pública.

- Especicamente no campo de análise das políticas de segurança pública, merece destaque o sistema de classicação proposto por Filocre (2010) que distingue as políticas nas seguintes categorias: maximalista /minimalista; geral/local; distributiva /redistributiva; reguladora/constitutiva; estrutural/tópica; emergencial/contínua e multisetorial/especíca.

- O processo político de tomada de decisão sobre um problema público, ou seja, de denição de Políticas Públicas, pode ser dividido em etapas ou fases dos ciclos de políticas públicas. Autores como Ama- bile (2012), consideram quatro etapas principais: formulação, execução, monitoramento e avaliação. Outra possibilidade de representação do ciclo de políticas públicas é proposta por Secchi (2013) e compreende sete etapas.

- A exemplo da política de Segurança Cidadã, políticas públicas de segurança abrangentes, que conjugam estratégias de prevenção, controle e repressão à criminalidade têm maior potencial de efetividade.

Exercícios

1. De acordo com o que estudou sobre políticas públicas, marque (V) para as sentenças ver-

dadeiras e (F) para as falsas:

( ) O estudo das Políticas Públicas se restringe às áreas de estudos da Ciência Política, Sociologia e da Economia.

( ) O conhecimento produzido pelos estudos sobre Políticas Públicas tem grande utilidade para gestores, políticos e demais atores quem lidam com um problema público.

( ) As Políticas Públicas inuenciam e são inuenciadas por princípios e ideais que orientam a rela- ção entre Estado e sociedade. Por isto estão sempre corretas.

( ) As Políticas Públicas são processos decisórios voltados para o enfrentamento de problemas de caráter público.

2. Considerando as quatro primeiras etapas do ciclo de políticas públicas, associe a 2ª coluna de acordo com a 1ª.

1. Identicação do problema 2. Formação de agenda

3. Formulação de alternativas 4. Tomada de decisão

( ) O conjunto de problemas ou temas que recebem especial atenção dos diversos meios de comu- nicação faz parte desta etapa.

( ) Esta etapa passa pelo estabelecimento de objetivos e estratégias e pelo estudo das potenciais consequências de cada ________de solução.

( ) Segundo Secchi (2013) esta etapa corresponde ao momento em que os interesses dos atores são equacionados e as intenções de enfrentamento de um problema público são explicitadas.

( ) Esta etapa envolve denir quais são seus elementos, ou seja, sua essência, suas causas, soluções, obstáculos, avaliações, etc.

Gabarito:

Atividade 1: Resposta Correta: F-V-F-V Atividade 2: Resposta Correta 2-3-4-1

Apresentação do módulo

Este módulo criará condições para que você possa compreender como os governos federal, esta- duais e municipais vêm atuando no campo das políticas públicas de segurança ao longo dos últimos anos, no contexto da redemocratização. No nível federal, será abordado o histórico do envolvimento da União na formulação de políticas de segurança pública, dando uma ênfase aos programas mais recentes, como o Pro- grama Nacional de Segurança com Cidadania – PRONASCI – e o programa Brasil Mais Seguro.

Em seguida, serão apresentadas as experiências estaduais de destaque no cenário brasileiro, com especial atenção para os casos de Minas Gerais e de Pernambuco. Finalizando, você conhecerá como se desenvolveram as experiências municipais de Diadema (SP) e Canoas (RS).

Objetivos do módulo

Ao nalizar o estudo deste módulo, você será capaz de:

• Compreender como se deu o processo de participação do Governo Federal na arena de políticas de Segurança Pública no Brasil no contexto democrático, a concepção do Programa Nacional de Segurança com Cidadania – PRONASCI – e do programa Brasil Mais Seguro.

• Conhecer algumas experiências estaduais relevantes no tocante às políticas de segurança pública, especialmente os casos de Minas Gerais e de Pernambuco.

• Conhecer algumas experiências municipais de destaque no que se refere às políticas de segurança pública, em especial os casos de Diadema e Canoas.

Estrutura do módulo

Este módulo está dividido nas seguintes aulas:

No documento Políticas Pública de Segurança Pública (páginas 37-44)