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Em relação à população, é constituída pelo elemento humano do Estado, formador da coletividade. Há uma intensa ligação jurídica entre o ente estatal e o ente humano, cabendo ao Estado, de forma unilateral, definir quem será seu nacional99.

Não se deve confundir população e nacionais. Enquanto a primeira é toda pessoa que esteja fisicamente no território de um Estado, num determinado espaço temporal, independentemente de fazer ou não parte dele, os segundos (nacionais), constituem um vínculo mais estreito, que une o ser humano e o

com limites no bordo exterior da margem continental ou até a distância das duzentas milhas marítimas.

95 CAETANO, M. Direito constitucional, p. 162. 96 Idem, ibidem.

97 Idem. Ibidem.

98 Artigo 1° da Constituição da República Oriental do Uruguai (1967), determina: ‘La República

Oriental dei Uruguay es la associación política de todos los habitantes comprendidos dentro de su território”.

Estado, que o vincula juridicamente como seu membro, daí nascendo uma série de direitos e obrigações.

Para fins deste estudo, nos interessa o conceito de nacionalidade, entendendo-se que a população é integrada em sua maior parte de nacionais e em menor grau, de estrangeiros, não obstante o conceito de população ser o utilizado como um dos elementos formadores do Estado.

Boa parte dos Estados contemporâneos aplicam, basicamente, dois princípios para estabelecerem o vinculo jurídico de nacionalidade, que são jus

sanguinis e o jus solis, juntos ou separadamente.

No princípio de jus sangunis é levada em consideração a nacionalidade dos progenitores ou, pelo menos, de um deles. É o aplicado por diversos países europeus e pelo Japão, por exemplo.

O princípio jus solis, muito utilizado nas Américas, identifica o vínculo entre o Estado e o ser humano que nele nascer, não levando em consideração, salvo exceções, a nacionalidade de seus progenitores.

Em determinados Estados são aplicados ambos princípios, jus sanguinis e

jus solis, como é o caso brasileiro, tratando-se de forma mista de aplicação de

nacionalidade.

Há também a aplicação do princípio do jus matrimonialis, como é o caso italiano, por exemplo, quando a nacionalidade é transmitida através do casamento civil, desde que respeitados certos requisitos100.

Numa análise de cartas constitucionais de países membros do MERCOSUL, e da República da Guatemala, poderão verificar-se certos dispositivos que tratam desta matéria.

A Constituição Federal do Brasil assim prescreve acerca da aquisição de nacionalidade brasileira:

Artigo 12° - São brasileiros:

99 Termo não muito exato para se definir o vínculo jurídico entre o Estado e sua população, pois nacionalidade é palavra derivada de nação e não de Estado.

100 Lei n° 91 de 1992 da República Italiana, em especial seu artigo 5°, pois, até 26 de abril de 1983, a nacionalidade era transmitida diretamente e de forma automática do marido à esposa e vice versa. Desde então deve-se requerê-la após 3 anos de casamento, com a juntada de diversos

I - natos:

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;

c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira;

II - naturalizados:

a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários dos países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

Em relação à perda da nacionalidade brasileira, a Carta Magna assim prescreve, em seu artigo 12°, parágrafo quarto:

Artigo 12°, parágrafo quarto: Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:

a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;

b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.

A condição de brasileiro, estando o indivíduo em território nacional, decorre de uma série de garantias constitucionais. Entre outras, uma questão muito

documentos, devendo ser protocolado o pedido em repartição consular italiana para os residentes no estrangeiro.

importante para este trabalho é o preceito constitucional da não extradição101, consignada no artigo 5°, inciso LI da Constituição Federal, que assim dispõe:

Artigo 5o, inciso LI: “(N)enhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.”

Por outro lado, ao estrangeiro residente no Brasil “não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião”, conforme consta no mesmo artigo 5°, em seu inciso Lll da Carta Magna.

Para a Constituição da República Oriental do Uruguai, o tema nacionalidade é tratado da seção que trata da cidadania e do sufrágio e a cidadania é classificada em duas formas: há cidadãos naturais e legais.

São cidadãos naturais, conforme dispõe o artigo 74°102 da Constituição da República Oriental do Uruguai, “todos os homens e mulheres nascidos em qualquer ponto do território da República. São também cidadãos naturais, os filhos de pai ou mãe uruguaios, qualquer que tenha sido o lugar de seu nascimento, desde que vindo a viver neste país e inscrever-se no Registro Cívico.”

Em relação à cidadania legal, na forma do artigo 75°, letra a)103 esta trata dos casos em que o estrangeiro constitui sua família no Uruguai e que possui algum capital de giro ou propriedade no país, ou professa alguma ciência, arte ou indústria, sendo necessária a residência habitual pelo período de três anos. Caso não possua família, mas sendo detentor de alguns dos requisitos contidos na

101 A impossibilidade de extradição de brasileiro fora matéria das constituições brasileiras de 1934 (art. 113°, n.o 31°); 1937 (ait. 122°, n. 12°); 1946 (art. 141°, parágrafo 33°); 1967 (art. 150°, parágrafo 19°) e da Constituição <le 1969 ou Emenda Constitucional de n. 1, de 17 de outubro de 1969 (art. 153°, parágrafo 19°). Para José Celso de Mello Filho, há duas modalidades de extradição, de um lado a ativa, que é requerida pelo Brasil a outros Estados soberanos, e de outro lado, a passiva, que é a que se requer ao Brasil. In: MELLO FILHO. J. C. Constituição

federal anotada, p. 346.

102Texto original: Ciudadanos naturales son todos los hombres y mujeres nacidos em qualquer

punto dei terrítorio de la República. Son también ciudadanos naturales los hijos de padre o madre orientales, cuatquiera haya sido el lugar de su nacimento, por el hecho de avecinarse em el país e ipscribirse en el Registro Cívico.

103 Artigo 75°, Tienen derecho a ciudadanía legai:

a) Los hombres y las mujeres extranjeros de buena conducta, com família constituída em la

República, que poseyendo algún capital en giro o propriedad en el país, o profesando alguna ciência, arte u industria, tengan tres atios de residencia habitual en la República.

Carta Constitucional, o prazo aumenta para cinco anos, conforme a letra b)104 do mesmo artigo.

E, finalmente, o Congresso Nacional do Uruguai também tem o poder de conferir aos estrangeiros a cidadania legal, através de “graça especial” por serviços prestados ou méritos relevantes105.

Já a Constituição da República do Paraguai contém as formas de nacionalidade, que são a natural, por naturalização, ou múltipla e honorária. Quanto à exigência da nacionalidade natural, não se distancia dos requisitos constitucionais brasileiros, pois conforme seu artigo 146°, são paraguaios os nascidos no território daquele país, ou filhos de pai ou mãe paraguaios a serviço no estrangeiro que vieram a nascer em outro Estado.

Também são considerados paraguaios os filhos de pai ou mãe paraguaios nascidos no estrangeiro, desde que se estabeleçam no Paraguai de forma permanente106, bastando uma simples declaração do interessado, desde que maior de dezoito anos. Sendo menor, esta autorização será efetuada por representante legal, enquanto perdurar tal situação, quando se sujeitará a ratificação por parte do interessado107. São, ainda considerados paraguaios natos, os infantes de pais desconhecidos, desde que recolhidos em território paraguaio108, situação essa não prevista na Constituição Federal brasileira.

Não se encontra, na Constituição da Nação Argentina, qualquer princípio normativo sobre nacionalidade, mas sim sobre a cidadania e certas características desta. Paralelamente, nesse país o termo nação é utilizado de forma política e inclui todas as denominações utilizadas pelo Estado argentino, desde 1810 até o presente como oficiais, a saber Províncias Unidas do Rio da Prata, República Argentina e Confederação Argentina, sendo nomes oficiais para

104 Artigo 75°, b) Los hombres y las mujeres extranjeros de buena conducfa, sin família constituída

en la República, que tengan alguna de la cualidades dei inciso anterior y cinco afíos de residencia habitual en el país.

105 Artigo 75°, c) Los hombres y las mujeres extrangeros que obtengan grada especial de la

Asamblea General por servidos notables o méritos relevantes.

106 Conforme consta no original. Artigo 146° da Constituição da República do Paraguai. De

nacionalidad natural. Son de nacionalidad paraguaia natural:1) las personas nacidas en el territorio de la República; 2) los hijos de madre o padre paraguayo quienes, hallândose uno o ambos al servido de la república, nazcan en el extranjero; 3) los hijos de madre o padre paraguayo nacidos en el extranjero, cuando aquéUos se radiquen en la República en forma permanente, (...).

a designação do govemo e território, enfeixando-se no termos “Náção Argentina”, conforme o disposto no artigo 35° da Constituição100.

Pela peculiaridade e importância do assunto, é ilustrativo o caso da Constituição Política da República da Guatemala, que trata seus nacionais em três diferentes status, que são a nacionalidade de origem, os centro-americanos e os naturalizados.

São naturais de origem os nascidos em território, navios ou aeronaves guatemaltecos, além dos filhos de pai ou mãe nacionais nascidos no estrangeiro110

Também são considerados guatemaltecos de origem aqueles nascidos nos países que constituíram a Federação Centro-Americana111, desde que uma vez adquirindo domicílio na Guatemala, manifestem tal desejo junto à autoridade competente, sem, no entanto, perder a nacionalidade originária112.

Por fim, encontra-se a forma de aquisição da nacionalidade, através da naturalização, que se procede, em linhas gerais, do mesmo modo que é adotado na maioria dos Estados e, uma vez obtida, eles terão plenitude de direitos inerentes aos nacionais, apesar de certas limitações de cunho político113.

108 Conforme o artigo 146°, inciso 4° da Constituição Paraguaia.

109 A Constituição da Nação Argentina em seu artigo 35°, assim dispõe: Nombres dei Estado. Las denominaciones adoptadas sucesivamente desde 1810 hasta ei presente, a saber. Provindas Unidas dei Rio de la Plata; República Argentina, Confederadón Argentina, serán en adelante nombres ofidales indistintamente para la designadón dei Gobiemo y território de las provindas, empleándose las palabras “Nación Argentina” em la formadón y sanción de las leyes.

110 No original, Constituição Política da República da Guatemala (1985), artigo 144, Nacíonalidad

de origem. Son guatemaltecos de origen, los nacidos en el territorio de la República de Guatemala,naves y aeronaves guatemaltecas y (os híjos de padre o madre guatemaltecos, nacidos en ef extrangeiro. Se exceptúan los hi/os de funcionários diplomáticos y de quienes

ejerzan cargos íegafmenfe equiparados. A ningún guatemalteco de orígen, puede privársele de

su nacíonalidad.

111 Como a Guatemala fora o centro da administração colonial espanhola na América Central, esta formava a Capitania Geral da Guatemala, que fora formada também pelas atuais repúblicas de Honduras, Nicarágua e El Salvador. Com a sua independênda, ocorrida em 1821, foi prodamado o advento da Federação Centro-Americana. No ano seguinte, o país uniu-se ao México, que se mantêm membro até 1823, sendo a Federação desfeita em 1838. In: Almanaque abril 1996, p. 418-419.

112 Conforme dispõe o artigo 145° da Constituição da Guatemala: Nacíonalidad de

centroamerícanos. También se consideran guatemaltecos de origem, a los nacionales por nacimiento, de las repúblicas que constituyeron la Federación de Centroamérica, si adquieren domicilio en Guatemala y manrfestaren ante autorídad competente, su deseo de ser guatemaltecos. En este caso podrán conservar su naciona/idad de origem, s/n perjuicío de lo que se estabelezca en tratados o convênios centroamericanos.

113 Para um estudo mais detalhado sobre o assunto da nacionalidade junto ao Mercado Comum do Sul, ver DEL’OLMO, F. de S. O Mercosulea nacionalidade. Rio de Janeiro: Forense, 2000. Ver