• Nenhum resultado encontrado

O uso do emblema da Cruz Vermelha, nas sociedades nacionais, têm a variação da cruz suíça vermelha com fundo branco, em homenagem à Suíça, e nas cores inversas de suas bandeiras. Esse uso foi reconhecido na Convenção de Genebra de 1864, aos países de tradição religiosa cristã.

A meia lua ou crescente vermelha em fundo branco cabe às sociedades que seguem tradição religiosa islâmica, utilização iniciada pelo então Império Otomano, em 1929, pois representa a presença do islamismo no Oriente Médio, norte da África e historicamente na Península Ibérica.

Esses símbolos foram reconhecidos, posteriormente, pelos Estados partes, após a Conferência Diplomática de 1929; a partir daí as sociedades nacionais as utilizariam como emblemas de proteção de fácil reconhecimento no campo de batalha.

Ao Irã coube o uso do sinal Leão e Sol Vermelho, utilizado durante o reinado dos xás, deixando de usá-lo de forma unilateral após a queda do regime de Mohamed Reza Pahlevi289 em 1979. A renúncia de sua utilização deu-se através de memorando proveniente do governo da República Islâmica do Irã, de 4 de setembro de 1980, e depositado junto à Embaixada suíça em Teerã, em que consta a necessidade de se evitar a proliferação de emblemas e a posição de unificar sua utilização em dois emblemas — Cruz Vermelha e Crescente Vermelho290.

Em Israel é utilizada a Estrela de David na cor vermelha — Magen David

Adon — não regulamentada pelo Movimento da Cruz Vermelha e Crescente

289 Filho do general Reza Khan que desferindo um Golpe de Estado contra o último sultão do da Pérsia, coroou-se Xá em 1926 — uma espécie de Imperador — e assumiu o nome de Reza Shah Pahlevi.

290 Memorandum renunciando o Uso do Leão e Sol Vermelhos por parte do Irã. In: SASSÒLI, M.; BOUVIER, A . Op. d t, p. 607

Vermelho, mas aceita de fato, inclusive constando em folders oficiais do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

O uso de emblemas é privativo de todas as sociedades filiadas ao Movimento Cruz Vermelha e Crescente Vermelho, sendo um símbolo utilizado em momentos de conflitos armados ou de paz, com fins de identificação de trabalhadores da área médica, nos bens utilizados para o cumprimento de sua missão — automóveis, aviões, helicópteros, navios, lanchas — além de hospitais, cargas, identidade pessoal, entre outras.

Em síntese, desde o século XIX, tendo surgido em 1863, registra-se o movimento pioneiro do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), culminando, posteriormente, em outros movimentos — número considerável de Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha — desenvolvendo-se a partir de então em outras vertentes desse núcleo comum, como o movimento das sociedades do crescente vermelho. Desde 1919, as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha são associadas e membros de uma federação mundial — a Federação Internacional da Liga de Sociedades da Cruz Vermelha — cuja Organização Mundial da Cruz Vermelha, em 1990, era integrada por cento e quarenta e nove sociedades nacionais e duzentos e cinqüenta milhões de membros e colaboradores. Diferentemente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, formado exclusivamente por cidadãos suíços e caracterizado pela neutralidade, imparcialidade e independência, a Federação Internacional da Liga de Sociedades da Cruz Vermelha objetiva velar pelo desenvolvimento das sociedades nacionais e prestar socorros em casos de catástrofes naturais291.

Da gênese e da evolução desse movimento, iniciando pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, progressivamente motivando as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e as Sociedades Crescentes da Cruz Vermelha e, enfim, originando a Federação Internacional da Liga das Sociedades da Cruz Vermelha, fenômeno que, de alcance nacional e internacional, fez igualmente nascer dentro de si, um novo direito, o emergente Direito Internacional Humanitário, ou melhor dizendo, dos direitos humanos em situação de guerra e de seus desmembramentos. A história da humanidade registra a preocupação

dos homens em tomo de normas que pudessem ordenar a comportamentos e a disciplinar a condução dos problemas ensejados pelos seus conflitos, enfrentamentos, curiosas e lamentáveis conseqüências.

O Direito Internacional Público, ao longo do seu percurso, cuidou de regras relativas a como iniciou as guerras, suas formalidades, limites, diferentes classes de inimigos, preparação ao combate etc. Os crescimentos dos grandes impérios buscaram elaborar verdadeiros tratados da arte de fazer e vencer as guerras292, derivando dessa questão complexa, duas vias ordenativas: uma, bem antiga, ocupada com os atos e os procedimentos das guerras em si mesmas, abrigada pelo Direito Internacional; outra, mais recente, voltada às situações dos indivíduos e de seus bens quando afetados em estado de guerras, vale dizer, da

preocupação em tomo da proteção ao indivíduo combatente ao indivíduo atingido pelo combate. Nesse sentido, foram criando-se normas específicas que, a partir do século XIX, através da Convenção de Genebra de 1864 e demais Convenções e Protocolos que foram se sucedendo, passaram a corresponder e a constituir o objeto formal de um emergente direito, o Direito Internacional Humanitário, que então, no seu início, foi envolvido com destacado viés consuetudinário e de inúmeros acordos bilaterais298, assunto desenvolvido na parte III, deste trabalho.

Finalmente, se o surgimento do emergente Direito Internacional Humanitário precede dos antecedentes inaugurados pelo movimento iniciado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha e seus desmembramentos, por outro lado, foi encontrar elementos de confluência à sua consolidação junto ao processo de transcendental e vital importância que, em dias recentes, culminou na criação do Tribunal Penal Internacional em 1° de julho de 2002, através da vigência da Convenção de Roma de 1998, cuja implementação dó seu correspondente direito, o Direito Internacional Penal, será abordado a seguir, na parte II desse estudo.

292 Ver para o assunto: MAQUIAVEL, N. Arte da guerra e outros ensaios. Tradução de Sérgio Bath. 3.ed. Brasília: UnB, 1987.

A INFLUÊNCIA DA CONVENÇÃO DE ROMA DE 1998 E A CONSOLIDAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO

SEGUNDA PARTE

A INFLUÊNCIA DA CONVENÇÃO DE ROMA DE 1998 E A CONSOLIDAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO

O objetivo desta segunda parte, é estudar a implementação do Direito Internacional Humanitário através do Direito Internacional Penal, tendo os Tribunais Penais Internacionais de Nurembergue e do Extremo Oriente conhecido como Tribunal de Tóquio (pós-Segunda Guerra Mundial) e os Tribunais Penais Internacionais ad hoc da antiga Iugoslávia e Ruanda, exercido e ainda exercendo uma importante fonte Jurisprudencial.

Será analisado o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, e os delitos sob sua jurisdição: o genocídio, os crimes contra a humanidade, os crimes de guerra, e o crime de agressão, estando essa conduta criminal internacional ainda sem a exata conceituação, sendo prevista a ser definida em futuras Assembléias dos Estados-parte dessa Corte.

Interessante observar que na norma penal nacional, o tipo penal de homicídio não diferencia a.pessoa da vítima, por exemplo, entre um assaltante matar um cliente de uma agência bancária ou o próprio banqueiro, enquanto que

Penal), deduzindo-se que o agente passivo é sempre a mulher e o agente ativo o homem, no entanto, na jurisprudência das Cortes Penais Internacionais dos anos 1990, o conceito de estupro é mais abrangente, pois os sujeitos ativos e passivos podem ser indivíduos do mesmo sexo, e utilizando-se, inclusive de meios que configurariam na legislação brasileira, como “pratica de atos libidinosos diversos da conjunção carnal”294.

Um ponto de grande interesse é o aperfeiçoamento do direito formal a ser utilizado pelo futuro Tribunal Penal Internacional, pois utilizava de um misto de duas grandes correntes do Direito mundial, o Direito Romano-Germânico (civil

law) e o Direito Consuetudinário (common law), experiência iniciada nos Tribunais

Penais do pós-Segunda Guerra Mundial.

Finalmente, ainda nesta Segunda Parte será examinado as experiências e contribuições dos Tribunal Penal Internacional e a Convenção de Roma de 1998 e o Tribunal Penal Internacional Permanente.