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3 CULTURA CIENTÍFICA

3.3 Popularização da ciência

O jornalismo científico ocupa um espaço privilegiado na relação entre os cidadãos e os formadores de opinião pública, influindo na pauta dos noticiários dos meios eletrônicos, de rádio, televisão e internet, ao mesmo tempo em que precisa adaptar-se à nova realidade do desenvolvimento nacional, que experimenta um avanço significativo na produção de conhecimento.

A divulgação de ciência e tecnologia no país começou com o esforço isolado de alguns cientistas, e foi constatado pelo pesquisador Marques de Melo (apud GUIMARÃES 2003 p.135), que observou que o progresso experimentado pela pesquisa científica brasileira, na última metade do século passado, não vinha sendo acompanhado na mesma intensidade e proporção dos seus resultados.

O desconhecimento da sociedade sobre o desenvolvimento de pesquisas realizadas, graças ao financiamento de agências governamentais de fomento, é enorme. Parte dessa falta de informação se deve à ausência de divulgação, ocasionada pela pouca importância que a comunidade científica atribuía e atribui à popularização do conhecimento, valorizando mais a comunicação interna entre pesquisadores, que significa uma tradução elitista de sociedade fruto da cultura autoritária do regime militar, em processo de esgotamento histórico.

Naquele momento histórico os cientistas permaneciam sitiados nos seus laboratórios acadêmicos e preferiam expor suas descobertas em congressos internacionais ou em revistas especializadas, evitando se expor a represálias do sistema censório. Acreditava-se que a abertura democrática mudasse essa situação, mas os resultados da pesquisa liderada por

Vogt em 2001 verificou que isso não ocorreu. Foram poucas as mudanças por parte dos cientistas.

Nas redações ocorreu uma reelaboração da intervenção dos jornais de circulação nacional que passaram a ter editorias de ciência e, atualmente, também de tecnologia, esta, com o papel de divulgar produtos de consumo tecnológico. Nos jornais regionais e locais não houve mudança de formato.

Nessa pesquisa realizada por Vogt (2006), a metodologia foi a mesma desenvolvida por Marques de Melo em 1984 (apud, GUIMARÃES 2003), em que foram mensurados os espaços gráficos ocupados pelas matérias de conteúdo científico, sem, no entanto, promover uma análise do funcionamento do discurso sobre ciência. O foco da pesquisa foi quantitativo, o de contabilizar a quantidade de matérias envolvendo C&T em todas as áreas, sem distinção.

Foram investigados os jornais de circulação nacional, A Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo e o Jornal do Brasil, e de circulação regional O Estado de Minas / BH, Jornal do Commércio / Recife, O Liberal / Belém, O Correio Braziliense / DF e o Zero Hora / Porto Alegre.

Vogt buscou identificar nas unidades informativas, aquelas com conteúdo referente a C&T, com fatos que noticiam a produção científica, fazendo a contagem do espaço ocupado e do conteúdo apresentado, tendo como corpus (divulgação de ciência), o período simples de duas semanas, uma em setembro de 2000 a outra em maio de 2001.

A pesquisa ficou restrita ao espaço redacional, ou seja, ao conjunto de matérias produzidas pela redação do veículo, de acordo com os padrões jornalísticos vigentes no mercado e que relatavam fatos vinculados ao mundo da ciência e tecnologia. Fotos, gráficos e ilustrações foram descartados da análise quantitativa. Adotou-se nessa pesquisa um jornalismo científico, não restrito às ciências exatas ou biológicas.

As indagações fundamentais foram sobre qual a natureza da notícia científica, que protagonistas dão sentido à notícia científica, quais as fontes que nutrem o noticiário científico, através de que gêneros jornalísticos a ciência se torna notícia e quais os limites entre informação e a opinião no noticiário que privilegia os fatos científicos?

Carlos Vogt conclui que os dados foram contraditórios. No entanto, no bloco de jornais de circulação nacional, foram observadas tendências distintas entre as duas metrópoles.

No estado de São Paulo a cobertura científica cresceu em relação à década de 1980 enquanto no estado do Rio de Janeiro ela diminui. A maior cobertura foi feita pela Folha de São Paulo, tendo 11,28% do conteúdo do veículo com matérias de C&T.

Nos jornais regionais existia mais uniformidade, com uma média de 5,4% de conteúdo sobre C&T nos cinco jornais pesquisados, tendo o jornal Correio Braziliense se destacado com 7,2% de conteúdo científico, juntamente com o Zero Hora com 8,14%.

A informação científica em todos os jornais foi encontrada de forma dispersa, mesmo em jornais com editorias próprias. Entre os jornais nacionais, o que aparece com maior número de matérias sobre ciência foi o Estado de SP, com 7,27%. O formato desse conteúdo na mídia impressa se enquadra no gênero informativo, como reportagem e notícia e sempre como descrição jornalística convencional e às vezes com padrões de sobriedade acadêmica. As matérias foram escritas em quase sua totalidade por jornalistas, tendo a produção de cientistas um espaço bem reduzido, quase inexistente.

As fontes não tem uma origem homogênea, e vão desde empresas privadas a universidades, centros de pesquisa e instituições governamentais. A maioria das matérias tinham origem nacional, em grande parte das próprias regiões ou cidades em que os jornais são editados. Nas poucas notícias de origem internacional, há uma inclinação para as de origem estadunidense em detrimento das europeias e quase nula a de outras regiões do planeta. Na maioria das matérias os protagonistas são os cientistas, mas com uma tendência a valorizar também políticos e cidadãos comuns.

As instituições científicas aparecem em menor intensidade, representadas, sobretudo pelos centros de pesquisa.Há uma ausência de agências de fomento enquanto fonte para a cobertura científica,tanto no plano nacional como regional.

Vogt (2006) conclui que sobre as áreas divulgadas há um destaque positivo nesse período para as ciências humanas, seguidas pelas ciências de saúde e engenharias. Mas cabe ressaltar que essa perspectiva foi se modificando ao longo da década de 2010, chegando a uma inversão, conforme análise a ser apresentada no próximo capítulo.