• Nenhum resultado encontrado

5 A CIÊNCIA PORTADORA DO FUTURO

5.1 Segmentando o corpus

No método de Análise de Discurso, a própria seleção do material já é parte do procedimento analítico, quando o analista escolhe determinado texto e não outro, esse critério de segmentação que o norteou já pressupõe algumas hipóteses e algumas escolhas.

Essa segmentação já revela o que exatamente o analista quer ver, ou pelo menos, onde ele quer ver, e qual é o contorno que ele está dando para isso que ele quer mostrar. Sendo assim, segmentar já é parte da análise, mesmo que não seja o recorte, porque o recorte da análise é uma questão teórica.

No caso desta pesquisa, a análise está recortada pela relação antagônica entre “ciência” e “C&T” e entre o discurso “sobre” e o discurso de divulgação científica. Dessa perspectiva fizemos o recorte para observarmos o corpus, e o que se observa, inicialmente nesse corpus, é que realmente existem as duas versões de ciência e principalmente, que uma está absorvendo a outra, corroborando o que Pêcheux diz, que as “hard sciences” vão ganhar campo e as “sociais sciences” vão perder campo.

C&T é uma sigla criada há pouco tempo cujo sentido está absorvendo os sentidos do que era a ciência antes desse enunciado existir na forma de uma sigla. Essa questão constitui o recorte do corpus desta pesquisa.

Onde verificar isso? Nos produtos de mídia, pois conforme a discussão apresentada nos capítulos anteriores, a cultura científica se produz pela mídia, no lugar onde é comunicada. A ciência se faz pela comunicação. A ciência existe na medida em que seu “objeto” existe para a população. A mídia produz uma imagem de ciência e dos “objetos” da ciência para o povo e para quem não é cientista, ou não é cientista daquela área.

Todos temos acesso à ciência pelas vias da comunicação científica, que é produzida pela divulgação científica, dentro do discurso jornalístico. Assim, o corpus é construído por produtos de mídia, pois a verificação dessa ocorrência se faz no discurso jornalístico. É ali que está produzida a imagem de ciência que comprova essa observação. A

verificação não foi realizada em qualquer objeto de mídia, mas somente na mídia imprensa de Santa Catarina e São Paulo.

A pesquisa verifica se o sentido de C&T absorve o sentido de ciência na imprensa local, catarinense. Por essa baliza é que foi segmentado o corpus, com os principais jornais do Estado, ou seja, o corpus selecionado traz, pelo seu recorte, o funcionamento do discurso jornalístico tanto enquanto um discurso “sobre” como um discurso de divulgação científica na imprensa do Estado de Santa Catarina.

A análise foi realizada nos jornais impressos de maior circulação regional, definidos no primeiro momento pela tiragem e por região, ou seja, de forma demográfica e geográfica e que estão disponíveis na internet, em versão on-line, observados em período determinado. Diversas ocorrências de matérias sobre temas relacionados à ciência foram selecionadas.

Dentro desse processo de coleta foi incluído, a titulo de comparação, num primeiro momento, os jornais dos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo, e posteriormente apenas os jornais de São Paulo, posto que os dois jornais paulistas selecionados têm alcance nacional e expressam bem o fenômeno investigado e que ocorre no país como um todo e que será explicado logo adiante. Assim, estabelecemos como primeiro critério em perspectiva identificar o deslocamento do sentido de Ciência para Ciência & Tecnologia no cenário nacional, em comparação com o cenário catarinense.

Para essa contrapartida foram então selecionados os dois principais jornais impressos que circulam no país, e que tem versão on-line, a Folha de São Paulo e Estado de São Paulo, para que a pesquisa possa ter maior amplitude na visão, do que teríamos apenas com a imprensa local.

Essa contrapartida foi necessária para verificar se o que está acontecendo em Santa Catarina tem alinhamento com o que está acontecendo no país, ou se tem algum modo de funcionamento específico que é só regional.

A pesquisa em Santa Catarina foi realizada através da análise das matérias que procuram reformular dizeres produzidos originariamente no discurso científico, publicadas nos jornais das seis maiores cidades, das seis mesorregiões do Estado, conforme tabela 1 no anexo A, sendo respectivamente, Joinville no Planalto Norte, Florianópolis na Grande Florianópolis, Blumenau no Vale do Itajaí, Criciúma na região Sul, Lages na região Serrana e Chapecó na região Oeste.

Outros municípios populosos do Estado foram excluídos da amostra por estarem fora do critério estabelecido, de se observar apenas a maior cidade de cada região. Assim, São

José, com 210.503 mil habitantes25 e Itajaí, com 183.388 mil, sendo o 4º e 6º maiores municípios do Estado respectivamente, não preencheram os critérios da nossa coleta.

Dentro desse critério por região, escolhemos seis jornais, cinco diários e um semanal, um de cada município, observando os de maior tiragem e maior circulação, sendo o jornal da região do Planalto Serrano, o único jornal semanal, por que naquele momento da pesquisa era o único que tinha disponível sua versão impressa on line26.

Assim, foram escolhidos para compor o corpus da pesquisa, o Jornal Diário Catarinense de Florianópolis, o Jornal A Notícia de Joinville, o Jornal de Santa Catarina de Blumenau, o Jornal Diário do Iguaçu de Chapecó, o Jornal O Momento de Lages e o Jornal A Tribuna de Criciúma. Esse conjunto de jornais regionais juntamente com os jornais de São Paulo constitui o corpus.

A observação foi realizada nas edições on-line do período de 20 de setembro a 20 de outubro de 2010, com exceção do Jornal O Momento, de Lages, em que foi observado todo o material disponível nas seções local e regional do site no ano de 2010. Nos jornais de âmbito nacional, o período observado foi de 10 de outubro a 20 de dezembro.

A escolha do período de coleta do corpus foi aleatório, pois o critério relativo à época da publicação, nesse caso, não é esclarecedor do funcionamento do discurso.

Quanto à opção pela versão on-line, buscou-se jornais que tinham uma versão impressa na internet, ou seja, não significa que coletamos versões com um tratamento específico de conteúdo para a internet, mas uma transposição do mesmo jornal de circulação impressa, no suporte digital, sem modificação.