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CAPÍTULO 2 A ESCOLA E SUA GESTÃO

2.4 Por que eleger os diretores escolares?

Considerando-se as diversas mudanças nas políticas de educação a partir dos anos 1990  programas que elegem eixos como a descentralização e a democratização da gestão escolar , a eleição dos diretores escolares, segundo Souza (2007), por si só não garante a ampliação da gestão democrática, mas é um indicativo importante para o desenvolvimento de melhores condições para a democracia na escola.

Segundo Corrêa e Cardoso (2000) nas escolas onde não havia eleições para diretores, as indicações políticas, principalmente nos municípios menores, traziam sérios problemas para o sistema educacional, pois o cargo de diretor não passava de mais uma das benesses oferecidas por integrantes da classe política a seus parceiros políticos, assessores de campanha, cabos eleitorais, familiares. Portanto, por muitos anos, o ―cargo‖ de diretor escolar foi usado pelos políticos como barganha ou como agradecimento a apoios prestados, já que o diretor era reconhecido como pessoa importante na comunidade.

Esses pressupostos são enfatizados no Programa Pró-Conselho da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (2004):

Ao analisar essas modalidades, a livre indicação dos diretores pelos poderes públicos se fundamenta na prerrogativa do gestor público em indicar o diretor como um cargo de confiança da administração pública. Historicamente, contudo, essa modalidade parece ter contemplado as formas mais usuais de clientelismo, na medida em que se distinguia pela política do favoritismo e da marginalização das oposições, e o papel do diretor não contava com o respaldo da comunidade escolar. Essa modalidade articulada ao conservadorismo político permitia, portanto, a transformação da escola em um espaço instrumentalizador de práticas autoritárias e mecanismo de barganhas políticas as mais

diversas, evidenciando forte ingerência na gestão escolar (MEC, 2004, p. 37).

Corrêa e Cardoso (2000, p. 37) dizem também que a escolha do diretor por meio do mecanismo da ascensão profissional não traz benefícios, pois tende a cristalizar e criar ―apego às soluções antigas e rotinizadas da burocracia do serviço público, num momento em que se almeja exatamente o oposto: uma escola onde haja renovação e criação constantes‖. No Caderno do MEC (2004), encontramos:

Quanto ao diretor de carreira, modalidade reduzidamente utilizada, a sua configuração encontra-se estruturada a partir do estabelecimento de critérios rígidos ou não. Nesse caso, o acesso ao cargo de diretor considera aspectos como: tempo de serviço, merecimento e/ou distinção, escolarização, entre outros. A considerar a falta de planos de carreira, tal modalidade, tendo em vista o dinamismo da prática educativa, reforça, na maioria dos casos, a manutenção da ingerência e do clientelismo no cotidiano escolar, além da exclusão da comunidade escolar na definição de seu destino. No setor público apresenta-se como uma variação da modalidade de indicação política, apesar de parecer fundada no mérito das pessoas (MEC, 2004, p. 37).

O mesmo ocorreria naqueles casos em que o cargo de diretor fosse preenchido por concurso, segundo Corrêa e Cardoso (2000, p.185),

No caso da direção escolar teremos um posto de carreira onde o diretor assume o cargo em um dos limites da hierarquia da secretaria de educação, ali permanecendo até sua aposentadoria. Tem-se, então, a possibilidade de uma estagnação tanto do diretor quanto da rede escolar, porque aquele, com o passar do tempo, poderá não mais buscar soluções novas ou programar melhorias na escola em detrimento dos ‗velhos‘ hábitos (CORRÊA; CARDOSO, 2000, p.185).

Alguns interlocutores têm defendido o concurso público como mecanismo para nomeação do diretor, por se creditar a esse processo a objetividade na escolha baseada em méritos intelectuais. É fundamental ressaltar que essa modalidade não tem sido adotada pela maioria dos estados e municípios. Por considerar que a gestão escolar não se reduz à dimensão técnica, mas configura-se também como ato político, entendemos que essa modalidade reduz o escopo da gestão a atividades administrativas rotineiras e burocráticas, deixando em segundo plano a compreensão mais abrangente do processo político- pedagógico. A defesa do concurso público, ao nosso ver, deve ser bandeira a ser empunhada e efetivada como forma de ingresso para a carreira docente no setor público. Assim, acreditamos que o concurso de provas, ou de provas e títulos, deve ser o ponto de partida para o ingresso do educador no sistema de ensino e, desse modo, parece não se apresentar como a forma mais apropriada para a escolha de dirigentes escolares, pois a gestão escolar não deve constituir um cargo ou função vitalícia por meio de um processo de seleção que não leva em consideração a participação efetiva da comunidade escolar e local (MEC 2004, p.37-38).

Depois dessas considerações, o MEC (2004) entende que a eleição dos diretores pela comunidade é importante, pois

As eleições diretas para diretores, historicamente, têm sido uma das modalidades tidas como das mais democráticas formas, apesar de se constituírem também uma grande polêmica. A defesa dessa modalidade vincula-se à crença de que o processo implica uma retomada ou conquista da decisão sobre os destinos da escola pela própria escola. O processo de eleição apresenta- se de formas variadas, indo desde a delimitação do colégio eleitoral – que pode ser restrito a apenas uma parcela da comunidade escolar, ou à sua totalidade, compreendida como o universo de pais, estudantes, professores, técnicos e funcionários – até a definição operacional para o andamento e a transparência do processo – data, local, horário, valorização operacional dos votos de participação dos vários segmentos envolvidos. Há, também, exemplos em que a eleição é utilizada como um dos mecanismos de escolha associado a outros, tais como: provas específicas, apresentação de planos de trabalho, etc. Vale destacar, nessa modalidade, a importância dada ao processo de participação e decisão na escolha dos diferentes candidatos pelas comunidades local e escolar (MEC, 2004, p. 39-40).

Dessa maneira, pode-se considerar a vantagem das eleições para diretores pela importância do envolvimento e participação da comunidade local. Além disso, acrescenta-se, os diretores eleitos estarão em busca de aperfeiçoamentos e

renovações, visto que estabelecem compromissos como candidatos, que serão cobrados pelos colegas e pela comunidade, além de terem de apresentar resultados, notadamente onde exista a possibilidade de reeleição. Portanto, em oposição a outras formas de escolha do diretor escolar, a principal hipótese aqui proposta é que a eleição cria uma situação onde a performatividade é uma exigência daqueles com os quais o diretor se relaciona. Performatividade requer renovação, apresentação de novas soluções, de novos encaminhamentos. Portanto, eleições, gestão democrática, participação não se contrapõem à performatividade, agem reforçando-a. Esse tema será tratado no capítulo seguinte.

Um elemento a ressaltar é que, para se ter uma gestão democrática, o Conselho Escolar deve funcionar. Afirmou-se acima que a distribuição de poder é elementar na democracia, a condição para sua realização no espaço escolar é a existência do Conselho Escolar ou Colegiado, que partilha na tomada de decisões administrativas, financeiras e político-pedagógicas. Esses pressupostos são enfatizados no Caderno do MEC (2004), onde se lê:

Ao legislar sobre o princípio constitucional da gestão democrática da educação pública, a LDB remete a definição das normas à autonomia das unidades federadas, estabelecendo somente duas diretrizes essenciais e coerentes:

- a participação da comunidade (escolar e local) e dos profissionais da educação em Conselhos Escolares e na elaboração do projeto pedagógico; e

- a promoção de progressivos graus de autonomia das unidades escolares.

Assim, a LDB torna o Conselho Escolar e o projeto pedagógico instituintes da gestão democrática, remetendo aos sistemas de ensino, na sua diversidade, a tarefa da regulamentação, assegurando-se, para sua efetivação, progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira às escolas públicas (MEC, 2004, p. 42).

A eleição dos diretores, o funcionamento do conselho escolar e a construção do projeto político-pedagógico são os pilares de uma gestão democrática, pois remetem à participação dos agentes envolvidos na educação.