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CAPÍTULO 4 EDUCAÇÃO BÁSICA NO MUNICÍPIO DE CONTAGEM-MG

4.5 Os diretores por eles mesmos

4.6.3 Professores, gestão democrática e Conselho Escolar

Os professores entrevistados acham que a eleição do diretor é importante, mas não o suficiente para caracterizar uma gestão como democrática. Apontaram até que, algumas vezes, o diretor, pelo fato de ter sido eleito, considera que tem legitimidade para tomar decisões isoladamente. Alguns professores opinaram que os critérios hoje estabelecidos para que um funcionário da escola possa ser eleito é muito elementar, pois os candidatos deveriam ter uma formação mais específica para exercer a função. A Secretaria de Educação de Contagem parece ter percebido a necessidade de preparar melhor os diretores escolares do município. Haja vista a implantação, em 2010, do Programa de Gestão Educacional (PGE). As respostas à pergunta acima foram as seguintes:

―Não. Porque o diretor, quando é eleito, acha que pode fazer coisas justamente porque foi eleito.‖

―Não, não basta eleger, tem que ter uma maior abertura para participação do grupo.‖

―Não, mas é necessário. Eu já tive experiência com diretores indicados em que ele acha que a escola não funciona sem ele, não foram experiências boas, foi autoritarismo mesmo de achar que a gente não faz nada. Com a eleição tem um diálogo maior, apesar de que tem muita gente na eleição que vota, mas com a intenção de ganhar alguma coisa. A política é a mesma em todo lugar. É querer tirar proveito de alguma coisa.‖

―Não, quando eleito, a pessoa muda e quer mandar.‖

―Não. Eu acho que é necessário ter a eleição, mas não da forma como é hoje, como é de uma coisa de cartas marcadas, grupos detentores do poder é que vão ser eleitos. Às vezes pessoas mais novas que têm grande interesse, mas não consegue se articular.‖ ―A eleição é a melhor forma de provimento do cargo. Concurso público, o cara vira dono daquilo e a indicação política tem muitos problemas. Precisa de mudar o processo eleitoral, é preciso filtrar, nessa onda de falar que é tudo democrático qualquer um pode ser diretor de escola, tem lugar que o cara é disciplinário, tem gente que faz curso superior e faz concurso para disciplinário e aí pode ser diretor. Deveria criar um grau maior de exigência, exigir por exemplo que a pessoa deveria ser docente, ter passado algum tempo dentro de sala de aula.‖

Todos os professores entrevistados concordaram no seguinte ponto: a eleição do diretor pela comunidade ajuda na participação desta na vida escolar. Mas, a pré- inscrição, que os pais ou responsáveis precisam fazer para votar, foi apontada como um procedimento que dificulta uma participação mais efetiva deles. Essa parece ser uma observação também consequente, já que os professores apontaram anteriormente que os pais participam pouco, porque precisam trabalhar muito.

―Eu acho que só da comunidade votar, já é um fator importante para ela se importar com a escola.‖

―Acho que ajuda, mas acho que não deveria ter a pré-inscrição, porque isso atrapalha, todos os pais deveriam poder votar sem fazer a pré-inscrição.‖

―Sim. Aliás, a comunidade só vem nessa época. Pra cobrar eles até cobram, se o filho se machuca na escola então vêm mesmo. A mesma coisa é a Secretaria de Educação, eles vêm só se tiverem que cobrar.‖

―Eu sou crítico, todo mundo que quer ampliar a participação quer colocar o mesmo peso do voto do aluno com o mesmo peso do voto do professor, e a gente começa a colocar uma pessoa que não entende nada para mandar. Essa participação é muito

manipulada. Não vejo ninguém falar que vai apoiar o diretor tal para que os alunos da 8ª série daqui consigam passar no CEFET; pelo contrário, vê-se falar que vão apoiar o fulano de tal porque é mais tolerante.‖

―Ajuda, porque ao votar, os pais querem um diretor que o escutem mais, que atue em interesses dos alunos.‖

―Acredito que sim, porque abre a possibilidade de colocar na direção alguém que você gosta.‖

Perguntados se as decisões tomadas na escola são democráticas, os professores se mostraram bastante céticos, comparado ao que disseram os diretores sobre a mesma questão. Alguns apontaram que as decisões já estão tomadas quando chegam aos professores, ou então que as alternativas apresentadas não alteram o resultado. Pode-se aliar a essas opiniões uma queixa feita pelos entrevistados que é a falta de tempos coletivos para o debate e a discussão, sendo muitos dos informes e decisões realizados na hora do lanche.

―Tem coisas que sim, algumas coisas são discutidas e votadas, mas outras não, quando a demanda vem da comunidade eles querem impor porque vem da comunidade, os pais são tomados como cliente que sempre tem razão. Acho que ouvem mais os pais que os professores e parece que a gestão tá caminhando neste sentido.‖

―Aqui é tudo conversado com os professores, se a gente concorda ou não.‖

―Sim, porque todas as coisas são colocadas para o grupo, as pessoas têm a liberdade para expor suas opiniões e quando não chega num consenso a gente vai para a votação e decide.‖

―Não totalmente, eu vejo que tem algumas coisas que não, e vêm de cima para baixo mesmo.‖

―Nem sempre. É democrático quando interessa, quando se precisa da colaboração dos professores, toma-se a decisão em conjunto, vai fazer pensar que as decisões são tomadas em conjunto, mas a maior parte das decisões são tomadas pela direção, ela vem mascarada como uma boa ideia pra você fazer.‖

―Nem sempre. Tem coisas que a Secretaria de Educação impõe e até acho que os diretores não têm alternativa. Agora, as decisões que nós temos que tomar aqui é democrático.‖

―O que eles chamam de democracia é consultar se nós vamos trabalhar é neste sábado ou se é no outro, ou se nós vamos fazer isso ou aquilo, então, se vai ter paralisação, se o pessoal deveria ir ou não. Quanto a este aspecto flexibilizou as decisões, mas tomar decisões sobre as alternativas que eles apresentam. São umas coisas bobas, eles mandam cinco propostas de calendário escolar para cá, mas tanto faz eles mandarem uma como mandarem as cinco porque nós vamos ter que cumprir uma carga horária mesmo.‖