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Por um diálogo social: Os direitos humanos

No documento brunamilheirosilva (páginas 129-138)

Parte II: Perspectivas ético-religiosas em Mohandas Karanchand Gandhi e Martin Luther

Capítulo 4: A busca por uma verdade: Vivências ético-religiosas

4.1 Por um diálogo social: Os direitos humanos

Neste primeiro tópico a principal discussão está atrelada à temática dos direitos humanos e sua representação como proposta de diálogo na sociedade e no mundo, no sentido de formação de uma vontade ética comum de respeito aos seres humanos. Essa pressuposição de uma necessidade de compartilhar direitos básicos dirigidos às pessoas, não é uma novidade nem do projeto para uma ética mundial e nem das biografias dos personagens aqui estudados. Pode-se dizer que essa consciência é muito antiga e remonta inclusive às primeiras civilizações da humanidade.185Buscando comparações com a história mais recente, por exemplo, a declaração dos direitos do homem e do cidadão da Revolução Francesa oferece contribuições significativas nesse campo, precursoras no que se refere a uma visão mais moderna dos direitos individuais dentro de uma sociedade civil.

184 M.K Gandhi Institute for nonviolence. Disponível em: http://www.gandhiinstitute.org/, consultado 19 de

dezembro de 2017.

185 O código de Hamurabi, escrito na antiga mesopotâmia, é considerado por muitos historiadores como a

primeira codificação de leis registradas pela humanidade, mas esse código possuía um princípio ético inerente a ele. Era a primeira vez que algum governante apresentava a preocupação de explicitar uma pena que estivesse de acordo com os valores da época e que fosse equivalente ao crime cometido. Até então, cada um podia fazer as suas próprias regras.

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Outros exemplos de tentativas nesse mesmo sentido são a proposta da Declaração Universal dos Direitos Humanos, texto da Organização das Nações Unidas de 1948186, assim como a proposta do projeto para uma ética mundial, ambas contemporâneas. De uma forma geral, todos esses documentos trazem em seu conteúdo uma tentativa de equalizar os povos colocando todos num mesmo patamar de justiça no acesso aos meios básicos de sobrevivência. Eles também denunciam em seu escopo um percurso histórico conceitual da ideia de ser humano e humanidade que não podem ser desvinculados da tradição da qual são oriundos. Sendo assim, representam algumas complicações ao pretenderem oferecer uma ideia de humanidade e humano como um dado universal. Só para exemplificar essa ideia, nas culturas orientais, o percurso histórico é completamente distinto daquele observado no mundo ocidental, inclusive algumas dessas civilizações são muito mais antigas com preceitos milenares.

Tendo isso em mente, pode-se avançar na ideia de direitos humanos em meio à diversidade. Essa proposta que define a garantia a cada indivíduo de um mínimo de dignidade diante do mundo globalizado apresenta-se também como uma questão fundamental no projeto para uma ética mundial e nas trajetórias dos líderes religiosos aqui analisados, tratando-se de um ponto de intersecção vital a ser considerado.

Os direitos humanos são concebidos pelo pensamento e prática convencionais como a-históricos. Daí a dificuldade em serem reconhecidos os direitos coletivos de povos e grupos sociais e vítimas de opressões históricas e a impossibilidade de ver nas violações dos direitos humanos, reconhecidas como tal, o sintoma de outras violações muito mais graves e massivas, ainda que não reconhecidas como tal.187

A carta das Nações Unidas, por exemplo, faz referência à necessidade de existirem direitos humanos atemporais e aplicáveis em espaços diversos, já apresentando logo de início os ideais de liberdade, justiça e paz no mundo como os principais pontos a serem alcançados com esse documento. Ademais disso, ela defende que a falta de consciência em relação a esses três aspectos gerou nos últimos tempos casos de tirania e a opressão, assim como atos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade. O documento pretende também apresentar subsídios para a cooperação entre as Nações e despertar nos indivíduos uma ideia de compromisso perante os

186 Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da

Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, Brasília, 1998.

187 SANTOS, Boaventura de Sousa. E se Deus fosse um ativista dos direitos humanos? São Paulo: Cortez,

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demais, crendo que com isso será possível alcançar um mundo melhor. A declaração apresenta 30 artigos, destrinchando em cada um deles as principais ideias e organizando de maneira didática os pontos a serem defendidos e esclarecidos.

O documento apresenta também uma preocupação significativa com o ensino desses princípios que estão diretamente relacionados à educação familiar e formal além de incluir a participação de políticas nacionais e internacionais que deveriam, gradualmente, auxiliar na implementação desses princípios nas várias partes do mundo. Nos 30 artigos expostos nota-se a existência de preocupações diversas, temas como o repúdio à escravização, à tortura e ao tráfico humano podem ser destacados assim como a liberdade de participar da comunidade na qual se vive e de escolha das preferências religiosas e de trânsito em diferentes localidades. O documento condena a existência de diferenciação sexual, racial, econômica ou intelectual que desqualifique alguns seres humanos em detrimento de outros, uma vez que todos têm o direito ao mesmo acesso à educação e meios básicos de sobrevivência. Os princípios são diversos e tangenciam vários pontos significativos para a ideia dos direitos humanos, mas como não é o objetivo do capítulo destrinchar os pontos da declaração, uma observação geral é suficiente para os objetivos aqui pensados.

Essas propostas defendidas pelo documento vão de encontro a algumas críticas de Santos, uma vez que a excessiva generalização de ideias muitas vezes não consegue contemplar todos os grupos e toda a diversidade existente e que demanda a existência de direitos humanos em alguma medida. O autor faz referência às minorias étnicas e grupos isolados que muitas vezes são vítimas de interesses políticos diversos e não possuem meios efetivos de lutar pelos seus direitos. Essa existência de interesses políticos e econômicos diferentes faz com que alguns grupos sejam privilegiados em detrimento de outros e que alcancem mais facilmente direitos que deveriam ser de todos de maneira igualitária.

Num primeiro olhar, toda essa discussão sobre quais direitos seriam inerentes ao ser humano parece algo extremamente justo e equitativo, já que essa perspectiva fortemente enraizada da existência de uma humanidade é algo quase como um conceito basilar das ciências humanas e até mesmo do senso comum nos dias de hoje. Essa defesa de que todos os seres humanos são parte de uma “família humana” e que todos são considerados iguais perante a lei ou perante um ser divino é uma construção histórica que por si só demanda uma análise de seu processo de construção ideológica. Porém,

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quando se lança um olhar atento, observa-se que essa definição traz em si muitas limitações de cunho antropológico e filosófico que podem levar a uma longa discussão em termos culturais e especialmente históricos. Essa questão tangencia também as enormes diferenças culturais que caracterizam o Planeta e os desafios que essa diversidade impõe ao tema presente.

A questão pode formular-se deste modo: se a humanidade é só uma, por que é que há tantos princípios diferentes sobre a dignidade humana e justiça social, todos pretensamente únicos, e, por vezes, contraditórios entre si? Na raiz desta interrogação está a constatação, hoje cada vez mais inequívoca, de que a compreensão do mundo excede em muito a compreensão ocidental do mundo188

Por outro lado, entende-se que essas iniciativas, apesar de apresentarem suas limitações, como mostra de forma crítica e direta o texto, representam um passo inicial no sentido de uma tentativa de compreensão entre os indivíduos, culturas e Nações e também da possibilidade de uma paz mundial. Essa pretensa utopia pensada desde o início dos tempos, mas intercalada por constantes experiências de conflitos armados entre povos nas mais diversas partes do globo terrestre, é perseguida incessantemente ou pelo menos é o que se propaga mundo afora. Se a paz é tão necessária e tão desejada, por que é tão difícil alcançá-la? Talvez essa seja uma das questões mais difíceis de se chegar a uma resposta. O problema não é a ausência da consciência de que o entendimento e a paz são necessários, mas sim como chegar a eles. Encontrar o caminho e manter-se firme nele é, ao que parece e de acordo com os manuais de história, o mais difícil.

A tentativa de um acordo sobre o que seria digno e pertencente a cada indivíduo como essência, abordagem essa que é vislumbrada pela ideia de direitos humanos é amplamente colocada em xeque por Santos. “O que normalmente não é referido é que, desde então até os nossos dias, os direitos humanos foram usados, como discurso e como arma política, em contextos muito distintos e com objetivos contraditórios.”189 Para ele, essa ideia assume um caráter parcial e inacabado e deve ser analisada de maneira a considerar sua limitação semântica. Disso pode-se apontar como consequência a sua dificuldade de aplicabilidade na vida social diante das inúmeras diferenças culturais, além é claro dos desafios que a vida humana na Terra pressupõe.

188 SANTOS, Boaventura de Sousa. E se Deus fosse um ativista dos direitos humanos? São Paulo: Cortez,

2013.p. 26

189 SANTOS, Boaventura de Sousa. E se Deus fosse um ativista dos direitos humanos? São Paulo: Cortez,

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Além disso, ele reforça a ideia de que muitas vezes essa proposta é utilizada de forma distorcida e para fins pessoais, o que afasta completamente da ideia inicial de cooperação e união em prol de um mundo melhor para todos.

No pensamento de Boaventura, uma questão significativa é imaginar como seria possível aplicar uma mesma linguagem de convivência em contextos tão distintos? Quais as possibilidades de se alcançar algum êxito nessa perspectiva? Além disso, ele defende que a crença de que todos os seres humanos são subsidiários dos mesmos direitos pode ser defendida de várias maneiras diferentes, a sua apresentação na forma dos direitos humanos configura-se apenas como uma das possibilidades de descrição. Para Santos, por alguma razão, essa ideia sobrepôs-se às demais formas de expressar a ideia:

O fato de as outras gramáticas e linguagens de emancipação social terem sido derrotadas pelos direitos humanos só poderá ser considerado inerentemente positivo se se mostrar que os direitos humanos têm um mérito, enquanto linguagem de emancipação humana, que não se deduz apenas do fato de terem saído vencedores.190

No final das contas, a maneira como se coloca em prática a ideia é mais importante que a forma como se refere a ela. Quando falamos de direitos, ou necessidades, ou recursos humanos, isso não é algo tão relevante, o mais significativo é pensar que ainda que se encontre uma definição clara de princípios a serem seguidos, ela inevitavelmente irá esbarrar em inúmeras situações cotidianas. No caso dos países onde a pobreza é algo recorrente e onde a violação dos direitos considerados básicos é parte do cotidiano, o que se observa é a acomodação generalizada diante da situação e uma apatia diante do fato de que o não-acesso aos meios básicos de sobrevivência desqualifica humanamente os demais indivíduos: “Vivemos num tempo em que as mais chocantes injustiças sociais parecem incapazes de gerar a indignação moral e a vontade política necessárias para as combater eficazmente e criar uma sociedade mais justa e mais digna”191 Claro que é bem conhecida a permanência de situações descritas como condenáveis pela declaração de 1948, como por exemplo, a escravização de seres humanos, a tortura e outras formas de tratamento considerado desumano.

No caso do Brasil, por exemplo, essa situação não se restringe à pobreza e ao não acesso aos meios básicos de vida, mas a outros aspectos como a educação e o acesso ao

190 Ibidem, p.19

191 SANTOS, Boaventura de Sousa. E se Deus fosse um ativista dos direitos humanos? São Paulo: Cortez,

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conhecimento de maneira geral. Historicamente, os saberes eruditos estiveram restritos às elites e apesar de toda a luta de alguns setores em expandir o acesso a ela às classes mais populares, ainda não se criou nesses grupos uma consciência da importância do saber e de seu potencial transformador na sociedade. A situação é muito complexa e apresenta muitos desdobramentos de vários tipos que abrem margem para muitas discussões no que se refere à pretensa ideia dos direitos humanos. Para ilustrar a ideia, um documentário muito popular e produzido pela indústria cinematográfica brasileira disponível em alta definição no youtube narra o cotidiano de uma população num depósito de lixo em Porto Alegre. Apesar das várias críticas que podem ser feitas a ele, um olhar atento sobre a desigualdade do acesso aos recursos básicos de sobrevivência é uma circunstância irrefutável no vídeo que já se inicia com a seguinte afirmação: “Existe um lugar chamado Ilha das Flores, (lá) Deus não existe”.192

O documentário apresenta o ciclo de produção e consumo de tomates, considerando aspectos do mercado, da movimentação econômica que ele gera desde o cultivo até a sua aquisição pelo consumidor no supermercado. Uma consumidora em especial, D. Anete compra no supermercado os tomates que foram produzidos na fazenda do Sr. Toshiro e quando chega em casa descobre que um deles está podre e este acaba sendo descartado, pois é considerado não apto para o consumo. O caminho percorrido por esse tomate podre é longo entre ser colocado no lixo, em seguida coletado pelo caminhão da empresa que o recolhe e o leva a um depósito de lixo nas cercanias da cidade onde um fazendeiro cria porcos. O lixo, no qual se encontra o tomate jogado fora por D. Anete, é despejado no chiqueiro e os porcos são liberados para ir até lá comer à vontade. Enquanto isso uma fila formada por pessoas incluindo idosos, crianças, mulheres grávidas e outros esperam do lado de fora da cerca, competindo pelos primeiros lugares. Depois que os porcos já estão satisfeitos e rejeitam a comida que sobrou, a cerca é aberta para os habitantes da Ilha que divididos em grupos de dez indivíduos, incluindo nesse número as crianças, recolham durante cinco minutos tudo o que puderem e quiserem. Em seguida, os que não saem de forma espontânea são rapidamente retirados pelos empregados da fazenda e um novo grupo é chamado a adentrar e servir-se da comida que os porcos não quiseram.

Essa associação entre a situação que é apresentada no documentário e a ausência de Deus é bastante interessante, abrindo as possibilidades para uma discussão acerca da

192 FURTADO, Jorge. Documentário Ilha das Flores, casa de cinema de Porto Alegre, 1988-9. Disponível

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crença ou não Nele e na interferência do homem nas circunstâncias do mundo. Um detalhe instigante é pensar que tanto o produtor do tomate quanto a consumidora não fazem a menor ideia do destino final desse produto e possivelmente nem da existência de pessoas morando no depósito de lixo e vivendo da comida que os porcos rejeitam. Essas pessoas estão submetidas às condições sub-humanas de habitação, muitas não possuem dentes, a pele é enrugada e podre por causa do ambiente e das péssimas condições de higiene. Sem comentar as inúmeras doenças que devem circular pelo local e da imensa mortalidade e sofrimento que devem ser constantes para eles. A falta de dinheiro, educação e oportunidade degradam aquelas pessoas a uma vida insalubre sem perspectivas de futuro. A Ilha das Flores é apenas um microcosmo do que acontece em muitos outros lugares do Brasil e em outras partes do mundo e sem dúvida apresenta-se como um imenso desafio para os direitos humanos incorporando toda a sua fragilidade e toda a dificuldade de implementá-los.

Dessa forma, é significativo que se tenha a consciência de que esse tipo de situação acontece ao redor do mundo e que fere diretamente os princípios estabelecidos por todos esses documentos anteriormente mencionados. Essa permanência da injustiça social e da impunidade mostra-se como uma das preocupações não só na declaração da ONU, como também em vários outros documentos, entre eles o projeto para uma ética mundial que é objeto de análise dessa tese. A partir da constatação de que essas situações existem e que precisam ser exterminadas se de fato se quer alcançar um mundo mais harmonioso, a divulgação de ideias como as dos projetos precisa ser cada vez mais pulverizada pelo mundo e buscadas soluções locais e mundiais para exterminá- las a curto, médio e definitivamente a longo prazo. Nesse aspecto, pode-se extrair algumas propostas das biografias de King e Gandhi, já que partiram da consciência da injustiça e da desigualdade e posicionaram-se contrários a elas, fomentando em suas realidades locais discursos e ações que combatiam diretamente essa situação.

Ainda no que tange a essa questão, tendo como base o texto da declaração para uma ética mundial, assunto principal da presente tese, a situação é basicamente apresentada a partir do princípio da humanidade: “Todo ser humano – seja homem ou mulher, branco ou negro, jovem ou velho – deve receber tratamento humano”.193 Essa ideia de tratamento humano se refere ao acesso aos meios básicos de sobrevivência, situação que nem sempre acontece na prática. As diferenças não podem justificar a

193 KÜNG, Hans. Para que um ethos mundial? Religião e ética em tempos de globalização, conversando

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desigualdade em nenhuma medida, uma vez que elas contribuem para enriquecer a diversidade humana na Terra. Partindo dessa proposta, torna-se possível então buscar nas biografias dos personagens elementos que nos remetam a essa ideia, uma vez que a crença nos direitos de cada pessoa foi recorrente nas trajetórias de Gandhi e King, assim como em suas respectivas histórias de ativismo político.

No caso de Martin Luther King e sua experiência, fatalmente os vestígios da escravidão negra eram um fardo a ser considerado, uma vez que fora justamente nos locais onde ele atuou os espaços em que ela fora mais intensa. Toda a questão do racismo nessas regiões tinha a sua origem no passado escravista, e como já foi dito anteriormente, subjugar um ser humano à condição de ser propriedade de outro ser humano é sem dúvida uma grave violação dos direitos humanos. Apesar de extinta, a escravidão deixou marcas na sociedade norte-americana e fundamentou as leis segregacionistas por muitos anos, pois a ideologia que defendia que o homem branco era superior ao negro não fora exterminada definitivamente com o fim da escravização como política de Estado no século XIX. A história das mentalidades, assim definidas, caracteriza-se como o aspecto do tempo que muda de forma mais lenta, ainda que a lei ou qualquer outro documento estabeleça algo diferente. Esse fenômeno é muito claro na situação aqui apresentada, e de uma certa forma, até hoje a sociedade norte-americana mantém algumas dessas características.

Luther King conta em sua autobiografia que durante a sua infância foi, de certa forma, protegido pelos pais de ter acesso ao fardo da segregação e relata que também não entendia muito bem o que se passava. Ele narra duas situações marcantes durante seus primeiros anos de vida e que o fizeram começar a perceber que algo estranho se passava. Uma primeira foi o rompimento de sua amizade com um coleguinha da rua porque esse era branco e o pai o havia proibido de brincar com King por ser negro. Em casa de volta, seus pais tentaram explicar-lhe que era algo com o qual ele deveria se acostumar, pois fazia parte da lógica daquela sociedade. Outra situação foi a tentativa de comprarem sapatos numa loja, ele e o pai sentaram-se em cadeiras na frente da loja e o vendedor informou que só poderia atendê-los se fossem para os fundos. O pai de King ficou indignado e saiu da loja resmungando sua insatisfação com o sistema segregacionista. Ele relata a preocupação de seus pais e as dificuldades típicas dos pais negros na época, de como explicar a situação a uma criança: “Ela (mãe) me ensinou que eu devia ter a consciência de ‘ser alguém’, mas ao mesmo tempo tinha de sair e

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enfrentar um sistema que me encarava diariamente dizendo ‘você é menos’, você ‘não é igual’.”194 Inicialmente ele pensou que odiar os brancos seria a saída, mas anos depois preferiu adotar um outro caminho, lutando para que todos compreendessem o valor da igualdade.

Existem vários outros exemplos de como os negros eram tratados, a dificuldade

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