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Porcentagem de estrangeiros no Rio de Janeiro, segundo a divisão territorial

Como é possível observar, a proporção dos estrangeiros foi mais significativa nos distritos centrais, mesmo ao longo do tempo. Durante o período em questão, sua representatividade aumentou em direção à zona sul, ainda que o reordenamento demográfico vivenciado pelo Rio de Janeiro tivesse sido em direção aos subúrbios, conforme acompanhamos no item precedente. Mesmo no caso dos distritos que tiveram crescimento populacional acentuado na zona suburbana, como Inhaúma e Irajá, a proporção de estrangeiros se manteve estável durante o período de análise, não ultrapassando os 20%.

Entre 1890 e 1920, as três nacionalidades com os maiores contingentes no Distrito Federal eram a portuguesa, a italiana e a espanhola, com destaque para a primeira.50 Quando levamos em consideração a divisão entre zona urbana e suburbana, mais uma vez, observamos particularidades a respeito da presença desses grupos de estrangeiros em cada uma delas. Analisemos o gráfico a seguir:

49 Os dados utilizados para a produção desse mapa foram obtidos em: Recenseamento de 1920 (DF, V. II), pp. 6- 7.

50 Apenas para se ter ideia da inserção dos portugueses na sociedade carioca, no recenseamento de 1890 constam informações a respeito da nacionalidade paterna e materna dos habitantes. Os filhos de pai e mãe portugueses somavam 120.983 indivíduos, dos quais 111.461 residiam nas paróquias urbanas. Os filhos de pai brasileiro e mãe portuguesa correspondiam a 2.895 pessoas, das quais 2.644 moravam na zona urbana. Por fim, 37.325 possuíam pai português e mãe brasileira, sendo que 33.258 habitavam nas paróquias urbanas. Com isso, os portugueses e seus descendentes perfaziam 161.203 indivíduos, o que equivalia a 31,3% da população carioca. Cf.

Gráfico 1.2 – Portugueses, italianos e espanhóis no Rio de Janeiro (1890-1920)

Fontes: Adaptado de Recenseamento de 1890 (DF), p. XXIII; Recenseamento de 1906, pp. 126-127 e Recenseamento de 1920 (DF, V. II), pp. 66-113.

A diferença numérica entre os imigrantes das nacionalidades selecionadas na zona urbana e suburbana é o que mais chama a atenção. Os portugueses, no ápice de sua presença nos subúrbios, não atingiram 30 mil habitantes em 1920, ao passo que nos distritos urbanos, ainda em 1890, eles perfaziam 97.404 indivíduos. Aliás, ao longo do período, na zona urbana os lusos mantiveram um crescimento constante equivalente a 20%. Os italianos, por sua vez, tiveram um salto de 44%, entre 1890 e 1906 e um decréscimo de 18%, de 1906 a 1920. Em relação aos espanhóis, o movimento foi semelhante ao dos italianos, porém com maior intensidade, pois de 1890 a 1906, tiveram um crescimento de 86% e no período seguinte, um decréscimo de 19%.

Na zona suburbana, notamos que as três nacionalidades em questão vivenciaram uma ampliação de seus patrícios. Em números absolutos, observamos um tímido, porém gradual aumento de italianos e espanhóis e um crescimento mais acentuado de portugueses. De 1890 a 1906, esse último grupo teve um incremento de 89% e no período seguinte, de 93%. No caso dos italianos, o crescimento foi de 159% e 27%, para os respectivos períodos. Apenas para se ter dimensão desse movimento, 834 italianos moravam nos subúrbios em 1890, passando para 2.159 em 1906 e 2.735, em 1920. No que diz respeito aos espanhóis, eles obtiveram um

0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000 140.000 160.000

Portugueses Italianos Espanhóis Portugueses Italianos Espanhóis

Zona urbana Zona Suburbana

crescimento de 227%, entre 1890 e 1906, e de 50%, entre 1906 e 1920. Em números absolutos, eles eram 610 habitantes em 1890, 1.992, em 1906 e 2.980, em 1920, superando, inclusive, o número de italianos nessa área da cidade.

De acordo com Eulalia Lobo, a ampliação da emigração portuguesa para o Brasil no final do século XIX decorreu tanto de problemas enfrentados por Portugal nesse período, como a crise vinícola entre 1886 e 1888, o processo de proletarização provocado pela “crescente fragmentação e desaparecimento da pequena propriedade no norte”, a crise bancária que atingiu o país, como também pelo cenário favorável no Brasil, em razão da abolição da escravidão e dos melhores salários urbanos, sobretudo no Rio de Janeiro, se comparados aos de Portugal.51 Ainda que os dados disponíveis a respeito das ocupações dos emigrantes portugueses sejam fragmentados e incompletos, Lobo afirma que no início da década de 1890, a maioria desses indivíduos provinha do campo. Para se ter ideia, em 1891, 164.194 eram agricultores, 20.039, artesãos e 6.918 foram agrupados sob a rubrica “outras ocupações”, dentre as quais, a de trabalhador, o que representou a maior discrepância entre os dados disponíveis para a década.52 Entre 1908 e 1913, a diferença no número de camponeses e trabalhadores diminuiu consideravelmente. Por exemplo, em 1909, 43.720 eram agricultores e 35.057 eram trabalhadores.53 Já em 1922, esse último grupo predominou entre os emigrantes portugueses, somando 29.173, contra 18.511 camponeses, 1.782 artesãos e 17.501 enquadrados na categoria “outras”. A autora afirma ainda que, a despeito da proveniência do campo, os portugueses “tenderam, na medida do possível, a se concentrar na cidade pioneira da industrialização, principal porto, maior centro comercial e capital do país: Rio de Janeiro”.54

Segundo informações a respeito do movimento demográfico no porto do Rio de Janeiro, entre 1906 e 1920, 454.047 lusos entraram no país e 295.194 saíram. Portanto, 158.853 indivíduos permaneceram, contribuindo para a preponderância dessa nacionalidade na população estrangeira da Capital Federal. 1912 e 1913 se destacaram na quantidade de portugueses emigrados para o Brasil, com 79.548 e 82.090, respectivamente. Nos quatro anos que se seguiram, o número de lusos que saiu do país pelo porto carioca superou o de entradas em 21.948 indivíduos.55 Ainda assim, entre 1906 e 1920, a presença de portugueses no Rio de

51 Cf. LOBO, Eulalia Maria Lahmeyer. Imigração portuguesa no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001, p. 16. 52 Vale lembrar que esses números se referem ao total de emigrantes portugueses com destino ao Brasil. Cf. Ibidem, p. 141.

53 De 1908 a 1913, o número de camponeses oscilou entre 41.570 e 142.316 e o de trabalhadores, entre 21.133 e 46.868. Cf. Ibidem.

54 Ibidem, p. 21.

Janeiro aumentou: em 1906, eles correspondiam a 133.393 habitantes, e em 1920, 172.338.56 Ou seja, mesmo com o movimento negativo durante o período da Primeira Guerra Mundial, os lusos tiveram um crescimento de 29,2% no referido intervalo de tempo.

Os mapas que seguem expressam a proporção dos portugueses no âmbito dos distritos, entre 1890 e 1920. Vejamos:

Mapa 1.11 – Porcentagem de portugueses no Rio de Janeiro, segundo a divisão territorial