• Nenhum resultado encontrado

Porcentagem de italianos no Rio de Janeiro, segundo a divisão territorial (1920)

Como é possível perceber, a presença dos italianos era consideravelmente menor, se comparada a dos portugueses e também mais restrita, em termos espaciais. Em 1890, Santana era o distrito carioca que contava com o maior número desses estrangeiros: 4.844 indivíduos, que correspondiam a 7,2% do total de sua população. Dezesseis anos depois, esse distrito continuou a abrigar o maior contingente de italianos, tanto em números absolutos como relativos. Os indivíduos dessa nacionalidade correspondiam a 3.902 habitantes de Santana, o que equivalia a 10,5% de sua população, perfazendo a maior proporção de italianos entre todos os distritos cariocas e em todo o período de análise.68 Conforme já foi mencionado, Santana era um distrito populoso e conhecido por abrigar trabalhadores e pobres nas diversas habitações coletivas que compunham o seu território. Partindo das afirmações de Trento de que os italianos se engajavam em trabalhos urbanos marginais, predominando entre os vendedores ambulantes, não parece fortuito o fato de Santana ter sido o distrito carioca com o maior número de imigrantes dessa nacionalidade.

67 Os dados utilizados para a produção desse mapa foram obtidos em: Recenseamento de 1920 (DF, V. II), pp. 66- 113.

68 Vale lembrar que em 1903 Santana perdeu parte de seu território para a formação do distrito da Gamboa, conforme determinou o Decreto n° 434 (1903) supramencionado.

Vale destacar que entre 1890 e 1906, a representatividade dos italianos diminuiu em Irajá e em alguns arrabaldes, como Engenho Novo e Engenho Velho. Assim como no caso dos lusos, tal diminuição era, de fato, resultado do crescimento mais acentuado no número de brasileiros nessas áreas. No período seguinte, ou seja, entre 1906 e 1920, a quantidade de italianos no Distrito Federal diminuiu, passando de 25.557 para 21.929,69 sobretudo em razão da Primeira Guerra Mundial. Tal fato repercutiu na presença de italianos em Santana, que declinou de 3.902 para 2.989, ou de 10,5% para 7,4%. Ainda assim o distrito permaneceu com o maior número de italianos da cidade.

Para concluir as observações a respeito da nacionalidade dos habitantes que moravam no Rio de Janeiro, é pertinente apresentar algumas ressalvas. Para 1890, não constam dados sobre indivíduos com a “nacionalidade ignorada”. Em 1906, esse termo foi utilizado para se referir aos estrangeiros cujo país de origem era desconhecido. Sendo assim, nos distritos urbanos, eles correspondiam a 10.143 pessoas, o que equivalia a 5,5% do total de estrangeiros dessa área. Nos distritos suburbanos, embora o número absoluto fosse menor: 4.478, a proporção era mais significativa: 17,7%. É provável que tais dados alterassem a proporção dos grupos de estrangeiros nos distritos. Nessa região, a situação mais crítica era a de Santa Cruz, o distrito mais afastado do centro da cidade. Dos 2.903 estrangeiros, 2.128 estavam entre os de nacionalidade ignorada, correspondendo a 73,3%. No recenseamento de 1920, o termo “nacionalidade ignorada” se referia ao total da população e não apenas aos estrangeiros. Diferentemente de 1906, o número de pessoas agrupadas sob essa denominação foi bem menor: 859 nos distritos urbanos e 325 nos suburbanos, o que equivalia a 0,1% em ambos os casos. Com isso, os exercícios comparativos levando em consideração a origem dos estrangeiros em 1890 e 1920 são mais consistentes que o de 1906.

Consideremos agora a naturalidade dos brasileiros que habitavam a Capital Federal. Conforme apresentado na Tabela 1.3, os nacionais tinham representatividade maior na zona suburbana. Em 1890, eles constituíam 88,8% da população, em 1906, 86,2% e em 1920, 89,3%. Nos distritos urbanos, a proporção deles era menor, sobretudo em razão da presença dos estrangeiros: 66,7%, em 1890, 70,6%, em 1906 e 74,8%, em 1920. Notamos, portanto, que os nacionais aumentaram a sua representatividade na zona urbana, entre 1890 e 1920, e tiveram uma oscilação pequena nos subúrbios. O gráfico a seguir detalha a origem desses nacionais, com base em números absolutos:

Gráfico 1.3 – Distribuição dos brasileiros, de acordo com a naturalidade e as regiões do território carioca (1890-1920)70

Fontes: Adaptado de Recenseamento de 1890 (DF), pp. 164-169; Recenseamento de 1920 (DF, V. II), pp. 36- 65.

Em 1890, a região com o maior contingente de brasileiros oriundos de outros estados era a Cidade Velha. Por sua vez, os subúrbios abrigavam o maior número de cariocas e o menor de fluminenses e indivíduos provenientes de outros estados. De fato, a zona suburbana não figurava com uma alternativa de moradia para os nacionais que chegavam na cidade. Tal cenário revela que não apenas os estrangeiros, mas também esses brasileiros preferiam se dirigir à zona urbana, haja vista a maior oferta de emprego e de habitações coletivas.

Ao cabo de trinta anos, a situação se modificou consideravelmente: os arrabaldes passaram a atrair os brasileiros que não eram naturais da Capital Federal e, em seguida, os distritos suburbanos. A Cidade Velha, que em 1890 abrigava 41% desses indivíduos, em 1920 contava com apenas 19% deles. A diminuição da disponibilidade de moradias a preços módicos, em razão da demolição de diversas habitações coletivas e da especulação imobiliária após a realização das reformas urbanas contribuíram para esse cenário.

No que diz respeito aos cariocas, em 1890, 30% deles residiam nos subúrbios, 23% nos arrabaldes, 24% na Cidade Nova e 23% na Cidade Velha. Ainda que a zona suburbana

70 A divisão da cidade em quatro áreas consta no Recenseamento de 1890. Para 1920, fiz as equivalências necessárias de modo que a comparação fosse factível, o que não significa que foi possível determinar com exatidão as fronteiras, já que elas se alteraram ao longo do tempo. As regiões ficaram assim constituídas para 1920: Cidade

Velha: Candelária, São José, Santa Rita, Sacramento e Glória; Cidade Nova: Santana, Gamboa, Santo Antônio e

Espírito Santo; Arrabaldes: Santa Teresa, Engenho Velho, Andaraí, Lagoa, São Cristóvão, Gávea, Tijuca, Méier, Engenho Novo, Copacabana; Subúrbios: Irajá, Jacarepaguá, Inhaúma, Guaratiba, Campo Grande e Santa Cruz e Ilhas. - 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 350.000 400.000 Cidade Velha Cidade Nova

Arrabaldes Subúrbios Cidade Velha

Cidade Nova

Arrabaldes Subúrbios

1890 1920

tivesse preponderância, havia um certo equilíbrio entre as áreas. Em 1920, quando o reordenamento demográfico já estava consolidado, 38% deles vivia nos subúrbios, 35% nos arrabaldes, 17,5% na Cidade Nova e apenas 9,5% na Cidade Velha. Ou seja, em termos habitacionais, a população natural da cidade ficou alijada de sua área central.

Os mapas a seguir permitem visualizar a proporção dos nacionais provenientes de outros estados no interior do território carioca:

Mapa 1.17 – Porcentagem de brasileiros de outros estados, segundo a divisão territorial