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3.7 – PORTARIA DNAEE Nº 47/1978 E RESOLUÇÃO ANEEL Nº 505/2001: CRÍTICA E PROJEÇÃO

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.7 – PORTARIA DNAEE Nº 47/1978 E RESOLUÇÃO ANEEL Nº 505/2001: CRÍTICA E PROJEÇÃO

Feitas estas observações consideradas importantes para o perfeito entendimento da matéria e considerando os objetivos colimados para esta dissertação, os quais estão direcionados à qualidade da energia elétrica, torna-se dispensável tecer observações adicionais sobre o tema Continuidade do Fornecimento e centrar os esforços sobre o tema Qualidade da Energia Elétrica, razão pela qual passa-se a tratar da análise da Portaria DNAEE nº 047/1978 e da única regulamentação em vigor, ou seja, a Resolução ANEEL nº 505, de 26 de novembro de 2001.

Em 1978, o Departamento Nacional da Águas e Energia Elétrica (DNAEE), editou a Portaria DNAEE nº 47, de 17 de abril de 1978, a qual, efetivamente, deve ser considerada o primeiro regulamento do Brasil sobre o tema qualidade de energia elétrica, muito embora tenha fixado apenas alguns limites e critérios sobre os níveis de tensão de fornecimento a serem observados pelos concessionários de serviços públicos de eletricidade. Mas, sem dúvida, foi o começo do processo de atendimento do objetivo de “assegurar serviço adequado” referido no Código de Águas de 1934.

Trata-se de um regulamento com características bastante típicas da forma como se fazia regulação naquela época: centralizador e não-amplamente participativo, definido no confinado ambiente interno do órgão regulador e com participação restrita a técnicos das concessionárias. Portanto, sem ouvir os demais setores da sociedade e obviamente sem a ela responder, sem documentos e estudos que pudessem conferir subsídios ao processo da regulação, sem transparência, “espelho” de um modelo vigente e predominantemente estatal.

A referida Portaria apresentou apenas 8 artigos, permeando aspectos vinculados à fixação de variações percentuais de tensão de fornecimento, disposições de caráter transitório, sem fixação de penalidades por descumprimento dos níveis de tensão, em determinadas situações facultando ao concessionário a fixação de prazo para a verificação da tensão de fornecimento e em outras sem definição dos prazos. No art. 4º, descrevia de forma clara a possibilidade de cobrança ao consumidor do custo do serviço se constatados valores dentro

dos limites adequados referidos no art. 1º da Portaria. Em resumo, tratou-se de um regulamento típico da época estatal.

Nesse sentido, é oportuno constatar o que previa o § 2º do art. 3º, a título de exemplo e para melhor visualização do que foi citado:

“§ 2º O prazo de que trata a alínea “b” do parágrafo anterior será dilatado para 360 (trezentos e sessenta) dias, independentemente de

autorização do DNAEE, quando em verificação inicial, realizada após 1º

de julho de 1980, forem registradas tensões fora dos limites adequados, porém dentro dos limites precários.” (Grifo nosso).

Portanto, cumpre destacar que a falta de participação do consumidor levou à produção de um texto extremamente favorável à concessionária e com o consumidor fortemente prejudicado, na medida em que não foram fixados comandos regulatórios equilibrados, como por exemplo, critérios de penalidades e prazos razoáveis ou ainda, a compensação financeira por serviço inadequado.

A redação da Portaria DNAEE nº 47/1978 foi deficiente e sem concisão, na medida em que se verifica a dificuldade em assimilar os critérios estabelecidos no art. 1º e as suas aplicações práticas, misturadas com prazos de implantação/vigência dos limites percentuais.

Outro ponto que merece reflexão no texto dessa Portaria é o estabelecimento, como já descrito no § 2º, de limites precários de tensão na faixa inadequada, o que é frontalmente antagônico com o objetivo de serviço adequado e mais precisamente com o conceito do que é adequado. Poderiam ter sido definidos limites inadequados, simplificando o tratamento da questão.

De qualquer forma, torna-se oportuno verificar a definição dos dois conceitos, adequado e precário, extraída de Dicionário Novo Aurélio, Século XXI:

“Adequado: Adj.

1. Apropriado, próprio, conveniente. 2. Acomodado, ajustado, adaptado. 3. Conveniente, oportuno.

4. Filos. Diz-se de uma representação que tem exata correspondência ou conformidade com o seu objeto.”

“Precário:

[Do lat. precariu, 'concedido por mercê revogável'.] Adj.

1. Difícil, minguado, estreito.

2. Escasso, raro, pouco, insuficiente.

3. Incerto, vário, contingente; inconsistente. 4. Pouco durável; insustentável.

5. Delicado, débil”

Assim, em uma observação preliminar, pareceu estranha a fixação de limites precários, porquanto na medida em que é antagônico com o de limite adequado, tornando inadmissível a permanência dos mesmos na regulamentação, com previsão de prevalecer apenas na situação descrita no referido § 2º e no caso de manobra para transferência de carga, ou defeito em equipamento, com duração inferior a 5 (cinco) dias.

Por outro lado, naquele momento, foi entendida a necessidade de segmentação do que é adequado e do que não é. Nesse sentido, a introdução dos limites precários prosperou ao longo do tempo de regulação não-participativa, sendo assimilado na atual Resolução ANEEL nº 505, de 26 de novembro de 2001, e, inclusive, ampliado com os limites críticos.

A ementa e preâmbulo da Resolução ANEEL nº 505, de 26 de novembro de 2001, exigem alterações de forma a evidenciar, de forma inequívoca, a definição clara de sua destinação e toda a cadeia regulatória já citada sobre a qual deve estar respaldada a regulação da matéria e ainda, visando esclarecer, de vez, a diferenciação entre continuidade do fornecimento e qualidade da energia elétrica, bem como produto e serviço. Da mesma forma que a Resolução ANEEL nº 505/2001, a nova resolução deve também sinalizar para a indispensável audiência pública, porquanto é uma ferramenta indispensável para proporcionar a oferta de contribuições adicionais de todos os segmentos da sociedade.

No artigo 1º deve ser excluída a citação do Operador Nacional do Sistema (ONS), da obrigação de observar as disposições da norma, em face de que este comando deve ser localizado no Manual de Procedimentos de Rede e, ao mesmo tempo, incluir o consumidor, porquanto este também pode ser responsável por distúrbios ou danos no sistema elétrico da concessionária ou nas instalações e equipamentos eletroeletrônicos de outros consumidores adjacentes. Ainda, deve também estender o alcance da norma aos fenômenos sob regime transitório.

No capítulo “das definições” evidencia-se a necessidade de adequações e ajustes em relação à legislação do setor elétrico, bem como acréscimos, sendo exemplos destes últimos: transitórios impulsivos e oscilatórios, variações de curta duração (interrupção transitória, afundamento e elevação de tensão), variações de longa duração (interrupção sustentada, sub e sobretensão), desequilíbrios, distorção da forma de onda (harmônicas, corte de tensão e ruído), flutuação de tensão.

No capítulo da “classificação da tensão” impõe-se a necessidade de transferir o tratamento entre agentes e ONS, assunto a ser incluso nos procedimentos de rede do ONS, ficando a norma restrita às unidades consumidoras com fornecimento em tensão inferior a 230 kV e a concessionárias e permissionárias de distribuição. Aditivamente, enseja a necessidade de obedecer ao limite de tensão de fornecimento consoante disposto no Decreto nº 62.724/1968, em pleno vigor, ou seja, inferior a 2,3 kV para unidades consumidoras do Grupo B, e ainda, igual ou superior a 2,3 kV para unidades consumidoras do Grupo A.

Quanto ao capítulo dos “indicadores individuais”, verifica-se a necessidade de revisão conceitual, eliminando-se o termo “duração” e aplicando o conceito de um indicador individual, tendo em vista tratar-se de parâmetro adimensional. Ao mesmo tempo, há a necessidade de definir a formulação de novos índices que venham ao encontro da implementação do trato das demais anomalias da tensão.

No capítulo “dos critérios de medições solicitadas”, haverá necessidade de desenvolver análise mais acurada e fixar critérios equilibrados, porquanto implica em aspectos de procedimentos de responsabilidade de assunção tanto pelo consumidor quanto pela concessionária.

Para o capítulo “do registro dos dados de medições solicitadas” evidencia-se a necessidade de acrescentar dados das novas anomalias objeto da norma. Da mesma forma, encontra-se a necessidade de revisão e inclusão de novos parâmetros para o capítulo “do indicador coletivo”.

No que respeita aos capítulos seguintes denominados “dos critérios de medição amostral” e “do registro dos dados de medições amostrais”, “do envio dos indicadores obtidos da medição amostral”, “dos requisitos dos equipamentos de medição” valem as mesmas observações.

Quanto aos três capítulos seguintes “dos prazos para a regularização dos níveis de tensão”, “da compensação pelo serviço inadequado” e “da informação na fatura” verifica-se a necessidade de colocar-se na condição do consumidor, mais uma vez, dentro do FOCO DO CONSUMIDOR, buscando fixar critérios mais equilibrados na relação com a concessionária.

Finalmente, no capítulo “das disposições transitórias”, devem ser estabelecidas novas condições direcionadas ao novo medidor, o qual, além das grandezas faturáveis (energia elétrica e demanda), deve acumular todas as informações sobre a qualidade da energia elétrica recebida, detalhando aspectos de conformidade com os respectivos indicadores, definição de um período adequado do arquivo de dados compatível com o período mínimo de 90 (noventa) dias em conformidade com o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, valores de penalidades aplicáveis ao responsável pela operação do sistema ou equipamento da unidade consumidora, que provocou o distúrbio redutor da qualidade da energia.

No contexto da regulação atual, é preciso considerar também que, unidades consumidoras nas mesmas condições de utilização do serviço, isto é, na mesma tensão nominal e sob a mesma tarifa, estão sujeitas ao recebimento de energia com tensão elétrica diferente, diferença esta maior quanto mais distante estiver uma da outra no circuito elétrico da rede de distribuição. Não é possível continuar permitindo esse quadro tão desequilibrado e excludente da boa qualidade da energia elétrica, com situações em que a Resolução ANEEL nº 505/2001 considere adequadas, por exemplo, uma tensão de fornecimento de

220 V a unidade consumidora monofásica localizada próxima ao transformador e uma tensão de 201 V a outra unidade localizada ao final do mesmo circuito secundário de distribuição.

A Resolução ANEEL nº 505/2001 apresentou, em relação à Portaria DNAEE nº 47/1978, um formidável elenco de virtudes que devem ser destacadas: estabeleceu os primeiros indicadores de qualidade, implementou metodologia de verificação instantânea de tensão vinculada a procedimentos regulatórios e de verificação por amostragem com posterior fixação de procedimentos corretivos, bem como fixou prazos e penalidades compensatórias, embora estas ainda de valor comparativamente muito pequeno.