• Nenhum resultado encontrado

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.3 – VISÃO E QUALIFICAÇÃO DOS CONSUMIDORES

Neste contexto e considerando os objetivos deste trabalho, algumas questões impõem-se e precisam ser registradas e analisadas:

▬ Na época do início da prestação do serviço público de eletricidade no Brasil (1879 a 1899), qual seria a preocupação do “interessado na sua utilização” com a qualidade da energia elétrica?

A resposta que se pode elencar com certeza é: nenhuma. Afinal, quem não tinha acesso à energia elétrica estava interessado na sua utilização. O pretenso consumidor, absolutamente nada conhecia sobre energia elétrica. Conceitos de tensão, corrente elétrica, freqüência, potência não eram, portanto, sequer conhecidos. Como só é possível discorrer daquilo que se conhece, o interessado não tinha condições de posicionar-se em relação à qualidade desse novo “produto”, porquanto nada sabia a respeito da energia elétrica,. Além desse fato, não havia outras fontes de informações, neutras e imparciais, a exemplo de consultorias, para que o consumidor pudesse obter orientações adequadas. Ainda, registra- se que o consumidor não tinha acesso a equipamentos que pudessem medir grandezas elétricas e destarte, avaliar a qualidade da energia elétrica recebida.

Formulemos então nova questão com outro foco:

▬ Naquela época, qual a preocupação do “consumidor” com a qualidade da energia elétrica?

Aqui a resposta enseja algumas reflexões, antes de ceder à ânsia de responder de imediato a questão interposta. É certo que o consumidor sabia que o “produto” era novo e estava sendo ofertado em pouquíssimas áreas e, portanto, sabia também que muitas outras pessoas gostariam de dispor e de utilizar o mesmo. Também é certo que o consumidor ainda não

detinha informações sobre os referidos conceitos citados na resposta anterior. Afinal, até hoje a grande maioria dos consumidores também não sabe, embora tenha aprendido a reclamar mais e sabe da existência da Lei nº 8.078/1990 – Código de Proteção e Defesa do Consumidor, de entidades de proteção (PROCON), Agência Reguladora, entre outros. É verdade, o ambiente era outro e além de não saber, não havia leis e regulamentos estabelecendo parâmetros, critérios, procedimentos, penalidades, etc. Assim, com este cenário, depreende-se que a qualidade da energia elétrica ainda não podia ser percebida pelo consumidor, nem mesmo pela sociedade e pelo governo. Nesse ambiente, tudo ainda era muito insipiente.

Assim, no que respeita ao conhecimento do consumidor, quais os fatos que ocorreram no período de 1910 até 2007 e que interferiram na evolução? Efetivamente, podem ser elencados muitos acontecimentos e em vários campos, ao longo de quase um século. Exemplificando, tem-se: i) incremento dos atos regulatórios, autorizativos e institucionais, Decretos nº 24.643/1934 (Código da Águas), 41.019/1957 (Regulamento dos serviços), 62.724/1968 (Normas gerais de tarifação), 86.463/1981 (Tarifas horo-sazonais), 2.335/1997 (Constitui a ANEEL), Leis nº 8.631/1993 (Níveis de tarifas, extingue a remuneração garantida e institui os Conselhos de Consumidores), 8.987/1995 (Regime de concessão e permissão de serviços públicos), 9074/1995 (Outorga e prorrogação de concessões), 9427/1996 (Institui a ANEEL), 10.438/2002 (Expansão da oferta de energia emergencial, recomposição tarifária extraordinária), 10.848/2004 (Comercialização de energia elétrica) e tantos outros, 8 (oito) Portarias e uma Resolução, todas sobre Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica e em apenas nos últimos 50 (cinqüenta) anos; ii) aumento da oferta de cursos profissionalizantes, para formação de Eletricistas e Eletrotécnicos; iii) aumento do número da oferta de curso superior em Engenharia Elétrica; iv) aumento do número de órgãos oficiais e privados de proteção e defesa do consumidor.

Nesse sentido, é importante exercitar o conhecimento dos diferentes “tipos de consumidores” no momento atual, em relação ao quesito qualidade da energia elétrica. Para tanto, é possível arrolar os seguintes tipos baseados em seu conhecimento e formação intelectual:

1) Consumidor analfabeto: não tem conhecimento e nem noção do que vem a ser eletricidade, nem suas grandezas. Não tem condições de discutir o assunto e não reclama da qualidade do produto. No máximo, reclama quando falta energia elétrica;

2) Consumidor alfabetizado, com grau de instrução do ensino fundamental: da mesma forma que o anterior, não tem noções de eletricidade, mas em função de sua alfabetização, tende a exigir a prestação de um serviço de melhor desempenho, inclusa a continuidade, e identifica alguns aspectos relativos à qualidade;

3) Consumidor eletricista com curso de formação em escola profissional de ensino fundamental ou com formação escolar de ensino médio completo: conhece conceitos de eletricidade e suas principais grandezas tais como, tensão, corrente elétrica, freqüência e potência, tendo inclusive conhecimento básico das 3 (três) áreas da eletricidade, ou seja, eletrostática, eletrodinâmica e eletromagnetismo. Conhece seus direitos, reclama da qualidade e da continuidade, entretanto, não conhece aspectos e conceitos específicos vinculados à qualidade da energia elétrica, a exemplo de transitórios, variações de tensão, afundamentos, saltos, sobre e subtensões, desequilíbrios, distorções, cortes, flutuações, etc;

4) Consumidor com ensino médio completo e escola profissionalizante (Eletrotécnico): características similares ao tipo descrito na alínea anterior, porém seu conhecimento é mais avançado, inclusive quanto aos aspectos e conceitos vinculados à qualidade da energia elétrica citados no item anterior. Há casos de Eletrotécnicos que têm experiência por atuar em áreas específicas de concessionárias ou empresas particulares com a qualidade da energia elétrica;

5) Consumidor com curso superior completo, porém não em Engenharia Elétrica: possui características similares ao do item 3 retrocitado, porém com maior condição intelectual de exigir a prestação de um serviço de melhor qualidade;

6) Consumidor com curso superior completo em Engenharia Elétrica, sem especialização em qualidade de energia elétrica: estudou os conceitos relativos à qualidade da energia elétrica e portanto, conhece os fenômenos que a afetam. Entretanto, dado o universo da Engenharia Elétrica e considerando que trabalhou sempre em outras áreas, não detém conhecimentos aprofundados da matéria. Como consumidor, costuma exigir a prestação do

serviço com qualidade, especialmente no que se refere aos indicadores da tensão elétrica estabelecidos em regulamentação específica do órgão regulador, a ANEEL; e

7) Consumidor com curso superior completo em Engenharia Elétrica, com especialização em qualidade de energia elétrica: reúne características similares ao consumidor descrito na alínea anterior, porém é um atuante da causa “fornecimento de energia elétrica com qualidade”. Em resumo, estuda o tema, reclama com fundamentação, produz trabalhos intelectuais, oferece contribuições para o setor elétrico brasileiro. Enfim, é uma preciosidade para a defesa da questão e para a implementação de mudanças direcionadas à melhoria da qualidade da prestação do serviço público de energia elétrica.