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4. Interpretação dos dados coletados, tratados e categorizados

4.1. Posicionamento crítico reflexivo do educando, acerca das questões que

Durante as entrevistas e observação participante, constatamos pontos em comum nos relatos dos sujeitos, no que se refere à existência de uma visão reflexiva e contextual dos problemas concernentes à produção e descarte de lixo no povoado, todos trouxeram a descrição da articulação de conhecimentos construídos de forma coletiva, com diálogo e interação entre alunos e comunidade, quando estes afirmam detalhes da participação nas ações de projetos de educação ambiental ao descreverem a nova visão que agora têm das

temáticas discutidas, que lhes renderam novos conhecimentos, a exemplo dos efeitos e da necessidade da coleta seletiva dos resíduos produzidos.

Assim, constatamos que esta interatividade é uma forma eficaz de aprendizagem, pois gerou resultados expressos em mudanças de comportamento diante das discussões acerca do lixo, oriundo de processos que consideram a pluralidade de opiniões, de experiências, despertando o interesse dos sujeitos pelos problemas da localidade. Na visão de Vygotsky, (1989) todo conhecimento é construído socialmente, no âmbito das relações humanas, segundo este autor “o saber que não vem da experiência não é realmente saber”, e que “na ausência do outro, o homem não se constrói homem”.

Esta constatação, nos conduz a uma consciência da nossa dependência do outro e que ao interagir com a comunidade, os alunos aprenderam ensinando num contexto novo. Neste sentido, Fino (2010) coloca à luz da inovação pedagógica, que é preciso, a “criação de contextos de aprendizagem, incomuns relativamente aos que são habituais nas escolas”. E que alunos e professores são responsáveis pela “criação de contextos de aprendizagem, incomuns relativamente aos que são habituais nas escolas”. Assim, durante a pesquisa, pudemos presenciar momentos práticos, que nos remetem à constatação da visão reflexiva dos sujeitos, no contexto deste estudo.

Um fato revelado na realização de uma das atividades extra classe foi, a caminhada com panfletagem pelas ruas do povoado. Esta ação pedagógica promoveu a troca de conhecimento entre estudantes e a comunidade, pois o momento de distribuição dos panfletos promoveu uma reflexão crítica por parte dos sujeitos envolvidos, a respeito da degradação ambiental na localidade. Nesta direção, Papert (1996, p.43) diz que "a aprendizagem é mais bem sucedida quando o aprendiz participa voluntária e empenhadamente”.

Assim, identificamos indícios de inovação pedagógica pelo fato da constatação de mudança comportamental não somente no âmbito escolar, mas com reflexos na comunidade em que os estudantes apontam momentos marcantes, durante o trabalho colaborativo na orientação dada aos moradores, refletido na afixação voluntária de lixeiras e placas educativas no comércio e pontos do povoado. Eles apontam ainda, que a percepção do conhecimento sobre a referida temática, apesar de ser amplamente discutida pela mídia, a comunidade só passou a refletir sobre estes assuntos, coleta seletiva, quando a escola através dos alunos, incentiva a participação dos moradores nas reuniões, nas ações e quando

passa a integrá-los nas discussões sobre este e outros temas e aspectos ligados à degradação ambiental.

Este contexto nos remete ao conceito de construcionismo, conforme ilustra Papert ao citar o “provérbio africano: “seum homem tem fome, você pode dar-lhe um peixe, mas é melhor dar-lhe uma vara e ensiná-lo a pescar” (2008, p. 134). O que se contrapõe ao instrucionismo habitual, no qual o professor, simplesmente, transmite os seus saberes, privando segundo Papert, “a criança de uma oportunidade para a descoberta” (ibidem). A referida situação de interatividade entre alunos e comunidade os coloca numa situação de certa autonomia na construção dos saberes dentro do contexto experienciado e totalmente fora do sistema quadro e giz, professor transmissor do saber.

Dentro deste contexto, os estudantes descrevem as ações em que se envolveram com a comunidade num processo de orientação à mesma, sobre algumas questões ambientais. De forma critico reflexiva eles declaram a percepção que passaram a ter, das questões ambientais relativas ao lixo e da evolução significativa nos avanços e necessária continuidade das estratégias de segregação, destino e reutilização do lixo, numa reflexão crítica ao desperdício, expressos também nos trabalhos artísticos de reciclagem e reaproveitamento dos resíduos.

A reflexão que foi apontada pelos alunos é manifestada ainda, na fala dos representantes da comunidade, quando estes dizem da importância e do quanto aprenderam e mudaram suas práticas e agora com nova visão, tratam a questão do lixo numa perspectiva mais consciente, ainda que sutil. Tais transformações dão uma conotação de superação das práticas pedagógicas habituais e nos remetem ao que pontua

Fino, (2011, p. 5). “a inovação pedagógica só se pode colocar em termos de mudança e de transformação. Transformação da escola e dos seus pressupostos fabris”.

Outro momento que demonstra um estímulo à reflexão crítica das situações que envolvem a produção de resíduos sólidos se deu na observação das produções colaborativas nos trabalhos em grupos, dentro e fora da sala de aula, a exemplo da participação autônoma e interativa na gincana ecológica, que além de uma total quebra da rotina da sala de aula, oportuniza a expressão dos saberes construídos pelos aprendizes, através das atividades socioeducativas com ênfase nas expressões artísticas, cultural e manifestação da criatividade, em que retratam, entre outros aspectos o cuidado com o meio em que vivem.

Ficou perceptível o sentimento de cuidado e interesse dos estudantes e comunidade em ver o povoado reduzir os resíduos dispersos, a partir da visão macro que os mesmos passaram a ter dos problemas ambientais existentes na comunidade. Visão construída a partir das discussões promovidas pela escola nas ações dos projetos de educação ambiental, que despertaram o sentimento de pertencimento, de cuidado para com a comunidade. Na descrição de Morin, (2006, p. 25). “Trata-se de procurar sempre as relações e interretroações entre cada fenômeno e seu contexto, as relações de reciprocidade todo/partes: como uma modificação local repercute sobre o todo e como uma modificação do todo repercute sobre as partes”.

Outro aspecto positivo e inovador que constatamos é o fato da comunidade sentirse integrada à escola, conforme relatam com satisfação e falam acerca da participação nas atividades promovidas pela instituição e sobre o que aprendem. Os mesmos demonstram ainda, o despertar para alguns cuidados com a localidade, no entendimento de que fazem parte dali e que, o zelo para com o povoado é inerente a cada cidadão no desempenho do seu papel, como membro participante do processo de preservação ambiental, o que foi percebido também no depoimento dos estudantes.

No âmbito dessa discussão, o indício de inovação pedagógica aparece nas mudanças de valores e atitudes expressas e experimentadas pelos atores sociais da comunidade estudada, decorrentes do trabalho interativo e contextual, o que se configura num evidente rompimento de conjunturas do ensino tradicional a que estão habituados, pois de acordo com FINO (2011), inovar pedagogicamente é,

romper com os contextos do passado e criar os contextos de que o futuro necessita, o que implica uma redefinição do papel dos aprendizes e dos professores, é, no essencial, a função da inovação pedagógica, constituída por práticas qualitativamente novas, que bem poderiam ser facilitadas ou estimuladas por mudanças curriculares e organizacionais deliberadas, embora essa seja outra questão (p. 7).

4.2. Elementos participativos e interativos que se fazem presentes nos processos de