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I. 2.2.3.1 Migração por obras de barragem

III.2 Possibilidades de deslocamento por barragem

Antes de analisarmos cada um dos casos eleitos, faz-se necessário elencar as possibilidades de deslocamento que normalmente são dadas aos atingidos pelo reservatório da barragem e os tipos de migração que a partir daí podem ocorrer. É importante considerar que as possibilidades de compensação descritas abaixo não são alternativas fixas que abrangem todos os casos de deslocamentos causados por barragem. Em função da lei brasileira não deixar especificadas as condições de reassentamento obrigatórias a todos os casos, conforme já analisado no capítulo 2, cada negociação envolvendo empreendedor e atingidos é que vai construindo a história das migrações forçadas por obras de barragem.

III.2.1 Deslocados não-reassentados

É importante notar que, mesmo entre as populações reconhecidas oficialmente como atingidas pelo projeto, nem todas recebem assistência para recomeçarem suas vidas em novas localidades.

“Algumas delas não são sequer indenizadas, nem recebem qualquer tipo de compensação” (Viana, 2003, p.106).

Conforme o relatório da WCD (2000, p.106), os reassentados na Índia variam entre menos de 10% dos fisicamente deslocados, no caso da barragem de Bargi, até 90% dos casos, considerando a barragem de Dhom. Além disso, o Banco de Dados da WCD tem registros de que muitas vezes este deslocamento involve força e coersão, em alguns casos, até assassinato (WCD, 1988, pp. 102-103). 38

38 Tradução da autora.

59 III.2.2 Deslocados reassentados

Conforme a WCD, (2000, p. 107)39 compensação é entendida como um conjunto de medidas específicas destinadas a transformar em ganhos as perdas sofridas por pessoas atingidas pelas barragens. Toma geralmente a forma de um pagamento em dinheiro ou espécie, como terra, moradia e outros bens. No grupo dos deslocados que receberam algum tipo de compensação pela perda de suas terras, encontram-se os subgrupos abaixo.

III.2.2.1 Compensação em dinheiro

Também conhecido como autorreassentamento, pode ser feito no meio rural ou urbano. Neste caso, o atingido individualmente recebe um pagamento em dinheiro para que adquira uma nova casa após assinatura de um contrato com a empresa. Os valores são fixados caso a caso, conforme cálculo realizado pela empresa, podendo esse valor ser ou não discutido ou negociado com o atingido. No caso dos reassentados rurais, a carta de crédito pode ou não incluir um valor que seria destinado a compra de material de construção e insumos agrícolas. Este dinheiro será utilizado como convém a família que deverá escolher seu futuro lugar de residência. No Brasil, é comum haver uma defasagem entre o valor justo e o valor pago na indenização (Viana, 2003, p.38)

“O pagamento em dinheiro é, via de regra, comprovadamente inferior ao custo da terra e, portanto, insuficiente para restaurar o modo de vida das populações” (Viana, 2003, p.39).

Várias são as razões que se podem apontar essa defasagem, entre eles: o fato de o valor da terra ser normalmente estimado com base em levantamentos desatualizados, a inflação verificada no período entre o levantamento de terras e o pagamento das mesmas e a falta de recursos ou empenho das autoridades em pagar quantias adequadas.

“Experiências com o reassentamento de grandes populações tendem a mostrar que o pagamento de dinheiro sozinho é muitas vezes uma forma inadequada de lidar com os desalojados. Em alguns casos, a indenização tem sido usada para fins de compensação imediata, deixando o deslocado sem nada para substituir sua terra e modo de vida perdidos, diminuindo a chance de geração de renda e oportunidades. Quando apenas poucas pessoas estão envolvidas, a compensação em dinheiro pode ser adequada, mas, mesmo nesse caso, o empreendimento deve colaborar com esses deslocamentos no sentido de ajudar a encontrar

60 casas alternativas, empregos e oportunidades. A assistência no deslocamento é necessária” (Banco Mundial, 1988, pp. 26-27). 40

Conforme Leturcq (2007, p.7), que analisou migrações causadas por hidrelétricas instaladas em estados do Sul do Brasil, este sistema é privilegiado pelas empresas, porque permite uma grande margem de manobra na medida em que os responsáveis pela

negociação tratam diretamente com as famílias e estas têm frequentemente tendência a subestimar o valor das indenizações.

III.2.2.2 Reassentamento individual rural

Neste caso, a família expulsa de suas terras ganha uma carta de crédito para instalar- se em outro meio rural. Ao invés do recebimento da indenização em dinheiro, a família recebe uma carta de crédito que deve ser usada para negociação de outra moradia. Dependendo de cada projeto, a carta pode ter valor fixo pré-determinado ou passar por uma negociação entre o atingido e a empresa. No caso da carta de crédito para reassentamento rural, ela pode incluir um valor para compra de material de construção e insumos agrícolas.

“Esta solução deveria ser acompanhada por técnicos e engenheiros, ajudando a família a se reinstalar. Na medida do possível, estas pessoas fazem frequentemente a escolha de permanecer próximo do seu antigo habitat” (Leturcq,2007, p.7).

III.2.2.3 Reassentamento individual urbano

Algumas famílias preferem, quando há essa oportunidade, receber uma carta de crédito urbana, que permita a compra de uma moradia na cidade. Também nesse caso, a família migrante deveria receber assistência para a instalação e para a busca de novos modos de vida e subsistência.

III.2.2.4 Reassentamento coletivo rural

Trata-se de reinstalar coletivamente as famílias expulsas todas em um mesmo meio rural. Assim como no caso do reassentamento rural individual, é bastante comum que as terras recebidas sejam de qualidade e quantidade inferior. Conforme a WCD (2000, p. 107):

“Locais de reassentamento são muitas vezes escolhidos sem levar em conta a disponibilidade de meios de subsistência, oportunidades ou as preferências das pessoas

61 deslocadas, que têm sido forçadas a se reassentarem em área degradadas e escassas de recursos naturais, geralmente próximas à área do reservatório. Tais terras rapidamente perdem sua capacidade para suportar a população reassentada”. 41

III.2.2.5 Reassentamento coletivo urbano

Embora pouco comum, também pode ser oferecido o reassentamento para os atingidos pelo reservatório em uma vila urbana, em geral construída pelo empreendimento.

III.2.2.6 Reassentamento em terras remanescentes

Pouco comum assim como a alternativa de reassentamento coletivo urbano, essa forma de compensação ocorre quando é oferecida a possibilidade ao atingido de permanecer nas franjas da reserva de água, juntando assim seu pedaço de terra a outros de proprietários que optaram em sair. Dessa forma, algumas pessoas não precisam abandonar seu lugar de vida.