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ESTUDO DA POSTURA CORPORAL HUMANA

3.1. Postura corporal: adequação e consequências

Nos dias atuais, problemas posturais são apontados como um sério problema de saúde pública, pois atingem uma alta incidência na população economicamente ativa, incapacitando-a temporária ou definitivamente para atividades profissionais (BRACCIALLI, VILARTA, 2000 apud OLIVEIRA et.al, 2008, p. 01).

De acordo com o Software Integrado de Gestão Ocupacional (SOC, 2015), a Pesquisa Nacional da Saúde, divulgada em 2014, concluiu que 18,5% da população adulta do Brasil é afetada por doenças crônicas na coluna, totalizando cerca de 27 milhões de pessoas e muitas dessas doenças estão relacionadas a má postura corporal. Os distúrbios localizados na região da lombar são os mais comuns e englobam 21% das mulheres e 15% dos homens. Segundo o Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into), a lombalgia normalmente manifesta-se na idade adulta e muitos casos estão relacionados com a má postura proveniente de ambientes de trabalho mal elaborados. Posturas incorretas ao longo do trabalho podem causar lesões na coluna e

consequentemente dores nas costas, sendo a última a doença que mais afetou os trabalhadores brasileiros em 2013. É de extrema importância orientar os trabalhadores sobre os riscos ocasionados pela postura indevida, contribuindo para potencializar os resultados da empresa e o bem-estar dos indivíduos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Ministério da Saúde, 53,6% dos brasileiros recorrem a tratamentos para combater as dores na coluna, que na maioria dos casos é decorrente de locais de trabalho deficientes (SOC, 2015). Conforme o Chartered Institute of Ergonomics e Human Factors (s/d), o local de trabalho precisa ser adaptado para o indivíduo e não o contrário.

A postura “é uma posição ou atitude do corpo, arranjo relativo das partes do corpo para uma atividade específica, ou uma maneira característica de alguém sustentar seu corpo” (KISNER e COLBY apud BITENCOURT, 2011 p.51). Ou seja, cada indivíduo utiliza uma postura em que seu corpo se sinta confortável para realizar os movimentos corporais. De acordo com Bracciali e Vilarta (2000 apud CAMPELO, 2003, p. 8) e segundo a Academia Americana de Ortopedia (AAOS), a postura é o estado de equilíbrio entre músculos e ossos com a capacidade para proteger as demais estruturas do corpo humano. Para Back e Lima (2009 apud KRANN 2012, p. 2) um bom controle postural, o qual demande poucos músculos e baixo consumo de energia conduz à boa postura.

Corroborando com os autores supracitados, o relatório do Posture Committee of the American Academy of ortopedic Surgeons (Comitê de Postura da Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos) (s/d apud KENDALL, 2007 p. 51) apresenta a seguinte definição sobre postura:

A postura geralmente é defenida como o arranjo relativo das partes do corpo. A boa postura é aquele estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas de suporte do corpo contra lesão ou deformidade progressiva, independentemente da posição (ereta, decúbito, agachada ou flexão anterior) na qual essas estruturas estão trabalhando ou repousando. Sob tais condições, os músculos funcionarão mais eficazmente e serão permitidas as posições ideais para os órgãos abdominais e torácicos. A má postura é uma relação defeituosa das várias partes do corpo que produz aumento da tensão sobre as estruturas de suporte e na qual existe um equilíbrio menos eficaz do corpo sobre sua base de suporte (COMMITTER OF THE AMERICAN ACADEMY OF ORTOPEDIC SURGEONS s/d apud KENDALL, 2007 p. 51).

De acordo com Dul (2004), a postura e os movimentos corporais são importantes na Ergonomia, tanto no dia-a-dia quanto no posto de trabalho, para realizar os movimentos e manter a postura firme, são acionados vários segmentos corporais (músculos, ligamentos e articulações), os músculos são responsáveis pela força que o corpo precisa para manter a postura e realizar os movimentos, os ligamentos desempenham o papel de sustentar o corpo e as articulações servem para o deslocamento das partes. Para Dul (2004) na manutenção da postura é importante evitar movimentos inadequados e forçados por um tempo prolongado, afim de evitar dores e lesões. Ainda conforme o mesmo autor, a postura corporal na maioria das vezes é estabelecida pela natureza da tarefa ou do posto de trabalho.

Segundo Gross, Fetto e Rosen (2000 apud JUNIOR e NASÁRIO 2011 p. 11851) a postura padrão é sustentada por músculos equilibrados, resistentes e flexíveis; articulações trabalhando adequadamente; equilíbrio e boas práticas posturais. A postura é um posicionamento do corpo com as articulações no espaço. Portanto, a postura mais adequada é aquela que o mínimo de esforço possível é aplicado nas articulações, impedindo a fadiga ou lesões mais graves. A postura correta requer tensão muscular e flexibilidade, já que os músculos precisam trabalhar contra a gravidade e em conjunto. Dessa forma, a má postura prejudica os músculos e suas funções (CESAR, 2004). Ainda segundo o autor, a postura é uma situação dinâmica, ou seja, o corpo se adequa aos estímulos e reproduz de forma imediata.

A postura mais apropriada para o trabalhador é aquela que ocorre de forma espontânea e que pode ser alternada no decorrer do tempo, dessa forma a criação dos postos de trabalho deve ser favorável a alternância de postura, especialmente a variação entre a postura sentada e em pé (BRASIL, 2001 apud FRANCESCHI, 2013 p. 79).

A postura correta deve ser aquela pela qual você sente-se livre e confortável. A relação que o indivíduo tem com seu corpo é refletida pela forma como ele se vê. A maioria dos hábitos incorretos resulta na imitação de modelos imperfeitos, portanto, ensinar teoricamente o modelo postural mais adequado e não modificar os hábitos não resolve. É preciso associar o modelo e o hábito postural para que o corpo entre em harmonia (BRACCIALLI, 2001).

Desequilíbrios musculares são motivadores para as mudanças posturais, uma vez que causam desarranjo no sistema musculoesquelético, esse desarranjo afeta o organismo que procura se reorganizar resultando na má postura (BIENFAIT,1995; MARQUES, 2000 apud GRAUP, 2008, p.29). Em consequência desse desequilíbrio, surge a fadiga muscular, que afeta diretamente a postura corporal tornando os movimentos descoordenados (YAGGIE e MCGREGOR, 2002 apud GRAUP, 2008, p. 29).

Segundo Iida (2005) a maioria das vezes que o trabalhador apresenta posturas inadequadas está relacionado a postos de trabalhos deficientes e às exigências da tarefa.

Os fatores determinantes nas tarefas do trabalhador que provocam as lesões ou sensações de incômodo são causados por posturas indevidas, neste caso, quando o trabalhador exerce muita força, executa movimentos rápidos e repetitivos por um longo período, sem pausas para descanso, além de realizar esforço dinâmico pesado com vibração localizada (ERGOWEB, 2005, apud JUNIOR, 2006, p. 2). De acordo com o mesmo autor, estas circunstâncias associadas às características ambientais como calor, frio, iluminação e ruído e também causas extras como estresse, demanda cognitiva e carga de trabalho, aceleram as chances das LER/DORT´s.

Mudanças posturais estáticas são apontadas como um problema na saúde pública, sobretudo porque atingem a coluna vertebral, e podem ser um fator propenso às condições degenerativas da coluna vertebral. Dependendo da intensidade, podem causar inépcia as atividades diárias (SEDREZ, ROSA, NOLL, MEDEIROS e CANDOTTI, 2015).

A má postura compreende uma tensão demasiada nas unidades funcionais (músculos, tendões e ossos), ocasionada pela contração muscular expandida, para garantir a fixação dos segmentos corporais. Esta contração exagerada pode ocasionar o encurtamento e a fraqueza muscular, e estes fatores podem causar esforço demorado e insuficiência ligamentar, que são referentes ao desconforto e a inabilidade funcional (CAMARGO, 2007).

O sistema musculoesquelético pode ser sobrecarregado por uma sequência de pequenos traumas, (ou microtraumas) que se analisados separadamente, não provocam prejuízos para o indivíduo, mas, seus resultados cumulativos podem causar a sobrecarga, ocasionando os distúrbios musculoesqueléticos, que podem ser evitados com a diminuição de atividades forçadas e uma postura corporal adequada (KROEMER, 2005 e KENDALL et. al, 2007).

De acordo com Kroemer (2005, p. 19), os distúrbios musculoesqueléticos referentes a trabalhos estáticos excessivos e repetitivos podem aumentar o risco de:

▪ Inflamação nas articulações, em consequências da exaustão mecânica;

▪ Inflamação nos tendões ou nas extremidades dos mesmos, podendo causar tendinites ou tenossinovite;

▪ Inflamações nos tecidos que revestem os tendões;

▪ Processos crônicos degenerativos nas articulações, comumente chamadas de osteoartrose ou artrose;

▪ Contração muscular (cãibras);

▪ Problemas nos discos intervertebrais, conhecido por hérnia de disco.

Para Kendall (2007) atividades contínuas dos membros, relacionados a tarefas ocupacionais ou outras atividades, resultam em muitas distensões musculares, que são processos inflamatórios ou comprometimentos nervosos que ocasionam condições leves a debilitantes.

Segundo Bankoff (2004), a manutenção de uma postura ereta, flexionada para frente em 30º, aumenta acentuadamente a tensão intradiscal e demanda excessivo esforço muscular. Logo, uma frequente postura diária prolongada pode ser um fator incriminante na dor lombar. Para Iida (2005), as dores na região lombar são comumente chamadas de lombalgias e ocorrem em posturas de trabalho muito inclinadas para a frente. Ainda segundo o autor a principal causa dessa dor é a fadiga da musculatura, que ocorre quando o trabalhador se mantém muito tempo na mesma postura.

Segundo Kroemer, (2005) manusear cargas em movimentos de levantar, abaixar, carregar segurar normalmente envolve muito esforço estático e dinâmico que requerem posturas forçadas, é considerado um trabalho pesado que causa desgaste da coluna. De acordo com o mesmo autor o desgaste da coluna ocasiona a degeneração dos discos intervertebrais, essas mudanças achatam os discos podendo afetar a mecânica da coluna ou podem causar problemas mais graves como hérnias de disco.

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