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Gottfried Wilhelm Leibniz nasce e morre na região conhecida atualmente como Alemanha, onde passou a maior parte de sua vida. É registrado com o nome Gottfried Wilhelm Leibnütz,e aos vinte anos, não se sabe exatamente por qual motivo, mais tarde passa a se identificar como Leibniz. Ross (1984), comenta este fato afirmando que “Leibniz mudou a forma de seu nome de ‘-ütz’ para ‘-iz’: ele nunca usou a forma ‘-itz’, que se tornou a normal em sua vida e só recentemente saiu de moda.” (ROSS, 1984, p. 11). Chega ao mundo em 1º de julho de 1646, na cidade luterana de Leipzig, localizada na região da Saxônia, que na época fazia parte do Sacro Império Romano-germânico e é provável que alguns aspectos religiosos, sociais e políticos destes territórios tenham influenciado suas ideias. Vem a falecer após setenta anos, em 14 de novembro de 1716 na cidade de Hanôver, depois de ter passado uma semana acamado, vítima de gota. Essa doença é conhecida como a doença dos reis ou enfermidade dos patrícios. Manifesta-se pela formação de cálculos renais, inflamação articular e depósitos de cristais de ácido úrico no tecido celular subcutâneo e ataca em crises causando cólicas. Supõe-se que era causada, na época, devido à intoxicação pelo chumbo presente nos alimentos e no vinho, já que o excesso de chumbo influencia na excreção do ácido úrico pelos rins.

O Sacro Império Romano-Germânico era composto por uma infinidade de lugarejos submetidos a diferentes formas de domínio, dentre as quais reinados, principados, ducados, eleitorados e condados. Vigente do século XIII ao início do século XVII englobava os países atualmente conhecidos como Alemanha, República Tcheca, Suíça, Áustria, Liechtenstein, Bélgica, Luxemburgo, Eslovênia, Países Baixos, parte da Polônia, França e Itália.

Com o advento da Reforma Protestante, cujo auge ocorre no início do século XVI, os habitantes do Sacro Império Romano-germânico ficam divididos em católicos e protestantes. Alguns soberanos passam a impor sua religião à localidade por ele governada, reprimindo qualquer tipo de manifestação ou crença diversa. Isto causa transtornos e obriga os habitantes de determinada região a construir lares em outras localidades para que possam exercitar suas crenças religiosas. Aqueles que não o fazem permanecem sujeitos às perseguições do soberano local. A situação é de constante tensão e instabilidade, ambiente propício para deflagração de conflitos de maiores grandezas. Em 1618, tem início a batalha que mais tarde seria conhecida como Guerra dos Trinta Anos. Esta guerra representa o confronto entre a hegemonia da igreja católica e a nova igreja protestante. Aparentemente, a causa do desencadeamento da guerra é a defesa da liberdade religiosa, mas motivos de cunho político envolvendo disputas de poder também contribuem para o estopim do conflito. Segundo alguns historiadores, uma motivação da Guerra dos Trinta Anos é o fato de os nobres da Boêmia, região que hoje faz parte da República Tcheca, elegerem para seu rei um monarca protestante em detrimento de Ferdinando II, grão duque da Áustria. A Boêmia é predominantemente protestante e Ferdinando II, o principal pretendente ao trono boêmio, é católico e sabidamente pretendia limitar as liberdades religiosas da região, sendo por este motivo rejeitado. A rejeição a Ferdinando, somada a um ataque contra seus enviados à Boêmia, transformou-se, segundo tais historiadores, no estopim da guerra. Certamente este é um motivo meramente pontual pois a disputa religiosa entre a reação católica e a Reforma Protestante já vinha se estabelecendo antes do início desta guerra. Ao longo do tempo, contudo, os motivos da guerra vão tomando outros rumos, culminando com a disputa do poder entre os governantes dos territórios que hoje são ocupados pela França e Suécia, que querem expandir sua influência. A Guerra

dos Trinta Anos é um dos mais violentos conflitos da história da humanidade, causando cerca de oito milhões de mortes e deixando para trás um território arrasado, especialmente a parte que equivale à atual Alemanha. Cidades e aldeias inteiras desaparecem e inúmeras propriedades são destruídas. Muitos sobreviventes deixam a região no intuito de reconstruírem suas vidas em outro lugar.

Leibniz chega ao mundo neste ambiente – ele nasce dois anos antes do fim da Guerra dos Trinta Anos. Naquele momento, não há, portanto, o que possa ser chamado de nação alemã, o conjunto de localidades que vem a constituir esta nação encontra-se dividido e enfraquecido. Cabe frisar que a unificação da Alemanha enquanto Estado Nacional consuma-se apenas no ano de 1871 e, antes disso, apesar de haver povos compartilhando a língua e os costumes alemães, não se pode falar em estado alemão. Devemos levar em consideração que uma situação como esta não muda rapidamente. Disto se infere que Leibniz vive num ambiente de conflitos no qual não pode vislumbrar uma coexistência pacífica entre as diferentes crenças religiosas. Provavelmente, esta situação o motiva a basear sua filosofia num ideal de união e paz.

Atualmente Leibniz é considerado um polímata, ou, como é chamado pelos alemães: um universalgenie (gênio universal). Conforme o pensamento de Dilthey, Leibniz, assim como Platão e Aristóteles realiza a missão suprema da filosofia, qual seja, a de elevar “[...] a cultura duma época à consciência de si mesma e à clareza sistemática, aumentando o poder desta cultura [...]”. (DILTHEY, 1947, p. 35).

Considerá-lo um polímata se justifica pelo fato de que, durante sua vida, desenvolve teorias abrangendo diversos temas, legando importantes contribuições ao que hoje conhecemos como matemática, filosofia, lógica, física, direito, política, mecânica, metafísica, lingüistica, teologia e história. Tal como é comum na literatura, utilizamos uma classificação atual para identificar seus estudos.

No que se refere à segmentação das áreas do conhecimento, Francis Bacon (1561-1628) na obra, The Advancement of Learning 17 (O progresso do

17 O título original completo da obra é The proficience and advancement of learning: divine e humane (Da proficiência e do progresso do conhecimento: divino e humano). Bacon escreve

conhecimento), de 1605 apresenta ao longo do texto uma nova categorização, para a época, com relação às ciências, além de defender a excelência do conhecimento. Ele adota quatro critérios para classificar o conhecimento. O primeiro critério leva em conta a memória, a imaginação e a razão. Afirma que “[...] as partes do conhecimento humano fazem referência às três partes do entendimento humano, que é a sede do saber: a História à sua Memória, a Poesia à sua Imaginação e a Filosofia18 à sua Razão” (BACON, 2007, p. 112).

O segundo critério leva em conta a individualidade e a generalidade das descobertas, ligados respectivamente à História e à Filosofia. Outra forma de distinção que Bacon adota, o terceiro critério, diz respeito à divisão entre teoria e prática, conhecimento e ação, que ele denomina especulativo e operativo. Aplica este critério apenas à Filosofia. O quarto critério leva em conta o divino e o não divino, o qual é subdividido de modo aparentemente indefinido entre natural, humano e civil (ou social). Este último critério de divisão dos saberes reflete sua maior preocupação que é separar a filosofia da teologia, a razão da fé. Esta visão está na base de sua contribuição para a configuração da modernidade. Para ele,

O conhecimento humano é como as águas, as quais umas descem do alto e outras brotam de baixo; de um lado está informado pela luz da natureza, de outro inspirado pela revelação divina. A luz da natureza consiste nas ideias da mente e nas notícias dos sentidos; porque o conhecimento que o homem recebe do ensino é cumulativo e não original, como a água, que além de sua própria fonte se nutre de outros mananciais e correntezas. Assim, pois, em conformidade com estas duas iluminações ou origens, o conhecimento se divide primeiro em Teologia e Filosofia. (BACON, 2007, p. 136).

Quanto à História, Bacon a divide em História Natural, Civil, Eclesiástica e Literária. Considera que a História da Cosmografia é uma mistura de História Natural, Civil e Matemática. Ao longo da obra, ele estabelece diversas outras

esta obra em inglês, pois “[...] pretendia, assim, atingir um público mais amplo, objetivando ganhar apoio para a grandiosa empresa científica que projetava; tinha consciência de que o trabalho científico era algo muito dispendioso e não poderia ser realizado por um único indivíduo.” (ANDRADE, 1999, p. 09).

18 Bacon se refere indistintamente à Filosofia e à Ciência. Na obra O progresso do conhecimento utiliza tanto o termo Filosofia Natural quanto Ciência Natural para identificar a

subdivisões de cada uma dessas partes da História. Para ele, História é a história do mundo que tem por tarefa descrever e apresentar o estado geral do saber ao longo das épocas, com o propósito de “[...] tornar sábios os doutos no uso e administração do saber [...]” (BACON, 2007, p. 113). Afirma ainda que deveria existir

[...] uma história correta do saber, onde se contenham as antiguidades e origens dos conhecimentos e suas seitas; suas invenções, suas tradições, suas diferentes administrações e seus cultivos; seus florescimentos, suas oposições, decadências, diminuições, esquecimentos, desaparições, com as causas e ocasiões destes, e todos os demais eventos relacionados com o saber, ao longo das idades do mundo [...] (BACON, 2007, p. 113)

Em relação à Poesia, afirma que ela deve ser sumamente livre, a não ser quanto à medida das palavras e é tomada em dois sentidos: no que diz respeito às palavras, incluída, então, na arte da Retórica, ou no que diz respeito ao conteúdo, sendo então parte da História Simulada. Divide a Poesia em Poesia Narrativa, que é uma mera imitação da história; Representativa ou Dramática, que é como uma História Visível; e Alusiva ou Parabólica, que é utilizada quando se quer expressar algum propósito ou ideia particular.

Quanto à Filosofia, Bacon inicialmente a subdivide de acordo com o modo de contemplação pelo homem, podendo este olhar se dirigir a Deus, à Natureza ou ao próprio Homem estabelecendo respectivamente a Filosofia Divina, a Filosofia Natural e a Filosofia Humana ou Humanidades. Adiante, se refere a elas como Radius Refractus, Radius Directus e Radius Reflectus. Porém, antes de discorrer sobre cada uma dessas filosofias, observa a necessidade de estabelecer e constituir uma “[...] ciência universal, que, com o nome de Philosophia Prima, filosofia primitiva ou suprema, seja como a via principal ou comum que há antes que os caminhos se dividam e separem.” (BACON, 2007, p. 136). Nela estão encerrados os princípios e axiomas comuns que são gerais e indiferentes para as diversas ciências. Um dos exemplos que utiliza para justificar essa noção é que a regra “Se a coisas desiguais se acrescentam coisas iguais, as somas serão desiguais” (“Si

inaequalibus aequalia addas, omnia erunt inaequalia.”) (BACON, 2007, p. 137,138) serve tanto para a Matemática quanto para a Justiça.

No que diz respeito à Filosofia Natural, Bacon a subdivide em Física e Metafísica. Afirma que na Física se estuda o que está inserido na matéria, sendo, portanto, transitório, e que ela se ocupa do que só admite na natureza uma existência e um movimento. Na Metafísica se estuda o que é abstrato e fixo, se ocupando do que supõe na natureza uma razão, um entendimento e um plano. Com essa classificação, Bacon distingue a Metafísica da Teologia e também da Filosofia Suprema. Ainda nessa obra, Bacon situa a Física, que descreve “[...] as causas fixas e constantes [...]” (BACON, 2007, p. 146), num termo médio entre a História Natural, que descreve “[...] a variedade das coisas [...]” (BACON, 2007, p. 146) e a Metafísica. Assim, a História Natural faz parte também da Filosofia Natural. Ele compara os conhecimentos a pirâmides que têm por base a história; “[...] assim da Filosofia Natural a base é a História Natural, no andar seguinte a base é a Física, e no andar contíguo, o ápice, é a Metafísica.” (BACON, 2007, p. 150).

A História da Natureza é dividida por Bacon em História das Criaturas, História das Maravilhas e História das Artes ou História Mecânica, conforme se refiram à natureza em seu curso normal, à natureza em seus erros e variações e à natureza alterada ou trabalhada, respectivamente. Segundo ele, o uso da História Mecânica é o mais fundamental para a filosofia natural

[...] pois, não só ministrará e sugerirá para o presente muitas práticas engenhosas em todas as indústrias, mediante a conexão e transferência das observações de uma arte à prática de outra, uma vez que as experiências de diversos mistérios sejam submetidas à consideração de uma mesma pessoa, mas que além disso, dará uma iluminação mais verdadeira e real sobre as causas e axiomas que até agora se alcançou. (BACON, 2007, p. 117)

Em relação à Matemática, Bacon a coloca como um ramo da Metafísica. Considera que o objeto de estudo da Matemática é a Quantidade Determinada

ou Comensurada, que é uma das Formas Essenciais das coisas19. Os estudos

relativos à Quantidade indefinida seriam algo relativo à Philosophia prima, ou, Filosofia suprema. Ainda, classifica a Matemática em Pura ou Mista. A Geometria e a Aritmética, ciências que lidam com a Quantidade Determinada separadas dos axiomas da filosofia natural, pertencem à Matemática Pura, enquanto à Matemática Mista pertencem as ciências que se ocupam de certos axiomas ou partes da filosofia natural e da Quantidade determinada auxiliar e incidentes a eles. Neste grupo, Bacon coloca a Perspectiva, a Música, a Astronomia, a Cosmografia, a Arquitetura, a Engenharia e outras que aparecerão à medida que a natureza for sendo desvelada.

Ainda, em relação às três partes da Filosofia Natural (História Natural, Física e Metafísica, que as denomina como Partes Especulativas da natureza), associa as Partes Operativas, que têm correspondência e analogia com as anteriores, e são respectivamente Experimental, Filosófica e Mágica. As Partes Operativas dizem respeito a “[...] um tipo de invenção que está ao alcance do empírico.” (BACON, 2007, p. 156)

Quanto à Filosofia Humana ou Humanidades, divide-a em duas partes: Simples e Particular, que diz respeito ao homem segregado, ou Conjugada e Civil, que diz respeito ao homem na sociedade. No entanto, antes de se dedicar a cada uma destas divisões constitui o que chama de conhecimento em conjunto da Natureza Humana, que se refere “[...] às simpatias e concordâncias entre espírito e corpo, que, sendo mistas, não se podem propriamente atribuir às ciências de um ou de outro.” (BACON, 2007, p. 164).

Em seguida, subdivide a primeira destas partes em: conhecimento concernente ao corpo humano, no qual inclui, dentre outras artes, a Medicina e o que denomina arte da Atividade ou Atlética; e conhecimento concernente ao Espírito, o qual é subdividido em: substância da alma ou espírito e suas faculdades ou funções e conhecimento concernente à mente.

Ao conhecimento relativo à natureza ou substância da alma ou espírito pertencem as considerações sobre a origem da alma, até que ponto ela escapa das leis da matéria, sua imortalidade e, portanto, deve ser limitado pela religião.

19 Para Bacon o estudo das formas essenciais ou diferenças verdadeiras “[...] são em número

de poucas e de cujas graduações e coordenações nascem toda a variedade que vemos.” (BACON, 2007, p. 151), e faz parte da Metafísica.

Divide em Adivinhação, que é o poder da mente em fazer predições, e Fascinação, que é o poder e ação da imaginação sobre outros corpos do de quem imagina.

Quanto ao conhecimento relativo às faculdades da mente, haveria duas partes: Racional ou Entendimento e Razão (Artes Intelectuais); e Moral ou Vontade, Apetite e Afeto. Bacon afirma que

[...] os Conhecimentos Racionais são a chave de todas as demais artes; pois, como afirma Aristóteles oportuna e elegantemente, a mão é o instrumento dos instrumentos,e a

mente é a forma das formas, assim destes se pode afirmar que

são a Arte das Artes; e que não só dirigem, como confirmam e reforçam, assim como o costume de atirar não capacita somente parada dar um tiro certeiro, mas também para atirar com um arco mais forte. (BACON, 2007, p. 185)

Para ele, as Artes Intelectuais são divididas em quatro partes, de acordo com os fins a que se referem, sendo: Arte da Inquirição ou Invenção e Descobrimento; Arte do Exame ou Juízo; Arte da Custódia ou Memória e Arte da Eloquência ou Tradição; servindo respectivamente para descobrir aquilo que se busca ou propõe; julgar aquilo que se descobre; reter aquilo que se julga e finalmente comunicar aquilo que se retém.

Bacon subdivide cada uma dessas Artes, mas nos reportaremos apenas à subdivisão da Arte da Inquirição ou Invenção e Descobrimento, pois é aqui que Bacon coloca a Lógica e o que hoje denominamos Gramática. Desta forma, propõe que a Arte da Invenção pode ser: das Artes e Ciências ou do Discurso e Argumentos. Bacon comenta que embora ele inclua a Lógica como Arte da Invenção das Ciências, ela apenas passa por alto, uma vez que o estudo dessa parte do conhecimento encontra-se deficiente. Quanto à Arte da Invenção dos Argumentos, Bacon considera que os Argumentos consistem em Proposições, e Proposições em Palavras, e Palavras não são senão os signos ou sinais das coisas.

Por sua vez, do conhecimento Moral fazem parte o Modelo ou Imagem do Bem, que trata da natureza do bem; e o Regimento ou Cultura do Espírito,

que trata das normas para submeter, aplicar e acomodar a ele a vontade do homem.

Quanto ao Conhecimento Civil, Bacon o divide em três partes: Conversação, Negociação e Governo, correspondentes respectivamente à prudência de comportamento, à prudência de negócios e à prudência de governo. Especialmente em relação ao Governo, comenta que a parte mais pública dele são as leis, e estas são até então feitas tanto por filósofos quanto por jurisconsultos, mas não por estadistas. Com isso finaliza a divisão da Filosofia e passa a fazer comentários sobre a Teologia Sagrada e Inspirada, que “[...] na nossa língua chamamos Saber Divino [...]” (BACON, 2007, p. 310). Entende que a Fé Cristã é a que merece ser louvada, “[...] pois neste aspecto mantém e conserva a áurea mediania entre a lei dos pagãos e a lei de Maomé, que abraçaram os dois extremos [...]” (BACON, 2007, p. 311). Considera, então, que a teologia tem duas partes principais: o conteúdo informado ou revelado e sua natureza. E delas se originam seus quatro principais ramos: Fé, Moral, Liturgia e Governo. A Fé contém a doutrina de Deus, de seus atributos e de sua obra, na Moral está contida a lei que revela o pecado, a Liturgia consiste nos atos recíprocos que há entre Deus e o homem, e finalmente o Governo da Igreja diz respeito ao patrimônio, seus privilégios, seus ofícios e jurisdições e as leis eclesiásticas.

Termina sua obra afirmando que, “[...] deste modo compus, por assim dizer, uma pequena esfera do mundo intelectual, com tanta veracidade e fidelidade como me é possível.” (BACON, 2007, p. 325).

A Figura 3 a seguir ilustra a classificação das ciências proposta por Bacon, esquematizado por nós durante a pesquisa.

Figura 3 - Esquema da classificação do conhecimento proposta por Bacon na obra O progresso do conhecimento

Podemos dizer que Leibniz deu importantes contribuições às três filosofias: Filosofia Divina (teologia), Filosofia Natural (matemática, física, metafísica) e Filosofia Humana (direito, política, lógica, linguística); e à História Natural (mecânica) e Civil (história).

Leibniz é reconhecido atualmente pelo legado que deixou, especialmente na matemática, na lógica e na filosofia, sendo considerado um dos criadores do Cálculo Infinitesimal, um dos precursores da lógica moderna e um dos filófosos racionalistas, concepção adotada somente a partir do século XVIII, portanto após sua morte, numa classificação criada por Immanuel Kant (1724-1804). Na obra, intitulada Leibniz, Ross (2001), comenta que os cursos universitários de história da filosofia moderna têm sido estruturados tendo por base essa classificação, na qual se encontram de um lado os racionalistas: Descartes, Spinoza e Leibniz; de outro lado, os empiristas20: Locke, Berkeley e Hume e, em outra posição, Kant que sintetiza as duas correntes. Afirma ainda que “[...] os historiadores da filosofia sempre tiveram particular dificuldade em forçar Leibniz a entrar nesse molde, dado que sua abordagem é marcadamente menos racionalista do que Descartes ou Spinoza”. (ROSS, 2001, p. 09). Analisa também que outra distorção comum é entender Leibniz como essencialmente filósofo, “[...] como se seu papel na vida fosse o mesmo de um filósofo profissional do século XX” (ROSS, 2001, p. 10), e desta forma equivocadamente desconsiderando o que significa ser filósofo no tempo em que ele vive.

Leibniz troca inúmeras cartas com rainhas, imperadores e intelectuais. A correspondência pessoal é o primeiro meio empregado para a difusão de concepções e para a colaboração intelectual entre os homens sábios. As cartas são enviadas a amigos e eruditos relatando as descobertas mais recentes,

20 No século XVII, duas correntes filosóficas são predominantes: o racionalismo, cujo precursor

é René Descartes, e o empirismo com Francis Bacon. Tanto o racionalismo quanto o empirismo se opõem às ideias que estavam em vigor até então. Eles têm diferentes formas de explicar o caminho para atingir o conhecimento. Nas palavras de Brito: “Segundo o empirismo, nosso conhecimento é erigido por um grande número de experiências sensíveis e da indução. Já para o racionalismo, o conhecimento é conseguido exclusivamente por via racional e dedutiva.” (BRITO, 1995, p. 74). Em outras palavras, enquanto que para Descartes só é possível chegar

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