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Leibniz escreve muito, mas em vida tem poucas obras publicadas. Ele é um autor extremamente produtivo e deixa uma impressionante quantidade de escritos. A maior parte consiste em cartas, pequenos ensaios, esboços e anotações particular. Atualmente, a maior parte de seus manuscritos está disponível para consulta na rede mundial de computadores.

Seus três primeiros trabalhos, como já declarado anteriormente, são destinados a finalização de cursos acadêmicos. O primeiro é Disputatio metaphysica de Principio Individui, de 1663, quando se qualifica como conferencista em filosofia; depois, em 1666, apresenta o trabalho intitulado Dissertatio de Arte Combinatoria, quando obtém o título de bacharel em leis e finalmente em 1667, o De Casibus Perplexis in Jure, para obter o título de

doutor em direito.

Das três obras, é possível que a de maior peso seja o De arte combinatoria, apesar de Leibniz o considerar, sob vários aspectos, imaturo, o trabalho de um “[...] homem jovem recém-saído da escola [...]”29 (PARKINSON,

2002, p. xii), conforme suas palavras. Na obra, entretanto, estão contidas algumas das ideias básicas de sua lógica e a ideia do alfabeto do pensamento humano, cuja importância plena ele disse ter compreendido somente depois. Também está contido o ideal de união entre as nações representado por meio da proposta de uma Linguagem universal. Ribnikov (1987) comenta que Dissertatio de Arte Combinatoria é um trabalho cuja importância transcende a época em que é escrito porque apresenta a primeira construção sistemática da combinatória enquanto disciplina científica, a qual mais tarde, por volta do ano de 1700, é melhorada por Leibniz com o desenvolvimento do sistema de índice30.

De certa forma, as questões tratadas nessa obra estão em consonância com alguns questionamentos feitos em sua tenra juventude. Parkinson (2002) comenta que quando Leibniz tinha treze ou quatorze anos, já escrevia observações interessantes sobre lógica e questionava seus tutores a respeito do que se denominam categorias, dentro da lógica.

Os problemas de Leibniz são estes: há, ele dizia, categorias para termos simples, isto é, para conceitos, pelos quais os conceitos podem ser sistematicamente arranjados para formar proposições – porque, então, não existem categorias para termos complexos (isto é, para proposições), pelos quais verdades possam ser sistematicamente arranjadas para formar argumentos dedutivos? 31 (PARKINSON, 2002 p. x).

Mais tarde, Leibniz nota que tais questionamentos são desnecessários,

29 “[…] young man just out of school […]” (PARKINSON, 2002, p. xii)

30 Esta disciplina é aperfeiçoada, depois de Leibniz, por Bernoulli na obra Arte de La suposición

em 1713, onde a Combinatória é utilizada para resolver problemas teórico-probabilísticos. No século XX, a Análise Combinatória é mais profundamente estudada adquirindo amplas possibilidades de aplicação.

31 “Leibniz’s problem was this: there are, he said, categories for simple terms, i.e. for concepts,

by which concepts may be arranged systematically to form propositions – why, then, are there not categories for complex terms (i.e. for propositions) by which truths may be arranged systematically to form deductive arguments?” (PARKINSON, 2002 p. x).

uma vez que organizar as verdades da maneira como está propondo já é feito em geometria. Dá conta de que em geometria as proposições já são arranjadas de acordo com a dependência uma da outra. Leibniz deseja utilizar esse método em outras áreas do conhecimento. Buscando a solução para o seu questionamento, deduz que tal sistematização é possível se, primeiramente, for estabelecido um estudo das categorias dos termos simples. Estes termos simples devem constituir o que denomina, posteriormente, como alfabeto do pensamento humano.

No mesmo período em que mantém correspondência com Thomasius, de 1663 até 1672, o jovem filósofo trabalha em temas nas áreas de lógica (Tratado sobre a arte das combinações de 1666), jurisprudência (Um exemplo de questões filosóficas concernentes à lei de 1664), teologia (Confissão da natureza contra os ateístas de 1668), metafísica (a carta para Thomasius datada de abril de 1669, mas publicada apenas em 1671), física (Teoria do Movimento Universal de 1671), e metodologia filosófica (o prefácio do texto de Marius Nizolius (1498-1576) também de 1671).

Leibniz estuda latim detidamente, adquirindo um sofisticado estilo de escrita. Admira Nizolius, quem defende a pureza e eloquência de estilo além de promover o gosto pela literatura correta e elegante. Mario Nizzoli ou simplesmente Nizoli, eminente estudioso italiano, é conhecido na época, pelo livro Ciceronianus Thesaurus (O Tesouro ciceroniano), um dicionário das palavras que ocorrem em Cícero.

Em 1670 Leibniz prepara a edição da obra Antibarbarus Philosophicus (O filósofo anti bárbaro) de Nizolius. Esta obra havia sido publicada anteriormente sob o título de De veris principiis et veras ratione Philophandi (Dos verdadeiros princípios e do verdadeiro método de filosofar) e nela Nizolius critica os escolásticos pelas corrupções que introduzem na língua latina. Leibniz fica tão impressionado com sua solidez e elegância que elabora notas críticas, as quais fazem parte de uma nova edição desta obra, em que expõe a obstinação daqueles que são ligados a Aristóteles. Esse fato mostra o interesse de Leibniz pela questão da melhoria da linguagem, sendo favorável ao tema de estudo de Nizolius, considerando que “[...] um estilo puro em latim é uma rota mais segura para o conhecimento e a sabedoria do que o barbarismo lógico e linguístico da filosofia universitária." (ROSS, 1984, p. 13).

De 1667 a 1671, produz vasto material acerca de proposta de elaboração de um projeto visando equacionar uma metafísica coerente com as doutrinas católica e protestante. Essa intenção pode ser observada no texto intitulado Demonstrationes Catholicae (Manifestações Católicas), elaborado nos primeiros meses de 1668. Também produz uma série de artigos sobre tópicos religiosos, especialmente sobre pontos nos quais as igrejas divergem, incluindo a doutrina da transubstanciação. Conta com o apoio de Boinemburg e de outras pessoas de sua convivência que se converteram do luteranismo para o catolicismo. Escreve também várias notas sobre a lei natural, nas quais ele articula e compila, pela primeira vez, vários dos principais assuntos em metafísica.

Além de temas de cunho religioso, Leibniz escreve sobre Direito. Em 1667, publica Nova methodus discendae docendae que jurisprudentiae (Novo método de ensinar e aprender jurisprudência). Nessa obra, propõe uma nova organização nos princípios e leis que regem a justiça. É compreensível essa preocupação de Leibniz, pois nessa época, o sistema de leis alemão é intricado e, portanto, desafiador para qualquer que dele queira se utilizar. Neste sentido Ross (1984) comenta que:

Na situação de então, o direito alemão compreendia uma mistura caótica de código romano, lei comum germânica tradicional e o estatuto e as leis casuísticas dos vários estados. Leibniz desejava reduzir a lei a fim de definir todos os conceitos legais em termos de uns poucos conceitos básicos, deduzindo- se todas as leis específicas de um pequeno conjunto de princípios incontroversos de justiça natural. (ROSS, 1984, p. 15)

Em 1671 e 1672, compõe uma série de notas publicadas sob o título de Elementa juris naturalis (Elementos de Direito Natural), nas quais discute teologia, metafísica e ética, abrangendo uma vasta gama de tópicos, dentre eles o conhecimento e a harmonia universal, a justiça humana e a justiça divina.

Apesar dos múltiplos interesses, Leibniz nunca se afasta das questões políticas e em 1669, escreve um tratado sobre a sucessão real polonesa usando o pseudônimo de Georgins Ulicovius. Nesse texto, ele apoia um dos pretendentes à substituição do rei da Polônia, Johann Casimir (1543-1592),

quando este abdica do trono. Para defender seu ponto de vista, emprega um método incomum, valendo-se de argumentos dedutivos.

Outro assunto a que se dedica é a questão do bem e do mal, um assunto que iria desenvolver até o fim de seus dias. Em 1673, quando vai de Londres para Paris, redige um longo diálogo que nomeia Confessio Philosophi (Confissão de Filósofos), discutindo o problema do mal. Em seguida, escreve o ensaio De vera methodo philosophiae et theologiae ac de natura corporis (Sobre o verdadeiro método da filosofia e teologia e da natureza do corpo) no qual ratifica suas inquietações em relação à questões metodológicas. Assegura que o importante é saber sobre o bem da alma e a verdade na teologia, temas que nem a física nem a matemática falam diretamente.

Em 1671, produz escritos sobre as leis do movimento e suas fundamentações metafísicas e os apresenta à comunidade de estudiosos no intuito de ser aceito em alguma sociedade científica. Um dos textos, intitulado Hyphotesis physica nova (Novas hipóteses da física), de subtítulo Theoria motus concreti (Teoria do movimento concreto), é apresentado à Royal Society, e o outro, Theoria motus Abstract (Teoria do movimento abstrato), à Académie des Sciences. É aceito como membro da primeira em abril de 1673, e sete anos depois, em março de 1700, é convidado a tomar parte na segunda sociedade.

Em 1678 e 1679, além dos trabalhos técnicos envolvendo as minas, estuda diversos temas. Compõe uma série de notas originais sob o título Calculus Universalis (Cálculo Universal), nas quais tenta formular um cálculo lógico. Mantém também correspondência com Nicolas Malebranche (1638- 1715) sobre metafísica. Elabora um projeto para sua enciclopédia inspirado na obra Ecyclopedia de Johann Heinrich Alsted (1588-1638). Também faz grande avanço em seu trabalho sobre dinâmica, opondo-se ao princípio de conservação de movimento de Descartes.

Em 1686, fica preso por algum tempo nas montanhas Harz devido a uma tempestade de neve e aproveita o tempo livre para compor uma de suas principais obras, o Discours de Métaphysique (Discurso da Metafísica). Nela apresenta sua primeira tentativa de resumir as ideias principais de sua filosofia. Chega a enviar uma sinopse para Antoine Arnauld, dando início a uma profícua troca de correspondências filosóficas. As críticas de Arnauld forçam Leibniz a

explicar e expandir algumas de suas ideias fundamentais.

Em 1697, a correspondência de Leibniz com missionários jesuítas que estavam na China é publicada sob o título Novissima Sinica (Últimas notícias sobre a China). Naquela época é comum coleções de cartas serem publicadas como livros.

Quando retorna a Hanôver, depois de ter viajado com a intenção de buscar material sobre a dinastia Welf, escreve seis densos volumes como preliminar à história dos Welf, que são publicados no período de 1698 a 1700. De 1707 a 1711, dedica-se a escrever mais três volumes, desta vez a respeito da história propriamente dita dos Welf, e intitula-os Scriptorum Brunsvicensia (Relatos de Brunswick).

Termina um ensaio que trata das migrações de tribos da Europa deduzidas a partir de evidências linguísticas e toponímicas. Reúne grande quantidade de informações sobre a origem das línguas europeias, buscando provas de existência de uma única língua arquetípica, provavelmente o hebraico. Suas pesquisas, no entanto, passam a indicar que cada grupo linguístico tem sua origem singular.

Em relação à língua utilizada em seus escritos, Leibniz adota o latim, o francês e ocasionalmente o alemão, evitando neste caso o uso de termos latinos.

Devemos observar que, nesta época, a sociedade culta dos estados alemães não dispunha de um vocabulário mais sofisticado que permitisse a conversação ou a exposição de um assunto mais elevado, existia apenas uma língua alemã popular corrente. Além disso, a imitação dos antigos, por parte desta sociedade, deu origem a períodos muito extensos na prosa, que juntamente com a influência dos modernos, levou a estranhas misturas idiomáticas. Na verdade “O que mais saltava à vista é o lamentável estado da língua alemã. Esta tinha incomparável capacidade de expressão para a intimidade da vida religiosa. Mas que atraso na prosa filosófica, na discussão e reflexão livre e fluente.” (DILTHEY, 1947, p. 72).

Neste contexto, é natural que surja algum movimento em defesa da língua. Assim, a Fruchtbringende Gesellschft (Sociedade Fecunda) é fundada, em 1617, tendo como uma de suas metas a defesa da pureza da língua alemã e sua libertação de estrangeirismos. Mais tarde, Leibniz compartilha desta

intenção, estabelecendo como um dos objetivos da Sociedade das Ciências de Berlim, cultivar as Letras, especialmente a língua alemã. Também elabora projetos para a purificação desta língua.

Além de escrever sobre os mais variados assuntos, Leibniz elabora diferentes projetos que utilizam mecanismos variados e constrói protótipos de alguns deles. Na ocasião em que ingressa na Royal Society apresenta o projeto de uma calculadora.

Os primeiros inventores de máquinas de calcular são Wilhelm Schickard (1592-1635) e Blaise Pascal (1623-1662).

O projeto da máquina de calcular de Schickard é elaborado em 1623. Em carta enviada a Johannes Kepler, ele explica o mecanismo indicando que é possível serem feitas operações com números de até seis dígitos. Refere-se a sua máquina como Relógio Calculador, isto porque utiliza engrenagens que são desenvolvidas para relógios. Seu projeto é encontrado no século XIX e somente em 1960, é construído um modelo dessa máquina.

Pascal, por sua vez, de 1642 até 1644, se dedica à invenção de uma máquina de calcular que permita a realização das operações de adição e subtração com números compostos por até seis dígitos. As operações de multiplicação e divisão são feitas por adições ou subtrações sucessivas. Esta máquina ficou conhecida como Pascalina. Ele apresenta seu modelo em um texto intitulado Advertência Necessária àqueles que têm curiosidade de ver a

Máquina Aritmética e de a usar32. Nele, defende as vantagens de utilizar essa

máquina ao invés do ábaco ou caneta, que são, até então, as únicas maneiras de efetuar as operações. Adverte sobre a construção feita por artesãos que, por não entenderem de mecânica e geometria, constroem máquinas defeituosas. Salienta que até chegar a este modelo trabalhou em diversos outros projetos construindo cerca de cinquenta protótipos diferentes. Discorre sobre a dificuldade de ensinar textualmente a manusear as engrenagens, sugerindo que isso seja feito por meio de palestras. Finalmente salienta que seu objetivo é de agradar e ajudar e que teve muito cuidado para tornar fáceis,

32 Texto traduzido por Cleonice Narciso e Magda Lourenço a partir das Oeuvres de Blaise Pascal editadas em 1908 por Brunschvieg e Boutrox, Paris: Les Grands Ecrivans de la France,

vol 1, pp. 303-314. Revisão de Olga Pombo. Disponível em

<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/a%20mao/pascal_traducao.htm>. Acesso em 29.09.2013.

simples, prontas e seguras, operações que são complexas, longas e incertas quando efetuadas pelos métodos disponíveis.

Por outro lado, a máquina de calcular criada por Leibniz representa um avanço em relação às máquinas de somar inventadas por Schickard e por Pascal, pois é a primeira a efetuar as quatro operações por meios puramente mecânicos, e encontra-se na origem de uma sucessão de invenções de máquinas de calcular que se prolongou até o século XX. Além disso, permite a entrada de números com até oito dígitos e saída com até dezesseis dígitos.

Figura 9 - Máquina de calcular de Leinbiz.

Fonte:

<https://archive.org/stream/sourcebookinmath00smit#page/172/mode/2up/search/leibniz>. Acesso em 27.09.2013.

Figura 10 - Protótipo da máquina de calcular de Leibniz.

Apesar de o projeto ter sido apresentado em 167333, a máquina vem a

ser construída somente em 1694 e não chega a ser comercializada, ao contrário do dispositivo pascalino.

No texto Machina arithmetica in qua non additio tantum et subtractio sed et multiplicatio nullo, divisio vero paene nullo animi labore pégantur34, escrito

em 1685, publicado postumamente, em 1897, no periódico Die Zeitschbrift für Vermessungswesen (O Jornal de Agrimensura), Leibniz apresenta sua invenção em detalhes. No escrito, narra que tivera a ideia de construir uma maquinaria que efetuasse as operações aritméticas ao observar um instrumento que gravava automaticamente o número de passos dados por um pedestre enquanto este o carregava. Faz então uma descrição pormenorizada do mecanismo de uma máquina composta por duas partes ajustadas: uma para adição e subtração, que é igual ao que denomina ‘caixa de calcular de Pascal’, e outra para multiplicação e divisão.

Figura 11 – Parte da engrenagem da máquina de calcular de Leibniz

Fonte: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/a%20mao/leibniz_traducao.htm>. Acesso em 27.09.2013.

Explica que a máquina é composta por três filas de rodas cada uma com dez dentes e ligadas por correias. Apresenta desenhos e, por meio de exemplos, demonstra o funcionamento para multiplicação e divisão.

33 Leibniz registra a ideia somente em 1685, alguns anos depois da máquina ter sido inventada.

34 Texto traduzido por Cleonice Narciso e Magda Lourenço realizada a partir da versão inlesa

do texto latino feita pelo Dr. Mark Holmes, David Eugene Smith (ed.), A Source Book in

Mathematics, New York: Dover, 1959, pp. 173-181. Revisão de Olga Pombo. Disponível em

<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/a%20mao/leibniz_traducao.htm>. Acesso em 29.09.2013.

Figura 12 - Parte da engrenagem da máquina de calcular de Leibniz

Fonte: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/a%20mao/leibniz_traducao.htm> Acesso em 27.09.2013.

Em seguida, lista as possíveis aplicações do dispositivo nas profissões que utilizam a matemática, como por exemplo, administradores de bens, mercadores e astrônomos. Salienta que essa máquina é de grande utilidade para o governo e para a ciência e que com ela todos os erros de cálculo são eliminados. Verifica a superioridade de sua máquina em relação à de Pascal, pois esta apresenta grandes dificuldades nas operações de multiplicação e divisão é necessário fazer cálculos prévios, portanto mostrando-se ineficaz para uso prático. Também menciona a superioridade de sua criação em relação às réguas de cálculo de Napier, que caem em desuso pela dificuldade que apresentam na operação de divisão, já que esta é tão demorada quanto quando da utilização do método normal. Finaliza seu texto mencionando que “[...] é impróprio de homens excelentes perderem horas como escravos no trabalho do cálculo, que podia ser seguramente delegado para qualquer outra pessoa se a máquina fosse utilizada.” 35 A máquina de calcular é um dos muitos artefatos que Leibniz inventa.

Para finalizar, destacamos que esta parte do texto diz respeito à esfera contextual-histórica. Dentro desta perspectiva, forma abordados os seguintes tópicos:

35 Manuscrito de Leibniz traduzido e disponível em

<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/a%20mao/leibniz_traducao.htm> Acesso em 27.09.2013.

 questões sócio-políticas da época e do lugar em que Leibniz nasce;

 divisão e classificação do conhecimento proposta por Bacon;  mudança na forma de difusão do conhecimento na época

(cartas/atas/memórias/periódicos/academias);  educação formal e informal recebida por Leibniz;

 mestres e estudiosos que serviram de referência para Leibniz;  atividades profissionais exercidas;

 produção intelectual.

Ainda, em decorrência dos estudos destinados à elaboração do presente capítulo pudemos constatar que, apesar de exercer as mais variadas atividades profissionais, Leibniz colabora efetivamente para o desenvolvimento do conhecimento científico na época. Trata-se de um estudioso incansável, e escritor prolífico. Ele comenta que “[...] surgem-me por vezes tantos pensamentos de manhã numa hora, enquanto estou ainda na cama, que tenho necessidade de empregar toda a manhã, e por vezes todo o dia e mais ainda, para os pôr distintamente por escrito.” (LEIBNIZ apud POMBO, 1997, p. 166).

Detectamos também que uma das grandes ambições de Leibniz refere- se a formação de uma só cultura entre os homens que abarque todas as nações. Deseja criar uma nova síntese a partir de conflitos aparentemente irreconciliáveis entre as tradições mais antigas e a nova filosofia. Defende a unificação das igrejas, dos povos, das ideias e da língua. Concluímos que estas concepções possivelmente representem um dos motivos que o conduzem à busca da criação de uma Linguagem universal.

É importante ressaltar que tanto a defesa de uma cultura de paz e harmonia entre os povos quanto o desejo de se ter uma linguagem única e, portanto, universal, não é exclusividade de Leibniz, mas faz parte do pensamento da sociedade de uma época, como veremos a seguir.

2 Característica universal: contextos e trajetórias

Neste capítulo, investigamos as possíveis razões pelas quais o estudo sobre Linguagem universal tenha se desenvolvido por tão longo período, durante todo o século XVII e nas primeiras décadas do século XVIII, e por tantos estudiosos. Expomos, em especial, as ideias de Bacon e Comênio na defesa desta busca, fonte de estímulo para que as investigações naquele período se dirijam para este tema.

Iniciamos o capítulo examinando as transformações ocorridas no seio da comunidade europeia, tanto na vida econômica quanto na organização social, a partir do século XV. Nesta época, com o advento do Renascimento, as classes burguesas adquirem autonomia em relação à vida feudal e eclesiástica, a influência da igreja diminui, as pessoas passam a se dedicar ao trabalho na indústria e no comércio e atribuem novo valor à família, ao trabalho e à sociedade. De acordo com o ideal renascentista, a afirmação dos valores da vida terrestre é retomada por meio de uma nova compreensão da vida, do homem e da natureza. Os dogmas da Igreja católica originados em concepções

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