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PRÁTICA DE VENDA CASADA NAS REDES DE FAST-FOOD

Como elencado nos tópicos anteriores, as crianças são atraídas a consumirem alimentos fornecidos pelas redes de fast-food, que, aliás, são de baixo valor nutricional, em razão das promoções, que visam acrescentar brinquedos junto

aos lanches. Contudo, o público infantil é obrigado a consumir determinado alimento, para então usufruir do brinde.

A venda casada é caracterizada pela prática comercial onde o fornecedor condiciona o consumidor a adquirir um produto ou serviço mediante a aquisição de outro produto ou serviço sem que a opção seja de sua livre escolha. Desse modo o Código de Defesa do Consumidor traz elencado no seu art. 39, inciso I, a prática de venda casada:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:

I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; (BRASIL, 2002)

Em vista disso, o código de defesa do consumidor considera venda casada uma prática abusiva. No entendimento de Rizzatto Nunes, venda casada é considerada uma prática abusiva quando produtos ou serviços são vendidos juntos, que, porém podiam ser vendidos separadamente, estes têm que ter certa interdependência entre si (NUNES, 2010, p. 258).

Esta prática ocasiona uma redução nas possibilidades de escolha do consumidor, e consequentemente este acaba aceitando comprar o produto que não desejava, para assim adquirir o que conjuntamente vinha. Assim, a legislação protege sua liberdade de escolha frente a vulnerabilidade do consumidor, podendo ser aplicadas sanções administrativas, civis e penais as empresas que descumprirem o que está elencado nas normas.

Podemos citar como exemplo alguns casos que foram considerados venda casada, como a empresa Mc’Donalds, com a venda do tão famoso “McLanche feliz”. “A rede anuncia a venda de lanche com brinquedo no McLanche Feliz e, portanto, pratica publicidade dirigida às crianças, prática proibida no Brasil” (CRIANÇA E CONSUMO, 2014).

Em 2011, após denuncia do projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, o Procon de São Paulo anunciou multa de mais de 3 milhões de reais ao McDonald’s, “[...] em razão da ilegalidade da estratégia publicitária adotada pela empresa. A rede de fast food fez o que se esperava: contestou judicialmente a multa” (CRIANÇA E CONSUMO, 2014).

O McLanche Feliz é um dos carros-chefe da rede, disponibilizando lanches acompanhados de brinquedos com personagens famosos no mundo

infantil, com cartazes de opções de laches, no qual atualmente há a opção de escolher alimentos saudáveis, como saladas prontas, sucos naturais.

Em 2014, a 4ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo suspendeu a multa pelo fato de que não houve publicidade abusiva dos produtos, portanto, o Procon ainda pode recorrer, e alega que lamenta pela decisão e discorda dos argumentos da empresa, justificando se prevalecer da inexperiência e julgamento da criança, sendo no entanto considerada prática abusiva. (CRIANÇA E CONSUMO, 2014).

Dessa forma, resta evidente que apesar de algumas redes de fast-food já terem respondido por práticas abusivas, não deixam de vender seus alimentos com brindes. Contudo há certa falha na efetividade nas normas, visto que a venda direcionadas as crianças ainda perpetuam, de uma forma ou de outra. Podemos verificar isto, indo aos shoppings onde tem uma grande praça de alimentação. Nela observamos cartazes de alimentos juntos com brinquedos, cores, personagens animados famosos, tudo com o objetivo de atrair o público infantil com a finalidade de compra dos produtos.

Devem, no entanto, ser aplicadas às redes de fast-food normas com mais efetividade, para vedar a venda de alimentos conjuntamente com brinquedos ou objetos infantis, em razão do condicionamento da oferta de um produto mediante a aquisição de outro. Entretanto, nota-se a efetivação destas normas depende da atuação das autoridades públicas responsáveis.

CONCLUSÃO

A presente pesquisa abordou as publicidades abusivas nas famosas redes de fast-food direcionadas ao público infantil, no qual se aproveitam da inexperiência e discernimento incompleto desta, incentivando ao consumo exagerado de alimentos considerados calóricos e de baixo valor nutricional. Vítima muitas vezes da publicidade abusiva, as crianças possuem proteção em nosso ordenamento jurídico, amparado tanto pela Constituição Federal de 1988, como pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como pelos regulamentos do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária do Brasil (CONAR).

Entretanto, a publicidade nos dias de hoje é considerada um poderoso instrumento persuasivo, capaz de influenciar nos valores éticos e morais de um indivíduo, portanto viu-se a necessidade da restrição da publicidade destinada ao público infantil, visto, que elas, por ser hipervulnerável, acaba por sofrer as consequências da publicidade. Porém observa-se que, apesar de haver regulamentação destinada a prática publicitária abusiva, ampara pelo CDC, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente bem como, pelo CONAR, o público infantil ainda sofre muitos prejuízos pelo fato de não haver efetividade nas suas normas, principalmente no que se refere às redes de fast-food.

Portanto, se tornando habitual este tipo de alimentação leva não só o público infantil, mas o adulto também, á obesidade. Posto isto, a criança desde a infância já tem suas preferências, desse modo cabe à família, e à escola incentivarem a reconhecer suas necessidades, para que desde cedo tenha uma boa alimentação e conscientização sobre aquilo que está comendo.

Contudo, podemos concluir que o uso contínuo das práticas publicitárias abusivas nas redes de fast-food, traz prejuízo não só para a criança, mas também para a família, ocasionando problemas de saúde e interferindo em seu desenvolvimento, alterando valores éticos e sociais. A criança por ser um individuo em formação necessitam de alimentos ricos em nutrientes, o qual perpetuando o incentivo de consumo de comidas rápidas, haverá carência de alimentos ricos em nutrientes.

Desse modo, creio que o mais importante não é a proibição total da publicidade, mas sim que seja exercida de modo que possam alimentar o desenvolvimento da criança. A conscientização para o consumo em redes de fast-

food só será possível por meio de limites impostos por pessoas e instituições que exerçam papéis simultaneamente ativos e afetivos na vida e na educação da criança, e não que simplesmente censure ou proíba.

Por fim, é um assunto que não se esgota, podendo ser tema para posteriores trabalhos a efetivação das normas relacionadas ao público infantil no que concerne a publicidade abusiva, no qual apesar de haver normas que regulamentem as práticas publicitárias consideras abusivas, não possuem eficácia.

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