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5 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO BRASIL

5.2 A prática internacional

Como observa Sola (1996), no contexto mundial, o desenvolvimento de políticas de turismo para a pura promoção do turismo vem cedendo lugar às políticas voltadas para o desenvolvimento de produtos diversos com o objetivo de manter a competitividade. Essa mudança de orientação dos governos deveu- se, segundo esse autor, à mudança na própria natureza do setor turístico, seu afastamento do turismo de massa para uma maior segmentação de mercado, o uso de novas tecnologias, a diferenciação de produtos e adoção de novos estilos de gestão, que exigiram dos governos uma mudança na substância das políticas públicas de turismo.

As mudanças sociais que ocorreram nas décadas de 1930 e 1940 foram as causas subjacentes do surgimento de novas formas de turismo, denominadas por Sola (1996) como turismo de massa ou turismo fordista. No pós-guerra, o setor de turismo começa a oferecer férias padronizadas, cujas motivações eram muito simples: a procura de sol e praia, em uma atmosfera moderadamente exótica e por um bom preço. O paradigma da produção em massa no setor industrial foi imitado no turismo: pacotes rígidos foram criados, com significativa economia de escala, oferecidos aos turistas com baixas e não muito variadas expectativas, era, portanto, muito fácil alcançar a satisfação dos consumidores com baixo custo. Ainda, os avanços tecnológicos no transporte de passageiros e das comunicações tornaram possível a criação de mercados de

massa de natureza internacional em várias regiões do mundo, particularmente na Europa e América do Norte. Outros fatores, tais como o baixo preço de combustível, o aumento do rendimento disponível e a remuneração das férias, e uma maior predisposição social para as viagens, também estimularam a procura mundial por turismo e viagens. Também a gestão do turismo foi bastante similar em ambos os continentes, com base em marketing de serviços de turismo idênticos para indiferenciados grupos de consumidores.

Na década de 1980, no entanto, assiste-se a uma grande mudança no paradigma de funcionamento do setor de turismo. Uma ―Nova Era‖ do turismo é caracterizada, conforme Sola (1996), principalmente, pela ―supersegmentação‖ da demanda, pela necessidade de flexibilidade da oferta e distribuição, por buscar alcançar rentabilidade através de economias sistêmicas em vez de economias de escala. O novo paradigma deve permitir que o setor de turismo ofereça produtos adaptados às demandas cada vez mais complexas e diversificadas, sendo tão competitivo quanto os antigos produtos padronizados.

Neste sentido, afirma Sola (1996), o conteúdo das políticas de turismo tem variado muito ao longo dos anos. Uma primeira geração de políticas de turismo, que abrange as primeiras décadas da era fordista do turismo, é caracterizada pelo objetivo, implícito ou explícito, de estimular o turismo de massa a partir de um ponto de vista quantitativo. Nesta primeira fase, as políticas são formuladas para aumentar o número de visitantes e maximizar o total das receitas do turismo, a fim de contribuir para a estabilidade da balança de pagamentos, a melhoria dos níveis de renda e criação de empregos; em suma, o ‗desenvolvimento‘ econômico do país.

As dificuldades econômicas que começaram a aparecer em 1970 e no início da década de 1980, quando o turismo foi marcado por sucessivas fases de recessão e crescimento, pavimentaram o caminho para uma segunda geração de políticas de turismo (SOLA, 1996). Nesta geração, os impactos sociais,

econômicos e ambientais da atividade turística são mais bem compreendidos, e os instrumentos jurídicos, econômicos e financeiros são utilizados na tentativa de redefinir o objetivo de aumentar a contribuição do turismo para o bem-estar dos residentes. Esta fase é marcada por uma preocupação crescente no que diz respeito a fazer a política setorial do turismo congruente com as políticas econômicas gerais. No entanto, o surgimento de um novo paradigma em meados da década de 1980 mudou o padrão de ações do governo no que tange ao turismo (SOLA, 1996).

A competitividade da terceira geração de políticas de turismo tornou-se foco das estratégias do turismo, e o objetivo das políticas de turismo se volta para a criação e manutenção de uma estrutura turística competitiva. Tal competitividade é entendida como a capacidade de gerar lucros superiores aos benefícios normais de forma sustentável. Requer a implementação de metodologias orientadas para atingir a qualidade nos serviços turísticos e fazê- los de forma eficiente (SOLA, 1996).

Sola (1996, p. 409) apresenta esquematicamente as fases do desenvolvimento das políticas públicas observadas no contexto mundial, principalmente em áreas como a Europa e a América do Norte, como segue na Figura 1:

Primeira geração → investimento em comunicação turística

Segunda geração → legislação reguladora para o suprimento do turismo Terceira geração → (1) estrutura de negócios para atingir qualidade

(2) melhorias das condições dos inputs do turismo (3) conhecimento e ação sobre a demanda (4) melhoria das condições ambientais

Figura 1 Evolução das políticas de turismo no mundo Fonte: Sola (1996, p.409).

Deste modo, percebe-se que, para esse autor, uma conseqüência deste novo modelo de políticas públicas de turismo é o crescimento da convicção de que o modelo organizacional de governo constitui-se um fator chave a ser considerado para a competitividade de empresas e regiões turísticas.

Krutwaysho e Bramwell (2010), diferentemente, consideram que a adoção de análises centradas no Estado, concentradas na tomada de decisão no interior do contexto organizacional do Estado, deveria ceder lugar ao relacionamento entre os processos do Estado e um amplo contexto social, mais propriamente à relação entre eles. Estes autores entendem que as políticas públicas devem envolver relações entre as intenções do governo e a tensão e negociação entre os atores envolvidos por essas políticas.

Alguns obstáculos podem ocorrer caso não sejam observados tais relacionamentos para a elaboração ou implementação de políticas públicas de turismo, salienta Dredge (2006), como a falta de um planejamento, entusiasmo limitado dos atores com relação ao longo prazo, falta de integração entre as prioridades das políticas regionais e nacionais, foco no curto prazo e em questões econômicas ao invés do longo prazo e das questões sociais e

A administração do turismo pode ser, por si própria, um fator positivo de competitividade.

ambientais.

Para Dredge (2006), o aumento do interesse pelas relações entre governo, empresas e sociedade civil, ocorrido na última década, é decorrente das mudanças nas estruturas de governo e do deslocamento em direção à governança. Tal fato alimentou o interesse crescente pelas redes, o que originou na literatura sobre turismo duas correntes emergentes principais. Em primeiro lugar, desenhadas nos estudos organizacionais, as redes fornecem um enquadramento útil para a compreensão e evolução das redes de negócios, bem como dos produtos e oportunidades por elas desenvolvidas. A segunda corrente é derivada da literatura de análise política, onde as redes são vistas como um canal importante para gestão das relações público-privadas e o entendimento das estruturas de governança do turismo. Tais aplicações podem oferecer importantes bases para o entendimento de como as relações interorganizacionais são formadas e geridas, assim como os agrupamentos e a complementaridade entre os atores do grupo pode ser maximizada.

Tendo em vista essas breves considerações sobre a prática internacional, mais como contextualização do cenário que se quer analisar, segue-se então para a apresentação de práticas atuais relevantes no que tange às políticas públicas de turismo no Brasil.