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3.3 A Arte Marcial Tai-Chi Chuan

3.3.2 A Prática do Tai-Chi Chuan

A prática do Tai-Chi deverá ser realizada como um ritual, num espaço calmo e ambiente natural como um parque, floresta, montanha, etc., com ar puro para que o praticante recebe a energia da terra pelos pés e a do céu pela cabeça. A direção de início deverá ser o Norte para uma melhor orientação dos movimentos seguintes, local onde se encontra o sopro original (é a designação que os Chineses dão à origem da respiração) do céu e da terra, e a Estrela Polar e o Sete-Estrelo, sendo estes guias e calmantes do espírito. (Despeux, 1981)

Assim, o praticante voltado para Norte, trabalhará sobre o seu eixo e os seus movimentos exteriores como se estivessem em torno do mundo. A hora do exercício, está interligada aos ritmos da natureza, às Estações do Ano, às horas de acordar e de deitar, respeitando o registo natural do organismo e a harmonia com o Yin e Yang. O Yin é considerado como a matéria e o Yang o movimento. Podem assim ser consideradas duas tendências/energias opostas de compreensão universal, aplicando-se aos fenómenos do cosmos e às atividades do corpo. A Tabela 2 apresenta algumas das características do Yin e Yang:

Tabela 2 – Associações Yin e Yang

Yin Yang

Terra Céu

Noite Dia

Tempo Escuro Tempo Luminoso

Fêmea Macho

Espírito Corpo

Veias Artérias

Inspiração Expiração

Repouso Movimento

Tabela 2 – Associações Yin e Yang. – Despeux, C. (1981). Tai-chi chuan – Arte marcial, técnica da

longa vida.

Despeux (1981) indica-nos o Taiji como a unidade suprema que rege o universo é o primeiro princípio que dirige a união do Yin e do Yang. Com isto, existe uma grande interligação do Yin e do Yang à saúde, não podendo haver défice em nenhuma delas para que não haja doença e desequilíbrio. Este relacionamento é ilustrado através no diagrama T’ai Chi T’u (Diagrama do Cume Supremo), que se compõe em duas figuras de peixe, uma branca e outra preta dentro de um círculo. O peixe preto representa o repouso e chama-se “Yin maior”, o peixe branco representa o movimento e chama-se “Yang maior”, existindo em cada um deles um círculo pequeno de cor oposta, o preto é o “Yin menor” e o branco “Yang menor”. Os círculos internos irão afigurar a forma pela qual cada força de Yin e Yang contém o seu oposto, desenvolvendo-se infinitamente e com a necessidade da sua presença para a aquisição do equilíbrio, havendo dentro do “Yang maior” o “Yin menor” e vice-versa. (Confrontar a Figura 1). Assim, a prática do Tai-Chi é designada como Yang (o peixe branco) pelos seus movimentos leves, ágeis, e a meditação realizada no fim da sua execução é Yin (o peixe preto) pela inquietude e posição imóvel. (Despeux, 1981)

Figura 1 – Imagem do Diagrama Taiji

Figura 1 – Imagem do Diagrama Taij. – Despeux, C. (1981). Tai-Chi Chuan- Arte marcial, técnica

da longa vida., p. 48, 1 fotografia)

Em relação aos períodos mais adequados deste exercício, são o amanhecer do dia entre as cinco e as sete horas (período mao) e o anoitecer entre as nove e as onze horas (período

hai). A Primavera é a estação mais benéfica pela renovação da energia do ano, não querendo

dizer que só se pratique nessa altura, muito pelo contrário, deverá ser exercitado todos os dias. Com isto existiam Mestres que desenvolviam os seus saberes durante o dia e maioritariamente à noite. Em termos do ensinamento do método Chinês, pedagogicamente aplicado em todo o mundo, consiste na demonstração e explicação do exercício ou movimentos pelo Mestre e a repetição pelos alunos até estar entendido, conseguindo assim exercitar uma forma completa de Tai-Chi Chuan. Para além disso, procura-se sentir todos os músculos em cada movimento, descobrir a relação dos membro com a coluna vertebral, entre outros temas que se destinam principalmente a ajudar o praticante a observar-se a si próprio, ao seu interior, corpo e espírito. Despeux (1981) afirma que “(…) o praticante forceja por harmonizar o pequeno universo que é o seu corpo, ao mesmo tempo em que se põe de acordo com a harmonia geral do universo.” (p.47)

As formas ou fórmulas (sequência de posturas) do Tai-Chi consistem na execução das posturas14 intituladas como por exemplo: “Agarrar a cauda do pássaro à direita”, “Pressionar para a frente”, “Recuar e repelir o macaco”. Existem bastantes formas de Tai-Chi como por exemplo a forma 8, 10, 13, 18, 24, 37, 40, 49 e 108, (Conferir a Figura 2) todas elas poderão ter variantes devido aos ensinamentos passados de Mestre em Mestre.

Figura 2 - Fórmula de 24 movimentos do Tai-Chi.

Figura 2 - Fórmula de 24 movimentos do Tai-Chi – Grush, B. (2010). Confessions of a Tai Chi Snob. 1 fotografia. Consultado em maio 03, 2017, em http://taichisnob.blogspot.pt/

Castro (1997) apresenta-nos os benefícios das posturas do Tai-Chi Chuan para todo o organismo:

 Eliminam as interferências emocionais;

 Melhoram o processo fisiológico e físico-químico do corpo através da descontração, a tranquilidade mental e da respiração durante os exercícios;

 Relaxam a disposição do córtex cerebral numa reação de emergência, criando deste modo as condições favoráveis ao descanso, à reparação e à regulação do organismo, o que elimina as interferências da ira, da ansiedade, a tristeza e do medo;

 Moderam a sensibilidade do organismo no que respeita ao estímulo negativo do meio externo.

Este método asiático é baseado na prática diária e repetitiva das formas para se atingir e entender a sensações e perceções oferecidas por este rigor. Com isto, a repetição auxilia na atenção dos pormenores e tomada de consciência dos movimentos com a ajuda do Mestre na sua melhoria, para que após este trabalho, o aluno se esforce a sentir o ar, se movimente com agilidade, relaxe a mente e o espírito e se foque na essência de cada postura. Despeux (1981)

graça e a lentidão, num encadeamento ininterrupto, com que se executam os movimentos.” (p.11).Castro (1997) apresenta “O Segredo dos Cinco Princípios” do Mestre Li Yixu, sendo este utilizado muitas vezes para a prática desta arte marcial, fundamental para a sua execução. Assim, os segredos dos cinco princípios são: “A calma mental” – inclui uma mente tranquila, concentrada para não se perder a exatidão dos movimentos; “A agilidade do corpo” – um corpo pesado não conseguirá insurgir-se com destreza ao adversário, cada passo, cada levantar de braços e pernas terá que estar atento e antecipar prevendo o ataque eminente onde a mente está sempre mais à frente do que o corpo; “Concentrar o Chi15” – para proporcionar um controlo ao Chi, a respiração será fundamental acumulando-se a cada inspiração, fazendo com que a respiração esteja sempre aliada ao movimento; “Integrar o Jing16” – para que esta força seja utilizada da energia do adversário para o vencer. Por último, “Concentrar o Shen17” – apenas é possível concentrar o Shen após se realizarem os quatro princípios anteriores, conseguindo com clareza distinguir o cheio do vazio, o abrir do fechar, que em modos práticos o lado esquerdo estiver leve, o lado direito está sólido e vice-versa conquistando sempre o equilíbrio entre corpo e mente. (Castro, 1997)

Estes princípios são a essência para a prática das formas do Tai-Chi Chuan, com estes pontos em concordância e a funcionarem, será possível a plenitude, tranquilidade e paz de espírito, onde a serenidade deverá prevalecer consecutivamente. Em relação aos aspetos físicos do Tai-Chi, as suas “chaves” de colocação do corpo para o início e continuidade da prática estão divididas por dez pontos18.

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