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5. CASO 1 RESIDÊNCIA DO ARCEBISPO DE MARIANA

5.2. A Praça Gomes Freire

Ao observar a evolução do traçado da cidade de Mariana, constata-se que, nos tempos do Arraial do Ribeirão do Carmo, ainda não existiam vestígios da Praça Gomes Freire. Num segundo momento, quando de sua elevação à Vila de Nossa Senhora do Carmo (1711 - 1743), percebem-se o início da conformação da praça, então denominada Largo da Cavalhada, e a presença de um chafariz (FONSECA, 1995).

De acordo com MOURA SANTOS (1967), o largo da Cavalhada “era um simples campo descuidado, onde as companhias de circo de cavalinhos se acampavam para os espetáculos noturnos”. Ou seja, era onde se realizavam as cerimônias de cunho profano, certamente proibidas no mais diminuto Largo da Matriz, cuja utilização era regulamentada pelas Constituições de Arcebispado. Não se tem referências sobre a criação e delineamento deste logradouro, sobre a data e origem de seu risco regular. Este espaço recebeu, ao longo da história da cidade, vários

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nomes e remodelações, seguindo as “modas” urbanísticas, porém constituindo sempre um importante lugar de sociabilização de Mariana (FONSECA, 1995: p.74).

Nas reconstituições do traçado de Mariana, realizadas por Salomão de Vasconcellos de (1937 e 1947), esta já apresentava forma mais definida e a denominação de Praça do Chafariz. (FONSECA, 1995).

No período entre 1745 - 1800 ocorreu uma evolução significativa do traçado de seu entorno, chegando ao formato atual, delimitado ao sul pela Rua do Seminário; ao norte, pela Travessa de São Francisco; ao leste, pela Rua da Olaria (atual Rua Dom Viçoso); e ao oeste, pela Rua dos Cortes (atual Rua Barão de Camargos). Sua denominação que naquele momento era de Praça D. João V, após a inauguração do primeiro chafariz de repuxo, em 1749, passou a se chamar Largo do Rossio (FIG. 106) (FONSECA, 1995).

FIGURA 106 - Aquarela do Padre Viegas de 1809, detalhe do Largo do Rossio. Observa-se à direita a existência de um sobrado de três pavimentos.

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Aquela evolução se deveu ao plano urbanístico, de autoria conferida ao sargento-mór Alpoim. Durante o período do mandato do governador Gomes Freire de Andrade (1735 - 1763), por influência do primeiro bispo, D. Manuel da Cruz - que nasceu em Portugal e exerceu suas funções em São Luiz do Maranhão, uma cidade colonial de traçado regular - ocorreu o alinhamento da cidade, sobre a estrutura existente e a abertura de algumas travessas (FIG. 107 e 108) (FONSECA, 1995).

Diferente das outras constituídas durante o período colonial, a Praça Gomes Freire apresenta forma bastante regular, mesmo no período anterior ao plano de Alpoim. Possui um centro geométrico bem definido, o que, segundo Sitte (1992), é o mais adequado para a disposição de estátuas e monumentos. Apesar disto, a Praça não tem nenhum destaque. Hoje, ao centro está o coreto, mas, devido à densidade das copas e do elevado porte da vegetação, esse não se destaca na paisagem.

FIGURA 107 - Vista de Mariana a partir do Lado do Seminário, (J. Martins Braga, 1824), ao centro o Largo do Rossio (atual Praça Gomes Freire), ainda sem tratamento paisagístico.

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FIGURA 108 - “Planta Cartographica da Cidade de Mariana” - 1912 (Arquivo da Casa Setecentista). Ao centro, observam-se as representações hachuradas da atual Praça Gomes

Freire.

Fonte: FONSECA, 1995: p.145.

Na gravura de 1824, a denominação de praça já havia sido alterada para Praça da Independência. Apesar das várias denominações, seu aspecto permaneceu o mesmo, um terreiro sem tratamento paisagístico até o início do século XX, quando passou a se chamar Praça Gomes Freire. “O jardim público de Mariana a Praça Gomes Freire só foi criado no início do século XX” (FONSECA, 1995: p.109) (FIG. 109 e 110).

A recusa, nos centros históricos, de qualquer outra manifestação estilística que não fosse “barroca”, estendia-se também, aos espaços públicos: suprimiu-se a arborização que havia sido feita (provavelmente também seguindo o modelo de Belo Horizonte) nas ruas e praças da cidade, inclusive na Sé, de onde foi retirado o chafariz, por não ser um elemento original do conjunto. [...]

[...] Somente a reforma na Praça Gomes Freire (então Praça da Independência) foi mantida, talvez por não existir no logradouro nenhum

“chef d’oeuvre” da arquitetura religiosa e civil colonial. Assim, a praça

pode conservar a aparência “moderna” que lhe havia, há pouco, sido conferida: uma mistura dos jardins belo-horizontinos da Praça da Liberdade - com seu coreto e seus canteiros geométricos, repleto de roseiras, de nítida influencia francesa (como fora o jardim do Palácio dos Bispos), e do tipo de paisagismo “pitoresco” adotado no Parque Municipal, com seus lagos sinuosos, suas ilhotas e suas pontes

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românticas, bem ao gosto inglês, que era moda no final do século XIX e do início do XX. (FONSECA, 1995: p.159).

FIGURAS 109 e 110 - Praça Gomes Freire na década de 1930. Na figura 4, a vista do alto permite observar o desenho do paisagismo em “estilo inglês”, a presença do coreto e destaque para o

terreno vago, onde foi construída a Casa do Arcebispo. Na figura 5, a vegetação topiada. Fonte: FONSECA, 1995: p.156.

FIGURAS 111 e 112 - Praça Gomes Freire na década de 60, com a vegetação já com porte médio. E em 2009, com copas volumosas e porte elevado, que dificultam a visualização das

edificações do entorno.

Fonte: FONSECA, 1995: p.156 / acervo da autora, 2009.

Hoje, a densa vegetação da praça compromete a relação entre as construções do entorno e a percepção do conjunto, muito homogêneo, constituindo-se em sua maior parte em sobrados, intercalados por poucas casas térreas. Não existe nenhuma construção em posição de destaque capaz de

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direcionar o olhar do observador. Desta forma, a praça se encerra nela mesmo, conformando lugar de passeio, um jardim público, como já mencionado (FIG. 111 e 112).

Ao analisar desde as primeiras ilustrações até as fotos atuais, percebe- se que pouco se alteraram as edificações que constituem o conjunto arquitetônico da praça. Merece destaque o sobrado localizado à Rua Barão de Camargos, que na figura 1 apresenta três pavimentos, uma variante em Mariana, onde predominam o máximo de dois (FIG. 113).

FIGURA 113 - Aquarela do Padre Viegas de 1809, onde se observa a existência de um sobrado de três pavimentos.

Fonte: FONSECA, 1995: p.136.

O terreno onde foi construída a Residência do Arcebispo, desde as primeiras ilustrações, apresentava-se vago. Segundo a arquiteta Jô Vasconcelos, na época do projeto, foi realizada uma pesquisa nos arquivos e nos cartórios da cidade, na qual não foi constatado vestígio de construção no local.

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