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A precarização das práticas profissionais no sistema socioeducativo do Distrito Federal

A precarização das práticas profissionais no sistema socioeducativo do Distrito Federal são expressas nas entrevistas, assinalando as seguintes manifestações: convivência de várias modalidades de contratações no contexto da execução das medidas; escassez de recursos humanos para a finalidade da medida; ausência de identificação com a natureza do trabalho, fato gerador de práticas profissionais baseadas no exercício da autoridade violenta e na alta rotatividade dos trabalhadores; inadequação das instalações físicas, gerando riscos à integridade física dos internos e dos profissionais; e escassez de recursos materiais e financeiros para a manutenção das atividades cotidianas, com a necessidade de colocação de dinheiro pessoal para a manutenção de atividades fundamentais à sobrevivência dos internos.

A Resolução do Sinase nº 119 (CONANDA, 2006) prevê em seus parâmetros de atendimento o número de socioeducadores50 necessários para a realização de serviços de natureza pedagógica e de proteção física e psicológica dos adolescentes e jovens em medida socioeducativa. Para o desenvolvimento do trabalho pedagógico, nas unidades de internação, estão previstos vinte adolescentes ou jovens por assistente social, psicólogo, advogado, e quarenta para pedagogos, denominados de especialistas pelo

50

Segundo a Resolução do Sinase, ―as atribuições dos socioeducadores deverão considerar o profissional que desenvolva tanto tarefas relativas à preservação da integridade física e psicológica dos adolescentes e dos funcionários quanto às atividades pedagógicas‖ (CONANDA, 2006, p. 45). Esse enfoque indica a necessidade da presença de profissionais para o desenvolvimento de atividades pedagógicas e profissionalizantes específicas.

Plano de Carreira do Sistema Socioeducativo do Distrito Federal.51 Em relação aos profissionais, cuja responsabilidade inicial se pauta pelo aspecto da segurança protetiva, ou seja, proteção física e psicológica dos adolescentes e jovens em internação, a resolução prevê uma relação numérica diferenciada: um socioeducador — ATRS — para cada dois outros adolescentes ou jovens; ou um socioeducador ATRS para cinco adolescentes ou jovens, a depender do perfil ou da situação especial em que os adolescentes ou jovens estejam envolvidos. Em situações de custódia hospitalar, em plantão de 24 horas, a relação numérica é de um socioeducador para um adolescente ou jovem; a proporção de um socioeducador para cada dois adolescentes e jovens se dá nos casos especiais, em que existe risco de fuga, de suicídio, ou comprometimento da saúde mental, que demanda vigília ininterrupta.

A previsão numérica de profissionais em relação aos atendidos decorre da complexidade do trabalho a ser realizado com os adolescentes e jovens em internação. No entanto, neste estudo, verificou-se que a realidade institucional do Distrito Federal não corresponde às determinações legais relativas aos recursos humanos. Ao contrário do previsto, apresenta-se um quadro de pessoal inferior ao indicado pelas normas de operacionalização dos programas de atendimento,52 o que interfere diretamente no desenvolvimento dos propósitos do Sinase e da perspectiva dos direitos humanos que o funda. Tal comprometimento ocorre à revelia da vontade geral dos sujeitos envolvidos no processo de trabalho, haja vista que não está em seu controle a decisão pela realização de concursos públicos53 para cobrir a defasagem.

A forma como estão distribuídos os recursos humanos do sistema socioeducativo do Distrito Federal demonstra a existência de um número inferior ao previsto pela legislação, o que, associado ao quadro de superlotação, caracteriza um rompimento do contrato social instituído pelo governo brasileiro, por meio de sua legislação e de acordos internacionais firmados no sentido da mudança paradigmática no atendimento aos adolescentes e jovens em medida socioeducativa. Nas entrevistas, é

51Em 4 de junho de 2014, foi aprovada a Lei Distrital nº 5.351, que dispõe sobre a criação da carreira de profissionais do sistema socioeducativo na estrutura do GDF. http://www.tc.df.gov.br/SINJ/Arquivo.ashx?id_norma_consolidado=75121

52 Programa de meio aberto (liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade) e programas de privação de liberdade, conforme os artigos 9º a 17 da Lei Federal do Sinase, nº 12.594, de janeiro de 2012.

53 Em 2015, embora o GDF tenha suspendido a realização dos concursos públicos, sob o argumento de ausência de recursos financeiros para o pagamento de salários, além do descumprimento das regras estabelecidas pela Lei de Responsabilidade, encontra-se em curso a promoção de concurso público para diversas categorias profissionais. Serão contratados 200 novos servidores públicos, com o objetivo de superação do déficit no quadro da SEPPCJ-GDF, conforme Edital nº 1, de agosto de 2015.

notória a existência de uma sobrecarga de trabalho, em decorrência do baixo número de socioeducadores em exercício nas unidades de internação, com desdobramentos negativos consideráveis nas práticas profissionais cotidianas. Para assegurar o mínimo das atribuições definidas para as diversas categorias que compõem o conjunto de trabalhadores do sistema socioeducativo, é visível que o processo pedagógico encontra- se adormecido, prevalecendo a perspectiva da segurança baseada em práticas repressivas, utilizadas sob o discurso da manutenção da ordem institucional.

Segundo os ATRSs, existe sobrecarga, pois o efetivo é baixo, ou seja, inferior ao estabelecido pelo Sinase. A sobrecarga é mais visível no turno noturno, momento em que os servidores sentem o trabalho mais pesado. Mas eles ressaltam que, apesar da escassez de pessoal, tentam atender às normas estabelecidas pelo Sinase. Assim, para a discussão sobre as práticas profissionais cotidianas, faz-se necessária a compreensão das práticas de gestão e manutenção do trabalho socioeducativo, correlacionando-as às condições de trabalho dos especialistas e dos ATRSs. De acordo com as falas desses profissionais, podemos destacar que a precarização do trabalho nas unidades de internação do Distrito Federal desconstrói a lógica preconizada no Sinase. Alguns indicadores expressos nas entrevistas confirmam tal argumento: ausência de encaminhamento regular para os serviços prestados pelas políticas de educação e saúde, entre outras; terceirização; escassez de mão de obra; rotatividade; e não identificação com a natureza do trabalho.

Em relação à escassez de mão de obra, observa-se uma fala recorrente entre os ATRSs, especialistas e adolescentes e jovens: a restrição de acesso a serviços importantes, justificada pelo baixo número de profissionais para a manutenção da disciplina nos alojamentos e na unidade. Verifica-se que inclusive os atendimentos dos adolescentes e jovens com os especialistas não é garantido em muitas situações, em decorrência da escassez de recursos humanos, especialmente de ATRSs. Diante de tal situação, os entrevistados justificam a prioridade da gestão da segurança, tendo em vista a manutenção da ordem institucional, em detrimento da gestão pedagógica.

[...] A quantidade de adolescentes por Agentes nas atividades [...] tá fazendo com que diminua atividades, a gente ainda está garantindo algumas, mas se formos ver a quantidade de Agentes aqui, pela quantidade de adolescentes, está defasado, não está dando para garantir tudo o que eles poderiam ter direito, assim, as atividades, no caso. Poderiam ir muito mais alunos para o cartaz, poderiam ir muito mais alunos para outros profissionalizantes, informática, se tivesse mais funcionários (ATRS 3).

É primeiramente um sofrimento, né, porque você vê a demanda e aí você não pode atender nos atendimentos individuais, e conseguir também fazer o

acompanhamento da família, porque o adolescente, quando ele tá aqui, você tem que acessar todos os mecanismos, apesar de que tenham o assistente social, que muitas das vezes, mas aqui é todo mundo muito sobrecarregado. Então infelizmente a gente trabalha com as causas mais urgentes. Aquele adolescente que está demandando mais, aquele adolescente que apresenta questões, né, e até que dá mais trabalho, né, que tem mais ocorrências, que acontecem mais questões de relacionamento. Esse menino é o mais atendido, porque a gente vai em cima das urgências, a gente fica apagando fogo, porque não tem como fazer o trabalho de acordo com o que tem que ser feito. Todo mundo atendendo os seus adolescentes, né, fazendo os relatórios no período certo, né, porque a única coisa que a gente consegue atender mesmo é por determinação da lei, são as documentações legais. Porque como a gente tem que prestar conta de relatórios para a Vara da Infância, para a Justiça, para a Promotoria e Ministério Público, então às vezes a gente fica muito atropelado, fazendo esses documentos, o atendimento. Aí sempre fica aquela coisa, você tem que estar atendendo porque está produzindo documento. Então você nunca vai conseguir, porque nessa demanda que está hoje aqui, quase 200 adolescentes, é impossível, pela quantidade de adolescentes (E4). Outro aspecto de destaque é a solução encontrada pelo GDF para amenizar a situação de escassez de recursos humanos declarada nas entrevistas: as contratações temporárias. Coexistem atualmente no sistema socioeducativo três tipos de relações de trabalho, marcados pela precarização da relação com o GDF: os servidores públicos concursados; os funcionários públicos admitidos por meio de seleção pública simples, com contratos temporários; e os funcionários de empresas terceirizadas, que prestam serviços gerais, prioritariamente na manutenção da limpeza e guarda de patrimônio público. A manutenção de profissionais com diferentes tipos de contrato tem levado a um tensionamento político entre eles, pois os servidores públicos concursados resistem à convivência pacífica com os funcionários de contrato temporário, com manifestações explícitas de hostilização. Por seu lado, aos contratados temporários, ATRSs e especialistas, são designadas as mesmas atribuições, embora tenham uma carga horária maior e um menor salário.

Em relação às contratações temporárias de assistentes sociais, o CRESS da 8ª Região já se manifestou em relatório da Comissão de Fiscalização, indicando tal procedimento como irregular:

observou-se nas visitas que existem profissionais de Serviço Social contratados de forma terceirizada, à exceção da unidade de Taguatinga, com carga horária de 40h semanais, contrariando o disposto na Lei 12.317/2010, que estabelece jornada de 30h semanais. Tal situação de irregularidade agrava os riscos de adoecimento em trabalho, oriundo de estresse em função das atividades exercidas, bem como, os expõem a possíveis situações de violência, como se constitui em mais uma forma de precarização das relações de trabalho.

A situação identificada pelo CRESS da 8ª Região estende-se a profissionais de outras categorias, que têm carga horária de trabalho maior e remuneração inferior à dos servidores concursados, exercendo as mesmas atribuições e responsabilidades.

Tal realidade reflete as respostas neoliberais apresentadas ao serviço público e privado, a partir da crise iniciada na década de 1970 e intensificada nos anos 80 e 90, por meio da consecução da reestruturação produtiva e reestruturação protetiva. Naquele momento, buscou-se a minimização dos gastos públicos por meio da terceirização, da precarização do trabalho, da flexibilização, entre outros, das relações do mundo do trabalho. As significativas mudanças nas relações laborais no serviço público afetam sobremaneira a execução das políticas sociais, pois interferem no enfrentamento das diversas expressões da questão social por meio das políticas sociais.

Na política da socioeducação, conforme as pesquisas apresentadas anteriormente, são evidentes os reflexos da política neoliberal no processo de ampliação do encarceramento dos adolescentes brasileiros como resposta principal ao crescimento da violência urbana; bem como no processo de precarização das relações de trabalho, marcadas pela vulnerabilidade dos contratos, pelas perdas de direitos trabalhistas e pelos baixos salários, além da contratação de profissionais sem a devida especialização. Ressalte-se que, com o tensionamento entre os próprios trabalhadores, estes passam a patrulhar o trabalho dos colegas, atribuição anteriormente exclusiva dos gestores, que, diante da instabilidade do emprego, passa a ser incentivada como meio de manutenção da relação contratual.

Segundo Iamamoto (2008), as manifestações da questão social presentes na atualidade têm sido direcionadas para o campo resolutivo das instituições filantrópicas e de benemerência, e de programas focalizados de enfrentamento à pobreza. E, com o avanço dos interesses de lucratividade, acelerado pela mudança na configuração das práticas capitalistas e de acumulação das empresas, o campo das políticas públicas passa a ser alvo de interesse e de maior exploração do capital. A autora destaca que, desde 1993, aumentou o número de empregados precários sem direitos trabalhistas assegurados, quadro que se reproduz no contexto das políticas públicas e da socioeducação no Distrito Federal.

O tensionamento político resultante da coexistência de servidores públicos concursados e funcionários públicos contratados por meio de processo seletivo simples é perceptível nas entrevistas com os profissionais do sistema socioeducativo do Distrito Federal. É evidente a preocupação com a manutenção dos espaços de trabalho

conquistados pela via do concurso público, resistindo ao processo de terceirização e precarização no Estado brasileiro e no GDF.

E tem alguns contratos temporários que trabalham aqui, mas o que a Constituição diz é que a atividade do Estado tem que ser feita pelos servidores de carreira e a nossa atividade tem essa natureza. O Estado é quem tem que fazer, não é o particular, é uma função própria do Estado cuidar dos adolescentes em conflito com a lei, e há uma cultura no sistema socioeducativo de terceirização, aqui no DF, de 2008 pra cá, a gente evoluiu (ATRS3).

Outro aspecto importante da precarização do trabalho na política da socioeducação foi recorrentemente explicitado nas entrevistas: a ausência de identificação com a natureza de trabalho, especialmente entre os ATRSs, sendo a justificativa de permanência no emprego a necessidade de manutenção do salário, considerado superior aos oferecidos pelo mercado. Dessa insatisfação decorre também a rotatividade dos concursados, que se mantêm em busca de uma vaga fora do sistema socioeducativo. Os relatos demonstram uma situação preocupante, pois a falta de identificação com o serviço prestado colabora com o distanciamento do objetivo proposto pelo Sinase, propiciando um ambiente de prevalência da insegurança tanto dos trabalhadores quanto dos internos.

[...] Porque, por ser um cargo muito difícil, e você permanecer aqui, e só os fortes permanecem, a rotatividade é muito alta. Tem gente que chega e se assusta e pede exoneração no mesmo dia (ATRS 3).

Não é uma carreira dos sonhos de ninguém. Isso você pode ter certeza que ninguém sonhou em estar aqui dentro. Continua aqui porque não deixa de ser uma, uma remuneração boa. Mas sempre existe melhores condições de trabalho, fora daqui. E aí muitos foram saindo e aí foi diminuindo o número de pessoas [...] (ATRS2).

Nos depoimentos, a maior parte dos trabalhadores demonstra conhecimento da legislação e grande insatisfação e discordância pessoal com a pedagogia ali imprimida, o que aumenta a resistência na realização do trabalho. Compreende-se neste estudo a necessidade da internalização, por parte dos profissionais, da condição humana dos adolescentes e jovens em internação, e do reconhecimento dos mesmos como sujeitos de direitos; caso contrário, a ação profissional poderá ficar desprovida de condições de exercício das atribuições designadas para o alcance da socioeducação. Com a negação dessa humanidade e condição de sujeito, o terreno ficará ainda mais fértil para a consolidação da autoridade violenta, que poderá então assumir proporções indevidas e comprometedoras do processo de formação para a cidadania, que fundamenta a socioeducação.

As técnicas, eu sinto um vácuo, porque quando eu penso que eu tô como um livro do Gean, aquele estudante, quando eu vejo lá falando de psicologia, de pedagogia e de serviço social, são os três, três atores que a gente chama de técnico: pedagogo, psicólogo e assistente social. Não é assim o que eu vejo eles praticando, o que eu vejo eles praticando é chegar aqui perguntando como que eu tô, faz pedido pra saidão, mas a profissão deles em si, o que eles estuda na faculdade é pra eles usar, né, é igual eu acho, vocês estão estudando para as coisas, que é pra vocês usar na sua matéria, eu acho que eu sinto esse vácuo deles, usar isso que eles aprenderam na matéria deles, do que eles chegar aqui só pergunta ―tá tudo bem?‖, eu falo ―tudo bem‖. No início até tanto faz, mas eu queria que eles usasse a matéria deles, igual pedagogia, saber o por que o jovem saiu da escola, saber quais foram os motivos que influenciaram ele, a assistente social dar o apoio pra ele voltar pra sociedade. Tipo, acho difícil certos jovens, mas ainda assim acho boa certas coisas, certas coisas eles ainda ajudam, como se a gente estiver precisando de uma escolta pra o CAPS, que é na área da saúde, essas coisas assim, eles nos ajuda, mas ainda assim tem certas coisas que um pouco de vácuo, uns espaço aí que ainda precisa ser preenchido (A 2).

A precarização das condições de trabalho, da infraestrutura e dos equipamentos, relatada nas entrevistas, incide nas práticas profissionais adotadas nas unidades de internação do Distrito Federal, vez que tais condições evidenciam diversas dificuldades para a realização das atribuições definidas aos profissionais:

Uhum, pra mim é tranquilo, pra mim é tranquilo. É... tem uns que tiram realmente a gente do sério, tira mesmo, eu desço, me tranquilizo e volto, sabe? Falo sério com eles, falo: ―ó, eu sei que lá fora você matou num sei quantos. Num vou dizer pra você que eu sou fortona, que eu sou fortona, que eu vou te enfrentar, não. Não, não vou de jeito nenhum, mas você não vai faltar com o respeito comigo não, não vai mesmo. Não vai porque eu não admito, porque eu te trato com respeito, quero ser tratada com respeito‖. Mas eles respeitam a mim, não tenho problema, não.

Sabe, até mesmo quando eles estão... assim angustiados, que aí eles gesticulam demais, sabe, e assim, as pessoas que estão de fora muitas vezes não entendem o porquê daquela gesticulação, e acham que é questão de confiança, abuso com a gente, sabe, e não é, é o jeito deles falarem. Então assim, eu os deixo explodirem aquele momento, que eles voltam ao normal. Eles só saem da sala depois que eles conseguirem se acalmar, e colocar o outro ponto de vista. Aí eu começo a indagar com eles: ―vem cá, tá vendo, você precisa de tal coisa? Se tu acha que você fizesse isso com outra pessoa, tu acha que a reação seria a mesma? Não, então pronto, nós temos que começar a trabalhar a calma, porque se não, não adianta, não adianta. Vocês vão ficar aqui dentro, vai ter conselhos, vai ter problemas, e só vocês vão ser prejudicados‖ (ES1).

Os profissionais entrevistados ressaltam ainda que a escassez de pessoal compromete o acesso dos adolescentes e jovens aos serviços da rede de políticas sociais com prestação de serviços externa, a exemplo de saúde, trabalho, processos seletivos, e da rede interna de serviços — atendimento técnico, oficinas, escola. Compromete ainda o acesso aos familiares, em demandas de atendimentos técnicos, ou em situações de morte ou adoecimento de parentes, que exijam a saída da unidade. A precarização das condições de trabalho atrapalha o acesso dos adolescentes e jovens às atividades

socioeducativas, definidas legalmente como básicas e fundamentais, ou seja, como direitos. E evidencia-se, assim, a prevalência das práticas de segurança pautadas na correção e na manutenção da ordem institucional, em detrimento das práticas previstas pela política de garantias de direitos, que determina a preservação da integridade física e psicológica e o investimento no desenvolvimento dos adolescentes e jovens, que são pessoas em situação peculiar de desenvolvimento.

Sendo assim, o estudo indica que a escassez de pessoal tem interferido na garantia de acesso dos adolescentes e jovens aos serviços sociais básicos, o que contraria as orientações legais de atenção integral e intersetorial.

[...] A quantidade de adolescentes por agentes nas atividades, e isso tá fazendo com que diminua atividades, a gente ainda está garantindo algumas, mas se formos ver a quantidade de agentes aqui, pela quantidade de adolescentes, está defasado, não está dando para garantir tudo o que eles poderiam ter direito, assim, as atividades, no caso. Poderiam ir muito mais alunos para o cartaz, poderiam ir muito mais alunos para outros profissionalizantes, informática, se tivesse mais funcionários (ATRS 3). Na unidade, é... vou te dar uma panorama... é assim, há quinze dias nós tivemos a visita do Conselho de Psicologia, que veio fiscalizar os nossos atendimentos e as nossas condições de trabalho. E foram reprovadas, né. Por não ter privacidade nos atendimentos e de estarem totalmente inadequados no que prevê no nosso Código de Ética. O número de ATRSs aqui da unidade também tem um déficit. Então os adolescentes não têm acesso a psicólogos todos os dias, porque não tem o número de ATRSs para fazer o acompanhamento. Vou falar um pouco sobre a unidade. A unidade não oferece cursos profissionalizantes. Que dentro da Lei [Estatuto da Criança e do Adolescente], prevê que esse adolescente em medida de internação, ele