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Prefácio à tradução da Titanomaquia de Hesíodo

CAPÍTULO I: LEOPARDI, OS PREFÁCIOS E A TRADUÇÃO

1.8 Prefácio à tradução da Titanomaquia de Hesíodo

Leopardi começou o prefácio anunciando: “receba ó leitor, a

81 : “io avea conchiuso tra me che per tradur poesia vi vuole un’anima grande e

poetica e mille mille altre cose”.

82 “ma la scelta dei sinonimi, il collocamento delle parole, la forza del dire,

l’armonia espressiva del verso, tutto mancava, o era cattivo, come, dileguatosi il poeta, restava solo il traduttore”.

83 “Ma già ho scorto assai mende per entro alla traduzione di quel Libro, e certo

non ridarolla al Pubblico senza molto avervi cangiato”.

Titanomaquia de Hesíodo, que é a batalha dos titãs com os Saturnos85

(LEOPARDI, 1998: 589). Ele evocou o leitor, informando-o a respeito da

obra à qual sua tradução se referia, enaltecendo a sua beleza, estilo e simplicidade “como vos disse, maior do que homérico86” (LEOPARDI, 1998: 591).

Leopardi indagou por que uma obra “tanto solene” não foi estudada pela maioria dos literatos italianos, e afirmou que o texto encontra-se disponível em grego, no original, pois “tradução suportável na nossa língua não há87” (LEOPARDI, 1998: 591). Ele explicou que ler os poetas gregos na íntegra não é uma tarefa fácil nem mesmo para os estudiosos e conhecedores da língua. A leitura fragmentada, realizada aos poucos, é melhor compreendida, mas não saboreada. O tradutor afirmou que traduções poéticas se fazem necessárias não só aos estudiosos, mas também “quanto mais aos literatos não doutrinados em matéria de línguas88” (LEOPARDI, 1998: 591). Ou seja, para ele, as traduções são necessárias, principalmente as traduções consideradas pelos intelectuais como obras imortais.

Leopardi considera importante as traduções feitas diretamente do original, para que não aconteça o que sucedeu a Ariosto que, não sabendo ler em grego, utilizou o latim, que lhe dava “meio Homero, para não dizer um terceiro89” (LEOPARDI. 1998: 591). Consequentemente, a leitura unicamente em latim não permitiu a Ariosto conhecer Homero, o que para Leopardi é uma grande falta.

Leopardi citou ainda a tradução da Ilíada feita por Monti, tradução que fez com que a Itália conhecesse o grande poeta grego, e comenta que: “temos, não direi uma clássica tradução da Ilíada, mas a Ilíada na nossa língua, e já cada italiano, lido o Monti, pode francamente e verdadeiramente dizer: li Homero90” (LEOPARDI, 1998: 591). No entanto, a tradução feita por Monti e apreciada por Leopardi, é uma tradução feita do latim já que Monti não era conhecedor do grego.

Prestigiando a tradução da Iliada feita por Monti, Leopardi se

85: “abbiatevi, o lettori, la Titanomachia di Esiodo, che è a dire la battaglia de’

Titani co’ Saturnii”.

86 “come vi ho detto, maggiore dell’Omerica”.

87 “traduzione sopportabile in nostra lingua non ce ne ha”. 88 “quanto più ai letterati non dotti in materia di lingue”.

89“mezzo Omero, per non dire un terzo”.

90 “abbiamo, non dirò una classica traduzione dell’Iliade, ma l’Iliade in nostra

lingua, e già ogni italiano, letto il Monti, può francamente e veramente dire: ho letto Omero”.

mostrou desejoso de que “quisesse Deus que como a Ilíada se pudesse ler A Obra e os Dias91” (LEOPARDI, 1998: 592). Leopardi considerou a obra de Hesíodo grandiosa tanto quanto a Ilíada e a Odisseia são, tratou- as como irmãs, e quando falou em traduzir a Titanomaquia, reforçou, novamente no prefácio, a ideia de que para se traduzir um grande poeta se faz necessário ser um grande poeta. Segundo ele, é preciso “um grande talento e um verdadeiro poeta para traduzir92” (LEOPARDI, 1998:

592) essa grandiosa obra. Leopardi parece assim refletir sobre a

importância do papel dos tradutores em disponibilizar e perpetuar as grandes obras, e deseja que as traduções dos clássicos gregos abarquem o público leitor em geral, pois ele afirma: “não é de acreditar quanto eu me alegro, pensando que finalmente no século XIX todos nós italianos possamos, como os antigos Gregos, por conta nossa ler e estudar aquele divino93” (LEOPARDI, 1998: 591).

Para Leopardi, o tradutor, ao disponibilizar uma tradução das obras consideradas imortais, está não somente dando visibilidade à obra, mas está ao mesmo tempo conquistando a sua própria glória como tradutor, pois de acordo com suas palavras: “Quem não sabe que Caro viverá tanto quanto Virgílio, Monti tanto quanto Homero, Bellotti tanto quanto Sófocles?94” (LEOPARDI, 1998: 592).

Sobre a tradução de Hesíodo, Leopardi comentou que “porque o li o traduzi95” (LEOPARDI, 1998: 595) e depois de ter traduzido achou prudente que a obra tivesse um título. Justifica que Titanomaquia foi um título antigo de uma antiga obra de um poeta incerto, “ligada à Ateneu e à Clemente Alessandrino; portanto não acredito que eu tenha formado esta palavra Greca do meu cérebro96” (LEOPARDI, 1998: 596).

Como visto nesta incursão pelos prefácios de Leopardi, é possível sistematizar algumas características comuns como: elementos estéticos da obra, informações sobre o autor traduzido, análise de outras

91“volesse Iddio che come la Iliade si potesse leggere Le Opere e I Giorni”.

92 “un grande ingegno e un vero poeta per tradurre”.

93 “non è da credere quanto io me ne rallegri, pensando che finalmente nel

socolo decimonono tutti noi italiani possiamo, come gli antichi Greci, a posta nostra leggere e studiare quel divino”.

94 “Chi non sa che il Caro vivrà finché Virgilio, il Monti finché Omero, il

Bellotti finché Sofocle?”.

95“perchè lo leggeste l’ho tradotto”.

96 “allegata da Ateneo e da Clemente Alessandrino: laonde non crediate ch’io

traduções, e, ainda, as suas escolhas.

Após esta explanação sobre as reflexões presentes nos prefácios às traduções leopardianas, no segundo capítulo, passo à minha tradução do prefácio às poesias de Mosco.