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Preparações farmacêuticas com própolis para periodontia

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.3.1. Preparações farmacêuticas com própolis para periodontia

A freqüência e a severidade da doença periodontal aumenta com a idade e com a higiene oral inadequada. Estudos clínicos mostraram que os microrganismos começam a colonizar rapidamente superfícies dentárias limpas, se a pessoa fizer abstenção da limpeza mecânica, ao final de poucos dias, os sinais microscópicos e clínicos de gengivite estarão assim, patentes. Essas alterações inflamatórias são solucionadas ou revertidas quando medidas apropriadas de limpeza dentária são retomadas. Além disso, a inflamação pode ser evitada pelo uso diário de agentes antimicrobianos que evitem colonização de bactérias na superfície dentária (FERREIRA, 1995). Nesse sentido, existem vários estudos de desenvolvimento e avaliação de produtos odontológicos com própolis para a utilização pelo próprio paciente na higiene bucal diária.

Baakilini et al. (1996) desenvolveram e avaliaram as propriedades e estabilidade de dentifrícios contendo própolis com diferentes níveis de abrasividade. Os resultados obtidos demonstraram um caminho promissor na produção de dentifrícios com própolis, levando em consideração a correta formulação do produto. Panzeri et al. (1999) desenvolveram um dentifrício na forma de gel com 3% de extrato de própolis e realizaram testes físico-químicos, clínicos (duplo cego) e microbiológicos. As avaliações físico-químicas revelaram condições ideais para o emprego do produto com própolis como agente terapêutico. Os testes microbiológicos demonstraram uma eficiente ação antibacteriana contra cocos gram- positivos, onde o Enterococcus faecalis e os bastonetes Gram-negativos foram mais resistentes que os outros microrganismos testados. Pelos testes clínicos observou-se que o dentifrício com própolis foi mais efetivo que o dentifrício sem o agente terapêutico no

creme dental com própolis cubana (ABREU et al., 1998, 2000). Além disso, um estudo foi realizado para avaliar clinicamente uma pasta dental de silicato contendo extrato de própolis da Bulgária (BOTUSHANOV; GRIGOROV; ALEKSANDROV, 2001). Os resultados demonstraram que a pasta dental com própolis foi eficiente na remoção e prevenção da formação do biofilme, com efeito antiinflamatório.

Uma das formas mais comuns de utilização da própolis para a higiene bucal é na forma de gargarejo e bochechos. Assim sendo, vários estudos têm sido realizados no sentido de se desenvolver e avaliar a ação de enxaguatórios bucais com própolis. Uma solução hidroalcoólica de própolis 0,84% foi testada in vivo, na forma de bochechos, três vezes ao dia após a higiene bucal, por vinte pacientes (DUARTE; KFOURI, 1999). Verificou-se que não houve alteração no índice de placa e de gengivite na concentração utilizada, após vinte dias. Os autores argumentaram a necessidade de se testar preparações mais concentradas de própolis. Por outro lado, Murray et al. (1997) e Koo et al. (2000) observaram que enxaguatórios bucais contendo própolis foram capazes de inibir a formação de biofilme dental, porém com uma intensidade menor que a clorexidina, e demonstrando também eficiência na redução na formação de biofilme subgengival, sob condições de alta cumulação de biofilme.

Pastilhas de própolis foram preparadas com extrato hidroalcoólico 35% e suas propriedades antimicrobianas avaliadas (WOISKY; GIESBRECHT; SALATINO, 1994). Observou-se a ação inibitória sobre bactérias Gram-positivas, enquanto as Gram-negativas demonstraram-se em geral resistentes.

Somados às pastilhas, os géis e os enxaguatórios bucais são as formas farmacêuticas convencionais para a liberação de própolis através da mucosa da cavidade oral. Além disso, utilização de técnicas como a microencapsulação pode transformar o extrato hidroalcoólico de própolis em uma forma farmacêutica sólida, eliminando solventes indesejáveis, promovendo o controle da liberação e permitindo a utilização do extrato de própolis em sistemas terapêuticos (BRUSCHI et al., 2003a) dentro da bolsa periodontal.

2.4 SISTEMAS DE LIBERAÇÃO DE FÁRMACO INTRABOLSA PERIODONTAL

Dentro da cavidade oral, a liberação de fármacos é classificada em três categorias: (i) liberação sublingual, que é a liberação sistêmica de fármacos através das membranas da

onde a liberação do fármaco acontece em um sítio específico, dentro da bolsa periodontal (MEDLICOTT et al., 1994), sendo geralmente utilizada no tratamento de doenças periodontais (JONES et al., 1996, 1997, 2000; SOSKOLONE; FREIDMAN, 1996).

A utilização sistêmica de antibióticos pode ser de grande valor para o tratamento de certos tipos de periodontite severa, periodontite refratária, infecções periodontais agudas com manifestações sistêmicas e para indicações médicas tais como profilaxia de endocardite (JORGENSEN; SLOTS, 2000). A administração sistêmica de antibióticos demonstrou ser útil no tratamento da doença periodontal, alcançando concentrações terapêuticas no sítio da infecção por curtos períodos de tempo após uma dose simples (MEDLICOTT et al., 1994). No entanto, ela não pode ser utilizada por um longo período de tempo. Muitos efeitos colaterais indesejáveis podem surgir, tais como náusea, vômito, diarréia, gastrite, úlceras, outros transtornos digestivos, alergias e desenvolvimento de resistência pelos microrganismos (ADDY, 1986; ADDY; LANGEROUDI, 1984; BROOK; VAN NOORT, 1984; FRIEDMAN; GOLOMB, 1982; FRIEDMAN; STEINBERG, 1990; GREENSTEIN, 1995; JOYSTON- BECHAL; EMSLIE, 1987; TINOCO et al. 1998), diminuindo a razão risco/benefício para um ponto no qual este tipo de tratamento não pode ser aceitável (CIANCIO, 1996; JONES et al., 2000; STEINBERG; FRIEDMAN, 1988). Assim, a administração local de fármaco na doença periodontal é uma alternativa, minimizando a distribuição do fármaco e, por conseguinte, aumentando a concentração deste no local a ser tratado e diminuindo os efeitos adversos indesejáveis (PERIOLI et al., 2004; STEINBERG; FRIEDMAN, 1988).

Muitos agentes antibacterianos são aplicados diretamente na boca para o tratamento da doença periodontal. Enxaguatórios bucais são amplamente utilizados para essa finalidade (STEINBERG; FRIEDMAN, 1988). Clorexidina 0,2%, na forma de enxaguatório, demonstrou ser muito efetiva no controle do biofilme supragengival e na gengivite (FLOTRA et al., 1972; STEINBERG; FRIEDMAN, 1988). Por outro lado, esses enxaguatórios apresentaram um efeito limitado em periodontites com formação de bolsa (FLOTRA et al., 1973).

Na tentativa de se obter uma penetração adequada do fármaco até o fundo das bolsas, utilizou-se a irrigação direta (WEINSTLING; TYNELIUS-BRATTHALL, 1984). Aplicou-se

enquanto outro grupo recebeu irrigação com água. Observou-se uma diminuição no número de bactérias patogênicas no grupo irrigado com clorexidina. Entretanto, após cinco dias de administração, não houve diferenças significativas entre os dois grupos. Esses resultados demonstraram o efeito de curta duração da irrigação direta. Por outro lado, a irrigação contínua de clorexidina nas bolsas periodontais profundas mostrou-se ser mais efetiva que a aplicação de curta duração. As bolsas foram irrigadas com solução de clorexidina 0,2% por 28 dias, resultando em uma significativa redução na inflamação (STEINBERG; FRIEDMAN, 1988).

Bochechos, irrigações e jatos pulsáteis não penetram além de 1 a 2 mm abaixo da margem gengival (BADERSTEN et al., 1981; FRIEDMAN; GOLOMB, 1982; ITO et al, 1980; PITCHER; NEWMAN; STRAHAN, 1980; YEUNG; NEWMAN; ADDY, 1983). A duração da administração de soluções de agentes antibacterianos diretamente no interior da bolsa periodontal, utilizando dispositivos de irrigação adequados (GREENSTEIN, 1987), é geralmente curta quando os agentes são administrados em solução, e administrações freqüentes são requeridas para a manutenção das concentrações na bolsa periodontal (JONES et al., 2000; MEDLICOTT et al., 1994). Dessa maneira, a obediência ao tratamento por parte do paciente é um fator muito importante par assegurar a eficácia clínica do mesmo.

Devido todos esses problemas, atenção tem sido dada no desenvolvimento de verdadeiros sistemas de liberação de fármaco intrabolsa (SLIB) (FIORELLINI; PAQUETTE, 1992; JONES et al., 1996; KINANE, 2000; RANADIVE; BHAT, 1998). A bolsa periodontal é um reservatório natural que permite a inserção de um dispositivo de liberação, sendo que os benefícios que podem ser adquiridos baseiam-se na liberação do agente terapêutico no local a ser tratado e a manutenção dos níveis adequados de fármaco por um período estabelecido de tempo (JONES et al., 2000; MEDLICOTT et al., 1994; STEINBERG; FRIEDMAN, 1988).

Goodson et al. (1979) foram os primeiros a desenvolver um SLIB, sugerindo que a utilização de um supositório de liberação controlada de um fármaco colocado na bolsa poderia ser altamente efetiva para a administração de agentes antibacterianos na terapia periodontal. Desde então, um número crescente de sistemas biodegradáveis ou não têm sido desenvolvidos com o objetivo de alcançar uma concentração prolongada de agentes antimicrobianos no interior da bolsa periodontal.

- possibilita o controle e monitoramento dos níveis de fármaco desejados no sítio de aplicação;

- é um meio útil de liberar na cavidade oral um fármaco que não é absorvido no sistema gastrintestinal (por exemplo, clorexidina);

- possibilita a obtenção de altas concentrações de fármaco no local a ser tratado, quando comparadas com os níveis plasmáticos após a administração peroral;

- pode mascarar o sabor e odor desagradável de determinados fármacos e evitar o aparecimento de manchas nos dentes.

Por outro lado, deve ser considerada a dificuldade (impossibilidade) de interrupção rápida da ação farmacológica, em caso de irritação ou intolerância. Além disso, existem outras desvantagens (ANSEL et al., 2000; SOSKOLONE; FREIDMAN, 1996):

- a reprodutibilidade da ação depende da taxa do fluxo crevicular gengival e das condições anatomopatológicas da bolsa periodontal;

- a cinética de liberação depende da integridade da forma farmacêutica; - o tamanho da preparação às vezes é muito grande;

- os custos mais elevados que os das formas farmacêuticas convencionais.