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Presença ou não das empresas em APLs versus caracterização e performance das

4.3. Análise dos resultados obtidos com a pesquisa

4.3.8. Análise comparada entre variáveis

4.3.8.4. Presença ou não das empresas em APLs versus caracterização e performance das

Nesta seção, a investigação busca relacionar a presença ou não das empresas em um APL com as seguintes características: escolaridade e principal atividade antes da abertura da empresa do sócio fundador; valor médio anual de dispêndios da empresa com P&D; relações de cooperação com os principais agentes econômicos antes do PAPPE; a presença de departamento de P&D; a presença de patentes; a relação de parceria com o pesquisador antes do PAPPE e as variáveis de desempenho. O objetivo é tentar traçar um perfil das empresas participantes e não participantes de APLs e verificar se a participação neste tipo de organização industrial permite às empresas melhores resultados (TABELA 21).

A importância da análise das variáveis que envolvem empresas em APLs se assenta no fato de que este tipo de estrutura ao possibilitar maior proximidade entre os agentes econômicos pode potencializar o desenvolvimento de parcerias, aspecto este essencial para a participação no programa PAPPE.

Neste sentido, o primeiro aspecto que se investiga é se há alguma relação entre o nível de escolaridade dos sócios fundadores das empresas e sua presença ou não em um APL. O que se constata é que tanto as empresas pertencentes a APLs quanto as não pertencentes foram fundadas fundamentalmente por pessoas com nível superior completo ou pós-graduação, sendo respectivamente, 91,6% e 94,3% das mesmas.

Nota-se, porém, que o número de sócios fundadores que possuem doutorado é maior nas empresas que fazem parte de APLs. Este resultado parece sugerir que o nível de escolaridade dos sócios fundadores pode influenciar na presença ou não das empresas em APL, tendo em vista que empresas pertencentes a algum APL possuem maior proporção de sócios fundadores doutores do que aquelas que não fazem parte de arranjos.

Também buscou-se verificar se é possível estabelecer alguma relação entre a atividade exercida pelo sócio fundador da empresa antes de abri-la e sua presença ou não em um APL. O que se percebe-se, neste caso, é que é possível estabelecer tal relação. Ou seja, a maior parte dos sócios fundadores das empresas que fazem parte de algum APL era, antes de dar início às suas atividades empresariais, estudante (universitário ou de escola técnica) ou professor – tal situação se observa em 56,3% das empresas. Em empresas não pertencentes a algum APL, esse percentual é de 39,6%. Nestas empresas, por outro lado, há uma concentração de sócios fundadores que, antes de abrirem suas empresas, eram

funcionários de empresas locais, funcionários públicos ou já eram empresários (60,4% das empresas).

Em outras palavras, pode-se dizer que a atividade exercida pelo sócio fundador das empresas antes de abri-las também influencia na presença ou não das empresas em APLs, sendo que aquelas pertencentes a arranjos tendem a possuir sócios fundadores que antes faziam parte do ambiente acadêmico, ao passo que as que não o fazem tendem a ter sócios fundadores atuando no setor produtivo.

No que tange ao estabelecimento de relações de cooperação entre as empresas pesquisadas e outros agentes econômicos, nota-se que as que fazem parte de algum APL possuem um volume relativamente maior de parcerias do que aquelas que não o fazem, o que vai ao encontro da lógica defendida pela literatura especializada – a de que empresas em arranjos produtivos, privilegiadas pela proximidade geográfica, tendem a estabelecer mais laços de cooperação com distintos agentes econômicos do que aquelas que não pertencem a algum APL.

A relação entre o volume do gasto médio anual das empresas em P&D e a sua presença ou não em APLs também é analisada. Verifica-se que ambas as categorias de empresas concentram seus investimentos em P&D na faixa classificada como intermediária, entre R$ 81.000,00 e R$ 320.000,00. Já nos intervalos extremos, ou seja, o de baixo investimento, entre R$ 0 e R$ 81.00,00; e, no elevado, de R$ 321.000,00 a acima de R$ 1 milhão, as empresas que se encontram em maior proporção são as não pertencentes a APLs. Isso significa não ser possível estabelecer uma relação entre a presença de empresas em APLs e volume do gasto médio anual em P&D.

Analisa-se, ainda, a possibilidade de relacionar a presença ou não em APLs com o fato de a empresa possuir ou não departamento próprio de P&D. Percebe-se que é possível identificar certa relação, dado que a proporção de empresas com departamento próprio de P&D é maior na categoria daquelas que estão localizadas em APLs. Isso equivale a dizer que a presença de um departamento próprio de P&D tende a ser verificada mais em empresas que estão em APLs vis-à-vis com as que não estão.

Buscou-se verificar também se há alguma relação entre a presença ou não das empresas em APLs e o volume de patenteamento das mesmas. Nota-se que são as empresas que não fazem parte de APLs as que mais patenteiam. No entanto, é interessante destacar que aquelas pertencentes a algum aglomerado produtivo são as que mais possuem

patentes conjuntamente no Brasil e no exterior, o que pode sinalizar certo vigor desta categoria de empresas em desenvolver inovações para o mercado internacional.

Outro aspecto analisado refere-se ao fato de as empresas já possuírem ou não relações de parcerias com o pesquisador antes de participarem do PAPPE e a presença delas ou não em APLs. Os resultados da pesquisa apontam que quase 80% das empresas que fazem parte de algum arranjo já estabeleciam relações de cooperação com o pesquisador antes de participarem do programa, enquanto este percentual é de 75% para aquelas que não participam de APLs. Os resultados apontam para uma ligeira superioridade no grupo das empresas que fazem parte de APLs, o que caminha no sentido das contribuições da literatura especializada que afirma que os APLs favorecem a realização de laços de interações.

Por fim, tenta-se verificar se é possível relacionar a presença ou não das empresas em APLs com os resultados alcançados com a participação no PAPPE. Em outras palavras, o que se questiona é se empresas presentes em APLs apresentam melhor desempenho pós- PAPPE do que aquelas que não fazem parte de aglomerados produtivos, analisando-se, para tanto, as variáveis de desempenho, a saber: geração de inovações, artigos, patentes, novos empregos e entrada em novos mercados.

Os dados indicam que os resultados oriundos da participação no PAPPE são relativamente superiores nas empresas localizadas em APLs em comparação aos das empresas que não fazem parte de arranjos, ou seja, as empresas em APLs foram as que mais desenvolveram produtos novos para o mercado nacional e internacional, processo tecnológico novo para o setor de atuação, gerando mais empregos e inserindo-se mais em novos mercados.

A relação positiva entre participação das empresas em APLs e variáveis de desempenho caminha no sentido da hipótese defendida pelos estudiosos do tema, os quais acreditam que as aglomerações constituem-se em elemento-chave para a inserção positiva das micro e pequenas empresas como atores importantes na geração e incorporação de inovações. Isto porque a proximidade espacial possibilita a superação das desvantagens inerentes ao porte por meio de mecanismos de interdependência e aprendizado interativo, permitindo, assim, o estabelecimento de relações mais estreitas de cooperação e a participação ativa no processo inovativo. Dito de outra forma, este tipo de organização possibilita às empresas de pequeno porte ganhos de eficiência e flexibilidade que elas,

dificilmente, poderiam alcançar atuando como unidades produtoras individuais – eficiência coletiva (SCHMITZ, 1992).

Sendo assim, as aglomerações produtivas locais, através das interações entre os diversos agentes, permitem o aproveitamento de sinergias coletivas, facilitando os fluxos de informações e os processos de aprendizado que alavancam o potencial inovativo das empresas, conduzindo-as no sentido da construção de vantagens competitivas sustentáveis, aspectos corroborados pelos resultados da pesquisa.

TABELA 21: Caracterização das empresas a partir do seu pertencimento ou não a um APL

Características Faz parte de algum APL (48 empresas)* Não faz parte de APL (53 empresas)*

Escolaridade do sócio fundador Ensino Médio 0 (0,0%) 1 (1,8%) Técnico 3 (6,3%) 1 (1,8%) Superior incompleto 1 (2,1%) 1 (1,8%) Superior completo 24 (50%) 26 (49,1%) Mestre 9 (18,7%) 15 (28,3%) Doutor 11 (23%) 9 (17%) Atividade principal do sócio fundador antes de criar a empresa Estudante universitário 16 (33,3%) 10 (18,9%) Estudante de escola técnica 2 (4,2%) 0 (0,0%) Empregado de MPE local 4 (8,3%) 2 (3,8%) Empregado de media ou grande empresa local 8 (16,7%) 17 (32,1%) Funcionário de instituição pública 3 (6,3%) 6 (11,3%)

Professor 9 (18,8%) 11 (20,8%) Empresário 5 (10,4%) 7 (13,2%) Outro** 1 (2,1%) 0 (0,0%) Relações frequentes de cooperação antes do PAPPE, com os seguintes agentes: Empresas associadas 1 (2,1%) 11 (20,8%) Fornecedores 30 (62,5%) 24 (45,3%) Clientes 31 (64,6%) 35 (66%) Concorrentes 5 (10,4%) 7 (13,2%) Empresas de consultoria 15 (31,3%) 16 (30,2%) Universidades 30 (62,5%) 38 (71,7%) Institutos de pesquisas 24 (50%) 24 (45,3%) Centros de capacitação profissional, assistência técnica, manutenção 9 (18,8%) 10 (18,9%) Instituições de testes, ensaios e certificações 15 (31,3%) 13 (24,5%) Representação 11 (23%) 10 (18,9%) Entidades sindicais 10 (21%) 8 (15,1%) Órgãos de apoio e promoção 21 (43,8%) 14 (26,4%) Agentes financeiros 16 (37,5%) 11 (20,8%)

Valor médio anual de dispêndios da empresa com P&D

*** De 0 a R$ 30.000,00 10 (21%) 16 (30,2%) De R$ 31.000,00 a R$ 80.000,00 10 (21%) 8 (15,1%) De R$ 81.000,00 a R$ 160.000,00 9 (18,8%) 12 (22,6%) De R$ 161.000,00 a R$ 240.000,00 8 (16,7%) 6 (11,3%) De R$ 241.000,00 a R$ 320.000,00 5 (10,4%) 3 (5,7%) De R$ 321.000,00 a R$ 500.000,00 4 (8,3%) 3 (5,7%) De R$ 501.000,00 a R$ 1 milhão 1 (2,1%) 2 (3,7%) Acima de R$ 1 milhão 1 (2,1%) 3 (5,7%) A empresa possui departamento de P&D Sim 36 (75%) 35 (66%)

Não, utiliza da incubadora 2 (4,2%) 3 (5,7%) Não, utiliza da universidade 9 (18,8%) 12 (22,6%) Não, utiliza de um instituo de pesquisa 1 (2,1%) 3 (5,7%) Antes do PAPPE, a empresa já tinha patente em vigor Não 33 (68,8%) 34 (64,2%) Sim, no Brasil 12 (25%) 16 (30,2%) Sim, no exterior 0 (0,0%) 0 (0,0%) Sim, no Brasil e no exterior 3 (6,3%) 3 (5,7%) A relação de parceria

entre pesquisador e empresa já existia antes do PAPPE?

Sim 38 (79,2%) 40 (75,0%)

Surgiu a partir da necessidade de participar do PAPPE 10 (21%) 13 (24,5%)

Variáveis de desempenho

Desenvolveu produto novo para empresa, mas já existente no mercado 17 (35,4%) 20 (37,7%) Desenvolveu produto novo para o mercado nacional 40 (83,3%) 38 (71,7%) Desenvolveu produto novo para o mercado internacional 17 (35,4%) 15 (28,3%) Desenvolveu processo tecnológico novo para empresa, mas já existente no mercado 17 (35,4%) 24 (45,3%) Desenvolveu processo tecnológico novo para o setor de atuação 27 (56,3%) 25 (47,2%) Gerou patentes 8 (16,7%) 13 (24,5%) Gerou artigos 18 (37,5%) 26 (49,1%) Gerou novos empregos 36 (75%) 36 (68%) Entrada em novos mercados 31 (64,6%) 32 (60,4%) * Em MG, das 74 empresas da amostra, 73 responderam a essa questão. Por isso, o total da amostra é 101 empresas e não 102.

** A opção “Outro” se refere a profissão de Médico.

***Para uma análise mais eficaz dos gastos médios anuais em P&D, estabeleceu-se a seguinte classificação: da 1ª à 2ª faixa de gastos (de 0 a R$ 80.000,00) foi classificado como nível baixo de investimento; da 3ª a 5ª faixa (de R$ 81.000,00 a R$ 320.000,00), como investimento intermediário; da 6ª a ultima faixa (de R$ 321.000,00 a mais de R$ 1 milhão), como investimento alto.

4.3.8.5. Frequência das atividades inovativas versus nível de